04 de maio de 2021

A CLASSE MÉDIA E O CENTRO POLÍTICO!

(Editorial – O Estado de S. Paulo, 03) Estudos têm constatado haver significativa redução da classe média, com mais famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, em razão da crise social e econômica que já existia no País e se agravou durante a pandemia de covid19. Segundo o Instituto Locomotiva, a partir dos dados do IBGE, 4,9 milhões de pessoas saíram da classe média no último ano. Com isso, pela primeira vez em dez anos, o estrato social intermediário passou a representar menos da metade da população brasileira.

Com uma resposta lenta, desorganizada e insuficiente – quando não claramente negacionista –, o governo federal foi incapaz de proteger a população dos efeitos sociais e econômicos da pandemia. Sintoma especialmente dramático dessa disfuncionalidade do Palácio do Planalto é o aumento da fome.

A diminuição da classe média tem notórias consequências sociais e econômicas. Por exemplo, com a diminuição de renda familiar e o aumento do desemprego, mais jovens estão em situação de vulnerabilidade social. Houve aumento da evasão escolar.

É comum falar que a pandemia de covid-19 trouxe um cenário de acentuadas incertezas. No entanto, para muitas pessoas, o futuro não está apenas mais incerto. Ele está inexoravelmente mais penoso e mais limitado.

A redução da classe média tem também importantes efeitos econômicos. Com mais pessoas em situação de pobreza e extrema pobreza, a recuperação econômica do País torna-se necessariamente mais lenta, em razão, por exemplo, do endividamento das famílias e da redução do consumo.

Como tem sido lembrado pela OCDE, uma classe média próspera é decisiva para a economia e para a coesão social de um país. A classe média sustenta o consumo e a arrecadação de impostos – viabilizando, por exemplo, as políticas públicas de proteção social – e impulsiona o investimento em áreas fundamentais, como educação, saúde e moradia.

A diminuição de pessoas no estrato social intermediário produz também importantes efeitos políticos. O aumento da vulnerabilidade social e econômica contribui para uma maior adesão a propostas populistas, que, sem enfrentarem a causa dos problemas, prometem soluções fáceis, rápidas e inviáveis.

O quadro é de enorme perversidade. De alguma forma, a ineficiência do governo populista – que, se esquivando de fazer as reformas, não promove o desenvolvimento social – faz com que parte da população se torne (em razão da vulnerabilidade social e econômica) ainda mais refém desse mesmo governo, ou de sua antítese ideológica, igualmente populista.

Além das dificuldades sociais e econômicas, a redução da classe média representa, assim, um especial desafio político para o País. De forma muito concreta, o encolhimento do estrato social intermediário traz dificuldades adicionais para a viabilidade política de um candidato de centro à Presidência da República em 2022.

Vale ressaltar que o encolhimento da classe média não é um fenômeno que se iniciou agora, tampouco está restrito ao Brasil. Por exemplo, a redução do estrato médio tem sido observada na maioria dos países da OCDE. As novas gerações têm encontrado mais dificuldades para alcançar a renda da classe média, definida pela OCDE como os rendimentos entre 75% e 200% da renda nacional média. Na geração dos baby boomers, quase 70% das pessoas na faixa dos 20 anos pertenciam à classe média. Na geração dos millennials, esse porcentual é de 60%.

No entanto – e aqui está o quadro especialmente desafiador para o Brasil –, a pandemia de covid-19, junto ao despreparo e ineficiência do governo de federal, tem acelerado esse processo de encolhimento da classe média. Há mais famílias pobres. Há mais pessoas vulneráveis.

Mais do que induzir a paralisias, essa situação desafiadora clama por uma urgente e especial responsabilidade para com o País. Não cabe assistir passivamente ao empobrecimento da população e, consequentemente, à sua subjugação a manobras populistas. Uma proposta política viável de centro deve contemplar, de forma muito realista, a defesa e o fortalecimento da classe média.

03 de maio de 2021

NOVOS TEMPOS, VELHAS PRÁTICAS!

(Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura – Estado de S. Paulo, 01) No mercado existem, basicamente, três tipos de empresa: as privadas, as estatais e as de capital misto. No Brasil com a nossa tradição de grande participação do Estado na economia sempre tivemos empresas de capital misto em importantes setores da economia. As mais conhecidas talvez sejam a Petrobrás e a Eletrobrás. Empresas de economia mista são criadas na tentativa de o Estado participar como acionista em segmentos denominados como estratégicos e ao mesmo tempo garantir na administração da empresa a eficiência do setor privado. Conciliar esses dois quesitos é muito difícil, em particular, em países que, como o Brasil, não resistem à tentação de intervir na economia.

A trajetória das empresas de economia mista não tem sido das melhores no Brasil. Ao longo do tempo se verifica em quase todos os governos, com intensidades diferentes, o uso dessas empresas para as chamadas práticas populistas. Ora para combater a inflação, ora para ajudar os amigos do governo de plantão, políticos e empresários. No final essas empresas, que possuem como sócios toda a sociedade, representada pela União, e são criadas para gerar dividendos que deveriam ser utilizados em benefícios de todos, acabam por atender a objetivos específicos do governo de plantão. A maneira mais usual de intervir nas empresas de economia mista tem sido por meio dos preços.

No setor de energia, não faltam exemplos. Entre 2011 e 2014, a intervenção do governo Dilma na política de preços da Petrobrás causou um rombo no caixa de algo como US$ 40 bilhões e uma multa de US$ 3 bilhões dada pela Suprema Corte Americana. Mais uma dívida de US$ 100 bilhões e o escândalo do Petrolão.

A Eletrobrás até hoje sofre efeitos da Lei 12.783/2013, oriunda da conhecida MP 579/2012, que causou enormes prejuízos a seus acionistas. Na ocasião, a lei obrigou as empresas de geração e transmissão, em particular a Eletrobrás, a anteciparem a renovação de suas concessões condicionadas à redução de 20% nas tarifas de eletricidade. Também penalizou os consumidores. Ao reduzir as tarifas de forma artificial, deu um sinal econômico de abundância de recursos hídricos e isso levou a baixos níveis dos reservatórios das hidrelétricas, que não se recuperaram até hoje, o que vem exigindo um despacho de térmicas fora da ordem econômica. Isso quase quebrou a Eletrobrás, causando um rombo de R$ 100 bilhões pagos até hoje pelos consumidores e o tarifaço de 2015.

O temor do mercado é pela volta da velha prática de tratar as empresas de economia mista como se fossem totalmente estatais e as políticas criativas dos preços da energia. Isso pode ser turbinado pela antecipação do calendário eleitoral, com a elegibilidade do ex-presidente Lula. O primeiro sinal da volta das velhas práticas foi o processo de indicação dos novos presidentes da Petrobrás e da Eletrobrás, passando por cima da governança e dos Conselhos de Administração das empresas. No quesito preço dos combustíveis, o presidente da Petrobrás foi demitido porque o presidente Bolsonaro achou inadmissível os aumentos da gasolina, do diesel e do botijão de gás feitos nos primeiros meses de 2021. Parece que o governo não gosta que a Petrobrás dê lucro. Para evitar aumento de dois dígitos nas tarifas, a Aneel já anunciou uma série de medidas para a redução das tarifas que somam R$ 18,8 bilhões, permitindo que os reajustes de 2021 caiam de 18,2% para 8,5%. O gás natural vai ter um aumento dado pela Petrobrás de 39% a partir do início de maio. Vamos aguardar o que será feito de criatividade para evitar novos aumentos do gás natural. O novo presidente da Petrobrás no discurso de posse falou que vai tomar medidas para reduzir a volatilidade dos preços dos combustíveis, dar previsibilidade e conciliar os interesses dos acionistas com o dos consumidores. Será que ele possui o cálice do Santo Graal?

Tudo isso nos leva a dois comentários. O primeiro é que a tentação da intervenção, o pouco apreço ao lucro e a dificuldade de separar os interesses do governo acionista do governo preocupado com a sociedade mostram a impossibilidade da existência de empresas de economia mista no Brasil. O segundo é que entra governo, sai governo e ficamos armando e desarmando bombas-relógio.

30 de abril de 2021

HORTA GIGANTE COMPLEMENTA REFEIÇÃO DE 800 FAMÍLIAS EM FAVELA DO RIO NA PANDEMIA!

(Folha de S.Paulo, 29) Ezequiel Dias, 44, coloca meia dúzia de trouxinhas de coentro, maços de cebolinha e outros temperos no carrinho de mão e sai pelas vielas anunciando a promoção. É grátis, um oferecimento da enorme horta comunitária que corta parte do bairro.

A longa faixa verde encravada no mar de casas cinzas ocupa um território equivalente a quatro campos oficiais de futebol, rendendo duas toneladas de comida por mês.

No último ano, quase tudo que sai dali tem ido para as cozinhas da comunidade, complementando as refeições de cerca de 800 famílias que atravessam a onda de desemprego gerada pela pandemia.

É a celebrada horta de Manguinhos, favela na zona norte do Rio de Janeiro que fica ao lado da fábrica de Bio-Manguinhos, onde a Fiocruz produz uma das vacinas contra o coronavírus que estão sendo distribuídas pelo país.

Foi no quintal da fundação que Ezequiel aprendeu a ser jardineiro. Trabalhou ali por 15 anos antes de ficar desempregado por outros 5. Agora, ele coordena a plantação comunitária.

“Tem pessoas que não estão tendo de onde tirar [dinheiro]. Tem senhora que nem pede; vem e já começa a colher um coentro para botar numa sopa. A gente está aqui para abraçar a nossa comunidade, que é nossa família”, diz ele.

Antes, o terreno abrigava uma grande cracolândia onde circulavam cerca de 200 a 300 usuários de drogas, contam os moradores. Ratos, baratas e tapurus —larvas que entram na pele— eram outros habitantes do lixão. Hoje, as crianças brincam no local.

A horta foi criada em 2013, após a chegada da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), mas faz parte de um programa municipal que já existe desde 2006, na gestão do ex-prefeito Cesar Maia (DEM): o Hortas Cariocas, que tem como foco a segurança alimentar.

No ano passado, a ONU incluiu o projeto na lista de ações consideradas essenciais para alcançar os seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. São 49 plantações espalhadas pela cidade, 25 em escolas e 24 em comunidades, somando 3.720 canteiros, 24 hectares e mais de 80 toneladas colhidas por ano.

Funciona como uma incubadora de empresas, na analogia do idealizador do projeto, o engenheiro agrônomo Julio Cesar Barros. A Secretaria de Meio Ambiente encontra comunidades onde já há uma articulação local sobre hortas e investe com apoio técnico, insumos e bolsas aos hortelãos.

Empregabilidade e autoestima são dois dos pilares. A ideia é que uma hora essas plantações se tornem autossustentáveis e se emancipem da prefeitura, diz Julio. “O que move o projeto é o resultado, a produção, não é um programa assistencialista”, defende.

Antes da pandemia, metade das hortaliças colhidas era dada para famílias em situação de insegurança alimentar, asilos ou creches e a outra metade era vendida. Agora, tudo vem sendo doado.

Em Manguinhos, Ezequiel repete que o sobrenome do projeto é “resgatar vidas” e que a sua foi a primeira a ser resgatada. Depois, veio a hortelã Sani Cristina dos Santos, 38, que viu o filho adolescente morrer de infarto em seu colo e encontrou na horta uma forma de seguir em frente.

Juntou-se ainda sua mãe, dona Luiza, que tinha pressão alta, diabetes e uma rotina desmotivada, e também achou na plantação uma razão para acordar. Por fim, chegou Leonardo Ferreira, 24, que largou quatro anos de tráfico de drogas para se dedicar às mudas.

Começou no crime cedo, aos 12 ou 13 anos, e decidiu sair dessa vida “desesperadora” depois que nasceram suas duas filhas, com a sobrinha de Ezequiel. “Hoje, só quero plantar o bem para colher o bem”, diz.

Eles integram a equipe de 21 pessoas que zela pela horta do bairro. Cada hortelão ganha uma bolsa de R$ 500 mensais, e a maioria faz outros trabalhos para sustentar a família.

Mas nem tudo é tão fértil. A rotina de operações e tiroteios às vezes paralisa o trabalho na terra, apesar de a situação estar mais calma após a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que restringiu ações das polícias na pandemia, segundo moradores.

A plantação fica ao lado de uma avenida apelidada de Faixa de Gaza, por causa dos frequentes confrontos entre traficantes e policiais, e à tarde as bocas de fumo se espalham pela favela.

Outro desafio do Hortas Cariocas são as plantações que “não vingam”. “Normalmente elas são fechadas por falta de resultado e de motivação da equipe. Às vezes as pessoas acham que é um cabidão de empregos”, afirma o agrônomo Julio Barros.

O programa também passa por um momento turbulento com a troca de gestão na prefeitura, agora com Eduardo Paes (DEM). Um contrato de R$ 95 mil mensais que previa três engenheiros agrônomos, alguns técnicos e caminhões terceirizados para transportar insumos se encerrou em fevereiro, o que fez faltar adubo e causou o descarte de milhares de mudas para as galinhas.

O Movimento Baía Viva pediu nesta semana que o Ministério Público apure um suposto “desmonte do projeto”, o que o secretário de Meio Ambiente, Eduardo Cavaliere, nega. Ele afirma que o contrato era de 2018, sendo que o programa existe há 15 anos, e que seu fim não gerou qualquer impacto nas hortas e foi apenas uma mudança operacional.

Cavaliere argumenta ainda que profissionais e veículos da própria prefeitura suprirão a demanda e que a intenção da nova administração é reduzir os serviços terceirizados. Também acrescenta que o orçamento previsto para o programa foi ampliado de R$ 1 milhão para R$ 1,6 milhão neste ano.

A ideia é fortalecer as hortas, segundo a prefeitura. Há planos para abrir mais cinco plantações e fazer composteiras locais para alimentar as mudas, além de ampliar a criação de peixes pela tecnologia da aquaponia —quando os animais vivem no ambiente aquático e plantas são cultivadas na superfície—, inaugurada em uma unidade de Jacarepaguá (zona oeste) no ano passado.

Um dos locais que pode receber os animais é Manguinhos, onde Ezequiel segue com o objetivo de levar uma alimentação saudável para a favela onde nasceu e cresceu: “Futuramente, teremos famílias mais saudáveis, porque o orgânico está nas comunidades. Minha filha vê e já segue esse caminho.”

29 de abril de 2021

QUANDO AS CRENÇAS NÃO SÃO NOSSAS!

(Zeina Latif – Globo, 28) Importantes transformações históricas do Brasil decorreram mais de pressão internacional do que de anseios da sociedade. Esse padrão não é uma peculiaridade nossa, mas aqui a incidência parece maior, o que revela fraqueza institucional. O problema é quando relutamos às mudanças. O custo econômico e social é maior e de difícil superação.

A Independência do Brasil foi fruto de uma negociação com Portugal, com papel central da Inglaterra, sem participação popular, diferentemente da experiência norte-americana ou mesmo da América Espanhola. O Brasil Colônia não era um ambiente propício à construção da cidadania e a Independência pouco mudou aquela realidade.

Reflexo disso foi a Constituição de 1824 – a mais longeva de todas -, muito influenciada por crenças liberais no mundo, mas pouco efetiva na prática. Por exemplo, o voto tornou-se menos restritivo em termos de exigência de renda, mas não era o exercício de um direito. As eleições eram fraudulentas, manipuladas por elites locais e até violentas.Foram instituídos direitos individuais, mas a Justiça era pouco acessível, levando o cidadão comum a recorrer à proteção dos grandes proprietários. Assim nasceu a nação brasileira: patrimonialista e patriarcal, para espanto de viajantes estrangeiros.

O Brasil foi o último país a abolir a escravidão, a ponto de causar estranhamento de países vizinhos. Demorou tanto que já eram poucos os escravos; 5% da população em 1887 ou 723 mil, aponta José Murilo de Carvalho.

A pressão da Inglaterra para o fim do comércio intercontinental de escravos vinha desde o início do século 19, sob influência de grupos religiosos, e se intensificou no acordo para a Independência, mas os tratados e as leis eram desrespeitados – o que remete à expressão daquela época “para inglês ver”.

A história se repetiu na Lei do Ventre Livre, com o registro fraudulento de nascimento de bebês de escravas, retroagindo para data anterior à lei.

Na sociedade escravocrata, demorou para o movimento abolicionista se configurar, no fim dos anos 1860, analisa Angela Alonso. Não havia consciência de direitos civis por parte da elite, sendo que poucos insistiram na necessidade de prover aos ex-escravos educação e assistência. Ficou a terrível herança.

A transição democrática do Brasil em 1985 se inseriu na terceira onda de democratização no mundo, nos anos 1980-90, decorrente da pressão externa de forças hegemônicas liberais no fim da Guerra Fria. Ocorria o gradual fortalecimento do multilateralismo, enquanto ideais de democracia e respeito aos direitos humanos passavam a prevalecer nas relações internacionais.

A inserção dos países na globalização dependia da democratização dos países, sob pena de sofrer os custos e constrangimentos de não estarem alinhados a esses valores.

Nessas condições, a inserção do liberalismo na política é mais limitada em comparação a países avançados, como ensina Lourdes Sola. De qualquer forma, a maior participação popular e adesão da elite comparativamente a momentos passados – alimentada pela crise econômica – contribuiu para melhores resultados em termos de democracia e cidadania, ainda que tenhamos um longo caminho a percorrer.

Agora assiste-se à pressão internacional por conta da questão ambiental, fruto de mudanças de crenças das sociedades avançadas, que impactam o mundo corporativo e financeiro, e assim, a agenda política mundial. Não aderir a essa agenda implicará isolamento de países, com custos econômicos e financeiros, como os decorrentes de retaliações comerciais, menor investimento estrangeiro e maior custo de captação de recursos externos.

A responsabilidade de governantes é maior quando a sociedade não valoriza a sustentabilidade, até porque recursos públicos precisam ser direcionados para esse fim. Isso é particularmente importante no Brasil, o sexto maior emissor de gases de efeito estufa, devido à falha do governo em proteger o meio ambiente: o desmatamento é responsável por algo como 40% da emissão de CO2, sendo que 60% do desmatamento na Amazônia ocorre em áreas públicas, segundo a Agroicone.

28 de abril de 2021

CIDADES PRECISAM DE AÇÃO EMERGENCIAL PARA EVITAR COLAPSO URBANÍSTICO!

(Alexandre Benoit, doutor em arquitetura e urbanismo pela USP – Ilustríssima – Folha de S.Paulo, 25) Médicos britânicos acreditam que o real impacto da Covid-19 na saúde mental das pessoas ainda não foi dimensionado e poderá se estender por anos, similar em escala e proporção ao que representou a Segunda Guerra Mundial.

Do ponto de vista econômico, já se sabe que os mais pobres serão os mais severamente atingidos. Fala-se também sobre as mudanças na conduta social e na organização do trabalho. Invariavelmente, tais mudanças convergem para o espaço urbano. As cidades ao redor do globo nunca mais serão as mesmas.

A Europa foi onde os governos locais primeiro perceberam que, para enfrentar os efeitos da Covid-19, além de medidas sanitárias, de distanciamento social e de auxílio econômico, seria preciso intervir nas cidades e pensar em seu futuro.

Em Paris, a prefeitura, dirigida por Anne Hidalgo, acelerou a realização da “cidade de 15 minutos”, preconizando deslocamentos de um quarto de hora, em média, ditados por curtos trajetos, a pé ou em bicicleta, e aliados ao transporte público e a toda uma cadeia verde.

Barcelona, com outra mulher à frente do governo, Ada Colau, vem desenvolvendo um ambicioso plano para banir o automóvel individual do centro e mudar a circulação geral em dez anos —reivindica-se a mesma postura que levou o engenheiro Ildefons Cerdà a conter os danos da cidade industrial no século 19.

Conforme observa a arquiteta Olga Subirós em entrevista ao jornal The Guardian, “a Covid mudou o debate sobre o espaço público”, pois agora “não se trata apenas do solo sob nossos pés, mas do espaço ao nosso redor e do ar que respiramos”.

Pensar segundo o raciocínio de Subirós, em metros cúbicos e não mais metros quadrados, relaciona o direito à cidade a uma inevitável reestruturação produtiva com foco em fontes renováveis de energia e redução de poluentes. Na Ásia, esse debate ganha força, a exemplo do Japão, que pretende suspender a venda de novos veículos a gasolina até meados da década de 2030. Nos EUA, são insistentes os apelos por um Green New Deal pós-pandêmico.

Por mais que o futuro das cidades aponte para um caminho sustentável, com áreas livres e favorável ao pedestre, o solo urbano continua sendo um campo em disputa. A moradia, vista pelo capital como mercadoria, é assegurada pelas Nações Unidas como um direito inalienável de todos. Por isso, ela se torna crucial neste momento.

Em Barcelona, há um forte movimento contra o aumento dos aluguéis. De início, a pandemia acelerou despejos e reajustes abusivos, ao passo que o público para aluguéis de temporada desapareceu.

Essa situação vem gerando iniciativas diversas, como a campanha Despejo Zero, cuja adesão abarcou ativistas de cidades como Barcelona, Joanesburgo, Nova York e São Paulo. Até o sedutor modelo da cidade de 15 minutos foi questionado sobre seu caráter elitista —um quarto de hora para quem?

De modo análogo ao debate no campo econômico sobre a taxação de grandes fortunas, surgem propostas que combatem a especulação do solo urbano. Em Berlim, o governo local congelou o preço dos aluguéis em 2019 —a medida, no entanto, foi suspensa neste mês pela Justiça.

Em Lisboa, a prefeitura lançou um programa para converter em moradia social as unidades antes destinadas ao turismo. O município pagaria metade do valor de mercado do aluguel, firmando contratos de cinco anos, renováveis, oferecendo ao proprietário, em troca de um ganho menor, a estabilidade que hoje ele não tem.

No filme “Roma de Fellini”, confronta-se a cidade antiga com a moderna por meio de uma cena de engarrafamento, com o Coliseu ao fundo, como se o edifício de 70 d.C. fosse asfixiado pelos automóveis fumacentos e ruidosos.

Em outra cena, as escavações para o metrô são interrompidas diante da descoberta de um afresco antigo que se desfaz tão logo entra em contato com o ar poluído. Embora seja de 1972, o filme apresenta um atualíssimo discurso acerca do que os europeus buscam erradicar na vida urbana.

Enquanto as cidades do Velho Mundo trazem marcas de séculos e séculos de intervenções, formando um tecido consolidado e consideravelmente equilibrado, as cidades brasileiras, como São Paulo, foram erguidas em questão de décadas, produtos do capitalismo tardio. Não restam reminiscências da “primitiva” povoação jesuítica, tampouco das monumentais ocas.

Ao contrário de Roma, quase tudo foi apagado, inclusive parte da geografia e da natureza. Por aqui, a cidade como bem comum soa uma ideia fora do lugar.

Por outro lado, se pensarmos que hoje o país lidera os índices sombrios da pandemia e que as consequências poderão se estender por anos, o espaço de nossas metrópoles verá a desigualdade, a violência e os demais problemas se aprofundarem ainda mais, levando a um eventual colapso urbanístico —caos que, aliás, já se anuncia nas periferias e zonas mais carentes.

É desalentador que a dimensão urbana da crise tenha sido ignorada entre nós. São Paulo, uma das poucas exceções, apostou na retirada de vagas de automóveis para ampliar áreas de consumo ao ar livre em bares e restaurantes da região central, aos moldes do que fez Nova York.

A iniciativa é como uma gota no oceano. Perde-se a chance de relacioná-la a outras, de grande impacto, como o fechamento definitivo do elevado João Goulart, o Minhocão, e a criação do parque do Bexiga, no terreno contíguo ao Teatro Oficina. Com essas medidas, a prefeitura sinalizaria a multiplicação de “metros cúbicos” livres e públicos em uma região simbólica, altamente adensada e com vocação democrática.

Deveríamos olhar também para as nossas ruínas. Uma delas é a natureza. Se já não é possível sonhar com o bucólico Tietê da vila de Piratininga, podemos compreender o rio como uma vasta infraestrutura latente, que pode oferecer, como demonstra o grupo Metrópole Fluvial, da FAU-USP, coordenado pelo arquiteto e professor Alexandre Delijaicov, uma interligação metropolitana por meio de uma complexa rede de transporte de pessoas e de carga, além de, no futuro, permitir a fruição de suas margens.

Outra ruína paulistana são os imóveis vazios, uma infraestrutura urbana que, como os rios, deteriora-se ano após ano. Antes da pandemia, estimava-se em cerca de 300 mil o número deles, concentrados em regiões centrais, cifra que bastaria para erradicar o déficit habitacional da cidade. Com a crescente implementação do trabalho remoto e o consequente abandono de andares inteiros de escritórios, esse número deve aumentar.

Se 25% dos imóveis fechados fossem de algum modo ativados, fazendo valer a função social da propriedade, como prevê a nossa Constituição, teríamos o maior programa habitacional já feito na cidade. Seria uma medida em caráter excepcional, que funcionaria como poderosa alavanca de desenvolvimento urbano.

Diversas variantes estariam colocadas para gerenciar e reformar essas unidades, desde o aluguel social, como em Lisboa, a desapropriação, como em Barcelona, ou ainda formas híbridas que contassem com a iniciativa privada e subsídios aos inquilinos, abrangendo faixas de renda diversas.

Seu impacto direto no tecido urbano e nos deslocamentos diários, como em metas de uma cidade sustentável e menos desigual, seria dificilmente mensurável, já que não se trataria apenas de mais imóveis disponíveis, mas sim de uma mudança no adensamento de regiões inteiras do tecido consolidado.

Do ponto de vista econômico, o retorno certamente não seria desprezível, potencializando a construção civil, um dos setores da indústria que não pararam durante a pandemia. Todavia, em vez de reafirmar um modelo de cidade esgotado, o dos novos condomínios verticais e shopping centers, outros caminhos seriam descobertos. Como diz a dupla francesa de arquitetos Lacaton e Vassal, laureada com o Pritzker neste ano, não existem lugares vazios na cidade —é preciso reutilizar e transformar.

A crise deflagrada pelo vírus se torna econômica, social, psicológica e, por fim, urbana, acelerando a revisão de tudo o que moldou as cidades no século passado. Uma ação emergencial significa, em todo o mundo, dirigir a produção do espaço urbano para o real interesse coletivo.

Olhar para as nossas ruínas, que são muitas —citamos apenas algumas neste texto—, poderia representar uma ação à altura dos desafios, impactando positivamente o modo de vida de milhões e, assim, a economia do país e a recuperação dos recursos naturais, tão fundamentais.

Do contrário, de acampamentos improvisados, nossas cidades correm o sério risco de vir a ser quimeras de uma exaurida civilização tropical.

27 de abril de 2021

DE VOLTA A PORTUGAL, D. JOÃO 6º LIDOU COM CRISE POLÍTICA E ATÉ GOLPE DE ESTADO TRAMADO PELO FILHO!

(Giuliana Miranda – Folha de S.Paulo, 25) Há 200 anos, a família real portuguesa deixou o Brasil. O regresso de d. João 6º a Portugal, após mais de 13 anos fora, foi conturbado. Além do clima político hostil e da economia arrasada, o monarca enfrentou diferentes complôs para tirá-lo do trono, envolvendo sua mulher, d. Carlota Joaquina, e seu filho d. Miguel.

As adversidades começaram já no desembarque em Lisboa, em 4 de julho de 1821, quando as Cortes –que haviam assumido o poder na revolução liberal do ano anterior– fizeram questão de reforçar o rebaixamento da autoridade real.

Embora seu navio tenha chegado à capital no dia anterior, e o próprio rei tivesse manifestado o desejo de desembarcar horas depois, as Cortes deliberadamente ignoraram o pedido.

Mantido incomunicável na embarcação, d. João 6º só foi autorizado a sair no momento escolhido pelas Cortes. Além disso, viu parte de seus acompanhantes e indicações ministeriais vetadas de antemão.

As próprias cerimônias que marcaram o retorno da família real foram planejadas pelos liberais como uma forma de mostrar a nova condição da monarquia.

A população foi em peso para as ruas, mas, por determinação das Cortes, a cidade e as casas não foram adornadas com arcos triunfais, como normalmente aconteceria nessas ocasiões.

“O sentimento generalizado seria o de que se acolhia não um soberano vitorioso, mas um rei derrotado, indigno de arcos triunfais”, nas palavras do historiador Valentim Alexandre ao jornal Público.

Sem poder de barganha ou margem negocial, restou a d. João 6º aceitar as determinações e jurar a constituição liberal.

Com poderes limitados e sem conseguir indicar seus próprios ministros, d. João 6º veria a sua situação começar a mudar em 27 de maio de 1823, quando d. Miguel, com o apoio de parte do Exército, organizou uma rebelião contra o governo liberal.

Após demonstrar alguma hesitação. D. João 6º acabou aderindo ao movimento, assumindo o comando da situação e controlando a ascensão ao poder de d. Miguel, que acabou nomeado para o comando do Exército.

O episódio, conhecido como vila-francada, marcou o fim do período liberal iniciado na revolução e reestabeleceu o poder a d. João 6º.

Mesmo com a decisão do monarca de anular a Constituição, libertar presos políticos e cancelar as sentenças contra a rainha Carlota Joaquina (que havia sido punida por se recusar a jurar as leis liberais), o partido absolutista não se mostrava satisfeito com as medidas, consideradas excessivamente moderadas.

“Tudo isso desagradava a d. Carlota Joaquina e a d. Miguel, que aspiravam ao restabelecimento da monarquia absoluta”, escreve a historiadora portuguesa Maria Cândida Proença.

D. João 6º sofre então uma nova tentativa de golpe, realizado pelo próprio d. Miguel. Em 30 de abril de 1824, com apoio do Exército, o príncipe investiu contra o pai, que acabou cercado por tropas miguelistas no Palácio da Bemposta, em Lisboa.

O rei só não caiu por interferência de diplomatas estrangeiros, sobretudo os embaixadores da França e da Inglaterra, que asseguraram a d. João 6º o apoio das potências europeias.

Com o auxílio inglês, o monarca se refugiou em uma nau britânica ancorada no Tejo e conseguiu retomar o controle da situação. D. Miguel acabou demitido do comando do Exército e enviado para o exílio em Viena, na Áustria.

Fragilizado pela instabilidade doméstica e sem apoio internacional para tentar reintegrar o Brasil ao reino, Portugal, sob o comando de d. João 6º, acaba reconhecendo a independência do Brasil em agosto de 1825, em um acordo mediado pelos ingleses.

O rei morreria poucos meses depois –há fortes indícios de que ele teria sido envenenado–, em 10 de março de 1826, aos 58 anos, deixando um baita problema de sucessão.

Com o filho mais velho no comando de uma ex-colônia que se declarara independente, e o mais novo exilado por tramar um golpe de estado, quem era o herdeiro legítimo?

A disputa entre os irmãos, que se prolongou pelos anos subsequentes, mergulhou Portugal em uma guerra civil.

26 de abril de 2021

DOM JOÃO 6º DEIXAVA O BRASIL HÁ 200 ANOS, COM LEGADOS!

(Anna Virginia Balloussier – Folha de SP, 25) João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael de Bragança, o dom João 6º, tinha as tropas napoleônicas em seus calcanhares quando decidiu se mudar para o Brasil. Chegou em 1808 e ficou 13 anos na ex-colônia que, durante essa temporada, promoveria a Reino Unido de Portugal.

Esta segunda-feira (26) marca o bicentenário de sua partida do território que um ano depois, sob rédea de seu filho dom Pedro 1º e com sua complacência, declararia independência da coroa portuguesa. 

Se o imaginário popular guardou a imagem de um glutão que escondia pedaços de frango no bolso e tinha pavor a banho, a passagem de dom João pelo Rio de Janeiro alavancou um projeto ainda imberbe de nação e, de quebra, deu um banho de loja na nova sede da corte real.

Vêm do que historiadores chamam de período joanino instituições até hoje centrais no país, como a Polícia Militar e o Banco do Brasil.

O primeiro jornal impresso no Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro, também é obra de dom João, que instituiu a Imprensa Régia no ano em que se mudou para as Américas. Dom João leva crédito até por popularizar o carioquíssimo hábito de ir à praia.

“Embora tenha sido retratado por historiadores antimonarquistas do início do século 20 como uma figura grotesca, dom João é hoje considerado o mentor do Estado brasileiro”, diz a historiadora Mary Del Priore, com farta obra sobre o passado nacional. “Além de ter enganado Napoleão com sua partida abrupta, ele elevou o Brasil a Reino Unido e era considerado hábil político.”

Não que o monarca não tivesse seu lado pitoresco. Conta-se que tamanho era seu pavor de trovões que João se enrolava nas cortinas do palácio para não ouvir o estrondo, lembra Del Priore. Também tinha “apetite pantagruélico”: devorava até 12 pratos diferentes a cada refeição. Os acompanhamentos obrigatórios eram frutas, queijos, doce e pães.

Filho zeloso, João levava dona Maria 1º para passear na sua fazenda Santa Cruz, onde saboreavam mangas juntos. “Quando a rainha morreu, ele se desolou e passou três dias sem se alimentar, em total desespero e saudade”, afirma a historiadora. Passou de príncipe regente a rei depois disso.

Na mesma granja, um carrapato picou a perna de João. A ferida infeccionou, e o paciente seguiu uma recomendação médica então comum: sanar feridas com o iodo marinho do mar. Passou a tomar banhos de mar, o que ainda não era costume dos cariocas.

Para o tratamento, enfiava-se numa caixa de madeira perfurada, molhando só partes do corpo. Ele esperava assim evitar o ataque de crustáceos nas águas da praia do Caju, próxima à Quinta da Boa Vista, a residência real.

A praia sumiu com a construção da ponte Rio-Niterói. Já a Quinta, erguida em 1803 por um traficante de negros escravizados e doada para a família imperial em 1808, existe até hoje. Quem quase desapareceu foi o Museu Nacional, abrigado no terreno e parcialmente destruído num incêndio 200 anos após ser fundado pelo rei João.

Com a corte vieram as idiossincrasias de dom João, mas também o aparelho de um Estado soberano: a alta hierarquia civil, religiosa e militar, aristocratas e profissionais liberais, artesãos qualificados, servidores públicos.

A capital ganhou a Biblioteca Real, a Academia Real de Belas Artes, a Imprensa Real e a Academia Militar. A abertura dos portos para nações amigas de Portugal, em 1808, encerrou a relação comercial exclusiva com a metrópole e dinamizou a economia local.

A cidade teve também um upgrade de estradas, iluminação pública e uma administração pública mais estruturada que, segundo Del Priore, “incorporou muitos brasileiros, inclusive afrobrasileiros e afromestiços”.

“A transferência da corte mudou a maneira como as pessoas dos dois lados do Atlântico entendiam a situação do Brasil, que deixou de ser uma colônia”, afirma a historiadora Kirsten Schultz, que no livro “Versalhes Tropical” se debruça sobre a vinda do clã real para os trópicos. “Afinal, um rei não poderia viver em uma colônia porque era um território de status inferior.”

Antes de 1808, a capital tinha ruas apertadas e casas simples, a maioria sem calçamento. Nada digno de uma monarquia. Ao aportar no Rio, o regente foi recebido com ruas cobertas de areia, ervas e flores, conforme narrou o cônego imperial Luiz Gonçalves dos Santos, o Perereca, padre-cronista daqueles tempos.

A cidade estava em festa. Sinos badalaram nas igrejas, fogos de artifício coloriram o céu e um coreto entoou “melodiosas vozes instrumentais como vocais”, segundo Perereca.

Com dom João no pedaço, o Rio provou do “lifestyle” cosmopolita. Para abrigar os milhares de recém-chegados numa cidade de 60 mil habitantes, um tanto de gente acabou desalojada —incluindo parte da elite que vivia em suntuosas chácaras. O despejo por ordem real foi batizado de “aposentadoria”.

O desembarque daquele homem baixo, com papadas e um ventre esférico, com coxas roliças que desgastavam o calção de seda, empurrou o Brasil para uma modernidade inédita. O Rio pré-dom João foi para o brejo: a nova administração aterrou pântanos e abriu ruas mais largas e planejadas.

Apreciador de óperas, o regente ordenou a construção do Teatro Real de São João (atual João Caetano). Inaugurada em 1813, a casa abrigou “Don Giovanni”, ópera de Mozart encenada pouco após sua estreia, em Viena.

Embrião da PM, a Polícia da Corte foi fundada em 1809. Os 218 oficiais da primeira leva substituíram quadrilheiros, homens que faziam a patrulha local munidos de lanças e bastões.

Schultz aponta que o policiamento foi concebido para, em parte, punir escravizados. “As preocupações do primeiro intendente de polícia com o que ele chamou de ‘civilização’ e ‘segurança pública’ também levaram a ações repressivas contra os negros livres, incluindo trabalho forçado. A presença da corte desafiou a ideia de que o Brasil era uma colônia de Portugal, mas reafirmou o colonialismo gerado pelo domínio português.”

Dom João dava todos os sinais de que veio para ficar de vez. “Isso contribuiu para criar na Europa a impressão de que pessoas da maior estatura, como uma das dinastias reinantes, podiam viver com certo conforto nos trópicos”, diz a historiadora Isabel Lustosa, do Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa e autora de livros sobre o período joanino.

“Tudo isto elevou a moral dos brasileiros e lhes deu força para resistir às tentativas de retrocesso que se seguiram à partida do rei.” O regente pródigo a Portugal voltou, ainda que a contragosto, pressionado pelos conterrâneos, que atravessavam a liberal Revolução do Porto.

Em 1822, vingou o clamor nacional: independência ou morte.

23 de abril de 2021

O QUE QUER A ESCOLA AUSTRÍACA!

(Helio Beltrão, do instituto Mises Brasil – Folha de SP, 21) Toda ciência é, por definição, isenta de juízos de valor, ou seja, livre de vieses e opiniões do cientista que possam impactar a análise. Tal princípio é uma das grandes contribuições da revolução científica.

David Hume articulou no século 18 o problema do “ser”-“dever ser”. Argumentava que não se pode derivar o que “deveria ser” a partir do que “é”.

A dicotomia de Hume sinalizou uma forma analítica de fatiar escopos para aprofundar o conhecimento. A ciência deve se limitar a cuidar dos fatos, daquilo que “é”, ao passo que a filosofia política e a ética, por exemplo, formam disciplinas voltadas ao que “deve ser”.

O princípio da neutralidade se aplica também às ciências sociais, em particular à econômica. Como dizia Ludwig von Mises, a “economia é apolítica ou não política e se refere sempre aos meios, nunca à escolha dos fins últimos”. É, portanto, a discussão sobre o que funciona e o que não funciona, de forma a alcançar certos fins dados.

Nas ciências naturais como a física, a química e a biologia, é razoavelmente trivial afastar juízos de valor. Experimentos controlados em laboratório —replicáveis e que isolam o objeto de estudo de todas as demais influências— deixam pouco espaço para contaminação por valores pessoais.

As ciências sociais são diferentes, pois é virtualmente impossível desenhar um experimento controlado com seres humanos que elimine interferências indevidas e permita apontar o fator causador isolado, que explique o futuro em todas as ocasiões. Os dados no mundo real são produto de diversas influências que o pesquisador não consegue isolar, especialmente por tratar do inconstante comportamento humano.

O caso da separação das Alemanhas Oriental e Ocidental e das Coreias no pós-guerra são possíveis exceções que comprovam a dificuldade. Povos com mesma cultura, trajetória histórica, língua e valores foram separados abruptamente em metades, nas quais políticas públicas distintas foram implementadas. O “experimento” demonstrou inequivocamente o dano de políticas públicas coletivistas.

Em razão dessas dificuldades metodológicas inexpugnáveis, “escolas” de pensamento perduram, cada qual com distintos pressupostos. Em economia, além da Escola Austríaca, que chegou aos 150 anos, há as escolas neoclássica, keynesiana de várias vertentes, monetária/Chicago, de escolhas públicas, institucionalista, marxista.

Não há um método consensual que comprove definitivamente que a escola rival não funcione. Por exemplo, a despeito das evidências das Alemanhas e das Coreias, os marxistas respondem com mantras como “deturparam Marx” e “o socialismo não foi aplicado até o fim”, cuja refutação, infelizmente, não conta com o auxílio de resultados objetivos de um experimento de laboratório.

Os austríacos e outros economistas utilizam termos como “melhorar sua satisfação” em um sentido formal estrito. O pressuposto normativo equivalente seria algo na linha de que a imensa maioria das pessoas prefere saúde a doença, vida a morte, e abundância a escassez. O sentido estrito da ciência econômica, no entanto, não denota juízo de valor.

Dados os fins da imensa maioria, o economista da Escola Austríaca, por exemplo, utiliza seu arcabouço científico para demonstrar que trocas voluntárias em um regime de igualdade perante a lei e respeito à propriedade privada são eficazes.

Caso Stálin lhe perguntasse como alcançar a utopia marxista da igualdade material perene, Mises provavelmente diria que políticas socialistas são plenamente eficazes, porém ressaltaria o resultado: todos iguais na pobreza material.

22 de abril de 2021

RODRIGO MAIA: ‘ORÇAMENTO ESTÁ FALIDO E NÃO DEVERIA SER SANCIONADO’!

(O Estado de S. Paulo, 18) Presidente da Câmara até fevereiro deste ano, o deputado Rodrigo Maia diz que o Orçamento está “falido” e “capturado pelos projetos paroquiais”. A prova é que o volume de emendas parlamentares – gastos incluídos por deputados e senadores no Orçamento para obras em seus redutos eleitorais – é maior do que os recursos destinados aos projetos do governo. Maia diz que não é normal pressionar para sancionar um Orçamento que é ilegal. “Tenho convicção que o presidente não deve e não pode sancionar”, afirma o ex-presidente da Câmara. Como já mostrou o Estadão, o risco de o presidente sancionar o texto consiste em cometer crime de responsabilidade, que poderia desembocar em um processo de impeachment. Leia a seguir os principais trechos da entrevista de Maia:

Estado de SP: Como Congresso e governo chegaram a esse impasse orçamentário?

Rodrigo Maia: A situação do Orçamento está gerando esse conflito e daqui para frente vai gerar outros. Tanto governo e Congresso tem responsabilidade por esse Orçamento em que as emendas parlamentares são maiores do que os gastos discricionários (despesas que não são obrigatórias e incluem investimentos) de projetos do governo. É a prova que esse Orçamento está falido, capturado pelos projetos paroquiais de um lado, e pelos subsídios tributários de setores beneficiados no Brasil de outro.

ESP: Quais os erros?

RM: Está provado que a PEC (emergencial) foi irrelevante. Não tem um novo marco fiscal, como o ministro Paulo Guedes disse. Do outro lado, temos um Congresso propondo que o presidente sancione algo que ele próprio está dizendo ‘sanciona e depois corrige’. A casa das leis não pode aprovar algo que está indo contra a Constituição e as leis de controle do Brasil. Não podemos achar que é normal pressionar para sancionar algo que todo mundo sabe que vai precisar ser corrigido. Há erros por parte do governo de ter feito um acordo sobre um recurso que não existe.

ESP: Qual a consequência?

RM: Acaba tento um debate em que daqui a pouco vão construir várias casinhas fora do teto de gastos (regra constitucional que impede que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação). Com casinhas ao lado onde tem o teto principal, as paredes vão quebrar, os alicerces vão quebrar, vai arrebentar tudo porque a gente não vê por parte desse governo uma organização para aprovar o que precisa ser aprovado. O Congresso propõe sancionar algo que é ilegal.

ESP: É um erro para o presidente sancionar sem veto?

RM: É um erro para o Brasil. Não há outra decisão para o governo que não seja vetar o Orçamento e corrigi-lo rapidamente. A sanção de um projeto que está com problemas, a partir daí, sem dúvida nenhuma, o presidente da República passa a ser refém do Congresso. A relação dos Poderes não pode ser assim. Tem de ser de independência, mas harmônica.

ESP: O governo ficará refém porque o presidente poderá sofrer um impeachment?

RM: Não sei se impeachment ou inelegibilidade. A casa das leis tem responsabilidade com o que aprova. Até porque como é uma sanção conjunta do Orçamento, o tempo para digerir o que foi aprovado numa casa para a outra não existe. Foi o que eu tentei fazer, inclusive, com os partidos independentes de oposição. Era atrasar o Orçamento uma semana para mostrar onde estavam os problemas. Infelizmente, como é uma sessão conjunta, não dá tempo para compreender que o relator (senador Márcio Bittar), que foi sempre muito intencionado com a necessidade de cortes de despesas, viu o relatório minguar e virar nada. Para conseguir aprová-lo, acabou tendo de reduzir despesas que não são possíveis, não há como contingenciá-las. E abriu espaço para ter um Orçamento onde a política paroquial tem mais do que os projetos do governo federal.

ESP: Está tudo errado?

RM: Isso está errado. O sistema está distorcido, esgotado, falido. Precisa ter a compreensão que o custo que vamos pagar por sancionar um Orçamento irregular é o custo de ter o câmbio mais desvalorizado (o dólar mais caro do que o real), inflação num patamar de 10% por mais tempo e ter uma taxa de juros maior para o Brasil financiar sua dívida. Toda essa conta quem paga é o cidadão.

ESP: Mas o avanço das emendas do relator começou no Orçamento de 2020 quando o sr. era presidente da Câmara. Começou ali e explodiu este ano, não foi?

RM: Emenda de relator sempre existiu. Só que era dentro do Orçamento. Quando virou impositiva (que precisa ser paga ), se tirou a emenda de dentro do Orçamento para dar transparência. Os valores são muito parecidos, mas eram dentro do teto e depois não foram executados. O governo de fato não executou, mas o que nós aprovamos era dentro do teto.

ESP: Essa é a diferença? Teve um imbróglio político grande no ano passado.

RM: O que teve é que o relator incluiu um valor além do que foi acordado e que foi devolvido num PLN (projeto de lei do Congresso). Ele mudou rubricas RP2 (governo) para RP9 (emendas do relator) e devolveu para RP2. O que se colocou para o Parlamento, num Orçamento que tinha espaço, foi o valor negociado com o governo. Só que depois o governo não cumpriu e o próprio Centrão, quando aderiu ao governo, abriu mão da execução daqueles emendas.

ESP: O ministro Paulo Guedes pode cair por causa do impasse do Orçamento?

RM: A impressão que me dá, olhando de longe, é que Paulo Guedes errou na negociação do Orçamento e o Parlamento errou em aprovar nas condições que aprovou. A melhor coisa para todos é que esse jogo seja zerado. O governo deveria vetar, chamar o Orçamento, rediscutir e ver ao longo dos meses como vai ser a execução desses gastos. Tem uma corrente da assessoria técnica que acha que as despesas previdenciárias estão superestimadas e outra acha que não. Isso só vai ter condição de saber mais à frente.

ESP: A coalização que comanda hoje o Congresso é preocupada com questões orçamentárias?

RM: Minha avaliação é que é. Tanto Rodrigo (Pacheco, presidente do Senado) quanto o Arthur (Lira, presidente da Câmara) têm compromisso com essa pauta. Só que eles estão olhando pela ótica do acordo que foi construído. Esse acordo não é apenas do presidente das duas Casas. Foi articulado com os principais líderes.

21 de abril de 2021

MEIO AMBIENTE, PRIORIDADE NACIONAL!

(Editorial – O Estado de S. Paulo, 20) A principal razão: os interesses do povo brasileiro. Sob a organização dos Estados Unidos, ocorrerá nos próximos dias 22 e 23 a Cúpula dos Líderes sobre o Clima, para a qual foram convidados 40 chefes de Estado, entre eles o presidente Jair Bolsonaro. Com razão, tem-se dito que o evento é uma oportunidade para que o governo brasileiro mude a percepção internacional a respeito de sua relação com o meio ambiente, assumindo compromissos efetivos com a proteção ambiental.

Ainda que verdadeiro, o argumento relativo à oportunidade da adoção de uma nova política ambiental por ocasião da Cúpula dos Líderes sobre o Clima pode conduzir à equivocada ideia de que a proteção do meio ambiente seria prioritariamente um assunto de ordem internacional – como se fosse, na essência, um passo para o bom relacionamento do Brasil com as outras nações.

Não há dúvida de que o compromisso com o meio ambiente pode facilitar a inserção do Brasil no cenário internacional, gerando muitos benefícios, também comerciais, para o País. No entanto, ver o tema apenas por esse ângulo é ignorar a principal razão para a proteção do meio ambiente. O Brasil não deve proteger seu território das queimadas e do desmatamento ilegal porque os Estados Unidos elegeram recentemente um presidente disposto a promover a agenda global de proteção ao clima. Ou porque os franceses assim exigem como condição para comprar produtos brasileiros.

Ou porque a ONU ou algum organismo multilateral assim aconselha. Nenhum motivo de ordem internacional, por mais relevante que possa ser, aproxima-se da principal razão para a proteção do meio ambiente: os interesses do povo brasileiro, no presente e no futuro.

O primeiro prejudicado pelo desmatamento ilegal da Amazônia não são os europeus ou americanos. São os brasileiros, seus filhos e netos. Quando uma floresta brasileira é queimada, o principal problema não é o escândalo internacional que isso causa, mas os danos presentes e futuros que o incêndio gera no território nacional e para o povo brasileiro.

É descabido, portanto, o argumento de que, em defesa da soberania nacional, o governo brasileiro deve resistir às pressões dos outros países, “cedendo” o mínimo possível em questões ambientais. Sob essa lógica, a negociação ótima seria o País não assumir compromissos ambientais pois a preservação da natureza seria um custo para os brasileiros.

Muitas vezes, essa mentalidade obtusa – que ignora que os compromissos ambientais protegem, em primeiro lugar, o patrimônio nacional – é exposta sem nenhum pudor. Por exemplo, quando se desqualifica a proteção do meio ambiente com a bravata da resistência ao “globalismo”.

Outras vezes, a ignorância a respeito da proteção ambiental vem disfarçada de perspicácia negocial. Nos últimos meses, por exemplo, o governo Jair Bolsonaro tem dito que poderia assumir metas ambientais mais ambiciosas caso os países desenvolvidos disponibilizem mais recursos para essa finalidade.

A rigor, esse argumento é uma afronta aos brasileiros. Com ele, o governo de Jair Bolsonaro admite que defenderá a natureza brasileira e os interesses do seu povo apenas se os outros países doarem mais dinheiro para a causa ambiental. É um escândalo que um governo condicione o cumprimento de suas responsabilidades internas a doações estrangeiras. Como bem observou a propósito o vice-presidente Hamilton Mourão, o Brasil não pode ser reduzido à condição de mendigo.

Não é compatível com a altivez própria de um país soberano que seu governante proclame ao mundo que somente cumprirá as leis internas de seu país e defenderá os interesses de seu próprio povo se receber doações internacionais.

Como lembrou a 58.ª Assembleia-geral da CNBB, a casa comum não pode estar “submetida à lógica voraz da exploração e degradação. É urgente compreender que um bioma preservado cumpre sua função produtiva de manutenção e geração da vida no planeta, respeitando-se o justo equilíbrio entre produção e preservação”. Compreender tal realidade não significa fazer concessões a pressões internacionais. Significa não virar as costas ao interesse nacional.

20 de abril de 2021

A AGENDA DA OPINIÃO PÚBLICA E A POLÍTICA EXTERNA!

(Celso Lafer – O Estado de S. Paulo, 18) A dinâmica das transformações técnicas, econômicas, sociais e culturais tornou o mundo contemporâneo especialmente finito e interdependente. Unificou-se, para o bem e para o mal, o campo estratégico-diplomático. Daí os desafios da inserção internacional dos países, ainda mais complexos por conta da vertiginosidade da era digital.

É o que explica, com a porosidade das fronteiras, a internalização do mundo no âmbito dos países, alcançando suas populações. Um paradigmático exemplo é a pandemia de covid-19. Com a sua letalidade, alterou em escala planetária o cotidiano. Magnificou as ameaças à vida, fazendo da diplomacia das vacinas item de primeiro plano da pauta internacional e expressão do papel da gestão de riscos da política externa.

A multiplicidade e variedade do impacto do mundo na especificidade da vida dos países é uma das razões por que a política externa deixou de ser o domínio reservado e exclusivo dos governantes e seus agentes diplomáticos. Não resulta mais da restrita visão e do cálculo de poucos. Requer incorporar sensibilidades, interesses e paixões de muitos, que se manifestam pelos canais de articulação da voz da sociedade. É o que obriga o palácio a levar em conta a visão dos governados, traduzida numa agenda de opinião pública.

Estar atento a ela é um dado, numa democracia, de sustentabilidade da política externa. Essa pauta se exterioriza pela mídia, pela dicção dos interesses e valores da sociedade e pela ressonância que adquirem no Congresso, ao exercer suas funções de fiscalização da ação do Executivo. Pode alcançar o Judiciário quando temas da política externa são passíveis de judicialização.

Lidar com essa pauta é responsabilidade do chanceler como principal colaborador ex officio do presidente na condução da diplomacia. A ele cabe explicar de maneira ampla e convincente como a agenda da opinião pública se ajusta à política externa, apta a traduzir apropriada ponderação de necessidades internas numa qualificada avaliação dos possibilidades externas. A ele cabe indicar como a política externa está em consonância com a moldura dos princípios constitucionais que regem as relações internacionais do Brasil. Incumbe-lhe dar as razões substantivas de novas ênfases e prioridades que diferenciam a diplomacia de um governo da dos seus antecessores. Precisa esclarecer e justificar por que as mudanças patrocinadas são válidas.

Dessa responsabilidade se desincumbiram todos os chanceleres da Nova República – e falo com um saber de experiência –, lidando com a pluralidade de perspectivas da agenda de opinião pública e enfrentando os embates instigados pelas oposições aos governos a que serviram.

No exercício dessa responsabilidade fracassou de maneira retumbante Ernesto Araújo. A sua queda como chanceler é um inédito “impeachment informal” conduzido pela agenda da opinião pública, a qual ele antagonizou com plúmbea carência de sensibilidade, surpreendente para quem teve uma formação diplomática. Como diz o provérbio latino, quos Deus vult perdere, prius dementat (a quem Deus quer perder, primeiro tira o juízo – incluído o juízo diplomático).

É certo que a sustentabilidade da visão das coisas internacionais do presidente Bolsonaro é cada vez mais difícil de explicar à sociedade brasileira. Só encontra ressonância no âmbito mais restrito dos seus raivosos apoiadores ideológicos. Não indica uma capacidade do presidente de se orientar no mundo, pois almeja uma diplomacia de extremos, voltada para a vocação de rupturas; desejosa de construir muros e dinamitar pontes e assim fomentar o isolamento internacional do País, que nos afasta de nossos parceiros bilaterais e compromete a nossa atuação multilateral; que dilapida o soft power acumulado do capital diplomático brasileiro; que ignora a sensibilidade internacional em relação ao meio ambiente, com consequências restritivas para as exportações brasileiras e para o investimento em nosso país. É o que nos vem levando, pela primeira vez na História, à condição de pária internacional, que o seu ex-chanceler se sentia à vontade de sustentar e defender.

São crescentes as manifestações da voz da agenda da opinião pública em relação aos rumos que vem imprimindo ao País. A mais aguda diz respeito ao opaco negacionismo no trato da pandemia e suas consequências para a vida e a morte dos brasileiros.

Ela alcança, no entanto, amplo espectro de políticas públicas, com destaque a política externa, que, para a agenda da opinião pública, requer mudanças.

É de esperar que o novo chanceler, Carlos Alberto Franco França, tenha condições de operar essas mudanças. O seu discurso de posse, ao indicar que a missão a ele confiada é a de enfrentar as urgências no campo da saúde, da economia e a do desenvolvimento sustentável e do clima, é pertinente. Tem o mérito conceitual de estabelecer o quadro geral dos problemas e definir uma agenda relevante.

19 de abril de 2021

UM PAÍS ILHADO PELA SUPERSTIÇÃO!

(João Gabriel de Lima, professor da FAAP – O Estado de S. Paulo, 17) “Sempre teremos Paris.” A frase famosa é de Rick Blaine, personagem de Humphrey Bogart no filme Casablanca – e era válida, até pouco tempo atrás, para o Brasil da covid-19.

Com os principais aeroportos do mundo fechados aos brasileiros, a França era um dos poucos países que aceitavam nossos compatriotas – devidamente testados e temporariamente confinados. Na terça-feira dia 13, no entanto, o governo francês decidiu que não mais receberia aviões provenientes do Brasil. Não teremos mais Paris.

A sessão do Parlamento francês que decidiu pelo fechamento de aeroportos foi um dos dois recados que o mundo deu, ao longo da semana, à ilha chamada Brasil. Ele veio em forma de sarcasmo.

O primeiro-ministro Jean Castex fez piada com a obsessão do governo brasileiro por tratamentos sem comprovação científica, em especial à base de cloroquina. Os deputados franceses caíram na gargalhada. O vídeo viralizou nas redes sociais.

O segundo recado veio da comunidade acadêmica. A revista americana Science, uma das publicações científicas mais respeitadas do mundo, fez um balanço do fracasso brasileiro no combate ao coronavírus. O governo federal foi considerado o principal culpado, por sua “falha em implementar respostas rápidas, coordenadas e equilibradas num contexto de desigualdades locais agudas”.

Novamente surgiu, como fator agravante, o debate estéril sobre medicamentos sem eficácia comprovada: “A resposta federal foi uma perigosa combinação de inação e erros, incluindo a promoção do tratamento com cloroquina sem evidência alguma”.

A risada dos deputados franceses e o juízo da revista americana apontam para um mesmo fenômeno, o da desinformação – que ceifa vidas na pandemia e mina os regimes de liberdade.

“A democracia depende da interlocução racional dos vários atores, a partir de fatos que todos aceitam”, diz o jornalista Eugênio Bucci, colunista do Estadão e personagem do minipodcast da semana.

Vale lembrar a frase popularizada pelo senador americano Daniel Patrick Moynihan: “Qualquer um tem direito às próprias opiniões, mas não aos próprios fatos”.

Entre vários livros, Eugênio é autor de Existe democracia sem verdade factual?. Segundo ele, as instituições se veem ameaçadas sempre que as instâncias comprometidas com a busca dos fatos – as universidades, os institutos de pesquisa, o jornalismo profissional – são desacreditadas ou atacadas pelos governos.

Plataformas digitais que estimulam a emoção em detrimento da razão são ideais para tais ataques. Em vez do debate público, cria-se, segundo Eugênio, um clima de “superstição pública”.

Como sugere a revista Science, o fracasso brasileiro no combate à covid-19 se deve, em grande parte, à proliferação de “superstições públicas” – como o tal tratamento à base de cloroquina. O Brasil precisa sair do transe e recuperar, o quanto antes, o debate racional a partir dos fatos.

Para Eugênio, só a boa política, aquela que se tece sobre o diálogo maduro, pode encaminhar a resolução de nossos problemas. Hoje, eles são enormes. Duas tragédias – humanitária e econômica – que resultaram da má gestão da pandemia.

O mundo já gritou, em inglês e francês, que tem medo do criadouro de variantes em que nos transformamos. Se não corrigirmos logo o rumo, seremos vistos, cada vez mais, como uma ilha indesejável, lamentada por seus mortos e ridicularizada por suas superstições.

O Brasil precisa sair do transe e recuperar o debate racional a partir dos Fatos.

16 de abril de 2021

FRAGMENTAÇÃO PERUANA!

(Editorial – Folha de S.Paulo, 15) Enfrentando um de seus piores momentos na pandemia, o Peru realizou no domingo a mais fragmentada eleição presidencial de sua história. Com os votos dispersos entre 18 candidatos, Pedro Castillo e Keiko Fujimori se impuseram sobre os demais, embora nenhum deles tenha conquistado mais do que 20% dos sufrágios.

Castillo, o primeiro colocado, constitui também a maior surpresa. Sindicalista e professor, ele ganhou notoriedade ao liderar uma greve nacional em 2017. Esposa uma plataforma que mistura propostas estatizantes e de cunho autoritário com um discurso anticorrupção, ao qual alia um extremado conservadorismo nos costumes.

Sua votação expressa a histórica divisão territorial do país. Foi o mais bem colocado nas regiões centro e sul, mais pobres e que pouco se beneficiaram do crescimento econômico das últimas décadas, mas apenas o quinto na região metropolitana de Lima.

O oposto se deu com sua adversária, que se destacou sobretudo na capital e nas áreas litorâneas.

Disputando pela terceira vez a Presidência, Keiko também defende uma pauta socialmente conservadora, mas um receituário liberal para a economia. No último pleito, a filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), preso por corrupção e violações aos direitos humanos, foi derrotada por menos de 50 mil votos.

Embora ostente maior experiência política, pesam contra ela acusações de lavagem de dinheiro e de recebimento de caixa dois, que a levaram à prisão em 2018. Outro fator a enfraquecê-la é o antifujimorismo, que permanece forte no país.

Vem justamente dos anos Fujimori uma das causas dos problemas políticos atuais. A desfiguração dos partidos tradicionais a partir da década de 1990 criou um cenário fragmentado e instável, com um Congresso repleto de siglas fracas e sem coesão interna, que dificultam ou inviabilizam negociações com o chefe do Executivo.

Somam-se a isso o descrédito dos políticos provocado pelos seguidos casos de corrupção —todos os presidentes eleitos nos últimos 20 anos terminaram envolvidos em escândalos— e a gestão desastrosa da pandemia.

O Peru é um dos países mais acometidos pela Covid-19, com cerca de 55 mil mortes, número que o coloca ao lado do Brasil em termos proporcionais.

É nesse cenário turbulento e politicamente fraturado que os dois candidatos, Castillo à esquerda e Keiko à direita, farão suas alianças e concessões com o objetivo de capturar os votos do centro.

15 de abril de 2021

ESG E SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL!

(Marcus Nakagawa, coordenador do centro ESPM de desenvolvimento sócio-ambiental – O Estado de S. Paulo, 14) No final dos anos 90, as empresas no Brasil estavam em um crescente desenvolvimento pela responsabilidade social corporativa. Organizações como Instituto Ethos, Akatu, Idis e CEBDS, entre outras, estavam realizando suas várias atividades para disseminar o tema. A grande finalidade era mobilizar os negócios para entender a importância de pensar além dos indicadores financeiros. Inserindo também na sua gestão indicadores com as temáticas da governança, investimento social privado, relacionamento com a comunidade, ética, gestão de stakeholders e vários outros.

Todos estes índices estão nos Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis que atualmente possuem uma maior integração com as diretrizes de relatórios de sustentabilidade da Global Reporting Initiative (GRI), com a Norma de Responsabilidade Social ABNT, NBR, ISO26000, SASB, CDP e outras iniciativas ligadas à transparência e mensuração do desenvolvimento sustentável corporativo.

Em 2005, nasceu como uma iniciativa pioneira na América Latina o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da então Bovespa, hoje B3. A ferramenta faz uma análise comparativa, por meio das suas sete dimensões de empresas listadas na bolsa de valores, com o olhar da sustentabilidade corporativa. A atual carteira, que vigora do período de 4 de janeiro a 30 de dezembro de 2021, reúne 46 ações de 39 empresas que somam R$ 1,8 trilhão em valor de mercado. Esta carteira mostrou uma rentabilidade de +294,73% ante os +245,06% do Ibovespa, no fechamento de 25 de novembro de 2020.

No Fórum Econômico Mundial de 2020, o seu fundador, Klaus Schwab, disse que a pandemia deixou clara a falta de sustentabilidade do sistema antigo em termos de coesão social, falta de oportunidades e inclusão. Para o ano de 2021, o Fórum já colocou que o cenário de negócios enfrentará maior incerteza no pós-covid. Ou seja, cada vez mais, a certeza de que a missão empresarial vai além das questões financeiras e que também está ligada aos seus impactos no meio ambiente, no social e na forma da sua governança, ou seja, as três letras que formam a sigla ASG (Ambiental, Social e Governança) ou ESG (Environmental, Social & Governance) em inglês.

No setor financeiro estas três letras traduzem a sustentabilidade empresarial: a Blackrock, maior empresa em gestão de ativos do mundo, definiu, desde o início de 2020, um plano de ação para tornar a sustentabilidade um componente-chave dos seus investimentos. E na sua Pesquisa Global mostrou que 54% dos respondentes consideram que o investimento sustentável é fundamental para os processos e os resultados dos investimentos. Os participantes planejam dobrar os seus ativos sustentáveis sob gestão nos próximos cinco anos. Já 75% colocam que estão integrando ou considerando integrar o ESG nas suas decisões de investimento.

A análise do ESG é fundamental para a tomada de decisão dos investidores diminuírem seus riscos, além de responder às demandas da sociedade e do planeta, de uma forma monetizada, política ou de relacionamento positivo. Independentemente se a sigla ESG será a substituição para os vários termos existentes hoje, como responsabilidade social corporativa, cidadania corporativa ou sustentabilidade empresarial, entre outros, o importante é que o movimento está em um crescimento exponencial e muitos profissionais pelo desenvolvimento sustentável estão trabalhando para tornar os dados, indicadores e análises mais concretos e tangíveis. E sua empresa já está trabalhando com foco também no ESG?

14 de abril de 2021

POR QUE A INFLAÇÃO PREOCUPA!

(Editorial – O Estado de S. Paulo, 12) Não foi bom, mas poderia ter sido pior. Esta avaliação talvez possa sintetizar o significado da inflação de 0,93% em março, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Algumas comparações apontam para um quadro inflacionário que justifica alguma precaução. Esta é a maior alta do IPCA em março desde 2015, quando alcançou 1,32%. Um ano antes, a inflação mensal tinha sido praticamente zero, de apenas 0,07%; no mês anterior, fora de 0,86%.

Com o resultado de março, a variação acumulada de 12 meses alcança 6,10%, bem acima da meta de inflação para este ano fixada pelo Conselho Monetário Nacional, de 3,75% (para 2022, é de 3,50% e para 2023, de 3,25%). A última vez que a inflação de 12 meses superou a meta do ano foi em novembro de 2016, quando atingiu 6,99%, ante a meta de 6,5% para aquele ano, como lembrou o analista do Sistema de Índices de Preços do IBGE André Almeida.

A despeito dessas comparações, a maioria dos analistas do mercado financeiro previa um número maior, no intervalo entre 0,94% e 1,10%. Por essa razão, houve, no mercado financeiro, quem recebesse o resultado de março com alívio. “Foi uma boa surpresa”, comemorou um analista.

A situação, porém, não merece comemoração, mesmo estando distante de um quadro de crise. A pandemia, cujo controle exigiu severas restrições à aglomeração de pessoas e a todas as atividades econômicas, levou à forte redução da inflação. O resultado acumulado de 12 meses vinha caindo desde o início do ano passado, mas a queda se acentuou a partir de março – mês em que a covid-19 começou a se espalhar pelo País –, até atingir seu menor valor em junho, quando ficou em 2,13%.

Desde então, vem aumentando, mas a alta se acelerou nos últimos meses. Em janeiro, a inflação de 12 meses alcançara 4,56% e em fevereiro, 5,20%. Entre fevereiro e março, a alta foi de quase 1 ponto porcentual. É um comportamento que preocupa, pelo menos no curto prazo.

A aceleração da inflação nos últimos meses tem sido atribuída a altas nos preços dos alimentos e dos combustíveis. São dois itens com peso expressivo na composição do IPCA. Em um ano, os preços dos combustíveis subiram 23,26%.

Alimentos in natura, que há tempos registram alta expressiva de preços, continuam a pressionar. Em 12 meses, o grupo alimentação e bebidas registra alta de 13,87%. Mas a pequena variação, de apenas 0,13%, em março pode ser um sinal benéfico, de que a pressão dos alimentos pode estar diminuindo.

A provável causa dessa diminuição, porém, preocupa. Pode ser que a suspensão do pagamento do auxílio emergencial no primeiro trimestre, associada a medidas mais rigorosas para conter a pandemia, tenha comprimido a demanda por alimentos. “As pessoas compram menos alimentos perecíveis nesse período”, avalia o gerente do Sistema de Índice de Preços do IBGE, Pedro Kislanov.

Ou seja, os alimentos subiram menos porque provavelmente a população está comendo menos. Se verdadeira, será uma constatação deprimente num país extremamente desigual e com número crescente de pessoas em situação de extrema pobreza.

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, disse, com razão, não ver um cenário de estagflação, isto é, de estagnação econômica combinada com aceleração da inflação. Essa combinação não existe.

Mas, no mesmo cenário em que a inflação sobe – embora possa vir a se reduzir dentro de algum tempo –, a atividade econômica se desacelera, a produção dá sinais de desorganização com o descompasso entre demanda e oferta de insumos em diversos segmentos, a taxa de desemprego permanece muito alta, o número de mortes diárias pela covid-19 bate recordes e a vacinação continua a patinar. E as principais autoridades do País parecem nada disso ver. É preocupante.

13 de abril de 2021

APÓS VIRADA NO EQUADOR, LASSO TERÁ DE DIALOGAR POR APOIO PARLAMENTAR!

(Sylvia Colombo – Folha de S.Paulo, 13) O resultado das eleições no Equador, além de significar uma dura derrota do correísmo —força que dominou a política local por mais de dez anos—, exibe uma nova radiografia do país, com a qual terá de conviver o presidente eleito, Guillermo Lasso, 65.

O banqueiro e empresário de centro-direita conseguiu a façanha de uma virada nas urnas depois de um desempenho fraco no primeiro turno, em que quase perdeu a vaga para o líder indígena Yaku Pérez.

A estratégia de mudar a narrativa sobre sua candidatura funcionou, e para isso foi fundamental a contratação de Jaime Durán Barba, o marqueteiro equatoriano por trás da vitória de Mauricio Macri na eleição presidencial de 2015 na Argentina.

A propaganda de Lasso na TV e nas redes sociais ganhou agilidade, incorporando bandeiras importantes de um eleitorado que não votava nele: jovens, ambientalistas, mulheres, progressistas anti-correístas. É certo que isso expôs o candidato ao ridículo, ao incluir dancinhas do TikTok no cardápio. Poderia ter dado muito errado, mas não foi assim.

Lasso se sobrepôs ao candidato de Rafael Correa (2007-2017), Andrés Arauz, por 52,5% contra 47,5%. A diferença eliminou a possibilidade de uma disputa pela recontagem, como havia acontecido no primeiro turno (a pedido de Yaku Pérez) e no pleito de 2017, quando o próprio Lasso não reconheceu a vitória de Lenín Moreno e saiu às ruas com um megafone na mão dizendo que havia ocorrido uma fraude.

Após a posse, marcada para 24 de maio, o presidente eleito enfrentará dificuldades. As mais óbvias são a crise sanitária, com pouco mais de 1% da população vacinada e uma segunda onda da pandemia de coronavírus saturando hospitais de vários centros urbanos importantes. Na economia, uma dívida externa de US$ 17,4 bilhões e um PIB que encolheu 7,8% no último ano.

A primeira preocupação de Lasso deverá ser construir consensos para aprovar suas medidas. Para isso, terá de dialogar com um Congresso (que no Equador é unicameral) em que terá apenas 12 parlamentares.

A principal força política será a coalizão correísta União pela Esperança, com 49 assentos. A segunda será o movimento indígena, liderado pelo Pachakutik (de Yaku Pérez), com 27 congressistas. “Lasso terá uma tarefa muito difícil e cheia de obstáculos. Suas promessas de estender a mão a novos aliados no centro e na esquerda têm de se mostrar reais, e isso tem de ocorrer rapidamente, para conseguir algum tipo de consenso”, diz o analista Pedro Donoso.

Foi olhando para esse futuro imediato que Arauz fez um discurso de reconhecimento da derrota, ainda na noite de domingo (11), muito assertivo, no sentido de marcar o território que será da oposição. “Queremos ser um só Equador e ajudar o presidente eleito. Mas seremos uma oposição séria, firme e democrática”, afirmou o jovem líder da aliança que terá maioria no Congresso.

O movimento indígena, que não possui ainda uma unidade, mas ganhou enorme volume em termos de representação, será outro a cobrar o cumprimento das promessas do eleito em relação à preocupação ambiental e à regulação da operação das mineradoras, sem invadir territórios indígenas.

Em seu discurso de agradecimento, Lasso fez menção à necessidade de políticas para proteger as mulheres da violência e as meninas que engravidaram cedo. Mas insistiu continuar sendo contra o aborto e deu graças a Deus por sua vitória mais de uma vez.

Se irá cumprir suas promessas de mais e melhores leis de proteção à comunidade LGBT e à população feminina, é algo para observar de perto. Para espanto desse setor do eleitorado, Lasso disse mais de uma vez que “a família é o valor principal de uma sociedade”.

Outra área de atenção é a segurança, um pedido cada vez mais recorrente dos equatorianos. Nos últimos tempos, cartéis de drogas e dissidências das guerrilhas colombianas atuam no país.

Um dos exemplos da gravidade da situação foi o recente motim em vários presídios. Para esse setor, Lasso promete uma política linha-dura —e as urnas demonstram que esse é um recurso apoiado pela maioria da população.

Por fim, Lasso terá o apoio, já manifestado por seu par colombiano, Iván Duque, em políticas coordenadas para pressionar o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela. Ele defende mais sanções para deter a ditadura.

Além de Duque, cumprimentaram o presidente eleito os mandatários Sebastián Piñera (Chile), Luis Lacalle Pou (Uruguai), Alberto Fernández (Argentina) e Jair Bolsonaro (Brasil).

12 de abril de 2021

ALEXANDRE DE GUSMÃO, UM ILUSTRE DESCONHECIDO!

(Synesio Sampaio Goes Filho, embaixador aposentado – O Globo, 11) Em fevereiro, a Record lançou meu livro “Alexandre de Gusmão — o estadista que desenhou o mapa do Brasil”. Fiquei muito contente com a qualidade da crítica que provocou: Celso Lafer, a referência básica em política externa, e Elio Gaspari, nosso grande jornalista, tiveram palavras simpáticas a seu respeito. Mereceu ainda duas páginas da “Veja – São Paulo” de 17 de março, assinadas por Guilherme Queiroz. Mas o que queria comentar aqui foi um ponto notado por mais de uma pessoa, nas entrevistas que sobre ele tenho dado: a relativa ignorância sobre Gusmão, até de gente bem informada sobre a História do Brasil.

Vejamos. No livro destaco o papel do santista na concepção e negociação do Tratado de Madri de 1750, que aumentou em duas vezes o território brasileiro definido em Tordesilhas, em 1494. Não é pouca coisa… E é uma originalidade brasileira: nossas fronteiras vêm basicamente da Colônia; em contraste com os Estados Unidos, que ampliaram muito seu território, mas só depois da Independência.

Saliento que, sem o Tratado de Madri, de nada teriam valido as portentosas correrias de bandeirantes, as dificultosas navegações de monçoeiros, as admiráveis missões de religiosos portugueses na Amazônia (havia 60 em 1750). Nessa região, não se pode esquecer a navegação precursora de Pedro Teixeira, no longínquo ano de 1647, de Belém a Quito; e a fundação, na viagem de volta, da povoação de Franciscana “nas bocainas do rio do Ouro” (que Alexandre e muitos outros identificam como a foz do Aguarico no Rio Napo, em pleno Equador atual).

Para alguns entrevistadores, é surpreendente que um personagem tão importante da nossa história seja tão desconhecido. Dou um exemplo concreto. Um deles, bastante culto, e — destaque-se — formado em História, confessou que não se lembrava de ter lido ou escutado de algum professor alguma palavra sobre Alexandre de Gusmão; quando viu o título, pensou que se tratava de Bartolomeu de Gusmão, o “padre voador” (o irmão mais velho)… Ao ler o livro, convenceu-se da relevância dos feitos de Alexandre e começou a se perguntar por que autores de nossa história não dão a ele o espaço devido.

Nos meios diplomáticos, não é bem assim. Veja-se o recente e magnífico livro de Rubens Ricupero, “A diplomacia na formação do Brasil”, que se inicia no ano do Tratado de Madri, e não com a Independência. Lembre também que o braço acadêmico do Itamaraty é a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e que, na sala mais importante do ministério em Brasília, há só três bustos, e um deles é do nosso personagem.

A propósito, lembro que essa obra, de Bruno Giorgi, é inspirada num busto que há no Itamaraty do Rio de Janeiro, aí colocada pelo Barão do Rio Branco, nos anos iniciais dos Novecentos. O grande chanceler foi dos primeiros a reconhecer a importância de Gusmão, em artigos publicados em jornais de então (sua coluna chamava-se “Efemérides”), e foi também o descobridor, numa biblioteca parisiense, de um dos dois originais do Mapa das Cortes, a base cartográfica do Tratado de Madri.

Na verdade, há poucos livros sobre Gusmão, a maioria é do século XIX e trata especificamente das cartas — originais, curiosas, ousadas — que, como secretário de D. João V, escrevia aos grandes do Reino. O mais importante sobre sua obra política só foi publicado na década de 1950 pelo Itamaraty: “Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madri”. Seu autor foi um notável intelectual português, Jaime Cortesão, que, exilado no Brasil de 1940 a 1957, especializou-se na formação do território brasileiro. Trata-se de um trabalho denso, erudito e de grande dimensão: dois volumes de texto, quase 800 páginas (reeditados em 2016 pela Funag/Imesp), seguidos de sete outros de documentos comentados. Infelizmente, é do conhecimento de uns poucos especialistas e está ausente da bibliografia dos manuais de História do Brasil modernos, inclusive os melhores.

Espero que meu livro, de dimensões manuseáveis, com mapas, melhor distribuição e uma linguagem mais acessível, contribua para a divulgação, entre o público com interesses mais gerais, de um estadista brasileiro que vale a pena ser mais conhecido. E fico feliz por estar ele esta semana, numa das maiores livrarias do Brasil, entre os mais vendidos.

09 de abril de 2021

CESAR MAIA: LULA NÃO TEM ESPAÇO NO CENTRO E DEVE FICAR FORA DO 2º TURNO!
(Folha de SP, 08) Às 7h35 de terça-feira (6), o ex-prefeito Cesar Maia, 75, chegou à Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, para receber a segunda dose de vacina contra coronavírus. Foi a quinta vez que saiu de casa desde 10 de março de 2020: duas para votar, um para tomar posse na Câmara Municipal do Rio e duas para se vacinar.

Essa foi também a primeira vez que Cesar viu concluídas as instalações de uma das mais polêmicas obras da cidade. A primeira dose da vacina ocorreu em outro endereço. Construída em seu governo (2001-2008), a Cidade das Artes já foi chamada de elefante branco e alvo de um processo que perdura até hoje.

Quando Cesar esteve lá pela última vez, em 2008, ainda estava em obra. Questionado sobre o que sentiu ao pisar no complexo cultural, o ex-prefeito afirmou: “Bateu forte o coração e encobriu a memória de muitas injustiças a respeito”.

Antes de voltar para casa, Cesar concedeu essa entrevista na presidência da Riotur, que fica na Cidade das Artes e é ocupada por sua filha, Daniela, irmã gêmea do deputado Rodrigo Maia (DEM), ex-presidente da Câmara dos Deputados.

Folha de SP: O senhor é mesmo eleitor do Marcelo Freixo?

Cesar Maia: Sou eleitor do Rodrigo [Maia]. Vou apoiar quem o Rodrigo comandar. O Freixo [PSOL] disse que votei nele. Votei contra o Pedro Paulo, com quem tive um problema. Essa [2022] será uma eleição que no mínimo vai derrubar quem se açodar. Ninguém sabe quem serão os candidatos para presidente. Muito menos a governador. E, para ser candidato, Freixo precisa do PSOL. Ele colocou a vontade de agregar forças e já recebeu uma pancada forte do PSOL. Para que isso? O resultado disso é que o PSOL vai ficar eternamente deste tamaninho.

FSP: O que acha da decisão do STF que anulou a condenação do Lula?

CM: É um fato só, do apartamento do Guarujá. Isso não dá garantia de que outros casos de condenação serão desfeitos. Houve uma série de elementos que desqualificaram a condenação. Mas os outros vêm por aí.

FSP: Os casos foram retirados na 13ª Vara Federal e remetidos para Brasília.

CM: Isso daí produz um alongamento que vai depois da eleição do ano que vem. Ele poderia até ser eleito e depois condenado. O mandato dele ficaria imprevisível.

FSP: Paira uma nuvem de dúvidas?

CM: Mesmo que paire, Lula ficou por dois, três anos, condenado e preso. Nada vai macular mais a imagem dele. Hoje saiu uma pesquisa com Lula na frente um ponto já no primeiro turno. Outras pesquisas já davam o Bolsonaro perdendo no segundo turno. Lula mantém certa resiliência.

FSP: Mas o sr. acha a candidatura frágil?

CM: A candidatura do Lula é boa para acelerar o processo de perda de apoio do Bolsonaro. As pessoas percebem que pode haver uma alternativa ao Bolsonaro. Com essa reunião dos pré-candidatos em defesa da democracia, todos devem estar fazendo pré-campanhas para ver quem ocupa essa expectativa de ir ao segundo turno. A expectativa deles é substituir o Lula.

FSP: Rodrigo Maia, seu filho, disse que Lula é melhor que o Bolsonaro. Concorda?

CM: Ele disse que entre o Lula e esse Bolsonaro presidente que ele conheceu, com 300 mil mortos, o Lula é melhor. É uma afirmação para os dias de hoje. O FHC também não disse isso? Mas o Rodrigo não está dizendo que votaria no Lula. O Rodrigo não acredita que não surgirá um candidato de centro-progressista para estar no segundo turno.

FSP: O sr. não acredita na vitória do Lula?

CM: Não acredito que vá ao segundo turno. A polarização radicalizada conspira contra ele.

FSP: O sr acredita na construção de uma candidatura única de centro?

CM: Muito difícil. Mas há que tentar.

FSP: Não há chances de o Lula ocupar esse lugar?

CM: Cada dia fica mais claro que esse espaço não estará aberto para ele.

FSP: O sr. acredita que haverá uma alternativa?

CM: Com sua volta por conta da, aspas, injustiça que foi cometida contra ele, Lula flutua no patamar de 29%. Mas no processo de pré-campanha vem o desgaste. Há toda condição de, surgindo uma terceira força e essa terceira força ascendendo, tanto o Lula e o Bolsonaro caírem.

As portas estão abertas para uma terceira força. Mas tem que escolher o nome e começar a pré-campanha. Estamos em abril. Julho, tem que ter um nome caminhando. Tem que ter um nome colocado. Não dá para dizer que um candidato que tem 8%, 9%, 7%, 6% é a terceira força. Porque não é.

FSP: O sr. está dizendo que nenhum dos nomes postos até agora se apresenta como alternativa?

CM: Certamente. Nenhum deles é um alternativa que se possa apresentar como terceira força. Já teria no mínimo 15%, 16%. A cada dia fica mais evidente para mim que o tercius não será um deles. O novo não sairá deles.

FSP: Por exemplo, o Doria não é a terceira força?

CM: Não. Pela projeção que tem até por conta da vacina, o Doria já deveria ter hoje uma opinião pública nacional favorável a ele. Não pode ter 4%, 5%, 3%. Ele é o governador de São Paulo, e os sinais indicam que ele não será um candidato competitivo.

FSP: A que o sr. atribui a isso?

CM: O Doria passa a imagem de classe média alta. E no confronto com Bolsonaro os dois perderam. Depois, o Doria não se movimenta nacionalmente. E sofreu desgastes. Fez aquela viagem para Miami, mostrando que não está em campanha. Estivesse em campanha, não faria isso.

FSP: O sr. acha que ele não é candidato?

CM: Se ele é candidato ou não, problema dele. Não vejo FHC entusiasmado por ele. Não há uma declaração de entusiasmo. Depois o PSDB sofreu uma ruptura muito grande. O PSDB que tinha essa marca de unidade nem essa tem mais.

FSP: E o Ciro?

CM: Ciro é imprevisível. Ciro está em campanha permanente há anos. Não apenas como candidato. O estilo dele é explosivo. Você nunca sabe qual será a declaração de amanhã. É difícil conseguir aglutinar forças em torno dele. Então, ele vai ser candidato do PDT. O Ciro seria candidato forte no Nordeste. Mas, com o Lula, não será. Ciro bate forte no Lula porque sabe que Lula inviabiliza a candidatura dele.

FSP: E o Luiz Henrique Mandetta [ex-ministro da Saúde de Bolsonaro]?

CM: Será que em junho do ano que vem a questão de saúde pública terá o impacto de hoje? No momento em que vier a tal imunização de rebanho e a contaminação parar de crescer, não sei se o candidato Mandetta vai ter um discurso forte para entusiasmar o eleitorado. Esse seria um grande candidato a vice.

FSP: E o Luciano Huck?

CM: Difícil de dizer. O Huck é um outsider que praticamente um ano antes da campanha eleitoral é impossível dizer para qual partido poderia ir. É inteligente, capaz, tem popularidade. É outro grande candidato a vice.

FSP: Acha que Moro será candidato?

CM: Ele perdeu muito. Conseguiu atrair contra ele forças da esquerda à direita. Na hora que adere ao Bolsonaro, se desgasta com forças de centro que tinham entusiasmo por ele. Depois, quando surgiram as gravações, e quando passou a receber críticas do STF, perdeu um vetor importante. Minha a opinião é de que não será candidato.

FSP: Mas ele seria um bom candidato?

CM: Acho que deixou de ser. Ele se desgastou da direita à esquerda. Depois todo mundo fica inseguro vendo o uso do Poder Judiciário para intervir no processo político. Ele seguiu a operação Mãos Limpas. Lá o juiz e o procurador são o mesmo personagem. O juiz investiga. Aqui eles criaram um grupo de procuradores para somar a ele, juiz, e fazer investigação e condenação. Isso gera uma insegurança muito grande para as pessoas de bem.

FSP: O que achou da declaração de parcialidade de Moro pelo STF?

CM: No caso do triplex, é óbvio que Moro foi parcial. Não tem nem como discutir. Aí fica a dúvida [sobre outros casos]. Moro fez uma lei contra o crime. Para desconstruir alguns absurdos autoritários que estavam naquele projeto de lei foi uma dificuldade.

FSP: O sr. acredita no risco de golpe no Brasil?

CM: Não. Os excessos de Bolsonaro foram de tal ordem que ele perdeu o discurso de que para colocar ordem no Brasil precisava de um governo autoritário.

FSP: Nos cem primeiros dias de governo, o sr. deu nota seis ao Bolsonaro. E hoje?

CM: Votei no Bolsonaro para não votar no PT. Havia uma expectativa de que o discurso liberal fosse para valer. No início do governo Bolsonaro, o discurso liberal, o posto Ipiranga, levou à expectativa de que ele fosse coerente com o que falou em campanha. Depois, com esse debacle, essa catástrofe que é a gestão sanitária, é difícil dar uma nota para o Bolsonaro: zero. Onde pode ter nota maior? Em que seguimento pode ter dois ou três? Onde está a reforma tributária?

FSP: Como define o governo Bolsonaro?

CM: Um governo populista, anacrônico e incompetente, saúde e educação. Frente à pandemia, não há nem o que comentar. Com os dados que ele tem, como poderia ficar contando que a doença não se expandiria pelo Brasil? Como pode inventar a cloroquina? Fez até propaganda. Coisa de louco.

FSP: Acha exagerado quando chamam Bolsonaro de genocida?

CM: Uma coisa é uma política sanitária genocida. Outra coisa é imaginar que ele está realizando essa política sanitária para matar gente. A palavra genocida tem um duplo sentido. De fato, a política sanitária é genocida. O presidente é condutor dessa política sanitária genocida. Portanto, ele é genocida?

FSP: O sr. se decepcionou com o Paulo Guedes?

CM: Não. Porque conheço o Paulo Guedes há muitos anos. Ele sempre foi um operador de mercado, mas nunca foi um propositor de política econômica adequada.

08 de abril de 2021

A VACINAÇÃO NA CARTILHA DO FMI!

(Editorial – O Estado de S. Paulo, 07) A vacinação é a política econômica mais importante neste momento, disse a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, ao abrir os trabalhos da reunião de primavera. Georgieva e sua equipe continuam refratárias, obviamente, aos ensinamentos e valores do presidente Jair Bolsonaro. Segundo os técnicos do Fundo, é preciso vacinar mais rapidamente e distribuir vacinas a todos os grupos sociais e a todos os países. Essa é uma condição básica, argumentam, para uma retomada econômica segura. O avanço na imunização – e no enfrentamento de novos surtos e variantes do coronavírus – é um dos pressupostos das projeções divulgadas pela economista-chefe da instituição, Gita Gopinath, e por outros diretores. Reduzir as desigualdades sociais e internacionais, agravadas desde o ano passado, será um dos principais desafios, de acordo com os novos cenários e recomendações.

A economia global crescerá 6% neste ano e 4,4% no próximo, segundo as projeções apresentadas no recém-divulgado Panorama Econômico Mundial. Os cálculos anteriores, anunciados em janeiro, indicavam expansão de 5,5% em 2021 e 4,2% em 2022. A previsão de crescimento para o Brasil pouco mudou, passando de 3,6% para 3,7% neste ano. Para 2022 foi mantida a estimativa de 2,6%. Para os anos seguintes a expectativa é de um desempenho mais fraco. A taxa de 2% apontada para 2026 corresponde ao modesto potencial produtivo estimado para o País e associado, em outras publicações do FMI, ao baixo investimento em máquinas, equipamentos e infraestrutura, à escassez de capital humano e à baixa integração nos mercados globais.

Ao estimar um crescimento de 3,7% para o Brasil, neste ano, os técnicos do FMI podem parecer mais animados que muitos economistas brasileiros. No Brasil, analistas do mercado projetam expansão econômica de 3,17% em 2021, segundo o boletim Focus do Banco Central (BC). Mas a percepção das limitações é muito parecida.

As projeções da pesquisa Focus indicam expansão de 2,33% no próximo ano e de 2,50% nos dois seguintes. Esses 2,50% correspondem ao potencial de crescimento estimado comumente, muito inferior ao de outros emergentes. Muitas dessas economias, incluídas várias sul-americanas, acumularam expansão bem maior que a do Brasil nos últimos 10 a 15 anos. O Brasil aparece mal, novamente, nos grandes cenários publicados pelo FMI. Será um dos poucos países do hemisfério ocidental com desemprego em alta neste ano (de 13,2% em 2020 para 14,5% em 2021). Pior que a economia brasileira, nesse quesito, só a venezuelana, com taxas acima de 55%. Além disso, a inflação média projetada para o Brasil deve chegar a 4,6% neste ano, superando os números estimados para Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Paraguai.

O aumento da expansão mundial projetada para 2021, de 5,5% para 6%, está longe de caracterizar um surto de otimismo. A mudança da estimativa global decorre basicamente da melhora das perspectivas dos Estados Unidos e do bom desempenho esperado da China. O Produto Interno Bruto (PIB) americano deve crescer 6,4% neste ano e 3,5% no próximo. Os cálculos anteriores indicavam 5,1% e 2,5%. No caso chinês, a projeção para 2021 foi elevada de 8,1% para 8,4%. A previsão para 2022 foi mantida em 5,6%.

Essas novas estimativas são insuficientes, no entanto, para eliminar alguns dos maiores problemas. As taxas de crescimento serão muito divergentes, com desempenho modesto para a maior parte das economias emergentes, incluída a brasileira, e em desenvolvimento. Além disso, a vacinação avança de forma desigual, o desemprego permanece elevado e a pobreza aumentou em muitos países. No Brasil, a corrida em busca do novo auxílio emergencial mostra a gravidade do quadro. Um eventual aumento de juros no mundo rico poderá criar complicações muito sérias. Será essencial, portanto, manter estímulos fiscais, com atenção ao foco das despesas, e políticas monetárias estimulantes. No Brasil, nem o Orçamento federal está em condições de ser executado de forma normal e segura.

Projeto que cria o Calçadão Agnaldo Timóteo, em frente ao Estádio Nilton Santos, é aprovado

Por Ancelmo Gois 06/04/2021 Agnaldo TimóteoAgnaldo Timóteo | Pablo Jacob


Em duas sessões extraordinárias realizadas hoje, a Câmara do Rio aprovou o projeto  que homenageia o cantor Agnaldo Timóteo, botafoguense doente, dando o seu nome ao calçadão em frente ao Estádio Nilton Santos, no Engenho de Dentro. O músico faleceu no sábado, vítima de Covid-19.

A sugestão, aliás, que saiu aqui no domingo, veio de outro conhecido botafoguense. O vereador Cesar Maia, amigo de Timóteo, levou a proposta aos seus pares, sendo ela aprovada como forma de lembrar o grande artista.

Também assinaram o projeto ao lado de Maia os vereadores Felipe Michel (PP), Teresa Bergher (Cidadania), Luiz Ramos Filho (PMN), Tânia Bastos (Republicanos), Marcio Santos (PTB), Eliel do Carmo (DC), Luciano Medeiros (PL), Alexandre Isquierdo (DEM), Prof. Célio Lupparelli (DEM), Wellington Dias (PDT), Jorge Felippe (DEM), Dr. Marcos Paulo (PSOL), Rosa Fernandes (PSC), Dr Gilberto (PTC), Reimont (PT), Celso Costa (Republicanos), Vitor Hugo (MDB), Thiago k. Ribeiro (DEM), Tarcísio Motta (PSOL), Tainá de Paula (PT), Vera Lins (PP), Rogerio Amorim (PSL), Monica Benicio (PSOL), Marcos Braz (PL), Inaldo Silva (Republicanos) e Carlo Caiado (DEM).