(Josep M. Colomer, professor de Pesquisa do CSIC – El País, 24) 1. Na medida em que a decisão sobre muitas políticas públicas tem sido passada para as mãos de organizações internacionais e de organismos formados por especialistas não eleitos, e enquanto os pacotes partidários ideológicos perderam a eficácia, os partidos foram ficando quase que exclusivamente como máquinas para a seleção de cargos públicos. Quando esta seleção de pessoal político é endogâmica, a publicidade das batalhas pelos cargos dentro dos partidos só reforça ainda mais sua imagem de impotência política e de alienar os cidadãos que acompanham isso através da mídia.
2. A alternativa tem sido um governo de especialistas, de profissionais competentes, embora nem sempre a humildade seja sua virtude mais visível. Tantos os Estados como a União Europeia e a maioria das instituições globais, ainda que em paralelo às suas credenciais democráticas, dependem fortemente de organismos independentes de especialistas não eleitos para receber conselhos, tomar decisões e executar, supervisionar e avaliar as políticas públicas sobre as questões mais importantes.
3. Não existe uma explicação muito clara de por que os partidos e os governantes da maioria dos Estados aceitaram ceder poderes a organizações internacionais e outras instituições formadas por especialistas não eleitos. Uma hipótese plausível é que eles fazem isso, em seu próprio interesse de sobrevivência, para reduzir a agenda de temas sob seus cuidados. É fato que a maior complexidade técnica dos assuntos públicos e o âmbito cada vez maior dos intercâmbios humanos, supera a capacidade dos governos estatais de exercer certas formas tradicionais de controle.
4. Os partidos políticos no governo podem ter percebido que corriam um alto risco se fossem politicamente responsáveis por processos e decisões que ocorrem fora do seu alcance. Colocando a culpa – por exemplo, da crise econômica – na União Europeia ou no Fundo Monetário Internacional, os partidos e os governos partidários não ficam tão mal quanto se tivessem plena responsabilidade, e devido a isso aceitam que essa responsabilidade seja transferida para essas organizações e para outras entidades independentes. Dessa forma, os políticos que concorrem a cargos públicos nas eleições, escolhem repassar determinados temas para outras jurisdições apenas para poderem se concentrar em questões que acreditam controlar melhor.
5. Grande parte da história do progresso na concepção e aplicação de políticas públicas nas últimas décadas envolve a transferência de áreas de decisão cada vez mais amplas de políticos a especialistas. Neste processo, as convulsões internas dos partidos, assim como os peixes, mostram a grande agonia que sofrem fora da água a que estavam acostumados.