Publicado em 03/04/2010 em Folha de São Paulo
UNS CINCO anos atrás, parecia que os governos latino-americanos começavam a dar conta da violência organizada no continente. Notícias positivas estimulavam o otimismo. Durou pouco. De lá para cá, a violência organizada em base às drogas, às armas e à extorsão, só fez crescer e tornar o problema mais complexo.
Mesmo na Colômbia, apesar dos fortes golpes aplicados à narcoguerrilha e nas maiores cidades, o quadro se inverteu, pelo menos em Medellín. Em 2009, o número de homicídios dobrou em relação a 2008, atingindo 63 homicídios por 100 mil habitantes. A polícia fala em mais de 160 gangues, responsáveis por 70% dessas mortes.
No México, os cartéis atuam como Estados paralelos, terceirizando operações e sicários, diversificando suas ações e trazendo o dinheiro faturado nos EUA para “lavar” em seu território, pelas dificuldades lá.
As “pandillas” centro-americanas (maras e savatruchas), com epicentro em Los Angeles, ampliaram suas operações, especialmente em El Salvador e Guatemala, indo agora além da extorsão, se associando ao tráfico de drogas.
Venezuela se transformou numa base de exportação de cocaína colombiana. Daí partem avionetas com ampla liberdade. Caracas já é a capital latino-americana com o maior índice de homicídios por 100 mil habitantes (104). Com a destituição de Zelaya em Honduras, pode-se identificar as pistas de pouso de avionetas vindas da Venezuela com vistas ao mercado dos EUA.
O terremoto do Haiti, além da tragédia própria, mostrou outra: um PIB paralelo vindo do corredor de exportação de cocaína. Na Bolívia é o próprio presidente que, em nome da cultura indígena, estimula a expansão das plantações de coca. A cocaína boliviana abastece o mercado brasileiro, estimado em 40 toneladas de consumo ao ano.
O Paraguai é hoje o maior produtor mundial de maconha, com tecnologia agrícola para alta intensidade. Um ha produz três toneladas brutas, e são duas colheitas por ano. Na fronteira com o Brasil, a produção estimada é de 18 mil toneladas brutas. Dez gramas em São Paulo valem US$ 3 no varejo.
No Brasil houve deslocamento de eixo. À medida que o corredor para a Europa saiu da península ibérica para a África Ocidental (Guiné-Bissau já é um narco-Estado), parte do corredor do Sudeste foi para o Nordeste, na faixa litorânea, onde houvesse facilidade de pistas para pequenos aviões e barcos para cruzar o Atlântico. Maceió e Salvador (70) passaram a liderar as capitais em homicídios por 100 mil habitantes, passando Recife, Vitória e Rio, que por anos lideravam essa estatística macabra. Espera-se que os novos governos no continente revertam o sentido dessa curva trágica.