Publicado em 12/12/2009 em Folha de São Paulo
CONSULTOR E porta-voz de governos da CDU, na Alemanha, hoje em atividade privada, Axel Wallrabeinstein esteve no Brasil palestrando sobre as eleições de setembro na Alemanha.
Não é necessário lembrar a escolarização dos eleitores lá, a sua politização, num quadro de partidos com perfil definido, e o uso da lista partidária (50% dos deputados). Assim, é de se deduzir que a despolitização eleitoral no Brasil tenda a ser bem maior que na Alemanha.
Axel afirma que os programas de governo não têm mais a importância que tinham. O que conta para a vitória eleitoral são os personagens e a confiança pessoal do eleitor na imagem deles. O binômio básico é confiança e credibilidade. Da mesma forma quando qualquer tema é abordado em campanha, ou ele se ajusta na imagem do candidato, ou o eleitor o ignora.
Axel diz que, numa análise pré-eleitoral, todo cuidado é pouco.
Destacar os pontos de interesse da população é simples por via de pesquisas. Mas colar os temas aos partidos e aos candidatos depende do imaginário sobre ambos. Ou se constrói com tempo a imagem do partido e do candidato ligado a um tema, ou esse não será crível para o eleitor.
Em pesquisa de respostas múltiplas na Alemanha, 79% dos eleitores disseram que os políticos não mantêm as promessas; 55%, que os políticos fazem o que querem. Em outra pergunta, de respostas múltiplas, 77% afirmaram que os políticos defendem grupos de interesse; 66%, que os políticos só pensam em seu próprio benefício; 60%, que não se pode confiar nos políticos.
Isso na Alemanha…
O “slogan” principal das campanhas vai deixando de ter vinculação programática (educação, saúde, segurança, emprego …) e passa a tratar de valores e sentimentos.
Sarkozy adotou o “orgulho pela França”. Obama, o divulgado “sim, nós podemos”. Merkel, agora em 2009, “temos força para cumprir”, num plural que incluía os eleitores.
O mais surpreendente nos números apresentados é que 35% dos eleitores afirmaram que sua decisão definitiva só se deu na última semana, retratando uma linha de alheamento que Merkel explorou com uma espécie de “não campanha”. Assim, o exercício do poder, depois, ganha autonomia em relação às razões eleitorais.
Muito mais aqui que lá, promete-se qualquer coisa em campanha e faz-se o que se quer no governo.
O poeta francês Marquês de Ximenes, no final do século 18, usou a expressão “Pérfida Albion” (nome romano da Inglaterra) para afirmar que o país era um reino onde se dizia uma coisa e se fazia outra.
Era um momento de ampla corrupção política na Inglaterra.