Publicado em 22/08/2009 em Folha de São Paulo
UMA ELEIÇÃO em dois turnos tem uma dinâmica própria. Em 1999, o Instituto Friederich Nalmann, da Alemanha, realizou em Montevidéu um seminário sobre os mistérios da “balotage” num quadro pluripartidário. Esses mistérios são como desenvolver o primeiro turno de forma a construir a ponte para agregar forças num segundo turno.
Isso terá que se dar na comunicação dos candidatos e suas propostas. Uma primeira análise é saber para quais dos demais candidatos os seus eleitores poderiam, num eventual segundo turno, serem atraídos para a sua candidatura. De nada serve escolher um candidato de amaciamento, se seus leitores são antípodas à sua candidatura.
Entre as hipóteses de amaciamento, há que se escolher uma delas. Esta escolha terá dois aspectos. Primeiro, não pode chocar os seus próprios eleitores. Segundo, deve ser uma candidatura com lastro de forma, que valha a pena amaciar.
Amaciamento é encontrar qualidades num adversário ou, no mínimo, não atacá-lo e deixar isso claro aos eleitores dele. Mas há um risco. Se o candidato de amaciado tem lastro, ou seja, intenções de voto significativas, esta tática sempre ajudará que este cresça e o ultrapasse. De qualquer forma, esse amaciamento é decisivo, pois esta agregação de votos no segundo turno é que trará a vitória. O desespero de ir para o segundo turno, muitas vezes, torna inviável a própria candidatura no segundo turno.
Portanto a agressividade deve ser medida, pela oposição ou pelos candidatos da base do governo. Em geral, os candidatos só se fixam no primeiro turno, deixando o segundo para depois, e isso pode ser fatal. A ansiedade sempre vem, pois a escolha do amaciado atrasa a agregação de votos. Mas será a pedra de toque da vitória no segundo turno.
Lula está no caminho certo, quando insiste numa eleição plebiscitária: o segundo turno seria no primeiro e sua nitidez seria mais facilmente entendida num jogo Lula/anti-Lula. Com um quadro de pelo menos quatro candidatos, a teoria do segundo turno passa a exigir atenção estratégica de todos.
Supondo que um seja de oposição e os demais da base do governo, como se diferenciar dentro da base? Com que taxa de agressividade? Quem escolher para amaciar?
O candidato da oposição se beneficia à medida que as críticas intra-candidatos da base serão inevitáveis. Mas também sentirá o peso de todos os demais o criticarem.
Quem será escolhido para amaciamento? Se for quem troca votos com ele, essa troca poderá lhe ser incômoda, mas necessária. O adversário favorito para o segundo turno é que não poderá ser, pois esse deveria chegar ao segundo turno com o máximo desgaste. Essa equação é ainda mais complexa entre os candidatos da base. Complexa, mas inevitável.
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.