(Jornal do Brasil, 19/05/2013) O pré-candidato do Democratas ao Governo do Rio de Janeiro, Cesar Maia – terceiro entrevistado do Jornal do Brasil na série de matérias sobre a disputa no Rio -, acha que as eleições no próximo ano deverão ter entre seis e sete candidatos e, pela projeção dos concorrentes, será difícil antecipar quem poderá ganhar. Cesar revelou que o DEM vem conversando com dois candidatos à Presidência da República na tentativa de uma composição para fortalecer as disputas, tanto regional quanto nacional. “Estamos mantendo conversas com Aécio Neves e com Eduardo Campos, mas ainda não fechamos com nenhum dos dois”, disse ele.
Cesar Maia acha ainda que, caso seja indicado candidato pelo DEM, vai concorrer com Pezão e Lindbergh. Segundo ele, não haverá apenas um candidato da base do Governo federal nessa disputa. “O candidato do PMDB é fraco e por isso o governador Sérgio Cabral quer unificar a campanha em torno do nome dele”, afirma Maia. Ele também critica a política de segurança do atual Governo e diz que as UPPs são parte de uma política maior. Concorda que a iniciativa é boa, mas beneficia apenas quem mora próximo às comunidades pacificadas. Outras regiões do Estado, como a Baixada Fluminense e região de Niterói, não estão sendo contempladas com as devidas ações de segurança do Governo do Estado.
Jornal do Brasil – O Rio terá nas próximas eleições pelo menos cinco candidatos de peso concorrendo ao Governo do Estado. Como o senhor avalia essa disputa, sendo que até 2010 havia quase que uma polarização?
Cesar Maia – Eu diria que vamos ter mais de cinco candidatos, porque a Marina Silva será uma fortíssima candidata à Presidência da República aqui no Rio de Janeiro e certamente haverá um candidato vinculado a ela. Essa linha da Marina, do PV, do PSOL, é uma linha que tem puxado muito voto no Rio, vide o Gabeira, vide o Marcelo Freixo, e eles terão candidato à governador. Não sei qual o nome, mas inexoravelmente terão candidato a governador. O Democratas decidiu ter candidato e colocar suas teses e ideias na telinha, nas ruas, nas rádios, nos debates. Não escolhemos ainda um nome, porque precisamos trabalhar conectados com a dinâmica presidencial. O DEM pode apoiar o Eduardo Campos? Pode. Pode apoiar o Aécio Neves, que é a nossa preferência no Rio, pode. Isso pode levar a uma adequação melhor para essa sinergia governador-presidente da república. O que eu tenho dito, e já disse num almoço na minha casa para o senador Aécio Neves, é que o DEM terá um nome. Se o meu nome é colocado, se deve ao fato de eu ser uma pessoa mais conhecida, já tive mais mandatos, mas não necessariamente serei eu. Estamos fazendo agora uma análise da conjuntura, projeção de cenários e das teses que vamos trabalhar. O DEM está na TV e já tivemos 50 comerciais e ainda teremos mais 30. A Executiva Nacional regionalizou o tempo da propaganda para os estados e nós aqui no Rio estamos tratando de um tema só nessa divulgação, subdividido em quatro explicações que é o governo público e o governo privado. Estamos vendo que toda aquela falácia, de que através de tecnologia privada o setor público poderia produzir muito mais. Mas, estamos vendo que isso não está acontecendo. E o Rio é o maior exemplo disso. Agora mesmo, toda a base do governo lastimam o fracasso das Organizações Sociais (OS), mas já gastaram R$ 3 bilhões com esses organismos. Isso é uma visão de governo privado. Nós contrapomos com uma visão de governo público que tem como coluna vertebral o servidor concursado, estável, nas funções constitucionais precípuas. Então isso é um tema que vamos trabalhar: governo privado e governo público.
JB – O senhor falou que o Democratas pode dar palanque para o Eduardo Campos ou para o Aécio Neves. Como estão essas conversas com um e com outro?
Cesar Maia – Com o Aécio continua muito bem. O Eduardo Campos, eu tenho sentido que nos últimos dois meses, ele se recolheu um pouquinho. Ele estava avançando e, não sei porque, se recolheu. Não sei qual é a tática dele. No nosso caso, que sofremos perdas aqui no Rio, não podemos recolher as nossas velas, temos que seguir em frente. Agora, não estamos avançando conectados com uma candidatura presidencial. Mas, avançamos de maneira que possamos nos conectarmos com uma ou outra candidatura. No Nordeste, o Partido tem preferência pelo Eduardo Campos. No Sudeste a preferência é pelo Aécio Neves, que é o nosso caso. Nós estamos trabalhando dessa maneira.
JB – Como estão as conversas com o senador Aécio Neves?
Cesar Maia – A última conversa com o Aécio foi num almoço lá em casa, há um mês e meio atrás, e ele falou sobre o quadro nacional, como ele está vendo. Está ficando cada vez mais claro, ao contrário do que se imaginava, a inapetência da presidente Dilma para a gestão e maior ainda para a gestão política. Essa dinâmica da MP dos Portos está mostrando isso. Eu falei a ele sobre o quadro do Rio, em que há uma situação, como já abordamos, com seis ou sete candidatos e estamos prevendo que será uma eleição para segundo turno passando a barreira dos 20 pontos. E talvez até menos. Então, nesse sentido é quase que uma obrigação a afirmação de uma candidatura.
JB – Já que o senhor falou da MP dos Portos, o senhor acha que essa votação vai refletir na eleição do Rio. O governador Sérgio Cabral ficou numa situação delicada com a presidente Dilma por apoiar o deputado Eduardo Cunha, que atuou contra o Governo Federal na votação. Cabral vinha pressionando a presidente para o PT abrir mão da candidatura. O senhor acha que isso pode mudar?
Cesar Maia – O PMDB está forçando a mão de uma exigência que não vai ser atendida porque o candidato Pezão é fraco. E eles sabem disso. É um candidato que não tem desenvoltura para uma campanha majoritária, não tem desenvoltura para debate, nem nas ruas, nem na TV, a gente vê isso pelos comerciais do PMDB. Então, o Sérgio Cabral precisa unificar pela fragilidade do seu candidato. Mas, exatamente essa fragilidade é que gera a convicção no PT de manter seu candidato. O Pezão, pelo que eu saiba, até hoje não foi deputado. Não desenvolveu essa capacidade de articulação, de conversa. Acho que os dois candidatos, do PT e do PMDB, vão sair, não vai haver ruptura nenhuma, ambos vão apoiar a presidente Dilma, e o eleitor escolhe, entre esses seis ou sete, em quem ele vai votar.
JB – Voltando um pouco na possibilidade de apoio a um candidato à Presidência, o Aécio está tendo problemas com o ex-governador José Serra. O senhor acha que esse desentendimento pode prejudicar uma possível aliança do Democratas com o PSDB?
Cesar Maia – Claro que pode influir. Porém, o PSDB tem uma convenção e nós temos que aguardar o resultado. A ausência do Serra significaria uma ruptura. A presença do Serra, mesmo fazendo caras e bocas, sinaliza para uma convergência, de que estarão juntos.
JB – O senhor sendo indicado candidato pelo Democratas, qual seria sua plataforma de campanha?
Cesar Maia – Seria muita pretensão minha, mesmo com a experiência que eu tenho, propor uma plataforma. Uma plataforma você desenvolve. Partimos de uma discussão interna no Partido e chegamos a esse núcleo: governo público e governo privado e demos alguns exemplos desse desdobramento. Agora, esse processo vai caminhar. Vamos prosseguir com nossos pré-candidatos a deputado federal e estadual. Vamos discutir com eles. Tivemos apenas duas reuniões importantes esse ano tratando de questões importantes de ordem política aqui no Estado e acho que uma proposta consolidada mesmo, talvez tenhamos somente no ano que vem.
JB – Na sua opinião, quais são as questões mais urgentes do Rio? O que é preciso ser feito nesse momento?
Cesar Maia – Eu diria que tudo. O Governo do Estado tem apenas uma nota que é a UPP. Fora isso, nada deu certo e nem na segurança pública. Quando digo na segurança pública, só deu certo nesse vetor de ocupação de comunidades. Fora isso, não há patrulhamento, a gente está vendo que há um descontrole da parte policial, como comprovam essas imagens que estão sendo veiculadas na TV de perseguição, como se estivéssemos num vídeo game. Tudo isso choca. O número de viciados em crack aumentou muito e com isso as ruas são ocupadas por esses usuários. O sistema de transporte está um caos. Os hospitais estaduais estão dilacerados. As escolas de ensino médio classificam o Estado bem abaixo da importância do Rio de Janeiro. A matriz de educação pública do Rio aparece lá em 20º, 22º, enfim num dos últimos lugares. Acho, portanto, que é uma situação que vai exigir do governador um esforço muito grande.
JB – O senhor falou nas UPPs. Essa política já está consolidada no Estado e o carioca não abre mão dela. Como o senhor, sendo candidato, trataria essa questão?
Cesar Maia – Isso não é política de segurança. Isso é um vetor da política de segurança. Tem toda parte de policiamento técnico, policiamento ostensivo, investigação, etc, etc, que não vão bem, que vão mal. Em 1998, quando fui candidato ao Governo, eu defendi essa ação. O nome UPP não existia. Em 2002, com a deputada Solange Amaral sendo candidata do Partido ao Governo, voltamos ao tema. E eu publiquei no jornal a nossa política de segurança e isso não é novidade pra gente. Nós defendemos essa proposta há muito tempo. Agora, não é aprovada pelo cidadão carioca e fluminense. É aprovada por todos aqueles que estão próximos às áreas que foram ocupadas. Já a Baixada Fluminense reclama enormemente do abandono, assim como São Gonçalo. A Zona Oeste, vimos recentemente, as imagens de perseguição na televisão. Se trata, portanto, de alguns corredores na Zona Sul e Tijuca, o que é positivo, mas política de segurança é muito mais do que isso.
JB – Dos seis ou sete candidatos, quem que o senhor acha que vai para o segundo turno?
Cesar Maia – Muito difícil dizer. Vamos falar de seis candidatos, isso é uma análise de seis, dois a dois. Quaisquer dois podem ir. E é isso que vai tornar essa eleição excitante. Pode ir o Miro, o candidato da Marina, o Lindbergh, o Pezão, o Garotinho, eu mesmo. Agora, vamos ter uma eleição em que no início os índices de intenção de voto poderão ficar por volta de 10% ou 12% indo até 20% e qualquer movimento, um passa na frente do outro. Então, eu não arriscaria dizer que há uma dupla favorita. Ninguém é favorito e por isso, todos são favoritos.