Ex-Blog: As redes sociais significam a morte da democracia representativa?
Cesar Maia: Certamente não. Paradoxalmente significam a morte da democracia direta da forma que as organizações de esquerda pensavam e atuavam e ainda acreditam. A democracia direta, para elas, eram plenários de sindicatos, associações de moradores, conselhos deliberativos dentro dos governos, etc. Essa democracia direta, sonhada pela esquerda, está desaparecendo. Agora a dialética entre democracias, representativa e direta, se dará com a nova democracia direta das redes sociais ao lado da democracia representativa. O vetor resultante não será o mesmo.
Ex-Blog: Por quê?
CM: As redes sociais são horizontais, empoderam o indivíduo, desierarquizam, não convivem com um plenário onde quase todos ficam no auditório aplaudindo ou vaiando e uma meia dúzia no palco, discursando, decidindo, comandando.
Ex-Blog: As ruas mostraram que a mobilização pelas redes sociais é de classe média.
CM: Esse é um olhar de retrovisor. Essa é uma afirmação tautológica. Explico. As redes sociais têm como instrumento e veículo a internet. Seu acesso natural e cotidiano ainda está concentrado na classe média, por seus custos. Mas está menos hoje do que estava ontem. Na medida em que os usuários espontâneos ainda são principalmente de classe média, as redes sociais a mobilizam muito mais hoje. Mas não será assim amanhã. E o perfil dos mobilizados irá correspondendo ao perfil da sociedade.
Ex-Blog: Mobilizados?
CM: Sim. Estamos passando do que os sociólogos chamavam e chamam de sociedade civil organizada para outro momento: sociedade civil mobilizada.
Ex-Blog: O que mobiliza as pessoas via redes sociais? Quais as demandas?
CM: Essas respostas que os sociólogos e politólogos entrevistados pela imprensa procuram dar (contra a corrupção, por melhores e mais baratos serviços, contra os partidos, contra os políticos) partem da mesma lógica da sociedade civil organizada, racional e reivindicatória. Eles deveriam introduzir em suas análises alguns elementos da pós-modernidade.
Ex-Blog: Quais?
CM: A mobilização como um fim. A mobilização como entretenimento. E as demandas vão entrando pela facilidade de mobilizarem. E esse não é um processo racional, mas uma espécie de web-darwinismo, onde sobrevivem na rede as ideias que produzem maior interação e que mobilizam. Que destaques são dados pela imprensa? Claro, aquelas postagens, vídeos…, que têm o maior número de acessos.
Ex-Blog: Como os políticos podem participar das redes sociais?
CM: De duas maneiras. Horizontalmente como cidadãos-indivíduos empoderados como todos e, –atenção- atentos diariamente ao web-darwinismo e buscando jogar nas redes sociais suas ideias com a linguagem das redes sociais e, assim, entrando no jogo do multiplicador, com humildade.
Ex-Blog: Que livros recomendaria aos que nos acompanham?
CM: Um autor do final do século XIX. O fundador da microssociologia, da micropolítica. O francês Gabriel Tarde, que antecipa tudo isso em seu genial “As leis da imitação” (Les Lois de L’Imitation), publicado em 1890. E, infelizmente, não traduzido para o português. Em português temos um livro que ajuda muito (tese de doutoramento de 1994), de Eduardo Viana Vargas, publicado em 2000: “Antes Tarde do que Nunca: Gabriel Tarde e a Emergência das Ciências Sociais”, Contracapa Editora.