Em janeiro deste ano o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), descartou a possibilidade de o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes se filiar ao DEM, afirmando que o partido era “muito pequeno” para ele e Cesar Maia. Três meses depois, contrariando essa constatação, Paes trocou o PMDB pelo DEM, com o objetivo de disputar o governo do estado. Cesar, que atualmente é vereador, diz que a reviravolta foi possível só porque ele resolveu sair de cena. O pai de Rodrigo Maia afirma que não se opôs à volta de seu ex-afilhado e atual desafeto a seu berço político, mas também não participou das negociações conduzidas pelo filho. E anuncia que não concorrerá a nenhum cargo nestas eleições. Ele era cotado para disputar o governo ou o Senado.
— Eu transferi o poder de decisão para o partido e não há necessidade nenhuma de reconciliação. Eu não tenho rancor de ninguém, o tempo passa e a gente vai levando — disse Cesar, que recebeu O GLOBO, na tarde da última quinta-feira, no gabinete da liderança do DEM na Câmara Municipal
Ele reagiu com indignação, no entanto, ao ser questionado sobre a possibilidade de ser vice em uma chapa encabeçada por Paes:
— É o cachorro que abana o rabo ou o rabo que abana o cachorro? Não tem sentido isso. Fui prefeito três vezes e deputado federal duas vezes. Como podem pensar que eu vou pegar carona em uma candidatura?
Procurado pelo GLOBO para falar sobre sua filiação ao DEM e a relação com Cesar Maia, Paes não respondeu.
Paes começou na política na Juventude Cesar Maia e participou da primeira campanha de seu mentor para a Prefeitura do Rio, em 1992. Após a vitória, foi nomeado subprefeito da Barra e Jacarepaguá. Os dois começaram a se distanciar dez anos depois, quando Paes deixou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, na segunda gestão de Cesar, para disputar novo mandato de deputado federal. E trocou o PFL pelo PSDB. Mas o rompimento definitivo veio em 2008, quando Paes se elegeu prefeito fazendo duras críticas à administração Cesar Maia.
— Na campanha de 2008 era natural que ele me criticasse, eu estava desgastado. Mas a partir daí… Ele nasceu do meu útero, veio na minha cadeirinha de balanço, o que eu esperava era que, passada a eleição, ele, vitorioso, tivesse a nobreza de esquecer o derrotado. O derrotado não é para ser atacado depois da eleição, mas houve continuidade até 2016. A Cidade da Música, por exemplo, não precisava ir para a primeira página do GLOBO. Faz auditoria, mas não precisa vocalizar — diz Cesar.
Em 2012, Paes se reelegeu derrotando Rodrigo Maia, que chegou a chamá-lo de “ingrato”. Paes respondeu que eleição não era “terapia de grupo”. A reaproximação com Rodrigo — de quem Paes é padrinho de uma das filhas — começou em 2014, quando o DEM fez parte do “Aezão”, movimento para eleger o senador Aécio Neves (PSDB-MG) presidente da República, e Luiz Fernando Pezão (PMDB) governador do Rio.
Cesar, por sua vez, permaneceu crítico à administração de Paes, a quem já chamou de “Dudu Milícia”, e lançou um livreto intitulado “Ao povo carioca — Prefeitura do Rio 2009-2012: Um desastre estratégico e de gestão”.
Em 2016, apesar de ter disputado a reeleição para a Câmara Municipal na mesma coligação do candidato do PMDB à Prefeitura, Pedro Paulo, afilhado de Paes, Cesar não fez campanha para ele.
— O Pedro Paulo criticava a minha administração. Eu votei no (Marcelo) Freixo (PSOL) no primeiro e no segundo turno. Minhas netas queriam votar no Freixo e diziam: “Meu pai (Rodrigo Maia) quer que eu vote no Pedro Paulo” — disse Cesar, em cuja casa moram duas filhas de Rodrigo, uma de 21 e outra de 23 anos.
Cesar disse que aceitaria gravar uma mensagem de apoio para eventual candidatura de Paes. No momento, o ex-peemedebista está inelegível por decisão do Tribunal Regional Eleitoral. Ainda cabe recurso ao Tribunal Superior Eleitoral:
— Eduardo agora é do partido, então me cabe cumprir o que o partido determinar. Se eu chegar em um lugar e o partido colocar uma câmera de televisão, colocar um texto no teleprompter (dispositivo para ler um texto na TV), eu vou ler. Ponto final.
Apesar disso, Cesar diz não poder afirmar se Paes seria um bom governador:
— Não posso falar, não sei o que ele está pensando do estado. Tem que esperar para ver o que ele vai propor.
Questionado se Paes foi um bom prefeito, responde que isso não tem importância na campanha para governador:
— Eu já vi muitos bons prefeitos serem péssimos governadores. O Pezão foi um excelente prefeito de Piraí e estamos vendo o que está acontecendo.
No último dia 9, após participar de evento na Associação Comercial do Rio, Rodrigo Maia foi questionado se, desta vez, o pai faria campanha ou repetiria o comportamento de 2016.
— Vamos construir para que desta vez tenha uma integração maior — disse o presidente da Câmara.
Cesar diz que não conversou com Paes durantes as negociações para filiação ao DEM nem depois. Segundo ele, os dois dialogaram “pouquíssimas” vezes depois do rompimento. Uma delas foi na campanha de 2014, quando Pezão e o presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, teriam pedido para Cesar procurar Paes. O então prefeito, que na época era do PMDB, estava apoiando Carlos Lupi (PDT) para o Senado, quando o candidato da chapa peemedebista era Cesar. O encontro ocorreu na Gávea Pequena, residência oficial do prefeito do Rio. Outra ocasião foi em dezembro de 2016, quando Rodrigo levou Paes à casa de Cesar. Segundo o anfitrião, Paes disse que tinha tomado a decisão de disputar para governador em 2018 e queria ouvir sua opinião.
Paes deixou o PMDB na tentativa de se desvencilhar do desgaste do partido no estado, que está com suas principais lideranças presas, como o ex-governador Sérgio Cabral. Os peemedebistas também arcam com a falência do estado, administrado por eles nos últimos 15 anos.
Esta é a quinta mudança de partido de Paes, que já passou pelo PV, PFL, PTB, PSDB e PMDB. Antes de fechar com o DEM, o ex-prefeito considerou voltar para o PSDB e estava em negociações avançadas com o PP. Seu aliado preferencial, porém, era Rodrigo Maia, que testa seu nome para disputar a Presidência da República. Como presidente da Câmara, ele conseguiu aumentar a bancada federal de 21 para 44 deputados.
— O DEM virou um partido grande, não pode ver em cada deputado, cada vereador, o que o incomoda — disse Cesar, ao comentar a filiação de Paes.