Ex-Blog: Como analisa o momento político atual?
Cesar Maia: Vale uma preliminar. Os teóricos da comunicação vêm ensinando, nos últimos anos, que se criou uma mentalidade do tempo real. É como se a cada momento surgisse uma realidade nova, confundindo-a com as notíciais. Os fatos de hoje têm razões e têm processos e é fundamental entende-los.
Ex-Blog: Seja mais explícito.
CM: Outro dia, o governador Cabral foi entrevistado sobre os resultados de pesquisas que o colocam no fundo do poço. Ele disse: “Não comento pesquisas, pois é apenas uma foto do momento”. Ilusão de ótica. A mentalidade do tudo em tempo real, do instagram-político, impede que se analise, no tempo, os processos que nos trouxeram a esse momento. E o político afetado, sem entender isso, a tendência será, para ele, que esse momento se cristalize.
Ex-Blog: Que processo foi esse em 2013?
CM: Aqui no Rio o ano abriu com uma vitória do PMDB na Capital no primeiro turno. Em nível estadual, Cabral surfava na segurança pública e em sua amizade com Lula. Paes surfava na vitória eleitoral. Dilma surfava na popularidade. Um mar de rosas, pensavam eles. Vieram as manifestações nas ruas estimuladas pelo ativismo das redes sociais e eles desintegraram, com Cabral implodindo.
Ex-Blog: Mas o impacto das redes e das ruas foi suficiente para isso?
CM: Uma história infantil que ajuda muito a entender é a do Rei que desfilava com um tecido feito pelo costureiro da corte, tão fino e especial que deslumbrava a todos. Até que uma criança gritou: O Rei está nu!!!! E todos se deram conta do óbvio. O costureiro e o tecido são representados hoje pela publicidade política, pelas “barrigas” para a mídia espontânea… O eleitor naturalmente quer acreditar no que está vendo, lendo e ouvindo. Mas o tempo vai mostrando que a realidade não corresponde à publicidade. E, de repente, milhares de pessoas vão às ruas, como aquela criança e gritam: Os Reis estão nus. Foi o que ocorreu.
Ex-Blog: Mas será que eles se deram conta disso?
CM: Parece que não, pois continuam a achar que a propaganda resolve tudo. Não é demais lembrar uma assertiva da propaganda política: “Não há um bom governo sem uma boa publicidade; mas também não há uma boa publicidade sem um bom governo.”
Ex-Blog: Vamos aos cenários. Como projeta as eleições de 2014?
CM: O Rio de Janeiro é o único estado do Brasil em que a imprevisibilidade é total. Em SP, MG, RS, PR, BA, PE, etc., vão se construindo as disjuntivas. Aqui no Rio há uma ampla diluição eleitoral, onde quem lidera não tem 20% e quem está no final tem 5%. Ou seja, nesse momento há uma grande probabilidade de se ir ao segundo turno com 15% dos votos, o que estimula, muito, todas as candidaturas postas e outras a entrarem nesse jogo. Se há alguma certeza é que Cabral e seu candidato estão fora do jogo.
Ex-Blog: E em nível federal?
CM: Dilma –após as ruas de 2013- reagiu exacerbando a propaganda, mas também intensificando medidas e decisões. Com isso, teve um refluxo que a descolou dos 30% e a aproximou dos 40%. Mesmo que abaixo dos 55% anteriores, ganhou alguma musculatura. Seus adversários pensam essa, como uma campanha tradicional e priorizam o andar de cima para ir descendo no sentido do momento eleitoral. Resultado é que não ganharam musculatura e a certeza de que seria uma eleição em 2 turnos já não é a mesma. Nesse momento, eles deveriam estimular dois candidatos: um pela esquerda e outro pela direita para ajudar o segundo turno.
Ex-Blog: As ruas voltarão a rugir na Copa do Mundo?
CM: Acho que a primeira fase das chaves será relativamente tranquila, com o entorno dos estádios com cordões de isolamento, só passando com entrada na mão. Mas se na segunda fase, já de mata-mata, o Brasil perder para a Espanha ou Holanda, as ruas vão tremer, os rugidos (para que gastaram tantos bilhões?) vão ter ressonância mundial. Bem…, vamos torcer pelo Brasil.