Pergunta: Sua candidatura a Senador na chapa Aezão surpreendeu muita gente.
Cesar Maia: E a mim também. Até a semana passada, a minha candidatura a governador estava posta e já em processo de operacionalização, com definição de contratação de TV, serviços gráficos, etc. A aliança no Rio entre PT de Dilma e PSB de Campos surpreendeu também a todos e trouxe um fato novo.
P: E como ocorreu a decisão?
CM: No sábado (21) à noite recebi um telefonema de Aécio falando desse fato novo e que levando em conta a prevalência da eleição presidencial, precisávamos agrupar as forças de apoio a ele, com concessões de ambos os lados. Marcou reunião urgente domingo pela manhã no apartamento dele.
P: Como foi essa reunião?
CM: Aécio analisou o desdobramento das decisões do PT e PMDB no Rio em nível presidencial e a repercussão na imprensa que sublinhava o impacto eleitoral. E que, sendo assim, os meus argumentos em defesa de termos candidatura própria paralelamente ao Pezão deveria ser reavaliada.
P: Qual a sua reação?
CM: De compreensão, mas lembrei a ele que se não tivéssemos uma candidatura majoritária, ele ficaria fora da TV regional, pois a legislação proíbe não seguir a coligação presidencial. A resposta dele foi imediata. Disse que no dia anterior, também com esta preocupação, havia consultado os líderes do PMDB e mostrado que seria necessário abrir um espaço majoritário. A única possibilidade era o Senado.
P: Como eles reagiram?
CM: Aécio disse que com total compreensão. E mais, como as pesquisas mostravam um cruzamento especialmente na Capital e em Niterói entre eu e Pezão, o fortalecimento da candidatura PT-PSB, com nossa divisão, seria inevitável. Ou seja, o risco das duas candidaturas postas eliminarem as mesmas duas do segundo turno era muito grande, o que produziria o que as demais queriam, com natural efeito em nível presidencial.
P: E como a decisão foi finalizada?
CM: Aécio usou uma expressão que fechou o assunto: Esse é um ATO DE RESPONSABILIDADE. Responsabilidade nacional e também estadual pelo risco de Pezão e eu juntos eliminarmos os dois do segundo turno. E arrematou dizendo que as sondagens aos dirigentes no dia anterior foram muito positivas e que ele gostaria de resolver tudo naquele mesmo domingo (22).
P: E como se deu isso?
CM: Retornei a meu apartamento e meia hora depois Aécio ligou pedindo que eu retornasse. Assim foi feito. Estavam os deputados Luiz Paulo, presidente do PSDB-RJ, e Comte Bittencourt, presidente do PPS-RJ. Aécio informou sobre a conversa que tivemos e que em meia hora chegariam Pezão, Picciani e Cabral. Assim foi.
P: Como foi essa segunda reunião?
CM: Aécio resumiu o que já tínhamos conversado e o que ele havia antecipado a eles. Em seguida falaram um a um todos os demais presentes. A questão do ATO DE RESPONSABILIDADE foi realçada por todos, tanto em nível presidencial como estadual. E que a retirada da candidatura ao Senado do PMDB era um gesto de forte simbologia e uma concessão que mostrava que a aliança seria para valer, pois eu entraria no espaço ocupado antes e agora por dois senadores.
P: E como culminou?
CM: Os presidentes dos demais partidos e candidatos a vice e suplências de senado já teriam sido sondados, o que seria reforçado naquela tarde. Em seguida marcou-se uma coletiva para o dia seguinte, incorporando algum risco de reversão de algum aliado, o que não ocorreu depois de detalhadas as razões nos dias posteriores. Esse foi um gesto decisivo.
P: Como você se sente agora?
CM: Creio que a tradução por Aécio de ser um Ato de Responsabilidade foi contundente e definitivo para minha consciência e coerência políticas.