Luiz Ernesto Magalhães 06/04/2021.
RIO — O criador voltou para visitar a criatura 13 anos depois. O vereador e ex-prefeito Cesar Maia (DEM) pisou nesta terça-feira, dia 6, pela primeira vez na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, desde que deixou o comando da cidade, em 2008. Com restrições ao público e poucos eventos desde o início da pandemia do Covid-19, no ano passado, o espaço foi convertido em posto de vacinação. Maia, que tem 75 anos, foi tomar a segunda dose da Coronavac, mas voltou para casa sem a imunização: se enganou em relação ao dia. No comprovante entregue ao ex-prefeito no Parque Olímpico, onde tomou a primeira dose, o retorno estava marcado para o dia 16, mas o número 1 meio apagado fez o ex-prefeito ser vítima de um ‘’golpe de vista’’, só percebido pela equipe de Saúde da administração atual.
— Minha maior emoção foi voltar à Cidade das Artes — disse ele, antes de saber que não poderia tomar a segunda dose da Coronavac por uma médica do posto.
O ex-prefeito chegou ao local às 7h20m, e era o sexto da fila. Enquanto esperava a abertura do posto, às 8h, ele conversou com servidores e até foi saudado por um popular com o cumprimento de “meu presidente”. Mais tarde, por e-mail, o ex-prefeito não explicou porque, apesar de gostar de óperas, jamais assistiu a uma montagem no local. Pessoas próximas dizem que, em parte, foi por motivos políticos. Ao deixar o cargo, viu o ex-aliado Eduardo Paes (com quem se reconciliou posteriormente) ocupar a cadeira que foi sua durante oito anos. Depois foram mais quatro anos de Marcelo Crivella (Republicanos), com quem também não se aliou.
Mas os desentendimentos com Eduardo Paes, que começou na política como seu subprefeito da Barra da Tijuca, nos anos 1990, parece que ficaram para trás. Tanto que a Riotur, que funciona na Cidade das Artes, é presidida hoje por Daniella Maia, irmã gêmea do ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e filha do ex-prefeito.
Criação da Cidade das Artes
A Cidade das Artes foi um marco na carreira do ex-prefeito e uma das maiores polêmicas de seu terceiro mandato, e que contribuiu para deixar o cargo com sua imagem desgastada. O início do governo já havia sido problemático. Em 2005, uma crise na Saúde por falta de recursos levou a uma intervenção federal nos hospitais da prefeitura (depois julgada inconstitucional) abalou sua pré-candidatura à presidência da República. Foi então que Cesar Maia dedicou seus últimos meses de mandato para construir o complexo cultural. Depois de ver seu sonho de erguer uma filial do Museu Gugenheim, na Zona Portuária, impedido pela Justiça, ele projetou um espaço para ser uma das maiores salas de concerto do mundo como o marco do fim da gestão, em 2008.
Mas o orçamento da estrutura da Cidade da Música — nome original da Cidade das Artes – projetada pelo arquiteto Cristian de Pontzamparc estourou quando a prefeitura decidiu reformular o projeto inicial. Em lugar de um prédio mais tradicional, decidiu-se que teria imensos vãos livres para destacar o prédio. Isso contribuiu para o aumento da despesa. Anunciado como um projeto que custaria R$ 60 milhões, quando só se tinha um esboço, a obra saiu por quase R$ 600 milhões (valores da época).
— Eu vim aqui para dar uma simbologia ao mandato longo que eu tive. Se levarmos em conta o governo Conde, são 16 anos. No ano 430 a.c., Péricles fez o Paternon e hoje todo mundo admira a obra. Em 130, Adriano construiu o Pantheon de Roma. Em 1650, o Taj Mahal foi construído e seu criador foi confinado pelo próprio filho porque ele queria fazer uma outra obra grandiosa do outro lado do Rio Agra. Eu coloco a Cidade da Música nesse nível — disser Cesar, ao visitar as obras do complexo em outubro de 2008, antes de ir votar.