1. A presidente Dilma –mobilizada pelo PT, CUT, et caterva- acha ou acham que descobriram a fórmula para resistir o declínio da democracia direta associativa e enfrentar o ascenso da democracia direta eletrônica das Redes Sociais. Baixou o decreto nº 8.243, na sexta-feira (30), criando a “Política Nacional de Participação Social — PNPS”. São comissões, conselhos, ouvidorias, “mesas de diálogo”, conferências nacionais, junto à administração, ministérios e as estatais, sob a justificativa de participação social.
2. Explica-se: os sindicatos e associações perderam força e vários estão minguando, quando não, desaparecendo. As greves, as movimentações nas ruas…, aqui e alhures, mostram isso. O decreto cria uma espécie de obrigação para o governo de consultar aquelas instâncias com o claro objetivo de fortalecê-las ou ressuscitá-las. Ilusão treda!! Como dizia Augusto dos Anjos.
3. É um duplo engano. O primeiro é que é um decreto-minotauro, ou seja, um labirinto que aprisiona o governo e torna ainda mais lento e enredado o processo de decisão. Isso num governo cuja gestão é considerada das mais improdutivas das últimas décadas. Com o caminho livre, faz o que faz. Imagine com esse novo decreto que as crianças conhecem tanto: recue três pedras porque a associação tal tem ideia melhor, etc.
4. Mas o fundamental e que permite entender esse decreto é que as Redes Sociais –através da democracia direta eletrônica- estão substituindo a democracia direta físico-associativa. Cada vez as pessoas sentem que precisam menos de intermediações de burocracias associativas, vazias e sem representatividade.
5. Os sindicatos e associações fazem parte da lógica do século 19, onde o megafone e o papel eram os meios de comunicação. Alguém precisava manejá-los. Isso vem mudando com o rádio, o telefone, a TV, o satélite… Mas agora em pleno século 21, a mudança é radical. Essa mudança de qualidade na comunicação vem com a eletrônica, com a internet e, com ela, as Redes Sociais. As Redes Sociais são horizontais e desierarquizadas, o inverso dos sindicatos e associações. Manuel Castel explica: A Sociedade em Rede; Redes de Indignação e Esperança.
6. O decreto-minotauro é um tiro no pé da gestão pública. É uma camisa de força. Mas, sobretudo, é inócuo. A história não dá passos atrás por força de decretos. Em outros países os decretos foram mais explícitos, proibindo ou limitando as Redes Sociais. Aqui não tiveram coragem de ir tão longe e preferiram tentar esvaziá-las, dando poder aos concorrentes sindicais e associativos.
7. Se a oposição quisesse dar um golpe forte no governo, deixaria esse decreto para lá. Ele vai asfixiar e acelerar a paralisia do governo. Nada de recorrer à justiça para derrubá-lo. Esse decreto em pé é um pelourinho para a autodestruição do governo do PT por ele mesmo.