Ex-Blog: O resultado da eleição para o Senado o surpreendeu?
Cesar Maia: Sim e não. Explico. Surpreendeu até o final de agosto, já com 15 dias corridos de TV. E não surpreendeu a partir daí, embora eu mantivesse a campanha aquecida até o dia da eleição.
Ex-Blog: Pode explicar melhor?
CM: O corpo a corpo que fiz com milhares de pessoas foram me explicando. Os 20% com que abri e fechei a campanha eleitoral, eu sentia nas ruas, com o entusiasmo dos que me abraçavam e cumprimentavam. Mas não conseguia ver os eleitores dos adversários nas ruas se manifestando. Achei estranho.
Ex-Blog: E quando a ficha caiu?
CM: Estava numa grande reunião na Região Serrana quando, ao final, a Sra. Procuradora de um dos Municípios se aproximou e disse que com os discursos havia mudado seu voto de Romário para mim. Eu disse a ela que minha condição básica era de professor e pesquisador e gostaria de saber por que ela, com a formação que tinha, estava escolhendo Romário. A resposta veio em cima: Queria protestar contra este Senado de Sarney e Renan.
Ex-Blog: Explique mais.
CM: O voto anterior dela era de protesto contra a política e os políticos, aliás, como é o sentimento da maioria dos eleitores impulsionados pelas manifestações de 2013. Portanto, não se tratava de escolher entre um e outro, mas de ir contra a política. E quem expressava melhor isso seria o Romário, por seu perfil e estilo. Nas ruas fui testando isso e comprovando. Meu programa na TV explorava a comparação entre dois futuros senadores e as funções do Senado. Mas a disjuntiva não era essa.
Ex-Blog: E qual era?
CM: Eu era entre um candidato orgânico a senador e o outro expressava a antipolítica, tão comum hoje na América Latina. O voto de protesto não descola para outro candidato com argumentos racionais. A opção seria mudar o eixo da campanha e incorporar também um candidato de protesto usando a TV para isso.
Ex-Blog: E por que não fez isso?
CM: A política não termina em uma eleição. Aprendi com Jacques Seguelá –publicitário de Mitterand- que quando um político pensa ser ator e muda de personagem, não provoca mais emoções. Preferi continuar com a mesma imagem. Afinal, os 20% que tive desde o início, desde antes da TV, desde que foi decidida minha eleição ao Senado, falam para uma parte expressiva e orgânica do eleitorado. Afinal, o voto de protesto se dilui com o tempo.
Ex-Blog: Nesta eleição, que outros exemplos daria de eleitos pela antipolítica ou pelo voto de protesto?
CM: Independente de referências pessoais distintas –os casos de S.Paulo –aqui ao lado- são evidentes: primeiro Enéas e depois Tiririca e agora Tiririca novamente. No caso Enéas, uma importante agência de publicidade, após a eleição, realizou ampla pesquisa quali-quanti e qualitativa para entender a origem do voto de Enéas, já que, na TV, Enéas apontava para um nacionalismo extravagante que a história aponta riscos. Mas não tinha nada a ver com conteúdo. Enéas era um voto de protesto. Com sua morte, aqueles mais de 1 milhão de eleitores iriam depois na direção do mesmo tipo de voto. Tiririca, com imagem muito diferente, expressou as mesmas razões de voto em duas eleições seguidas, com passagem apagada na Câmara.
Ex-Blog: E como você sai dessa eleição?
CM: Saio como entrei. Agradeço a Sra. Procuradora ter iluminado as razões do voto que fui comprovando depois. Com isso, mantive a campanha aquecida nas ações e tranquila psicologicamente. E coerente com minha vida pública.
Ex-Blog: Você tentou alternativas?
CM: Certamente. Diria que em três caminhos buscava reduzir a diferença. Primeiro a colagem com o governador; segundo, as clássicas “colinhas” de fim de campanha; e terceiro a comparação para públicos determinados e organizados, de fatores comportamentais e valores. Fiz tudo isso intensamente, nos auditórios, nas ruas, na TV e nas residências. E nada aconteceu ou acontecia. O voto contra algo e não a favor de candidato, não descola numa eleição. Só com o tempo.
Ex-Blog: Se você terminou como começou e nada abalou esse patamar, o que diria a seus eleitores? Você diria que esses 1,5 milhão de eleitores são seus, já que não se abalaram do início ao fim?
CM: Não teria esta pretensão. Afinal, a política é dinâmica. Mas os três meses de campanha só afirmaram o que sou e o que penso. E para repetir um pensamento dos políticos e olhando para frente: O Tempo é o Senhor da Razão.
Ex-Blog: Você checou essa sua conclusão nas pesquisas do GPP que você usa?
CM: Certamente. Sempre incluía uma pergunta: Quem é o mais preparado para ser senador? Dava: Cesar Maia no entorno de 50% e Romário no entorno de 30%. Mas a pergunta em quem votaria dava o resultado que o Ibope, Datafolha e não só o GPP divulgavam. Foram várias vezes. Ficou provado para mim que o voto era de protesto e não para um Senador.