Pergunta: O que mais lhe impressionou na Convenção?
Cesar Maia: A metodologia usada que, tornando as exposições homogêneas, teve um enorme impacto mobilizador sobre o Partido. Explico. Participaram mais de 2000 militantes, rigorosamente credenciados, entre militantes de base, vereadores, deputados, governadores, ministros, dirigentes e o presidente do governo, Mariano Rajoy. Um plenário de mais de 2000 pessoas para os discursos se alternava com um auditório tipo arena (Ágora) de mais de 1.000 pessoas, onde as funções de governo eram apresentadas pelos ministros das pastas, acompanhados de um governador e um moderador. A dinâmica era sempre a mesma: o que recebemos, o que fizemos e o que faremos. 25 minutos para cada bloco. O vetor condutor era a superação da crise e o inicio de um novo ciclo que já começou.
P: Por que mobilizador?
CM: Eu estive nas 4 plenárias e nas 4 “Ágoras”, do começo ao fim, algo como 16 horas ou mais em 3 dias. Na verdade dois dias porque o primeiro e o terceiro foram parciais. A cada nova reunião mais o entusiasmo aumentava, numa clara demonstração que a comunicação básica tinha sido incorporada. Na Ágora era enorme o entusiasmo com os ministros, tratados como heróis. Todos saíram convencidos que o PP recebeu uma herança trágica e que em 2 anos superou essa crise e que a economia começa a crescer e o desemprego a diminuir.
P: Você também saiu convencido?
CM: Sim, pela qualidade das apresentações dos ministros, lastreadas com dados. Em 2013, a Espanha bateu o recorde em suas exportações (hoje 33% do PIB) e na entrada de turistas (61 milhões/ 11% do PIB). A taxa de risco da Espanha já é menor que a do Brasil, os proventos reais dos aposentados (9 milhões) foram mantidos, assim como os gastos em saúde e educação, impedindo a que o custo da crise chegasse a estes. Imagem da Espanha melhorou do índice de 5,8 para 6,8.
P: O que destacaria como pano de fundo dos discursos?
CM: Dia 25 de maio há eleições para o Parlamento europeu. Uma vitória do PP sublinharia politicamente esta reversão da crise. Uma derrota tiraria brilho da comunicação que faz o governo. Os discursos eram pavimentados em 3 grandes questões enfrentadas pelo governo: a unidade da Espanha (em função do movimento separatista na Catalunha); a unidade do PP [em função de uma dissidência, ainda pequena, que surgiu pela direita do Partido, criando outro Partido (Vox)], além dos claros atritos entre o atual presidente (Rajoy) e o anterior do PP (Aznar); e a luta contra o terrorismo (ETA), que ainda não acabou (um vídeo de forte emoção e o depoimento de filhos de dirigentes do PP que foram assassinados levantaram a plenária). O binário sempre repetido são as reformas (que nunca antes foram feitas) e a redução do desemprego. E claro: sempre exaltando o presidente Rajoy que, aliás, participou de todas as 4 plenárias, só falando no encerramento, coisa rara por aqui.
P: Cite alguns pontos apresentados pelos ministros e que você destacaria.
CM: São muitos. Vou pontuar tentando resumir minhas anotações. Sair da recessão não é necessariamente sair da crise. Há que se ter sustentabilidade. Realizar a reforma fiscal com pacto federativo. Tarefa do governo é injetar esperança nas pessoas. Como o euro é moeda que não controlamos, tivermos que fazer uma desvalorização interna (preços relativos). Inimigos do bem estar social são os maus gestores. Combater o desemprego dos jovens (50%), onde 1 milhão nem estudam nem trabalham. Espanha é hoje líder mundial em transplantes de órgãos. Tão importante quanto à taxa de risco financeiro é a taxa de risco político. No emprego, buscamos flexibilidade e estabilidade ao mesmo tempo. PP é centro, não como média entre esquerda e direita, mas como busca de convergências. Isso é que cria maiorias. Buscar vertebração territorial. Estamos territorializando o orçamento federal para dar transparência a todas as regiões. Capitais voltaram a investir na Espanha. Acabamos com o turismo sanitário com cartão único nacional e teleatendimento/saúde eletrônica. Confiamos em nossos juízes. A lei orgânica do judiciário que apresentaremos vai fortalecê-los ainda mais. Vamos apresentar e lei do estatuto do ministério público. Nova lei penal vai terminar com benesses em crimes graves. Questão da lei do aborto é a defesa dos mais débeis e o nascituro é o elo mais frágil na sociedade. Segurança jurídica como base para a economia. Unidade de mercado (tratamento tributário homogêneo entre os Estados). Estabilidade política é base para investidor. Socialistas, que saíram, esconderam o tamanho do buraco. Reduziremos os impostos com um cronograma para alguns anos, aprovado em lei.
P: E as eleições de 25/05 para o Parlamento Europeu?
CM: Da mesma forma, vou pontuar o que ouvi: PPE tem um grande inimigo que é o populismo e esse cresce nas crises. Espanha saiu da crise. Portugal está saindo e desemprego caiu de 17,7% para 15,4%. Grécia já atingiu equilíbrio orçamentário, etc. Por isso, os partidos que compõe o PPE vão forte para a eleição de maio. Precisamos construir a união bancária e fiscal. Precisamos de uma política energética europeia. Precisamos aprofundar nossa ação nas áreas de segurança e defesa.
P: O que o surpreendeu negativamente?
CM: Destacaria um ponto. Nessas horas todas de debates, exposições e discursos, ninguém, em momento algum, falou em redes sociais. Fiquei com a sensação de certo temor a elas. Para mim isso é um atraso.