A situação de insegurança no Rio de Janeiro, e não falo só da capital – talvez, até mais nos municípios metropolitanos, na Região dos Lagos –, está caminhando para ficar fora de controle. Não se trata apenas daquilo que é divulgado, da troca de tiros nas UPP: é muito mais grave, porque a curva de assaltos não parou de subir.
Estamos numa situação em que os crimes de rua estão no pior momento. Os homicídios caíram, claro! Caíram em São Paulo, também; caíram em Minas. Por quê? Já comentei isto, aqui, algumas vezes – o tráfico de cocaína, tradicionalmente, era feito para a Europa, desde os portos e aeroportos internacionais, vale dizer Santos, São Paulo, Rio, Vitória e Recife. Agora, o corredor de saída é pela África Ocidental, sendo Guiné-Bissau um exemplo de narco-Estado. É mais fácil, pois com uma pequena avioneta ou um barco de porte médio se lança no litoral, na África Ocidental, cargas de cocaína em sacos plásticos.
Quem está acompanhando essa série sobre Pablo Escobar, da TV colombiana, pode ver como, 30 anos atrás, isso era feito na Flórida, na Califórnia. O fato é que, devido a esse deslocamento do corredor de exportação da cocaína, os homicídios associados ao tráfico de drogas caíram. De resto, a situação está saindo de controle. Acho que vamos ter, agora, o sexto, o sétimo comandante da Polícia Militar, e já tivemos uns quatro da Polícia Civil.
Acho que é uma situação tão extremamente grave que é o caso de tirá-la da esfera da política e tratá-la como questão de Estado – como se fala tantas vezes, suprapartidariamente. Qual Partido não teria interesse, independentemente da conotação ideológica, em somar sua palavra, uma ideia pequena que seja para contribuir para que esse processo que, uns, três, quatro anos atrás, produziu alguma expectativa positiva e que, nesse momento, projeta uma situação extremamente grave, repito, seja revertido. É o que todos nós queremos.
Um grupo de três motoqueiros fez… Estou falando da rua de serviço de São Conrado, onde eu moro, não é rua de tráfego. Anteontem, naquela curva das asas deltas, fizeram uma curva e dispararam, em frente ao nº 1.400, e mataram uma jovem de 23 anos. Dispararam, foram embora. Mataram por atropelamento e foram embora, não pararam para socorrer, ninguém sabe quem é, quem foi, como pode, como não pode. Portanto é algo de muita gravidade. Meu partido, hoje, é um partido de menor expressão parlamentar no Rio de Janeiro, mas que tem uma vida, tem uma tradição, tem um período longo em que foi hegemônico na Cidade do Rio de Janeiro, 16 anos. Meu partido se coloca inteiramente à disposição para oferecer uma pequena ideia que seja, uma sugestão que seja, tirando fora da esfera político-partidária, da esfera eleitoral, porque o problema afeta todos nós. E a mim, que tenho 69 anos, afeta meus filhos, meus seis netos e, se Deus quiser, daqui a poucos anos, meus bisnetos também. Estou muito preocupado.
Acompanho isso através de informações que recebo, através do noticiário, dos meios de comunicação. O jornal Extra tem explodido primeiras páginas de forma muito intensa, para chamar à atenção que a situação é grave. E também de amigos, amizades que eu fiz, parte aposentados, parte ainda na ativa, pessoal da Polícia Civil e da Polícia Militar. Quando vejo uma situação desse tipo, eu entro em contato e pergunto: “Afinal de contas, onde nós estamos? Como vocês estão vendo?”. Quando se troca informações a respeito, a opinião é geral e comum: estamos passando por uma situação grave. Provavelmente, o risco que as famílias, as pessoas correm hoje é o maior de todos os tempos. E olha que a força, a vontade que têm os meios de comunicação — o Sistema Globo é um exemplo — de que a área de segurança melhore, o apoio que têm dados às UPPs…
A percepção das pessoas se dá até menos pelos meios de comunicação, pelos fatos que são divulgados, e mais pela sua própria experiência. O crime está na porta da sua casa, esteja a pessoa onde estiver, em qualquer bairro do Rio de Janeiro. É necessário que se pare, medite, que se faça autocrítica. O Senhor Secretário de Segurança é uma figura correta, honesta — enfim, é a obrigação de todos nós. Nas suas últimas 20 entrevistas, ele sempre repassa a responsabilidade: “As favelas precisam de intervenção social, há necessidade de interação com os outros níveis de governo.” Vai transferindo responsabilidades, que é comum, é verdade, mas é principalmente da esfera estadual, especialmente dele, que está aí há tantos anos. O Secretário de Segurança mais longevo que o Estado do Rio de Janeiro tem, no qual tantos depositaram e depositam esperanças, expectativas, pelo menos. É necessário que se somem todas as forças vivas da sociedade do Estado do Rio de Janeiro, civil e política e que se possa iniciar reversão de um quadro tão extremamente grave.