24 de novembro de 2017

PADRE JESUÍTA MANUEL DA NÓBREGA: 500 ANOS!
(Ilustríssima – Folha de S. Paulo, 12) A obra completa do chefe da primeira missão jesuítica ao Brasil é reunida em edição que comemora os 500 anos do nascimento (18 de outubro de 1517) do Padre Jesuíta Manuel da Nóbrega. A “Ilustríssima” fez três perguntas a Paulo Roberto Pereira, organizador do livro.
Folha – Qual a importância de Nóbrega?
Ele foi um dos fundadores do Brasil e autor de algumas das primeiras notícias sobre a realidade desta terra. Com o parecer teológico-jurídico em que faz a defesa da liberdade do indígena, pode ser considerado pioneiro do direitobrasileiro.
Por que ler a obra de Nóbrega ainda hoje?
A sua peça teatral “Diálogo sobre a Conversão do Gentio” foi a primeira obra literária escrita no Brasil, e “Cartas do Brasil” reúne a correspondência de Nóbrega dirigida a Inácio de Loyola, D. João 3º e Tomé de Sousa, oferecendo um panorama da realidade cotidiana das vilas nascentes na época e da conversão do indígena.
O sr. acha que a intelectualidade brasileira deixa de lado o estudo da própria cultura?
É normal nós brasileiros fazermos intensa cobertura de eventos de relevância internacional, como os 500 anos da Reforma Protestante e os cem anos da Revolução Russa. Mas, como ensinava Antonio Candido, temos de valorizar a nossa cultura para que possamos entender aquilo que nos singulariza ante outras nações. Daí a importância de reverter o plano secundário em que a cultura brasileira, especialmente do séculos 16 ao 18, tem sido colocada.

23 de novembro de 2017

PRÉ-SAL: NOVO IMPACTO DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO NA ECONOMIA BRASILEIRA!
(JN, 20) 1. Analistas do mercado de trabalho estimam que a indústria do petróleo vai ajudar a produzir meio milhão de empregos nos próximos cinco anos, principalmente por causa do pré-sal.
2. Aeroporto de Jacarepaguá, no Rio. Todos os dias, centenas de passageiros se apresentam para o embarque: trabalhadores do petróleo. Antes de fazer a reportagem, a gente precisa vestir um macacão, que é um equipamento de segurança. Decolamos em direção ao Campo de Lula, na Bacia de Santos.
3. Cerca de 500 pilotos e copilotos de helicóptero trabalham nessa indústria, além de centenas de comissários, técnicos e mecânicos de aeronave. Uma hora e dez minutos depois, vemos o navio-plataforma Cidade de Itaguaí, um gigante do tamanho de três campos de futebol.
4. E 20 plataformas como ela devem entrar em operação no pré-sal até 2021. Cada uma pode produzir 150 mil barris de petróleo por dia. O navio é conectado a seis poços produtores. As reservas estão a sete quilômetros de profundidade.
5. O navio é todo dividido em módulos. Tem uma unidade geradora de energia elétrica capaz de iluminar uma cidade de 250 mil habitantes. Dentro tem mais de 21 mil equipamentos, quase todos controlados à distância. Por isso, são necessários profissionais altamente especializados: engenheiros, mecânicos, técnicos em eletrônica, gente disposta a passar todo o mês, duas semanas longe de casa.
6. No coração do navio tem engenheiros e técnicos; no convés, equipes de emergência e de manutenção. O pessoal da pintura luta contra a ferrugem. Um batalhão que precisa comer: são 40 mil refeições por ano. O Zé Ricardo lava a louça. “Vale a pena porque a gente está levando sustento para casa”, conta.
7. Nos últimos anos, o setor já perdeu quase meio milhão de empregos, mas leilões de novas áreas de exploração devem aquecer o mercado. “Para cada US$ 1 bilhão em investimento, 25 mil e poucos empregos são gerados. Então a gente imagina, fazendo uma conta rápida, que nos próximos cinco anos, não é de forma linear, mas a gente vai ter aí perto de 500 mil empregos novos sendo gerados”, explica Cláudio Makarovsky, diretor da Abespetro, a Associação Brasileira das Empresas de Serviço de Petróleo.

22 de novembro de 2017

EX-BLOG ENTREVISTA CESAR MAIA SOBRE A PREFEITURA DO RIO!
1. Ex-Blog: Qual a sua avaliação sobre prefeito Crivella?
Cesar Maia: Prefiro aguardar 2018, especialmente após as “águas (janelas) de março”. Não acredito na decantada penúria financeira da Prefeitura. Apresentar a situação do Rio como terrível e responsabilizar o prefeito anterior é uma tradição na política brasileira. Os dados que vão sendo publicados no Diário Oficial, especialmente de execução orçamentária, não indicam isso. Pode ser a tradicional “fazer caixa no primeiro ano e governar a partir do segundo ano”.
2. Ex-Blog: O que você quer dizer com “após as águas de março”?
CM: Em março abrem-se as janelas para os políticos trocarem de partidos. E termina o prazo de desincompatibilização de secretários e ministros. É uma boa hora de fazer uma reforma do secretariado. E de alavancar ainda mais o caixa, com a antecipação do IPTU. As receitas em 2018 deverão crescer com as leis do IPTU e do ISS e o crescimento da economia.
3. Ex-Blog: A sensação que muitos têm é que a Prefeitura vai muito mal e as Secretarias descoordenadas. É assim?
CM: Em 2017 é assim. Mas essa realidade é funcional, na hipótese de se fazer caixa no primeiro ano e reestruturar o secretariado.
Ex-Blog: E a crise que se noticia na saúde pública?
CM: A desmontagem das OSs, pela prefeitura atual, que eram o eixo da gestão da saúde pública herdado do prefeito anterior, teria que produzir essas consequências. Isso é ruim? Talvez não. Havia tantos funcionários nas OSs quanto concursados na Secretaria. As despesas com as OSs haviam se igualado ao IPTU. E os desvios de conduta, inclusive prisões e investigações, sublinharam um caminho para o caos. Uma caixa preta que até agora não foi totalmente aberta.
4. Ex-Blog: E o sistema de transportes públicos? Para onde caminha?
CM: Esse do ponto de vista de futuro é o mais grave de todos. As empresas de ônibus, a partir de 2009, estavam se desinteressando pelo mercado do Rio. Aquela prefeitura entendeu isso como modernização e qualificação. Os BRTs, o desmonte do transporte alternativo e em menor escala o VLT inicialmente no Centro, aumentaram de forma significativa o IPK – índice de passageiros por quilômetro. Com isso, o número de ônibus foi reduzido; e seria muito mais e progressivamente se fosse dada sequência a essa política.
5. Ex-Blog: Mas por que essa política?
CM: Uma hipótese é que o sistema de ônibus do Rio já não interessava mais as empresas como antes e que minimizar esse sistema seria a verdadeira política.
Ex-Blog: E os atos de vandalismo contra os BRTs na alta Zona Oeste?
CM: O que dizem é que a empresa que faz a segurança dos BRTs não agradou aos traficantes e que no fundo é uma guerra entre traficantes e essa empresa.
6. Ex-Blog: A situação da Educação é curiosa, pois não se percebe os conflitos que existiam antes. Por quê?
CM: Talvez pela origem política do secretário, suas nomeações e medidas internas, que devem -digamos- acalmar os sindicatos, ONGs e associações e partidos mais à esquerda. Mas quando entrar em votação o plano municipal de educação exigido pelo MEC e que no Rio está parado há anos, veremos os conflitos, especialmente entre os valores cristãos e conservadores de um lado e a esquerda na Câmara e fora dela. Os focos serão coisas como ideologia de gênero e escola sem partido.
7. Ex-Blog: A oposição de esquerda ao prefeito insiste que a prefeitura está quebrada. As críticas ao orçamento apresentado são muito grandes e crescentes. Por quê?
CM: Realmente isso tem ocorrido. Em geral, os números não são o forte da esquerda. Vide o PT, no Governo Federal. O sistema previdenciário municipal, que teria um déficit de 2 bilhões, “agora tem” um déficit de 200 milhões. O presidente da CPI, do partido do prefeito, elaborou um relatório para respaldar medidas duras que seriam adotadas, como aumento da contribuição, etc. Mas esse truque ficou claro e a CPI não terá um relatório, mas 3. E essas críticas da dita esquerda convergem com o que o prefeito propaga e ajudam a explicar os seus problemas. Esperto o prefeito.

21 de novembro de 2017

EX-BLOG ENTREVISTA CESAR MAIA SOBRE A POLÍTICA NO RIO!
1. Ex-Blog: Como você vê a política no Rio projetada para 2018?
Cesar Maia: Muito difícil fazer previsões dado o quadro confuso existente. E não falo apenas do PMDB, que enfrenta graves problemas de imagem, que atingem alguns de seus dirigentes. Mas vamos tentar desenhar esta confusão pelo PMDB. O que fará o ex-prefeito Eduardo Paes? Com sua boa relação com a imprensa, conseguiu destaque para a separação entre caixa 2 e propina. Vai insistir na candidatura? Vai mudar de partido? Mas o PMDB tem muitas vidas. Tem o segundo maior tempo de TV, que serve para organizar “alianças” com ele, dentro ou fora da cabeça. E o PMDB nacional conta com dirigente seu no Planalto. Como ele se movimentará? O tempo não será um alívio para o PMDB, mas poderá ajudar ao redesenho de sua estrutura eleitoral no Rio e alianças.
2. Ex-Blog: E o prefeito Crivella?
CM: Provavelmente sua rejeição no segundo semestre, com as ações de clientela e dinheiro em caixa, será bem menor que hoje. A elasticidade de Crivella/PRB/IURD é muito grande. Uma semana atrás fizeram um acordo com o PMDB na prefeitura, participando de seu secretariado. Uma semana depois, seus deputados estaduais votaram a favor da detenção dos deputados do PMDB. E sua importância em 2018, em nível federal, continua muito grande. Interessa aos candidatos a presidente. E, portanto, têm suas decisões centralizadas quando quer.
3. Ex-Blog: O que se propaga aqui é que Crivella já tem candidato a governador, o secretário Indio, do PSD.
CM: Será? O PSD quer lançar o ministro Meirelles candidato a presidente. E, para isso, precisa ter capilaridade nacional em função da pouca mobilidade do ministro. Como agregará apoio e tempo de TV na eleição presidencial? Provavelmente cedendo seu apoio em eleições estaduais. Não se deve dar aquilo como resolvido.
4. Ex-Blog: Como o PSDB e o DEM se movimentarão aqui para governador e senador?
CM: Pelo que tenho ouvido, vão esperar passar as “águas de março” pós “janelas”. Não acredito que fechem questão antes disso.
5. Ex-Blog: E a chamada esquerda?
CM: O PT ainda não sabe o que vai fazer. E tem o maior tempo de TV. A candidatura de Lula no primeiro turno lhe dará impulsão. O PSOL já sabe: repetirá seu candidato a governador e formará uma chapa com dois candidatos a senador. Com pouco tempo de TV e pouca capilaridade, até sua estrela nos telejornais poderá ver frustrada sua candidatura a senador.
6. Ex-Blog: E o candidato de Bolsonaro, já que ele lidera as pesquisas no Rio?
CM: Nem ele sabe. Talvez esteja esperando o quadro eleitoral se pré-desenhar para propor uma troca de tempo de TV, apoiando alguém no Rio e recebendo esse tempo de TV em nível presidencial. A capilaridade de Bolsonaro não virá de seu partido, mas dos “comitês” nos quartéis, batalhões e igrejas agregadas. Mas o filho lidera as pesquisas para senador. Mesmo com o pai perdendo gordura, esta situação deverá permanecer até a campanha.
7. Ex-Blog: E Romário e Bernardinho?
CM: Curiosamente são candidatos similares para a massa do eleitorado. Ambos são vistos como esportistas não-políticos. Ambos são populares. Mas a dúvida -inclusive para Romário- é se a popularidade transferida para senador se transfere para governador, que é visto de outra maneira. Tanto é assim que os mais de 25% de Romário, quando se foca a lista para governador, cai a 15%. Bernardinho abriu com 5%. Interessante é que personagens vistos pelo andar de cima de forma tão diferente são vistos de forma semelhante pelo amplo andar de baixo: esportistas, não políticos.
8. Ex-Blog: Qual o maior problema dos dois?
CM: O mesmo. Pouco tempo de TV para candidatura majoritária. E pouquíssima capilaridade por ausência de candidatos a deputado federal e estadual com pouquíssimos espalhamentos. Romário tinha dois e expulsou em função da recente votação na ALERJ. Podemos e Novo são de visibilidade mínima.

17 de novembro de 2017

POPULISMO NA AMÉRICA LATINA E EUROPA E TRANSPARÊNCIA DOS GOVERNOS!
Fundação Konrad Adenauer –Punta Del Este, Uruguai- 26 e 27 de outubro com jovens de 16 países da América Latina.
Relatório de Antonio Mariano presidente da Juventude do Democratas na cidade do Rio de Janeiro.
Quinta, 26
– Diálogo Político: Populismo (Agustina Carriquiry, coordinadora de proyectos KAS Montevideo)
O populismo trata de entrar nos medos fundamentais das pessoas.
O discurso populista se encontra dentro dos ressentimentos sociais para tratar de canalizar através de um discurso fortemente polarizado.
– Corrupción, transparencia y acceso a la información publica (Dra. Laura Brunet, profesora universitaria)
Pobreza não gera corrupção, mas a corrupção é que gera a pobreza.
Na América Latina o PIB perdido com corrupção é estimado entre 10 e 15%.
Não é a ética que está em ascensão, mas a “etiquética”, a ética de etiqueta, apenas porque é moda no momento.
A transparência inibe, é um barômetro ético da própria conduta, é uma fonte de controle social, é um fator chave para a democracia do futuro e ajuda a modernizar o Estado.
– El populismo y otros lastres de la democracia (Cayetano Stopingi, Alcalde de Sarandí Grande y Andrés Abt, Alcalde de CH en Montevideo)
Populismo tem origem na filosofia marxista, visto que pretendia dividir a sociedade, polarizando entre burgueses e operários.
Princípios comunistas: 1) definir-se através dos seus adversários e; 2) dirigir-se a um público em específico.
Para populismo existir, deve existir uma população insatisfeita e com expectativas frustradas. Em geral são uma parte à margem da sociedade e minorias.
Ódio, divisão, ressentimento, povo x anti-povo, salvadores de todos.
A política econômica do populismo é sempre a curto prazo, com incremento dos gastos públicos e políticas sociais.
Populismo não é exclusivo da esquerda, vide Trump e Marine Le Pen.
Como identificar um populista: não tem ideologia, apresenta soluções impossíveis, joga com as necessidades do povo e se nutre da frustração e da pobreza.
Do que precisa o populismo: um líder e que pense pelos outros e ir contra as instituições. Em resumo: a opinião do líder vale mais que os poderes, ele decide, ele comunica, ele é a lei e não tem oposição.
Como surge o populismo: sistema político desacreditado, grandes desigualdades sociais, má distribuição de renda, falta de conhecimento das competências das instituições e geração de soluções mágicas e impossíveis.
Como enfrentar o populismo: através da democracia e da república, o livre debate, propostas, real participação, oposição com garantias, meios de comunicação livres e ferramentas tecnológicas.
Popular é construir cidadania, ter vínculo com a sociedade civil, trabalhar pelo bem comum e qualidade de vida, manter os partidos próximos da população e ter o governo como um instrumento de desenvolvimento humano. Ou seja, totalmente diferente do que é o populismo.
– El ascenso del populismo nacionalista en Europa (Roland Theis – Secretario General de la CDU en Saar, Alemania)
O populismo alemão nasceu nos anos 1980, crescendo pouco a pouco, até a crise de 2009, quando houve uma explosão.
As igrejas, que sempre tiveram papel fundamental de estabilização política, vem perdendo fiéis. O mesmo fenômeno está ocorrendo com os sindicatos.
Se apenas jovens e mulheres tivessem votado, CDU teria tido uma votação muito melhor.
FDP tem flertado levemente com o populismo e não é mais o partido liberal econômico de 20 anos atrás.
DIA 2 (Sexta, 27)
– Desafíos en Europa (Roland Theis – Secretario General de la CDU en Saar, Alemania)
Muitos partidos, ao invés de se renovarem para atrair voluntários, preferem continuar fazendo política tradicional e antiga sentados em uma mesa.
Não percebem que, mesmo que queiram manter o controle, perdem militância gratuita para as campanhas. E isso não é um problema unicamente da Europa, mas do mundo inteiro.
Os partidos que permitiram o maior trabalho dos jovens tiveram êxito em ter contato com a sociedade, o que a médio e longo prazo gera melhores votações.
– Visita a intendência de Maldonado
Maldonado, apesar de ser a intendência mais jovem, é também uma das cosmopolitas do país.
Frente Amplio governou por muitos anos e, “inexplicavelmente”, perderam a última eleição, em 2015.
Três pilares da campanha: moradia, segurança e trabalho.
Nós fazemos campanha todos os dias. Não é porque a eleição passou que a comunicação deve parar. Campanha se faz constantemente, para lembrar a população dos feitos.
A intendência está instalando 1200 câmeras na cidade, parte do plano de segurança. “Alta tecnologia, única em toda América Latina”.
Na comunicação política, conte histórias, as pessoas lembram mais fácil delas do que dos conceitos.
De uma conversa só vamos lembrar 66% após 24 horas e 10% após 30 dias. Levando em consideração que 70% da comunicação é não-verbal, invista na imagem.
O estilo das pessoas mudou e o político deve acompanhar: barba agora é aceitável e até bem visto.
Campanha eleitoral é tipo um filme: deve começar e terminar prendendo a atenção de quem vê.
Redes sociais são informais, logo, nunca responda os demais com “olá, boa noite, tudo bom?”, por exemplo. Seja direto.
– Cornelia Schmidt-Liermann (Presidente da Comissão de Relações Internacionais da Câmara de Deputados da Argentina)
Macri tem foco na educação, visto que há uma grande quantidade de jovens “nem-nem” (nem estudam, nem trabalham)
Muitas das mudanças poderiam ser feitas via decreto, mas Macri preferiu discutir com o Congresso, de modo a dar mais legitimidade e segurança.
Desde a redemocratização, é a eleição com maior comparecimento às urnas: resultado de maior interesse pela política.
Resultado foi tão expressivo, que ganharam em províncias onde acreditavam na derrota.

16 de novembro de 2017

“DITADORES JÁ FAZEM ESCOLA”!
(Fareed Zakaria – Washinton Post/Estado de S. Paulo, 13) 1. As notícias que chegam da Arábia Saudita são alarmantes. Num país famoso por uma estabilidade que chega ao ponto da estagnação, o príncipe da Coroa, de 32 anos, prende seus parentes, congela suas contas em bancos e os demite de postos-chave. Mas examinando a questão mais de perto, isso não deve causar surpresa. Mohammed bin Salman aplica o que se tornou o novo processo operacional padrão adotado por autocratas em todo o mundo. A fórmula foi aperfeiçoada por Vladimir Putin quando chegou ao poder na Rússia.
2. Em primeiro lugar, a ordem é amplificar as ameaças externas de modo a reunir o país em torno do regime e dar a ele poderes extraordinários. Foi o que fez Putin no caso da guerra da Chechênia e o perigo do terrorismo. Em seguida, investir contra centros de influência rivais dentro da sociedade, que na Rússia são os oligarcas.
3. Em seguida, insistir na necessidade de eliminar a corrupção, reformar a economia e oferecer benefícios para o cidadão comum. Putin teve êxito nesse último aspecto em parte graças aos preços do petróleo, que quadruplicaram durante a década seguinte. Por último, controlar a mídia por meio de medidas formais e informais. Na Rússia, a mídia livre que floresceu em 2000 foi submetida a um controle estatal similar aos tempos da União Soviética.
4. Naturalmente, nem todos os elementos dessa fórmula se aplicam a todos os lugares. Talvez o príncipe Mohammed seja de fato um reformador. Mas a receita para o sucesso político que está seguindo é similar à adotada em países tão díspares como China, Turquia e Filipinas. Seus líderes usam os mesmos ingredientes – nacionalismo, ameaças externas, combate à corrupção e populismo – para se fortalecer no poder. E quando o Judiciário e a mídia são vistos como obstáculos a sua autoridade ilimitada, são sistematicamente debilitados.
5. Em seu livro The Dictator’s Learning Curve (A Curva de Aprendizagem do Ditador, em tradução livre), publicado em 2012, William Dobson profeticamente explicou que a nova safra de autocratas em todo o mundo, para manter o controle, criou um conjunto de artimanhas muito mais inteligentes e sofisticadas do que as usadas no passado. “Em vez de prender membros de um grupo de direitos humanos, os déspotas de hoje utilizam fiscais da Receita e inspetores de saúde para calar grupos dissidentes. As leis são escritas num sentido amplo e depois usadas como bisturi contra grupos nos quais o governo vê ameaça”.
6. As ditaduras centralizadas clássicas foram um fenômeno do século 20 e nasceram das forças centralizadoras e tecnologias da era. “Os ditadores modernos atuam no espectro mais ambíguo que existe entre democracia e autoritarismo”, escreveu Dobson. Eles mantêm os elementos da democracia – Constituições, eleições, mídia –, mas trabalham para priválos de sentido. E se empenham em manter a solidariedade nacional e a sua popularidade. Naturalmente, esse nacionalismo estimulado pode sair do controle, como ocorre na Rússia e pode suceder na Arábia Saudita, agora envolvida numa guerra feroz com o Irã, consumada com um conflito por procuração acirrado no Iêmen.
7. Em vez de os déspotas serem influenciados pelos democratas, são os democratas que estão subindo na curva de aprendizagem. Veja o caso da Turquia, país que no início da década de 2000 parecia seguir num passo firme para a democracia e o liberalismo, ancorada no desejo de se tornar membro da União Europeia. Hoje, seu líder, Recep Tayyip Erdogan, eliminou praticamente todos os obstáculos ao seu controle total. Debilitou o Exército e a burocracia, adotou várias medidas regulatórias e fiscais contra oponentes na mídia e declarou como terroristas os membros do grupo de oposição dos Gulenistas. Os governantes das Filipinas e da Malásia vêm adotando o mesmo manual de conduta.
8. Este não é o retrato da democracia em muitos lugares, certamente, mas essas tendências são observadas em áreas distantes do mundo. Donald Trump, por sua vez, tem ameaçado a NBC, CNN e outras organizações com várias formas de medidas governamentais, além de atacar juízes e agências independentes e desprezar normas democráticas arraigadas, de modo que os EUA também estão ascendendo nessa curva de aprendizagem.

14 de novembro de 2017

BRASIL: ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DE 2018 SERÁ O PALCO PARA A ENCENAÇÃO DA ANTIPOLÍTICA E DO POPULISMO!
1. Independente de concordâncias ou discordâncias, o fato é que a política na Europa e Estados Unidos –especialmente nesse ciclo de crises- confronta ideias. A antipolítica cresceu, mas só é representativa na Itália com o ‘Movimento 5 Estrelas’, que tem representado 25% do eleitorado. Na América do Sul, em grande medida, as eleições vêm opondo ideias.
2. Será assim agora em novembro, na eleição presidencial no Chile (entre centro direita e centro-esquerda) e foi na Argentina na eleição parlamentar, dias atrás. Da mesma forma, as ideias políticas opõem governo e oposição, especialmente nos países onde os presidentes chavistas constroem a oposição, até por provocação. Na Colômbia e no Uruguai, com tradição orgânica na política, da mesma forma.
3. Na América do Sul, o Brasil é uma exceção. De certa forma, as reformas liberais propostas pelo governo afirmam ideias orgânicas políticas. Mas o governo não terá candidato a presidente. A oposição sapateia na negativa e na coreografia do contra, do “fora Temer”, “golpistas” e coisas no estilo. E se limita a ser do contra em tudo o que o governo Temer propõe. E a crise deveria estimular o confronto de ideias proativas.
4. Os partidos mudam de nome para simbolizar a renovação e nada mais. Até o partido do governo volta a se denominar MDB, numa referência ao passado democratizador. E os nomes que se apresentam são personagens que basicamente representam a antipolítica – com personagens conhecidos, especialmente através da mídia, ou populistas tradicionais. As ideias orgânicas, até aqui, estão fora da disputa presidencial. E é isso que caracterizaria a maturidade e a representatividade políticas.
5. Nos 80 anos da morte de Gramsci, matérias na imprensa exploraram pouco o que foi a maior contribuição dele à ciência política. Uma exceção foi o artigo de Otavio Frias Filho no caderno Ilustríssima da Folha de São Paulo (05/11). A seguir se reproduz um resumo.
5.1. “A dimensão coercitiva concerne ao Estado, mas a “sociedade civil” (economia e instituições privadas) é o palco onde se disputa em épocas de crise a “hegemonia” (direção mental da sociedade), exercida habitualmente pelo “bloco histórico” (aliança de classes e grupos antagônicos acoplados a um mesmo modo de produção) por meio de uma ideologia elaborada pela camada de “intelectuais”.
5.2. Estes podem ser “tradicionais” (quando resquício de modos de produção extintos, que por isso aparentam autonomia social; por exemplo, o clero católico) ou “orgânicos” (quando surgem em resposta a demandas de uma classe ascendente, como técnicos, cientistas, gerentes e publicitários, no caso da burguesia). Quanto ao proletariado, seus intelectuais haveriam de se formar no partido, que assim aparece como príncipe moderno, numa releitura do precursor da ciência política, Maquiavel.
5.3. As percepções de Gramsci vão do específico (“a escola é uma luta contra o folclore”, no sentido de conhecimento irrefletido) ao mais geral, como a noção de “revolução passiva”. Trata-se das modernizações econômicas promovidas não por uma sublevação social, mas pelo próprio partido da ordem, com pouca mudança na estrutura social (“revoluções sem revolução” que o leitor da história brasileira conhece de cor e salteado).
5.4. Quando insistia que os comunistas italianos deveriam obter a hegemonia, esse intelectual cedo convertido em dirigente partidário estava oficialmente falando de uma sociedade civil superdesenvolvida, como a italiana. Mas ficava subjacente a ideia de que os revolucionários russos, vitoriosos no surpreendente assalto ao poder, teriam de se manter nele por meios cada vez mais coercitivos, porque não tiveram tempo nem interesse em conquistar consentimento.”

13 de novembro de 2017

“ANTIPOLÍTICA DE ALTO NÍVEL” (?!) É SOLUÇÃO PARA O BRASIL?
1. Não é a primeira vez no Brasil -desde a democratização- que se busca um nome da “sociedade civil”, de alto nível, para superar uma eleição entre políticos” criminalizados” na percepção da opinião pública.
2. Um caso, digamos, clássico, aqui no Brasil, envolveu a eleição para Governador do Estado de São Paulo em 1986. Orestes Quércia enfrentava Maluf e Eduardo Suplicy, do PT. Surgiu como alternativa da “sociedade civil” o líder empresarial Antônio Ermírio de Moraes.
3. Antônio Ermírio de Moraes, do grupo de empresários que liderou o processo de democratização no Brasil, era a referência de competência e ética. Basicamente é o que se queria. E é o que hoje se quer. Naquela eleição, o senador Fernando Henrique Cardoso abandonou o candidato de seu partido e apoiou Antônio Ermírio de Moraes. Quem venceu a eleição foi Orestes Quércia.
4. Hoje, a “Lava Jato”, expondo o alcance da corrupção entre grandes empresas e líderes políticos, terminou por confirmar a percepção média do eleitor sobre a inconfiabilidade nos políticos. As crises política, econômica e ética levaram essa percepção ao extremo.
5. As pesquisas de opinião confirmam isso. Em pesquisa recente da IPSOS, nenhum político das 30 personalidades citadas teve taxa de aprovação maior que desaprovação. Só três personalidade tiveram um saldo positivo: dois magistrados e um animador de TV.
6. Partidos e Pré-candidatos a presidente passaram a correr atrás destes dois perfis (magistrados e destaques de audiência/popularidade na TV e no esporte) para compor suas chapas ou seus hipotéticos futuros ministérios ou governadores. E sempre que os apontados sinalizam a possibilidade de aceitar a “missão”, a mídia passa a dar a eles uma enorme cobertura, confirmando que a renovação e a confiabilidade passa por eles. Consagra a AntiPolítica.
7. Um politólogo ironizou essa situação dizendo que o eleitor médio, ao meio desta crise, está buscando alternativa na área de entretenimento. E explica, dizendo que a cobertura dada pela mídia –especialmente pela TV- às denúncias e aos julgamentos, inclui os magistrados nesse campo do “entretenimento público”. Os magistrados mais destacados na mídia têm negado radicalmente que aceitam essas indicações.
8. É o quadro que se vive no Brasil. Aquele politólogo reforçou seu raciocínio dizendo que se a suposta competência técnica como executivo de empresa fosse um atributo fundamental, dever-se-ia se fazer concurso público para escolher o presidente e não eleição. E se a opção fosse popularidade, bastariam as pesquisas de opinião.
9. Bem, o jogo começa a ser jogado. Acompanhemos.

10 de novembro de 2017

ESTADOS UNIDOS: PESQUISAS ELEITORAIS PRECISAM MUDAR!
(The New York Times/Folha de São Paulo, 08) 1. Um ano depois que as pesquisas eleitorais superestimaram largamente a força de Hillary Clinton nos Estados do velho cinturão industrial dos Estados Unidos que provaram ser o campo de batalha decisivo da eleição presidencial, os principais especialistas e analistas de pesquisas eleitorais chegaram a um amplo quase consenso sobre muitas das causas de seus erros na eleição de 2016. Mas até agora, as organizações públicas de pesquisas eleitorais —tipicamente veículos noticiosos e universidades— não mudaram muito sua abordagem.
2. Poucas, se alguma, das organizações de pesquisa que conduziram levantamentos antes das eleições desta terça-feira (7) para os governos estaduais da Virgínia e Nova Jersey parecem ter adotado mudanças significativas de metodologia a fim de representar melhor os eleitores brancos de áreas rurais e nível mais baixo de educação que os pesquisadores acreditam terem sido sub-representados nas pesquisas anteriores à eleição de 2016. Por outro lado, os serviços privados de pesquisa —tipicamente empregados por organizações de campanha e partidos— já começaram a realizar mudanças. Isso vale especialmente para os democratas, atordoados pela inesperada vitória de Donald Trump, mas os republicanos também estão mudando. Os ajustes já estão exercendo efeito na eleição da Virgínia, que dará aos pesquisadores uma das primeiras chances para testar as mudanças adotadas depois de 2016.
3. “A Virgínia servirá como teste importante para que os pesquisadores experimentem novos métodos, dados alguns dos problemas nos levantamentos eleitorais estaduais de 2016”, disse Nick Gourevitch, que comanda pesquisas para o Partido Democrata no Global Strategy Group, uma empresa que presta serviços à Associação dos Governadores Democratas e vai usar a eleição da Virgínia para fazer uma sintonia fina nas mudanças adotadas depois da eleição de 2016, e para experimentar novas abordagens. Quase todos os especialistas em pesquisas entrevistados para o artigo no mínimo começaram a fazer alguma coisa quanto à representação de nível educacional. Quase todos concordam em que os eleitores brancos de nível de educação mais baixo tiveram representação insuficiente nas pesquisas, e que isso explica ao menos em parte por que as pesquisas eleitorais do ano passado favoreciam os democratas.
4. A questão deve continuar importante, pelo menos enquanto existir uma divisão tão forte entre os eleitores brancos em linhas educacionais. O relatório da Associação Americana de Pesquisa de Opinião Pública, a principal organização setorial dos pesquisadores de opinião dos EUA, chegou a conclusão semelhante sobre a eleição de 2016. Uma possível correção é ponderar os resultados com base em níveis educacionais, a fim de conferir maior ou menor peso às respostas de determinados respondentes, o que garantiria que a estimativa final dê o peso apropriado ao eleitorado branco de nível eleitoral mais baixo. Ponderar os resultados com base em nível educacional faria muita diferença, em muitas pesquisas de opinião pública. O método poderia alterar em até quatro pontos percentuais, em favor dos republicanos, o resultado padrão de uma pesquisa eleitoral na Virgínia, por exemplo, tomando por base uma análise da mais recente pesquisa Upshot/Sienna College. Já que o democrata Ralph Northam detinha liderança modesta na maioria das pesquisas, essa alteração poderia bastar para mudar o líder em diversas pesquisas no Estado.
5. Algumas das pesquisas eleitorais conduzidas na Virgínia, como a do jornal “Washington Post” e a Universidade Quinnipiac, ponderam seus resultados com base em níveis educacionais, e o fizeram também antes da eleição presidencial de 2016. A maioria dos demais levantamentos não ponderou suas estimativas com base em nível educacional no ano passado, e continua a não fazê-lo este ano. Na pesquisa final da Universidade Christopher Newport sobre a eleição da Virgínia, 69% dos prováveis eleitores eram listados como portadores de diploma superior, muito acima da estimativa de 49% a 52% nas estimativas da pesquisa Upshot. Northam tinha sete pontos percentuais de vantagem na pesquisa da Christopher Newport. Uma pesquisa da Gravis, que mostrava vantagem de 5% para Northam, estimava que 60% dos eleitores da Virgínia têm diploma de curso superior de quatro anos. Uma pesquisa da Roanoke que mostrava empate técnico entre os candidatos estimava a porção do eleitorado que conta com diploma universitário em 57%.
6. O fato de que as pesquisas públicas tenham mudado pouco não significa que as pesquisas eleitorais na Virgínia estejam condenadas a errar por margem semelhante à de 2016. A maior parte dos relatos concorda em que um erro das dimensões do cometido em 2016 requer uma tempestade perfeita: quase tudo que poderia ter beneficiado Trump na eleição parece ter feito exatamente isso. Da próxima vez, pode ser que os democratas é que se beneficiem de um comparecimento maior às urnas, e que sejam eles que conquistem os votos dos indecisos. Também não existe garantia de que a acentuada divisão educacional entre os eleitores do pleito de 2016 venha a ser tão proeminente se Trump não constar da chapa, ou se terá importância comparável nas eleições legislativas de meio de mandato presidencial, que tendem a atrair um eleitorado com nível educacional mais elevado.
7. Mas a falta de mudanças indica uma possibilidade desanimadora: um descompasso entre a escala do desafio que o setor de pesquisas de opinião enfrenta e a capacidade de muitas das organizações de pesquisa para responder a ele. Pode parece óbvio que a eleição de 2016 leve as organizações públicas de pesquisa a promover grandes mudanças. Mas muitos pesquisadores individuais ficaram razoavelmente satisfeitos com os seus resultados, ainda que o setor como um todo tenha errado. Isso é razoável, até certo ponto. O erro nas pesquisas do ano passado foi muito estranho. Teve a distribuição praticamente ideal, nos Estados mais disputados, para maximizar as consequências eleitorais. Houve grandes erros em alguns poucos Estados nos quais Hillary Clinton mostrava grande vantagem, como o Wisconsin e Michigan. Mas em outros lugares os erros foram mais típicos, ou nem existiram.
8. A Virgínia foi um desses Estados. Hillary tinha vantagem de cinco a seis pontos percentuais em todas as pesquisas finais; e venceu a eleição com vantagem de 5,3%. Se os pesquisadores não tivessem conduzido levantamentos na região centro-oeste, quase todos os seus resultados teriam provavelmente ficado dentro da margem de erro. As previsões deles indicariam vitória de Hillary, como as de todo mundo mais, mas o erro seria explicável. Há muitas indicações de que os eleitores indecisos terminaram optando majoritariamente por Trump. E a maioria das organizações públicas de pesquisa não conduziu levantamentos suficientes, tarde o suficiente na campanha, para aferir o quanto estavam se saindo bem, ou mal, em suas previsões.
9. Algumas organizações de pesquisa realizaram levantamentos suficientes na porção final da campanha, e isso as levou a reavaliar seus números, mas elas não consideraram que o nível de educação fosse decisivo. Patrick Murphy, da Universidade Monmouth, por exemplo, constatou que ponderar os resultados com base no nível educacional compensaria apenas 1% da distorção em seus levantamentos. Mas talvez a questão mais importante seja que a educação é um mistério. Descobrir que eles estão errando já é bem difícil para os pesquisadores, e descobrir como consertar o erro, ainda mais. “Não pondero os números com base em nível de educação porque é difícil encontrar referências para um perfil provável de eleitor que tome por base a educação”, disse Matthew Towery, da Opinion Savvy, uma firma que conduz pesquisas eleitorais em diversos Estados usando um sistema de telefonemas automatizados. “Isso não é algo que seja fácil de determinar, na maioria das ocasiões.”
10. A combinação entre a incerteza sobre a verdadeira composição educacional do eleitorado e a relutância em ponderar os resultados de pesquisas baseadas nos registros eleitorais tomando como referência um fator autoinformado (o nível educacional do respondente) bastou para impedir que muitas pesquisas baseadas nos registros eleitorais ponderassem seus resultados com base em nível de educação. Os mesmos fatores representam um desafio para organizações privadas de pesquisa. Mas o ritmo de mudança vem mesmo assim sendo mais rápido, nelas.
11. Nove dos 10 pesquisadores de organizações privadas entrevistados para este artigo já começaram a incorporar dados sobre nível de educação às suas pesquisas, quer ponderando os números, quer de outras maneiras. “Essa é a primeira vez que ponderei os números sobre nível de educação, me preparando para as eleições de 2018”, disse Glen Bloger, pesquisador da Public Opinion Strategies, uma conhecida organização de pesquisas de opinião ligada ao Partido Republicano, “porque o nível de educação é um ótimo fator de previsão”. Nas organizações privadas de pesquisa, há aceitação maior do problema —e mais aceitação de que elas simplesmente erraram, especialmente do lado democrata.
12. As grandes empresas privadas de pesquisa conduziram pesquisas mais que suficientes, em número de Estados suficiente, e tarde o suficiente na campanha, para não ter ilusões sobre distorções significativas em seus resultados. O debate entre os pesquisadores do setor privado, especialmente do lado democrata, avançou, em lugar disso, para um estágio diferente: determinar se ponderar os números com base na educação é suficiente. A causa do debate é simples: ponderar os resultados com base no nível educacional não bastaria para conferir a Trump uma vantagem nas pesquisas. Uma possibilidade, mencionada com frequência por empresas mais tradicionais, é de que o erro residual seja explicável por flutuações no comparecimento às urnas ou viradas nas preferências dos indecisos.
13. Mas existe uma possibilidade mais ameaçadora: a de que as pesquisas não só não tenham registrado as opiniões de número suficiente de eleitores brancos com nível de educação mais baixo, mas que não tenham registrado a opinião dos eleitores brancos de baixo nível educacional certos. Talvez as pesquisas tenham ignorado os eleitores com educação inferior na maioria das áreas rurais. Talvez tenham desconsiderado eleitores que não trabalhem em escritórios, em setores da velha economia como a indústria ou agricultura. Ou talvez tenham ignorado eleitores com grau inferior de confiança social e menos inclinação a fazer trabalho voluntário, que sempre apresentaram probabilidade mais baixa de responder a pesquisas e talvez tenham se inclinado mais a apoiar Trump em 2016.
14. Pesquisas quanto a isso parecem destinadas a continuar pelo futuro previsível. Mas a maioria desses esforços está ocorrendo longe dos olhos das organizações de pesquisa públicas. Se houver algo de mais profundamente errado com as pesquisas públicas do que a representação insuficiente dos eleitores com nível educacional mais baixo, é difícil descobrir o que a maioria das organizações de pesquisa públicas poderia fazer a respeito.

09 de novembro de 2017

“AS REDES SOCIAIS SÃO UMA AMEAÇA À DEMOCRACIA?”

(The Economist – Estado de São Paulo, 04) 1. Em 1962, o cientista político britânico Bernard Crick publicou Em Defesa da Política. Ele argumenta que a arte do toma lá dá cá político, longe de ser algo deplorável, possibilita que indivíduos que acreditam em coisas muito diversas convivam em sociedades harmônicas e vibrantes. Na democracia liberal, ninguém tem exatamente o que quer, mas, de modo geral, todos são livres para viver a vida que escolhem para si. Por outro lado, na falta de uma dose mínima de informação, civilidade e consenso, as sociedades acabam resolvendo suas diferenças na base da coerção. Se tivesse comparecido a uma das sessões das comissões do Senado americano na semana que passou, Crick (que morreu em 2008) teria ficado horrorizado com as mentiras e a polarização política.

2. Há não muito tempo, as redes sociais ofereciam a promessa de uma política mais esclarecida: a facilidade de comunicação e a circulação de informações corretas ajudariam as pessoas de boa índole a acabar com a corrupção, a intolerância e as mentiras. Na última quarta-feira, porém, um executivo do Facebook admitiu que antes e depois da eleição presidencial americana do ano passado, entre janeiro de 2015 e agosto deste ano, 146 milhões de usuários podem ter visto conteúdos mentirosos e enganadores, veiculados na plataforma por agentes do Kremlin. O YouTube, do Google, identificou 1.108 vídeos ligados aos russos, e o Twitter, 36.746 contas. Longe de contribuir para o esclarecimento do público, as redes sociais estão espalhando veneno.

3. A interferência da Rússia é só o começo. Da África do Sul à Espanha, o jogo político está cada vez mais agressivo e sujo. Em parte, isso se deve ao fato de que, ao propagar mentiras e indignação, minar o discernimento dos eleitores e acentuar a polarização política, as redes sociais corroem as bases sobre as quais se dá o toma lá dá cá político que, na opinião de Crick, promove a liberdade. Mais do que gerar divisão e desacordo, as redes sociais se encarregam de amplificá-los. A crise financeira de 2007-2008 alimentou a revolta contra uma elite endinheirada que se descolara da realidade vivida pela grande maioria. As chamadas “guerras culturais” fizeram com que os eleitores passassem a se dividir de acordo com suas identidades, e não mais pelo corte de classe. O incentivo à polarização não é exclusividade das redes sociais. Está presente também na TV a cabo e no rádio. Mas a Fox News atua em terreno conhecido, ao passo que as plataformas sociais são um fenômeno novo e ainda pouco compreendido. E o modo como elas funcionam faz com que tenham influência extraordinária.

4. As redes sociais ganham dinheiro colocando fotos, postagens pessoais, notícias e anúncios publicitários diante do usuário. Como dispõem de ferramentas para mensurar sua reação, sabem muito bem como entrar na cabeça da pessoa. Coletando dados sobre a atividade de cada um, as plataformas calibram seus algoritmos para exibir aos usuários as coisas que mais provavelmente lhes chamarão a atenção, fazendo com que eles continuem rolando a página, clicando e compartilhando indefinidamente. Qualquer um que queira influenciar a opinião das pessoas pode produzir dezenas de anúncios, analisar a reação de seu público-alvo e determinar a quais deles os usuários se rendem com mais facilidade. O resultado é impressionante: um estudo mostra que em países desenvolvidos as pessoas tocam a tela de seus smartphones 2,6 mil vezes por dia.

5. Seria maravilhoso se isso contribuísse para que a verdade e a sabedoria viessem à tona. Entretanto, a despeito do que diz Keats em seu Ode a uma Urna Grega, a verdade é menos beleza do que trabalho árduo, sobretudo quando está em desacordo com nossas opiniões. Qualquer um que conheça o feed de notícias do Facebook sabe que, em vez de difundir sabedoria, a plataforma é craque em espalhar coisas compulsivas, que tendem a reforçar os preconceitos das pessoas. Isso reforça a política do desprezo pelos adversários que se instaurou, pelo menos nos EUA, a partir dos anos 1990. Como os diferentes lados veem fatos diferentes, não há base empírica comum a partir da qual possam chegar a um consenso. Como as pessoas ouvem a todo instante que os que estão do lado de lá são um bando de vagabundos que não fazem senão mentir, trapacear e difamar, é cada vez mais difícil vê-los como indivíduos com os quais é possível chegar a um entendimento. Como são sugadas pela voragem das mesquinharias, dos escândalos e da indignação, as pessoas acabam perdendo de vista o que realmente importa para a sociedade em que convivem.

6. Dessa forma, caem em descrédito a busca do consenso e as sutilezas da democracia liberal, para alegria dos políticos que se alimentam de teorias conspiratórias e da xenofobia. Considere-se os efeitos das investigações em curso, no Congresso e no FBI, sobre a interferência do Kremlin na eleição americana de 2016. Atacados pelos russos, os americanos agora se atacam furiosamente uns aos outros. Como a Constituição dos EUA foi concebida para proteger o país da força de tiranos e multidões, as redes sociais agravam a paralisia política em Washington. Na Hungria e na Polônia, cujos ordenamentos institucionais são mais frágeis, elas ajudam a sustentar uma democracia de estilo fortemente majoritário e antiliberal. No Mianmar, onde o Facebook é a principal fonte de notícias de muita gente, contribuem para aprofundar o ódio contra a minoria muçulmana rohingya, que vem sendo alvo de ações de limpeza étnica.

7. Diante desse estados de coisas, o que pode ser feito? Mais dia, menos dia, as pessoas se adaptarão, como sempre acontece. Levantamento realizado esta semana mostra que apenas 37% dos americanos acreditam no que leem nas redes sociais, metade do porcentual dos que dizem confiar em jornais e revistas impressos. Mas, enquanto a adaptação não acontece, governantes mal-intencionados podem causar estragos de grandes proporções.

8. As sociedades criaram mecanismos, como os crimes de difamação e calúnia e os direitos de autor e propriedade, para controlar os órgãos tradicionais de imprensa. Algumas pessoas querem que as redes sociais também sejam responsabilizadas pelo que é publicado em suas plataformas. Defendem ainda que elas sejam mais transparentes e passem a ser tratadas como monopólios que precisam ser desfeitos. São boas propostas, mas com efeitos colaterais. Recentemente, o Facebook contratou os serviços de terceiros para verificar a veracidade das informações veiculadas em sua plataforma. No entanto, as evidências de que isso contribui para moderar o comportamento dos usuários estão longe de ser inequívocas. Além do mais, a política não é como outros tipos de discurso: deixar a cargo de duas ou três grandes empresas a tarefa de decidir o que é, ou não, saudável para a sociedade envolve riscos enormes. O Congresso americano quer que as redes sociais divulguem quem paga pelos anúncios que veiculam mensagens políticas, mas isso não combate os efeitos nocivos da ação de indivíduos inconsequentes, que compartilham notícias com pouca ou nenhuma credibilidade. Dividir as gigantes das redes sociais em várias empresas menores talvez faça sentido como ação antitruste, mas em pouco contribuiria para arejar a atmosfera política. A bem da verdade, a multiplicação das plataformas sociais poderia tornar o setor ainda mais incontrolável.

9. Há outras soluções mais eficazes. As redes sociais poderiam ser obrigadas a ajustar seus sites, de forma a mostrar com clareza se determinado conteúdo é de autoria de amigos ou de fontes confiáveis. As ferramentas que permitem compartilhar notícias e postagens poderiam alertar o usuário para os efeitos prejudiciais da disseminação de informações incorretas. Os robôs são muito usados para amplificar postagens de conteúdo político. O Twitter poderia bloquear os mais nocivos, ou pelo menos sinalizá-los. E os efeitos seriam ainda benéficos se as redes sociais adaptassem seus algoritmos para que as postagens conhecidas como “caça-cliques” fossem deslocadas para o fim de seus “feeds”. Como vão de encontro a um modelo de negócios destinado a monopolizar a atenção, essas mudanças provavelmente teriam de ser impostas por meio de lei ou da ação de autoridades reguladoras.

10. As redes sociais vêm sendo alvo de muitos abusos, mas, com vontade política, a sociedade seria capaz de controlá-las e reviver aquele sonho inicial de esclarecimento. Os riscos que a democracia liberal corre atualmente não poderiam ser maiores.

08 de novembro de 2017

O CENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO RUSSA –HOJE- NA RÚSSIA!
(RF) 1. O centenário da revolução que teve tão grande impacto na Rússia e no mundo parece ter colocado um dilema sério à Rússia de Vladimir Putin. Outubro e o passado soviético continuam ainda a dividir a sociedade russa. John Reed chamou-lhe, numa reportagem célebre, “os dez dias que mudaram o mundo”. E o historiador Eric Hobsbawm faz data da tomada do poder pelos bolcheviques, a 7 de outubro de 1917, um momento fundador, tão crucial para os destinos do séc. XX como o foi 1789 para o séc. XIX. Por todo o mundo historiadores, académicos, políticos e militantes de todas as causas continuam a debater apaixonadamente os mais diversos ângulos dos acontecimentos de 1917 – da efémera experiência de fevereiro ao sonho libertário dos sovietes, das condições e do alcance da tomada do poder pelos bolcheviques ao papel do próprio leninismo, da guerra civil e da intervenção estrangeira na deriva estalinista – e dos seus efeitos nos destinos da União Soviética, do comunismo e do sonho da Revolução.
2. E, no entanto, na pátria da Revolução, o 100º aniversário de Outubro está a ser assinalado de uma forma surpreendentemente discreta. Numa Rússia em que a história é convocada a um papel político de primeira linha, os responsáveis do Kremlin abstiveram-se de formular uma versão oficial dos acontecimentos de 1917. O debate público sobre a memória de 1917 tem-se limitado aos círculos intelectuais. A nível dos media, os cem anos da revolução apenas inspiraram algumas iniciativas como uma polêmica série transmitida no Canal 1 da televisão oficial russa e centrada na figura de Leon Trotski ou uma série de montagens num portal online organizadas pelo jornalista Mikhail Zygar que dá vida a políticos, artistas e intelectuais do período da revolução. A própria televisão de Estado tem dedicado pouco espaço à memória e ao debate do significado e da herança do ano de 1917.
3. O 100º aniversário da Revolução será um dia discreto quanto a manifestações públicas. Só o Partido Comunista Russo dará largo destaque ao aniversário assumindo a bandeira e a herança da revolução numa série de comícios e manifestações em Moscovo e por toda a Rússia. O Dia da Revolução era das datas mais assinaladas no calendário soviético. O impulso revolucionário de Outubro era já um eco, longínquo mas, num plano meramente retórico e iconográfico que fosse, os ideais da revolução continuavam a inspirar o discurso oficial. Para os soviéticos era o mais popular feriado do ano, o dia em que todos se saudavam com Sprazdnikom! (boa festa!).
4. Um quarto de século depois do colapso da URSS, a memória de Outubro continua muito presente na paisagem russa, mas com expressões por vezes desconcertantes. O último czar e a sua família foram canonizados pela Igreja Ortodoxa Russa em 2000, mas uma estação de metro de Moscou continua a ter o nome de Piotr Voikov, o responsável pela execução da família imperial. Em 1991, o monumento a Felix Dzerjinski, o fundador da Tcheka, foi apeado do seu pedestal em Moscou e Leninegrado recuperou o seu nome imperial, São Petersburgo. Mas continua a haver ruas Lenin, Marx, Komsomol (Juventude Soviética), e Ditadura do Proletariado por toda a Rússia. Moscou tem um cinema Outubro e uma Praça da Revolução.
5. Na sociedade russa, as opiniões sobre os acontecimentos de Outubro de 1917 dividem-se. Uma sondagem conduzida pelo instituto Levada Centre em abril último apurou que 48% dos russos viam a Revolução de Outubro como um acontecimento positivo, enquanto 31% a avaliavam de forma negativa e 21% hesitavam na resposta. O papel de Lenine na história merece uma apreciação positiva de 53% dos russos, contra apenas 27% com uma visão desfavorável. Mas numa sondagem de dezembro de 2016 da radio Ekho Moskvy sobre a revolução de fevereiro de 1917, apenas 47% dos inquiridos aprovaram a derrubada de Nicolau II, contra 53%. Outras sondagens revelam ao mesmo tempo que o número dos que acreditam que os primeiros anos após 1917 trouxeram “mais mal do que bem” aumenta consistentemente, crescendo dez pontos percentuais ente 1984 (38%) e 2016 (48%).
6. As gerações de cidadãos que alimentam ainda uma memória romântica da revolução ou alguma nostalgia do período soviético vão sendo vencidas pelos anos, e, para os mais jovens, Outubro é uma memória longínqua. A história, a interpretação do passado e a manipulação da memória transformaram-se numa arma política na Rússia de Putin. O regime elaborou uma narrativa oficial da história pátria que celebra séculos de grandeza da Rússia ao sabor das grandes campanhas bélicas do passado (incluindo a ocupação da Crimeia em 2014), das biografias de líderes políticos e militares, e em que os russos são convidados a reconhecer um destino nacional e um motivo de identidade, de coesão e de orgulho. O próprio Putin teve um papel crucial na elaboração desta visão oficial da “história milenar” da Rússia. Foi ele que determinou como os russos deviam ver acontecimentos como a transferência da Crimeia para a Ucrânia por Nikita Krutchov, o Pacto Molotov-Ribbentrop ou a importância de figuras como Piotr Stolypin, primeiro-ministro do império no início do séc. XX (1906-1911) que procurou conter o impulso revolucionário através de uma série de reformas.
7. Mesmo figuras de um passado distante foram convocadas para esta narrativa, como Vladimir, o Grande, o príncipe de Kiev que adotou o cristianismo em 988, a quem foi erguido uma estátua junto ao Kremlin em 2016 – o que gerou polémica com a Ucrânia. Foi mesmo erigido um monumento a Ivan, o Terrível, uma figura cruel, mas que marca a expansão do território russo no séc. XVI. Uma narrativa em que não há lugar para derrotas, dúvidas ou episódios críticos. Aspectos dramáticos, e que continuam a dividir a sociedade russa, como as purgas de Stalin ou o Gulag. O regime permitiu a construção no centro de Moscou de um monumento para comemorar as vítimas da repressão estalinista, mas parece apostado em dissuadir formas mais vigorosas de desestalinização. O Memorial, organização que perpetua a memória das vítimas do estalinismo, foi chamada “agente estrangeiro” pelo governo russo.
8. A vitória na Grande Guerra Patriótica contra a Alemanha nazista é cada vez mais o momento eleito pelo regime para celebrar a grandeza da Rússia e a unidade. O 7 de Novembro de 2016 foi assinalado com uma recriação da parada militar realizada na Praça Vermelha em novembro de 1941, após a qual as tropas marcharam diretamente para a frente. “A elite russa nacionalizou a memória histórica” – diz Andrei Kolesnikov, do Carnegie Center Moscow. “E instalou a ideia de que quem põe em causa o sistema político russo está a minar a vitória partilhada do país.”
9. O centenário da Revolução parece ter colocado um problema dilemático ao regime de Vladimir Putin: como enquadrar a Revolução de Outubro nesta narrativa oficial da história russa. A Revolução de Outubro foi o berço da URSS, garantiu de algum modo o espaço do defunto império russo e lançou os alicerces das conquistas sociais, militares e científicas soviéticas que o país continua a reivindicar. Mas a própria ideia de “revolução” joga mal com um regime que faz da estabilidade política e coesão social um dos seus baluartes.
10. As poucas ocasiões em que Putin se referiu especificamente à Revolução de Outubro sugerem que o presidente russo olha para os acontecimentos de 1917 com marcada reserva. No discurso sobre o Estado da Federação, de dezembro, o presidente russo alertou contra os perigos dos levantamentos políticos. “Conhecemos bem as consequências que essas grandes convulsões trazem. Infelizmente, o nosso país passou por muitas dessas convulsões e as suas consequências no século XX”, disse Putin. “Quando olhamos para as lições de há um século, vemos quão ambíguos foram os resultados e como houve consequências tanto negativas como positivas desses acontecimentos” – afirmou. “Temos de nos perguntar se não teria sido possível avançar, não através da revolução mas de uma evolução, sem destruir o Estado e arruinar o destino de milhões, através de um progresso passo a passo.” Numa palavra, a Rússia “não necessitava de uma revolução global”.
11. Pontos nos “is”, Putin considerou que o 100.º aniversário das revoluções de fevereiro e de outubro de 1917 “será um grande momento para olhar para trás e rever as causas e a natureza dessas revoluções na Rússia”, mas lembrando sempre ao mesmo tempo que “somos um só povo e temos apenas uma Rússia”. Numa palavra, o presidente apelou a uma atitude de “respeito” e a “uma análise objetiva e honesta” da “história comum do pais”, mas abstendo-se de formular uma leitura definitiva dos acontecimentos de 1917. O Kremlin remeteu a questão do centenário à esfera académica nomeando um comité oficial com a missão de organizar seminários, conferências e outros eventos.
12. De algum modo 1917 destoa da versão da história russa do Kremlin como uma longa e unificada marcha para um estatuto e um lugar no mundo que Putin tanto se tem esforçado para devolver ao país. Por outro lado, assinalava o The Guardian, há uma incómoda falta de figuras “heroicas” na revolução – nem o czar deposto, Nicolau II, nem Kerenski, a figura central no governo provisório, nem o próprio Lenine reúnem condições de cumprir o papel de alguém com quem a atual liderança se possa identificar.
13. Mas o embaraço mais sério que o centenário de Outubro terá colocado ao Kremlin passará ainda pelo potencial de discórdia que a memória de 1917, encerra ainda. Andrei Kolesnikov recorda que a própria ideia de devolver a propriedade da Catedral de Santo Isaac à Igreja Ortodoxa, avançada pelo Estado em janeiro deste ano, como gesto de reconciliação a posteriori entre Vermelhos e Brancos, deparou com viva resistência em São Petersburgo, acabando por gerar mais divisões do que o almejado padrão mútuo.
14. As divisões acerca de Outubro de 1917 e do passado soviético poderão assim explicar a relutância do regime em assumir uma posição clara sobre o centenário e terão desaconselhado grandes celebrações. Curiosamente, o Kremlin decretou há dez anos um novo feriado, o Dia da Unidade Nacional, a 4 de novembro – apenas a três dias do aniversário da Revolução -, que jogará decerto melhor com a narrativa oficial. Historiadores como Orlando Figes insistem no carácter especificamente russo da tomada do poder pelos bolcheviques e veem uma linha de continuidade – uma “herança de séculos de escravatura e poder autocrático que manteve o povo comum impotente e passivo” – nos regimes que atravessaram a história russa até ao presente.
15. Uma forma, polémica sem dúvida, de sublinhar a importância que a Revolução de Outubro continua a ter para compreender o presente e muitos dilemas da Rússia. Em Moscou, há mesmo quem arrisque que Putin e os seus devem estar impacientes para ver este centenário pelas costas. A Revolução de Outubro e as suas consequências continuarão ainda durante muito tempo a alimentar apaixonada polêmica. Se, para uns, Outubro representa ainda a própria essência da utopia revolucionária, o centenário da Revolução tem inspirado a outros análises que insistem em extrair de 1917 uma leitura do presente, e em particular da Rússia de Putin. Para uns e outros, Outubro continua a ser uma referência absoluta. Como diria ainda Figes, “os fantasmas de 1917 ainda não dormiram o seu último sono”.

07 de novembro de 2017

A ‘EXPOSIÇÃO AO SOL’ NA POLÍTICA QUEIMA: BOLSONARO NA FILA!
1. Dias atrás, este EX-Blog antecipava o declínio da imagem de Dória junto à opinião pública, ou melhor, às Pesquisas de Opinião. Citava especialmente o publicitário francês Jacques Séguelá, assessor de imagem de Mitterrand.
2. Ao contrário da escola de publicidade política nos Estados Unidos, onde “todo dia é dia de eleição”, Séguelá recomendava emergir e submergir na politica, como nos nados de peito e borboleta. E concluía que emergir e ficar muito tempo exposto traz, inevitavelmente, queimaduras de segundo e terceiro graus.
3. Bolsonaro iniciou sua pré-campanha visitando vários locais do país e até indo ao exterior. Mas sem expor essa sua maratona aos meios de comunicação e às redes sociais.
4. Funcionou bem e, num sentido “tardiano” (Gabriel Tarde sociólogo francês do final do século 19, teórico da microssociologia), foram se formando fluxos de opinamento com um expressivo multiplicador.
5. Como era de se esperar, as pesquisas pré-eleitorais acusaram seu crescimento e passaram a aproximá-lo dos 20%, com Lula liderando com 30% ou mais. Isso deve ter estimulado a “profissionalização” de sua pré-campanha, com assessoria de comunicação – imprensa e publicidade.
6. E Bolsonaro passou a aparecer quase diariamente na mídia -tradicional e social- e, em função dos “fluxos de opinamento”, passou a ser tema das conversas e discussões entre as pessoas.
7. Naturalmente, Bolsonaro, como tema, passou a encontrar nos “fluxos de opinamento” não só os multiplicadores como os divisores. E nas redes sociais com muito maior frequência, como mostram os levantamentos sobre os Facebook, Twitter, blogs, etc.
8. Nos últimos dias, as pesquisas conhecidas informalmente já mostram uma provável tendência da curva de Bolsonaro ter alcançado o teto e começar a vergar. Um indicador importante sobre isso, nessas pesquisas, é quando se imaginando o hipotético impedimento de Lula na segunda instância, se retira seu nome.
9. Nesse caso Bolsonaro cresce, mas o faz timidamente, como se sua ‘pescaria’ sem Lula fosse acanhada e, assim, as alternativas se tornassem mais importantes. Ou seja, em boa medida, Bolsonaro depende de Lula para atrair atenção como o único sniper que pode abater Lula.
10. O tempo e os fluxos de opinamento em função da exposição conseguida podem já estar sinalizando queimaduras maiores que as de primeiro grau. Acompanhemos.

06 de novembro de 2017

O QUE É O CENTRO NA POLÍTICA? CUIDADO COM O PÂNTANO!
1. Lenin, na sua Carta n. 5, nas Cartas de Longe, em 8 de abril de 1917, ainda no exílio na Suíça, criticava Kautsky, “principal teórico da Segunda Internacional e o mais proeminente representante do “CENTRO”, do “PÂNTANO”, tendência que agora é observada em todos os países, oscilando entre ‘direita e esquerda’…
2. A Democracia Cristã do Chile, no final dos anos 60, explicava que o seu CENTRO não era o meio caminho entre esquerda e direita, mas uma terceira instância que ficava num outro plano poligonal. E ao aproximar-se do modelo iugoslavo de autogestão, procurou demonstrar isso.
3. Na Europa do pós-guerra, os partidos deixaram de usar expressão CENTRO em seus nomes próprios. Talvez a Guerra Fria explique. Mais recentemente, o CDU, da Alemanha, e o PP, da Espanha, passaram a usar a expressão CENTRO como cenário de suas reuniões políticas, mostrando que se afastaram da direita. Na Espanha e na Alemanha há razões de sobra para isso na radicalização político-partidária.
4. Recentemente, o prefeito de São Paulo, numa entrevista, afirmava que para derrotar Lula e Bolsonaro era necessária uma FRENTE de CENTRO. Com isso, esse seu conceito se aproximava da crítica de Lenin a Kautsky, que tratou o CENTRO como sinônimo de PÂNTANO.
5. Nos debates constituintes 1987-1988, a força das teses dos constituintes em torno da esquerda assustou os constituintes em torno da direita e o presidente Sarney. Com isso, foi formado um bloco que, para ajudar a agregar votos, foi chamado de CENTRO. A imprensa adotou o apelido que a oposição passou a chamá-los: CENTRÃO. Até hoje CENTRÃO passou a ser um termo pejorativo que explicaria a agregação inorgânica de parlamentares.
6. O Democratas, que discute hoje um documento em direção a uma Convenção que incorpore deputados de outros partidos, busca caracterizar esta incorporação com outra denominação partidária. Naturalmente, foram levantadas adjetivações em torno da expressão CENTRO. Mas tiveram o cuidado de explicar que a expressão CENTRO se refere às relações de agregação do partido com os eleitores e a sociedade. Em grande medida, repete o conceito da Democracia Cristã chilena dos anos 60. Sendo assim, não se trataria de um meio caminho entre a direita e a esquerda, mas uma terceira instância poligonal.
7. O fato é que na percepção dos eleitores, o que de fato adjetiva uma denominação partidária é a sua prática. Aproveitando que estamos na semana dos 100 anos da revolução russa, repitamos uma conhecida frase de Lenin: A prática é o critério da verdade.
8. Desde as eleições de 2002, no Brasil, que todos os partidos -a começar pelo PT- afirmaram e demonstraram suas aproximações ao “CENTRO”. E o que se viu e o que se vê é todos -ou praticamente todos- mergulhados no PÂNTANO, o mesmo da critica de Lenin a Kautsky.

03 de novembro de 2017

“BENEFÍCIOS COM BASE LEGAL”!
(Jorge Magdaleno, Conselheiro Titular do Previ-Rio – Globo, 03/11/2017) 1. A previdência dos servidores do município do Rio foi, por muitos, anos referência nacional. Em 2001, visando a dar maior eficiência, foi criado um fundo especial, o Funprevi, com mais de R$ 700 milhões, ficando por conta do Previ-Rio a gestão desse fundo para o pagamento das aposentadorias e pensões e ainda a incumbência de atuar na assistência social e financeira.
2. Assim, foi executado o modelo de seguridade social do município. E tenho o orgulho de ter participado do esboço desse modelo, ao lado do então secretário de Administração, Indio da Costa. Naquela época, a prefeitura, administrada por Cesar Maia, devolveu as contribuições previdenciárias dos aposentados descontadas até 2000, na ordem de R$ 320 milhões.
3. A taxação dos benefícios foi suspensa, a concessão dos benefícios tinha critério definido, e foi mantida a assistência prestada pelo Previ-Rio. Sob esses parâmetros, nosso sistema triplicou as disponibilidades, chegando a contar em 2006 com um caixa de mais de R$ 2,4 bilhões em recursos financeiros, além do patrimônio imobiliário e recursos a receber, como as cartas de crédito concedidas aos servidores. Esse programa, por exemplo, além de ser considerado o melhor investimento do sistema, por sua rentabilidade e baixo risco, possuía apelo social, gerando melhoras na arrecadação de ITBI.
4. O Previ-Rio se distanciou de tudo que o fortaleceu, e é preciso que se faça um contraponto à tese que tem prosperado. O Tribunal de Contas do Município tem buscado perseguir sua missão institucional, mas, em relação às oito mil aposentadorias não homologadas, não podemos aplicar a tese superficial de que todos os problemas decorrem disso ou da não taxação de inativos. O criticado decreto que embasa as concessões desde 2004 continua em pleno vigor, não sendo até hoje revogado, questionado judicialmente ou sustado.
5. Assim, não há que se falar em ilegalidade. Até porque, há uma ação no TRF que concedeu liminar ao município, em 2006, impedindo qualquer sanção da União, pela não aplicação de diversos requisitos exigidos (Certificado de Regularidade Previdenciária). Assim, a prefeitura pode manter a política implementada.
6. Previdência não é um aglomerado de números, e sim um conjunto de valores e de famílias que dependem desses recursos para seu sustento. A taxação dos aposentados representa 1% da folha de benefícios do fundo. Os recursos desembolsados nas aposentadorias concedidas após 2004 possivelmente não superam R$ 40 milhões nesses 13 anos; e várias delas decorrem de invalidez, devendo-se ter todo o cuidado para não haver injustiças.
7. Então, onde foram parar os recursos do Funprevi/Previ-Rio? A resposta pode estar na Lei 5.300/11 ou em sua aplicação, que tinha como premissa a capitalização do regime, mas promoveu a dilapidação no patrimônio dos servidores. E agora, como penalizar os aposentados?
8. Se o decreto está em vigor há mais de 13 anos, para a revisão dessas aposentadorias deve haver a garantia de ampla defesa e do contraditório, pois já existem decisões no STF em casos similares. Os segurados não podem tomar ciência pelo contracheque. Seria uma desumanidade. Uma auditoria externa e isenta poderá dar luz às diversas indagações. É preciso dar tratamento aos déficits com estudos técnicos, sejam financeiros, orçamentários ou atuariais, que podem ser fruto de um descompasso na arrecadação, na execução da despesa ou ser reflexo de alguma lei ou ato a ser corrigido. Não podemos simplificar e simbolicamente tratá-los como um “buraco”. Parafraseando o pensador Lewis Carroll: “Se não se sabe onde quer ir, qualquer caminho serve”.

31 de outubro de 2017

2018 NO RIO É ELEIÇÃO PARA PREFEITO – TAMBÉM!

1. O sonho oculto, efetivo (ou ambição?) dos pré-candidatos a governador do Rio de Janeiro em 2018 é perder a eleição e se candidatar a prefeito do Rio em 2020.

2. Na eleição de 2018, para governador, todos os pré-candidatos são competitivos para chegar ao segundo turno. Talvez seja isto que esteja os estimulando mais a se candidatar e, com isso, afirmarem-se como personagens na eleição de 2018. Dessa forma, atrairão a atenção nos programas e comerciais de TV, terão cobertura da imprensa, e a visibilidade para todos –os que têm mais e os que têm menos- crescerá.

3. Para se chegar esta conclusão de sonho oculto, um grupo de estudantes, um a um, realizou uma tarefa informal. Ir na agenda dos pré-candidatos, ou contatá-los através das redes sociais, e fazer perguntas simples, mais ou menos assim: i) Ser governador nesta crise financeira do estado e ao meio da crise da segurança pública, é masoquismo? ii) Ser prefeito do Rio não seria tarefa mais atraente? iii) Se você não se eleger governador, aceitaria ser candidato a prefeito em 2020?

4. As respostas –se não foram iguais-, foram muito semelhantes. A primeira veio acompanhada de um sorriso e arrematada com…, “é, você tem uma certa razão”. A segunda teve respostas iguais: …claro que sim. E na terceira pergunta, as respostas foram também iguais: …provavelmente.

5. Isso é reforçado porque a base eleitoral dos 4 pré-candidatos a governador é a mesma: a cidade do Rio de Janeiro e, naturalmente, o sonho de consumo de todos eles.

6. As pesquisas que circulam feitas pelos próprios pré-candidatos ou como pergunta agregada em outras pesquisas, pelos institutos, colocam sempre os nomes de Romário, Eduardo Paes, Indio da Costa e Tarcisio Motta. Romário aparece na frente, com uns 20%. Os demais flutuam no intervalo dos 6% a 10%.

7. E se supõe que, na cabeça de todos eles, venha aquela piada dos amigos que sairam correndo de um tigre. Um deles perguntou: Para que estamos correndo, se o tigre é muito mais veloz que nós? O outro respondeu: Você, eu não sei, mas eu estou correndo para correr mais rápido que você, e o tigre vai escolher o mais próximo.

8. Supondo que este quadro pré-eleitoral se mantenha mais ou menos assim até a campanha, o alvo dos candidatos não será quem está em primeiro, mas os demais, cujas diferenças de uns para os outros estará na faixa de uns 3% ou 4%, estimulando a todos e criando a expectativa de irem para o segundo turno.

9. E a motivação é reforçada pela eleição de 2020 a prefeito. Um deles respondeu a um estudante: É…, nessa eleição todos são candidatos a vencer, mas todos –se perderem- são, desde já, candidatos em 2020.

10. Nenhum ficará desmotivado durante a campanha.Todos vencerão, pois estarão ganhando força e visibilidade para 2020. Sendo assim, será uma campanha…, animada.

30 de outubro de 2017

LATINOBARÔMETRO 2017 E O BRASIL!
(Folha de S. Paulo, 28) 1. A democracia brasileira é a que tem o pior funcionamento entre os 18 países pesquisados para a edição 2017 do “Latinobarómetro”, uma ONG chilena que faz, desde 1995, uma consistente avaliação dos humores dos latino-americanos. Os dados, divulgados nesta sexta-feira (27), são de impressionante contundência em relação ao Brasil, a ponto de apenas 13% dos brasileiros consultados se declararem satisfeitos com o funcionamento da democracia, último posto no ranking. Atrás até dos 22% de satisfação na Venezuela, que a maior parte dos governos e da mídia ocidental classifica como ditadura.
2. O relatório deixa claro que a insatisfação não é com a democracia como modelo de organização política. No Brasil, por exemplo, 62% consideram a democracia como o melhor sistema de governo, porcentagem que, no conjunto da América Latina, sobe para 70%. O apoio à democracia, aliás, vem subindo sistematicamente, desde o piso mais baixo encontrado (30% em 2001, penúltimo ano do governo Fernando Henrique Cardoso). Agora é de 43%, 11 pontos acima de 2016. O descontentamento, que é geral na região, é, portanto, com o funcionamento do modelo, não com ele propriamente dito.
3. No Brasil, os números são alarmantes. Quando a pergunta é se o governo age para o bem de todos, apenas 3% dos brasileiros concordam, de novo no último lugar da tabela. Na média da América Latina, 21% dizem que sim. Corolário inevitável: 97% dos brasileiros acham que se governa só para “grupos poderosos”, porcentagem bem superior aos 75% da média latino-americana. Entende-se, por essa resposta, que apenas 1% dos brasileiros considera que o país vive em uma “democracia plena”. De novo, é o último lugar no ranking.
4. Natural também que, quando se pede uma nota de 0 (não é democrático) a 10 (totalmente democrático), a do Brasil foi de 4,4 (a da América Latina, de 5,5). Quando, em vez da democracia, se mede o apoio ao governo, o resultado é idêntico ao de todas as demais pesquisas: só 6% apoiam o governo Michel Temer, um sexto da média latino-americana de 36%, bem abaixo da primeira colocada, a Nicarágua (67%) e abaixo até da Venezuela em grave crise (32%).
5. Nesse quesito, a queda no apoio ao governo começou em 2013, o ano das grandes mobilizações populares : de 2012 para 2013, o apoio ao governo (então de Dilma Rousseff) caiu 11 pontos, para 56%. Depois foi caindo para 29%, 22%, até chegar aos 6% de 2017. A pesquisa também ajuda a entender por que Luiz Inácio Lula da Silva lidera a corrida eleitoral para 2018 : o pico de prestígio do governo foi exatamente em 2010 (86%), seu último ano na Presidência, o que lhe permitiu eleger Dilma. Se não confia no governo atual, o brasileiro tampouco confia nos seus conterrâneos: só 7% dizem ter confiança na maioria dos demais brasileiros, de novo o último lugar na tabela, a metade do resultado médio da América Latina, e longe dos 23% do Chile, primeiro colocado nesse quesito.
6. Das instituições, a mais confiável para os brasileiros é a Igreja: 69% confiam nela. Para as demais, as porcentagens são as seguintes: Forças Armadas (50%); polícia (34%); Justiça Eleitoral (25%); Judiciário (27%); governo, como instituição, não personalizada (8%, último lugar no ranking); Parlamento (11%, penúltimo lugar, superando apenas o Paraguai, com 10%); partidos políticos (7%, também no último lugar).
7. Os resultados para partidos políticos, Executivo e Parlamento explicam bem porque a satisfação com a democracia é tão baixa. Ajuda também a entender a classificação o fato de que a corrupção é considerada o maior problema do país para 31% dos brasileiros, a mais alta porcentagem entre os 18 países, três vezes superior à média latino-americana de 10%. Mais ainda: 80% dos brasileiros acham que o governo atua “mal” ou “muito mal” no combate à corrupção, muito mais do que a média da região (53%).
8. No território da economia, os dados do Brasil são contraditórios: 68% dizem que o seu salário alcança bem para os gastos, primeiro lugar entre os 18 países da pesquisa. Mas apenas 5% acham que a situação econômica atual é “boa” ou “muito boa”, no último lugar da tabela, junto com os venezuelanos.

27 de outubro de 2017

REUNIÃO DO CONSELHO DA JUVENTUDE DA IDU: REPRESENTAÇÃO BRITÂNICA DEFENDE O BREXIT!
Eleição da nova diretoria – Programação incluiu palestras e visitas a órgãos públicos e ao Parlamento Europeu – Bruxelas entre 19 e 21 de outubro – 2017.
A IDU (União Democrática Internacional) tem como base os Conservadores do Reino Unido e os Republicanos dos EUA.
Relatório do presidente da Juventude do Democratas do Brasil, Bruno Kazuhiro, presidente adjunto da IDU, reeleito.
Dia 1 – Quinta 19/10
Abertura
Jantar e palavras de boas-vindas do Presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani (Deputado Europeu – Forza Itália).
Dia 2 – Sexta 20/10
Tour no Parlamento Europeu
Encontro com Elmar Brok, Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento Europeu (Deputado Europeu – CDU/Alemanha)
Palestra de Daniel Hannan (Deputado Europeu – Partido Conservador/Reino Unido)
– A coisa mais fácil é ser blasé sobre o que temos hoje, achar que é natural, que a prosperidade do mundo é uma realidade imutável.
– Mas um americano ano passado tentou fazer um sanduíche de frango sem necessitar de mais ninguém. Ele plantou, colheu, criou o frango, fez o pão, ordenou uma vaca e fez o queijo. Demorou 6 meses para fazer o sanduíche. E alguém já havia criado a vaca.
– Como seria o mundo sem especialização e comércio? Hoje toda a cadeia de um sanduíche de frango gasta em estimativa apenas 19 minutos.
– A essência do capitalismo não é o egoísmo como dizem. A essência é a dependência mútua, no livre mercado nós cooperamos uns com os outros. Os países entraram no mercado global e dependem uns dos outros.
– Temos que aprender a comunicar isso. Nossos valores trazem prosperidade. Temos que mostrar isso às pessoas. É triste quando fazemos tudo certo em um governo e as pessoas mesmo assim querem mudar, eleger a esquerda e colocar no poder pessoas que preferiam que a URSS vencesse a Guerra Fria.
– Você preferiria ser pobre na Coreia do Norte, em Cuba ou nos Estados Unidos ou no Reino Unido? Onde você teria mais oportunidades?
– Nós acreditamos em cooperação. A esquerda acredita em divisão, em constante luta entre um suposto oprimido e um suposto opressor.
– O que ajuda mais as pessoas de países pobres? Debater sobre liberar totalmente a imigração na Europa versus impedir a entrada das pessoas na Europa ou ajudar a fortalecer o capitalismo nos países de onde eles vêm? Eles apenas querem uma vida melhor.
– Qual a lógica do protecionismo? Todos os países que se abriram ao livre mercado avançaram enormemente. É melhor importar produtos em uma área e focar naquilo em que você é melhor que os demais. É melhor inclusive importar produtos que você poderia fazer melhor, mas que lhe tomariam tempo e energia da produção de produtos mais valiosos.
– Disseram que o Brexit geraria uma crise profunda em 6 meses. Os índices hoje no Reino Unido são espetaculares. Baixo desemprego, crescimento do PIB, todos os números mostram. E isso ocorre porque, hoje, sair da União Europeia representa aprofundar o liberalismo econômico e sair das amarras e protecionismos da UE.
– Churchill disse que era a favor dos Estados Unidos da Europa e todos citam isso como algo favorável à União Europeia, mas ele disse no mesmo discurso que o Reino Unido não faria parte dessa união, seria apenas um país amigo, pois tem outras circunstâncias. A Suíça por exemplo até hoje não faz parte da UE e tem um ótimo acordo com a União.
– Não existe país que não está pronto para a democracia. Ele se prepara através da própria democracia. O povo vai melhorando e aprendendo a votar. E uma população bem informada politicamente é o segredo para o desenvolvimento.
Almoço no Centro Histórico
Visita à Sede do Partido Popular Europeu – PPE e conversa com presidentes da Juventude do PPE e do Movimento Estudantil Democrático Europeu
Palestra de David Bannerman (Deputado Europeu – Partido Conservador/Reino Unido)
– A União Europeia está falando agora de um exército europeu. Está indo no caminho de um superestado. E não será um estado liberal, não serão os Estados Unidos da Europa, serão um governo pesado. Isso apenas reforça a opinião no Reino Unido de que acertamos ao sair.
– A saída do Reino Unido foi para retomar o controle de suas leis, seu dinheiro e suas fronteiras.
– 70% da regulação na Alemanha vem de leis europeias. Não acham demais?
– A saída salva para o Reino Unido 10 bilhões de libras por ano, que iam para a UE. É metade do PIB de Birmingham.
– O Reino Unido terá um acordo de livre comércio com a UE. Assim como outros países europeus, assim como o Canadá.
Dia 3 – Sábado 21/10
Reunião Formal do Conselho da Juventude da IDU no Parlamento Flamenco
Boas-vindas do Secretário Geral da IDU, Christian Kattner (CSU – Baviera/Alemanha)
Discursos sobre a reunificação de todas as juventudes de partidos da IDU em uma única Juventude internacional.
Aceite de novos partidos-membros.
Eleição da nova Diretoria:
Presidente: Bashir Wardini (Líbano)
Presidente Adjunto: Bruno Kazuhiro (Brasil)
Secretária-Geral: Charlotte Kude (Reino Unido)
Tesoureiro: Mikkel Wrang (Dinamarca)
Vice-Presidentes: Bolívia, El Salvador, Gana, Índia, São Vicente e Granadinas, Itália, Portugal, Curdistão, Grécia e Sérvia.
Discurso do Presidente eleito.
Comentários curtos de cada participante sobre a situação de seu país.
Apresentação do Leadership Institute sobre influência da Rússia nas eleições americanas de 2016 através da internet, hackers e redes sociais.
Coquetel de encerramento na sede da DEMYC (Comunidade Europeia da Juventude Democrata)

26 de outubro de 2017

OS 500 ANOS DAS “95 TESES” DE LUTHERO: O DEBATE ENTRE PROTESTANTES E CATÓLICOS HOJE!

1. A ideia de uma entrevista com alemães protestantes e católicos sobre os 500 anos do nascimento do luteranismo (31 de outubro de 1517) partiu de uma troca de palavras há uns meses com Peter Hanenberg, professor da Universidade Católica de Lisboa. Que sugeriu a pastora Nora Steen. O trio completou-se com Constantin Ostermann von Roth, protestante mas não luterano, dirigente da Associação São Bartolomeu dos Alemães. A conversa decorreu no estúdio da TSF e as fotografias foram na Igreja Evangélica Alemã de Lisboa.

2. P: Vou começar por si Peter. Como católico alemão e professor de Estudos Culturais, como vê o legado de Lutero na sua Alemanha?
P.H.: Lutero é uma das figuras centrais da cultura da Alemanha. Por duas razões opostas: primeiro, porque a religião que surgiu com ele foi motivo da divisão entre os alemães em muitos momentos, e essa divisão trouxe, ao longo da história, sofrimento, guerras e conflitos e, neste sentido, pode dizer-se que era um separador dos alemães. Mas ao mesmo tempo é um unificador dos alemães, por exemplo, pela tradução da Bíblia que efetuou, que forneceu as bases para o desenvolvimento da língua alemã.

3. P: Pastora, para si que é luterana, a história de Lutero é ainda mais especial?
N.S.: Lutero é um cunho decisivo na Alemanha e na evolução da língua alemã. E ainda por outra questão: o povo foi incentivado a aprender a ler e a escrever. A tradução da Bíblia para uma linguagem que o homem da rua conseguia entender foi um marco na cultura do povo.

4. P: Constantin, sei que se considera laico, embora seja protestante por tradição familiar. Isso seria algo que Lutero, homem do século XVI, entenderia?
C.O.R.: Acho que sim. Sou laico e defino-me como protestante e não propriamente como luterano, como já disse. Porque aí há uma certa distinção entre os protestantes e os luteranos, mesmo fazendo todos parte do protestantismo. Sou laico, mas não sou nem ateu nem agnóstico. Acho que Lutero entenderia, porque ele não distingue, por um lado, como sagrado aquilo que acontece dentro da igreja e, por outro, como profano aquilo que acontece no nosso dia-a-dia, fora da igreja. Criou uma religião na qual a Igreja tem menos peso do que no catolicismo, e que se baseia muito na responsabilidade própria e nós também podermos agir diretamente perante Deus. Podemos dizer que Lutero abriu a porta ao laicismo.

5. P: É mulher e pastora. Na Igreja Católica não seria possível. Isto é uma grande evolução desde o luteranismo original, haver mulheres pastoras na Alemanha?
N.S.: Lutero não concordava com a ordenação de mulheres, estava dominado pelo pensamento patriarcal da época, convicto de que as mulheres deviam dedicar-se exclusivamente à família e ao lar. Na nossa igreja as mulheres pastoras existem apenas há algumas décadas.

6. P: Constantin, volto a si. A revolta de Lutero e as 95 teses que ele afixou tem que ver com a bula das indulgências e o fausto papal. Foi uma revolta pessoal de um monge que também era um intelectual ou refletiu o espírito do tempo?
C.O.R.: Refletiu aquilo que já era mais ou menos previsível no tempo em si. Porque já havia reformadores antes de Lutero, por exemplo John Wycliffe que criticou a acumulação das posses da Igreja. E relembro os humanistas que eram contemporâneos de Lutero.

7. P: Está a falar de Erasmo de Roterdão?
C.O.R.: Exatamente, que ao contrário de Lutero queria reformar a Igreja por dentro e não por fora. A importância e a visibilidade que damos a Lutero resulta de vários fatores: ele soube utilizar os novos meios de comunicação, como a tipografia; teve uma rede de companheiros, intelectuais e pintores, que divulgaram as suas teses e depois teve a sorte de ter um monarca que não tinha interesse em que o dinheiro da bula de indulgências saísse do próprio reino.

8. P: Consegue sintetizar o que é que foi revolucionário na mensagem de Lutero?
N.S.: Para mim foi o entendimento de que Deus nos ama a nós, seres humanos, sem que tenhamos de fazer alguma troca. Apenas pela graça divina temos a nossa justificação, afirma Lutero. Não é a confissão, não é o dinheiro, não são coisas materiais que nos podem libertar da nossa culpa. Além disso, o sacerdócio comum de todos os crentes é uma questão fundamental: todos temos competência para interpretar a Bíblia, para pregar a palavra e para dar a bênção.

9. P: Sem a proteção do príncipe da Saxónia, Lutero seria um mero rodapé da história? Alguém havia de silenciar?
P.H.: É importante o que o Constantin disse, de já ter havido outras pessoas que pretendiam uma reforma da Igreja e que criticavam certas práticas religiosas, o que significa que teria de vir um Lutero. Agora essa especial relação da proteção que depois encontrou junto do príncipe da Saxónia é, de facto, o início de uma relação muito próxima entre a fé e o Estado e isso ainda hoje é visível em muitas igrejas, na Dinamarca, na Suécia… Mesmo a organização das igrejas protestantes da Alemanha segue a linha dos estados, por isso essa questão de como é que a Igreja situa a fé perante o Estado é um dos desafios muito importantes na história da religião. E depois leva aos tais conflitos que marcaram os séculos XVI e XVII, como a Guerra dos 30 Anos, em que só no fim se chega à paz na medida em que se atribui a cada território uma só confissão. Quem tem o direito de mandar em termos políticos também tem o direito de mandar em termos religiosos. Essa proximidade é o desafio que se coloca na fé na Alemanha a partir de Lutero.

10. P: A divisão geográfica católicos-luteranos na Alemanha é ainda semelhante à que ficou da Guerra dos 30 Anos?
P.H.: Há regiões que se reconhecem como mais católicas ou mais protestantes, mas há uma grande migração. As fronteiras já não são tão definidas.

11. P: Constantin, o luteranismo é uma reação alemã à cultura latina ou acha que não tem nada que ver com isso?
C.O.R.: Se não tem nada que ver, não quero dizer. Mas tem pouco que ver. Lutero era uma pessoa muito introvertida, no sentido em que a sua principal preocupação era a sua angústia de não obter a redenção própria, de não ser salvo.

12. P: Peter, falou na importância da tradução da Bíblia para alemão. Esta tradução, para além de ser revolucionária, porque a Bíblia passa a estar acessível a todas as pessoas, tem um papel de unificador da língua, não é?
P.H.: Já havia outras traduções para alemão da Bíblia antes de Lutero mas não eram bem conseguidas. A intenção de Lutero era encontrar uma linguagem que era também a das pessoas na rua. E conseguiu. Introduziu uma grande força no texto bíblico, que não era simplesmente uma tradução, era um texto que conseguiu falar com as pessoas. E essa força da uma língua nova, fresca, real, partilhada pelas pessoas, é o que caracteriza essa tradução, além de ser uma das poucas feitas dos originais hebraicos e gregos, o que introduz uma dimensão filológica que também será importante para a teologia cristã na Europa.

13. P: O que é que sente que há hoje de luterano na identidade nacional alemã?
C.O.R.: Hoje já não é assim tão claro distinguir o que é especificamente luterano ou católico, porque depois da II Guerra Mundial houve os grandes fluxos de migração, portanto em zonas que antigamente eram nitidamente protestantes, hoje há mesclas. Mesmo Colónia, que era dominada pelos católicos, hoje tem uma relação entre protestantes e católicos quase de 50/50. Mas ainda há alguns vestígios daquilo que são resultados do luteranismo. Já não se notam como há cem anos quando Max Weber fez as suas pesquisas mas de facto há. Um dos impulsos é que a religião não se limita só à missa, mas também se estende à vida profana. Daí que os protestantes deem à profissão uma ideia de ser algo sagrado e leva-nos a exercê-la com paixão.

14. P: Está a dizer que – e falou de Weber e do seu A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo – assim se explica muito do que é hoje o sucesso económico da Alemanha?
C.O.R.: Falando por mim, acho que vestígios do protestantismo na sociedade alemã podem ser ainda vistos. Por exemplo, no prazer do escrutinar. Nós na Alemanha discutimos, no sentido de debater. Depois na racionalização da organização do dia-a-dia, também no valor que se dá ao investimento em vez do consumo, uma certa autodisciplina, a aversão à ostentação de riqueza, a austeridade que é hoje muito falada… É o resultado daquela visão que temos da nossa profissão e de como tem de ser regida, uma certa dureza contra si e os outros, no empenho e na dedicação, na pontualidade, que é o resultado de aproveitar o máximo do tempo que temos disponível, e optar pelo caminho não mais fácil, aquele que achamos que é o melhor para obter resultados. Essas características todas têm um lado positivo e negativo. Nós, protestantes, levamos tudo muito a sério, falta-nos uma certa leveza e alegria na vida.

15. P: Peter, como é que se relacionam os católicos e os luteranos? Os casamentos mistos existem?
P.H.: Existem e são completamente normais hoje. Mas na geração dos meus pais ainda era assunto. Quando o Constantin estava a descrever o protestante alemão, estava a reconhecer-me.

16. P: O católico alemão reconhece-se naquela descrição?
P.H.: Estou convencido de que os católicos alemães são muito protestantes. O Constantin tem razão, isso tem alguma origem no papel importante que Lutero deu a cada um dos crentes na sua autorresponsabilidade e no seu contrato pessoal com Deus. Nós católicos, encontramos na Igreja um mediador que pode ser uma ajuda no caminho.

17. P: A chanceler Angela Merkel é filha de um pastor. Acha que esta influência do luteranismo existe na forma como governa, como vive, a tal austeridade não só na vida mas naquilo que defende?
N.S.: Angela Merkel cresceu na Alemanha de Leste. Viveu um protestantismo claramente posicionado a nível político. E na RDA os protestantes formavam uma minoria que se deparava com muitas desvantagens. Esta experiência imprimiu um cunho para toda a vida. Aprendeu que era preciso ter uma personalidade forte para conseguir transformações, para pôr algo em movimento. Para além disso manifesta abertamente e com clareza a sua fé cristã.
C.O.R.: Eu não sei se de facto é ou não luterano, mas no nosso ministro das Finanças nota-se as características protestantes. E daqui acho que também resultam os mal-entendidos entre a forma como os alemães agem e o que os países do Sul pedem. A maneira de resolver problemas é distinta.

18. P: Peter, o luteranismo está na política alemã e não só nos democratas-cristãos de Merkel e Wolfgang Schäuble?
P.H.: Pode encontrar-se em vários partidos. E mesmo nos que têm o cristianismo no título não se nota mais e isso é muitas vezes motivo de crítica a estes partidos. Mas eu diria que mesmo em relação ao ministro das Finanças, o que ele faz não faz como protestante mas como ministro. O ser protestante é uma experiência diluída no dia-a-dia, nas práticas profissionais, num certo percurso do país, mas não se afirma como posição religiosa. O que se torna cada vez mais claro é que a Constituição tem bases na religião, mais numa religião cristã do que noutras, e isto também é motivo de grande reflexão agora que temos comunidades de outras religiões.

19. P: Constantin, é possível haver um protestantismo alemão por oposição ao luteranismo de suecos, noruegueses?
C.O.R.: Protestantismos há muitos, e nos luteranismos de facto há diferenças. O alemão é um dos mais liberais.

20. P: Nestas diferenças de que falámos, salta à vista a condição de pastora, que como disse é recente. Há mais alguma diferença evidente?
N.S.: Algumas. É óbvio que mulheres sacerdotes são uma marca distintiva. Porém, existe uma questão mais importante: Lutero refere o sacerdócio comum a todos os crentes, na nossa igreja não há diferenças perante Deus. Temos os mesmos direitos e os mesmos deveres, tanto um bispo como um leigo. Outra questão é que não existe para nós um culto mariano e não temos santos. Não temos santuários como Fátima ou Lourdes.

21. P: Uma pergunta mais provocadora ao católico alemão. Francisco fala de uma Igreja humilde, sem fausto. É possível dizer que o Papa está de alguma forma a seguir a mensagem de Lutero do século XVI ou é uma heresia?
P.H.: Não é uma heresia. O que é de reconhecer é o caminho que toda a Igreja levou para chegar agora ao Papa Francisco. Julgo que essas tentativas de renovar a Igreja por dentro é um processo que já se iniciou nos anos 1960. A Igreja Católica está atenta aos sinais dos tempos mas ao mesmo tempo quer ser o sinal para os tempos. Como dizia Bento XVI, um alemão, a Igreja Católica oferece caminhos, não impõe estes caminhos. Esta proposta é provavelmente a diferença mais marcante em relação ao luteranismo hoje em dia, esse processo de aprendizagem com propostas para os crentes se orientarem neste mundo.

25 de outubro de 2017

PORTUGAL E A UNIDADE TERRITORIAL DO BRASIL! ESPANHA E CATALUNHA!
1. Os gravíssimos problemas enfrentados pela Espanha, hoje, com a busca pela independência da Catalunha, teriam sido evitados se desde os anos 1500, Espanha tivesse aprendido com Portugal.
2. Quando os Reis Católicos Isabel de Castela e Fernão de Aragão unificaram a Espanha, os reinos que os conformavam mantiveram basicamente as suas autonomias administrativas e linguísticas. Os casos mais destacados foram o do País Basco e da Catalunha.
3. Só com a superação da guerra civil espanhola (1936-1939) o ditador general Franco passou a se preocupar com essa situação. A tentativa que fez de unificar a língua determinando que as escolas só ensinassem o espanhol nunca deu certo na Catalunha, que se afirmou como uma região bilíngue.
4. Após Franco, os pactos de Moncloa e a normalidade constitucional conduzidos pelo Rei Juan Carlos e seu primeiro-ministro Adolfo Suárez focalizaram a pacificação do país na questão política e democrática. Os problemas regionais foram sendo reafirmados com as autonomias e desenhos administrativo e tributário diversos.
5. A Catalunha afirmou-se como uma região bilíngue, com as escolas ensinando nos dois idiomas -espanhol e catalão- e as campanhas políticas -incluindo os comícios- se dando nas duas línguas. Com menor rigidez, a Biscaia sinalizava seu biculturalismo menos acentuado pela liderança, por décadas, de Fraga, franquista de tradição.
6. Portugal tratou essa questão especialmente com sua maior colônia -o Brasil- de forma muito diferente desde o século 16. O risco que as Capitanias Hereditárias pudessem redundar num fatiamento da colônia durou pouco, abrindo espaço ao Governo Geral. A Espanha coordenava sua enorme extensão territorial com dois Vice-Reis que durante a século 18 foram desmembrados em 4 (Nova Espanha, Granada, Peru e Rio da Prata) e duas capitanias gerais da Guatemala e Caracas.
7. No século 18, Marquês do Pombal, poderoso primeiro ministro português, imprimiu independência econômica em relação à Inglaterra, desenhou a hipótese do Rei de Portugal ter que vir para o Brasil num momento crítico, o que ocorreu uns 40 anos depois, com a invasão napoleônica.
8. E foi mais longe. Entendendo que as regiões dirigidas pelos jesuítas caracterizavam territórios autônomos, expulsou os jesuítas, no que foi acompanhado pela Espanha. Unificou as relações do Brasil com Portugal, que eram dívidas com o Grão – Pará que atuava com autonomia de regras em relação ao restante do Brasil.
9. Proibiu que se falasse, além do português, o Tupi e Guarani, que eram falados por mais da metade dos brasileiros e da mesma forma agiu em relação às línguas africanas. Ainda no século 19, parte significativa da população de São Paulo e Mato Grosso usava o Guarani como sua língua, o que foi reprimido.
10. O Reino Unido deu continuidade a esta determinação. O Rei Dom João VI garantiu a unidade territorial ocupando uma parte das Guianas ao norte e a província Cisplatina ao sul, que passaram a ser fronteiras ampliadas de segurança. Da mesma forma, empurrou a colonização de parte da Bolívia por brasileiros, o que décadas depois gerou a compra do território do Acre.
11. Dando sequência, o Império do Brasil foi implacável com as rebeldias com caráter independentista, como a Confederação do Equador em 1824 e a República Rio-grandense (Piratini) em 1836. O Império adotou um governo centralizado, evitando a federalização pelos riscos de estimular movimentos de independência. Só com a República, em 1889, foi introduzida a federação já tendo como referência os Estados Unidos pós guerra civil dos anos 1860.
12. Com a Constituinte de 1987/1988 essa preocupação permanecia. Os militares fizeram chegar aos Constituintes que o sistema politico partidário deveria ser nacional e que a nova Constituição não poderia prever partidos regionais, pois isto era um risco e um passo que estimularia movimentos independentistas em regiões.
13. A Catalunha veio confirmar essa preocupação dos militares brasileiros em 1988. Os partidos regionais da Catalunha vieram com a Constituição de 1978 da Espanha. E são a base política dos movimentos independentistas e do quadro atual.

24 de outubro de 2017

STRIKE POLÍTICO NO SUDESTE!
1. No encerramento da campanha presidencial de 2014, a eleição seguinte em 2018 apontava para o presidente seguinte vir do Sudeste.
2. O mensalão havia produzido importantes perdas, como o ministro José Dirceu e os presidentes do PP, do PR e do PTB.
3. Mas o PT estava forte, com dois nomes: o ex-presidente Lula e o governador eleito de Minas Gerais, Fernando Pimentel. No Rio de Janeiro, a vitória de Pezão, do PMDB, colocava no jogo o ex-governador Sergio Cabral.
4. Por seu turno, o PSDB mantinha-se firme e competitivo através de Minas Gerais, com o senador Aécio Neves, que havia perdido para Dilma por pequena diferença na eleição presidencial de 2014. E a crise econômica já desenhada a fins de 2014, fortalecia ainda mais o PSDB como alternativa para 2018.
5. No primeiro semestre de 2014 as investigações que tinham como referência a Lava-Jato iniciaram um dos maiores strikes de todos os tempos na política brasileira num prazo de apenas 3 anos.
6. Em 2017, com os primeiros sinais da pré-campanha, o quadro herdado da eleição de 2014 foi desintegrado, especialmente no Sudeste, de onde sairia mais uma vez o presidente da República.
7. O impeachment de Dilma, em 2016, desmontou a máquina do PT plantada no governo. Com isso, afetou a máquina eleitoral do PT para 2018. Em seguida, as investigações sobre Lula desintegraram o que seria a forte e pré-favorita alternativa do PT com Lula. Se não bastasse, o principal parceiro de Dilma, eleito governador de Minas Gerais e que compunha com ela e Lula o triângulo principal do PT, foi igualmente desmontado.
8. As gravações com Aécio Neves, que no mínimo caracterizaram um grave caso de falta de decoro parlamentar, desintegrou a óbvia e automática opção eleitoral do PSDB. O prefeito Dória, de forma açodada, se apresentou como o nome de São Paulo e iniciou sua caravana pelo Brasil. Não resistiu a 2017. Desmoronou com menos de 10 meses de jogo sua pretensão presidencial.
9. E o PMDB, que contava com a liderança do ex-governador Sergio Cabral que vinha comandando a política do Estado do Rio de Janeiro desde 2006, foi atropelado pelas investigações, levando de roldão sua equipe.
10. Strike feito, restou ao Sudeste o nome do governador Geraldo Alckmin e do deputado Jair Bolsonaro. Um binômio imprevisível no final de 2014.