24 de abril de 2018

ENTREVISTA DE CESAR MAIA SOBRE AS ELEIÇÕES NO RIO!

(Fernanda Krakovics – Globo, 22) 1. Em janeiro deste ano o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), descartou a possibilidade de o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes se filiar ao DEM, afirmando que o partido era “muito pequeno” para ele e Cesar Maia. Três meses depois, contrariando essa constatação, Paes trocou o PMDB pelo DEM, com o objetivo de disputar o governo do estado. Cesar, que atualmente é vereador, diz que a reviravolta foi possível só porque ele resolveu sair de cena. O pai de Rodrigo Maia afirma que não se opôs à volta de seu ex-afilhado e atual desafeto a seu berço político, mas também não participou das negociações conduzidas pelo filho. E anuncia que não concorrerá a nenhum cargo nestas eleições. Ele era cotado para disputar o governo ou o Senado.

2. — Eu transferi o poder de decisão para o partido e não há necessidade nenhuma de reconciliação. Eu não tenho rancor de ninguém, o tempo passa e a gente vai levando — disse Cesar, que recebeu O GLOBO, na tarde da última quinta-feira, no gabinete da liderança do DEM na Câmara Municipal

3. Ele reagiu com indignação, no entanto, ao ser questionado sobre a possibilidade de ser vice em uma chapa encabeçada por Paes: — É o cachorro que abana o rabo ou o rabo que abana o cachorro? Não tem sentido isso. Fui prefeito três vezes e deputado federal duas vezes. Como podem pensar que eu vou pegar carona em uma candidatura?

4. Procurado pelo GLOBO para falar sobre sua filiação ao DEM e a relação com Cesar Maia, Paes não respondeu.

5. Paes começou na política na Juventude Cesar Maia e participou da primeira campanha de seu mentor para a Prefeitura do Rio, em 1992. Após a vitória, foi nomeado subprefeito da Barra e Jacarepaguá. Os dois começaram a se distanciar dez anos depois, quando Paes deixou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, na segunda gestão de Cesar, para disputar novo mandato de deputado federal. E trocou o PFL pelo PSDB. Mas o rompimento definitivo veio em 2008, quando Paes se elegeu prefeito fazendo duras críticas à administração Cesar Maia.

6. — Na campanha de 2008 era natural que ele me criticasse, eu estava desgastado. Mas a partir daí… Ele nasceu do meu útero, veio na minha cadeirinha de balanço, o que eu esperava era que, passada a eleição, ele, vitorioso, tivesse a nobreza de esquecer o derrotado. O derrotado não é para ser atacado depois da eleição, mas houve continuidade até 2016. A Cidade da Música, por exemplo, não precisava ir para a primeira página do GLOBO. Faz auditoria, mas não precisa vocalizar — diz Cesar.

7. Em 2012, Paes se reelegeu derrotando Rodrigo Maia, que chegou a chamá-lo de “ingrato”. Paes respondeu que eleição não era “terapia de grupo”. A reaproximação com Rodrigo — de quem Paes é padrinho de uma das filhas — começou em 2014, quando o DEM fez parte do “Aezão”, movimento para eleger o senador Aécio Neves (PSDB-MG) presidente da República, e Luiz Fernando Pezão (PMDB) governador do Rio.

8. Cesar, por sua vez, permaneceu crítico à administração de Paes, a quem já chamou de “Dudu Milícia”, e lançou um livreto intitulado “Ao povo carioca — Prefeitura do Rio 2009-2012: Um desastre estratégico e de gestão”.

9. Em 2016, apesar de ter disputado a reeleição para a Câmara Municipal na mesma coligação do candidato do PMDB à Prefeitura, Pedro Paulo, afilhado de Paes, Cesar não fez campanha para ele. — O Pedro Paulo criticava a minha administração. Eu votei no (Marcelo) Freixo (PSOL) no primeiro e no segundo turno. Minhas netas queriam votar no Freixo e diziam: “Meu pai (Rodrigo Maia) quer que eu vote no Pedro Paulo” — disse Cesar, em cuja casa moram duas filhas de Rodrigo, uma de 21 e outra de 23 anos.

10. Cesar disse que aceitaria gravar uma mensagem de apoio para eventual candidatura de Paes. No momento, o ex-peemedebista está inelegível por decisão do Tribunal Regional Eleitoral. Ainda cabe recurso ao Tribunal Superior Eleitoral: — Eduardo agora é do partido, então me cabe cumprir o que o partido determinar. Se eu chegar em um lugar e o partido colocar uma câmera de televisão, colocar um texto no teleprompter (dispositivo para ler um texto na TV), eu vou ler. Ponto final.

11. Apesar disso, Cesar diz não poder afirmar se Paes seria um bom governador: — Não posso falar, não sei o que ele está pensando do estado. Tem que esperar para ver o que ele vai propor. Questionado se Paes foi um bom prefeito, responde que isso não tem importância na campanha para governador: — Eu já vi muitos bons prefeitos serem péssimos governadores. O Pezão foi um excelente prefeito de Piraí e estamos vendo o que está acontecendo.

12. No último dia 9, após participar de evento na Associação Comercial do Rio, Rodrigo Maia foi questionado se, desta vez, o pai faria campanha ou repetiria o comportamento de 2016. — Vamos construir para que desta vez tenha uma integração maior — disse o presidente da Câmara.

13. Cesar diz que não conversou com Paes durantes as negociações para filiação ao DEM nem depois. Segundo ele, os dois dialogaram “pouquíssimas” vezes depois do rompimento. Uma delas foi na campanha de 2014, quando Pezão e o presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, teriam pedido para Cesar procurar Paes. O então prefeito, que na época era do PMDB, estava apoiando Carlos Lupi (PDT) para o Senado, quando o candidato da chapa peemedebista era Cesar. O encontro ocorreu na Gávea Pequena, residência oficial do prefeito do Rio. Outra ocasião foi em dezembro de 2016, quando Rodrigo levou Paes à casa de Cesar. Segundo o anfitrião, Paes disse que tinha tomado a decisão de disputar para governador em 2018 e queria ouvir sua opinião.

14. Paes deixou o PMDB na tentativa de se desvencilhar do desgaste do partido no estado, que está com suas principais lideranças presas, como o ex-governador Sérgio Cabral. Os peemedebistas também arcam com a falência do estado, administrado por eles nos últimos 15 anos.

15. Esta é a quinta mudança de partido de Paes, que já passou pelo PV, PFL, PTB, PSDB e PMDB. Antes de fechar com o DEM, o ex-prefeito considerou voltar para o PSDB e estava em negociações avançadas com o PP. Seu aliado preferencial, porém, era Rodrigo Maia, que testa seu nome para disputar a Presidência da República. Como presidente da Câmara, ele conseguiu aumentar a bancada federal de 21 para 44 deputados.

16. — O DEM virou um partido grande, não pode ver em cada deputado, cada vereador, o que o incomoda — disse Cesar, ao comentar a filiação de Paes.

20 de abril de 2018

BAIXADA FLUMINENSE: 22% DA POPULAÇÃO DO RJ E 34% DAS MORTES VIOLENTAS!

(Folha de S.Paulo, 19) 1. Quando a intervenção começou, os militares disseram que os objetivos eram reduzir os índices de criminalidade e reestruturar as polícias. A Baixada, com 22% da população do Estado, concentrou 34% das mortes violentas em 2017.  Foi pedido ao Comando Militar do Leste uma relação das operações que beneficiaram a Baixada nos dois primeiros meses da intervenção, mas não houve resposta.

2. A intervenção tem feito inspeções em unidades das forças de segurança, como no Bope e em delegacias da Polícia Civil. Essas operações também não chegaram a nenhuma unidade na Baixada. Ao Ministério Público Federal, que instaurou um inquérito civil no fim de março para apurar as ações federais na região, o gabinete informou que houve uma operação de Garantia de Lei e Ordem no segundo semestre do ano passado, além de patrulhas. Segundo o procurador Julio José Araujo Junior, responsável por esse caso, as respostas do gabinete militar têm sido insuficientes. “O cenário é ruim. Mandamos ofícios, reiteramos depois. Um deles foi respondido, de maneira muito genérica, e os outros não foram respondidos. O primeiro aspecto que a gente já constata é a falta de transparência.”

3. O Rio de Janeiro está sob intervenção federal na segurança pública desde fevereiro e tem sido comum ver tropas patrulharem a orla das praias de Ipanema e do Leblon, na zona sul da cidade. Mas na Baixada, que tem quase o dobro da taxa de mortes violentas da capital (62 casos para cada 100 mil habitantes), Raylane nunca viu militares. “Não mudou nada”, diz ela, em relação à medida do presidente Michel Temer.

4. A Baixada é formada por 13 municípios, na região metropolitana do Rio, que somam 3,7 milhões de pessoas, em cidades como Belford Roxo, Nova Iguaçu e Duque de Caxias. Essas sofrem com assaltos frequentes, disputa de controle de território por facções criminosas e opressão de milícias. A região ainda não entrou no foco da intervenção federal. Houve 22 operações conjuntas entre as forças de segurança desde 16 de fevereiro, segundo o Gabinete da Intervenção Federal, mas não houve ações significativas na Baixada —somente patrulhas esporádicas em locais como a Dutra, rodovia que liga RJ a SP e corta essa área.

5. Nesta semana, 7.000 alunos ficaram sem aula em escolas de Belford Roxo devido a confrontos entre grupos criminosos. Segundo a Secretaria de Educação, a entrega de produtos da merenda não tem sido feita porque os caminhoneiros têm medo de circulara prefeitura já reivindicou medidas urgentes ao secretário estadual da Segurança Pública, general Richard Nunes. Ao longo da última década, a violência no estado se difundiu para a Baixada e o interior, mostra estudo da Fundação Getulio Vargas. Essas áreas concentravam 48% dos homicídios dolosos em 2006 e houve um salto para 65% dos casos em 2016. No período, a proporção dos assassinatos na capital baixou de 39% para 26%.

6. Uma das explicações apontadas por especialistas é a instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que teriam afugentado criminosos de morros da capital para outras áreas estado adentro. Essas políticas de segurança historicamente priorizaram a capital. Das 38 UPPs existentes, só uma fica na Baixada. Segundo o Ministério Público Federal, há relatos de que esse movimento estaria se repetindo: com as tropas na capital, criminosos estariam se refugiando na Baixada.

7. A região tem um histórico de grupos de extermínio, moradores que se uniam para eliminar bandidos que aterrorizavam as comunidades. Formavam os núcleos policiais e ex-policiais, mantidos por comerciantes incomodados com os assaltos. Esses grupos começaram a aparecer nos anos 1950, viveram o auge nos anos 1970 e entraram em declínio na década de 1990 em diante. Segundo a Procuradoria, eles já não são mais tão fortes na região.

8. Esse declínio abriu espaço para as milícias, que hoje são fortes em Duque de Caxias, por exemplo, e começam a ganhar território em Seropédica, Itaguaí e Nova Iguaçu. Soma-se a isso o tráfico de drogas, que não tinha tanta força até os anos 2000 —a clientela é pobre, e as bocas de fumo, com exceções nas cidades maiores, eram pequenas. Segundo especialistas, as facções se fortaleceram e hoje têm armamento equivalente ao visto na capital. Os três principais grupos criminosos do estado estão na região, e as disputas por território, tão frequentes na capital, hoje também acontecem por lá.

9. “Eles saem na porrada e aí começa o tiroteio. Matam inocente. Não só matam bandido, matam todo mundo”, afirma Fábio Salvadoretti, delegado-assistente da delegacia de homicídios da região. Dados da plataforma Fogo Cruzado, da Anistia Internacional, que mapeia de forma colaborativa a violência armada no Grande Rio, mostram que Belford Roxo foi o município que mais sofreu aumento de tiroteios nos primeiros 100 dias de 2018, ante o mesmo período de 2017.

10. Acontece por ali uma disputa de bandidos por controle de área entre os bairros Castelar e Morro da Palmeira. O motorista da Uber Hamilton da Silva, 51, evita circular mesmo durante o dia por determinados locais, como o centro de Belford Roxo. Ele teve o carro roubado duas vezes em um mês, e na Semana Santa perdeu o celular. Hoje, sempre liga para casa quando está chegando, para que a mulher abra o portão antes. “A Baixada não está na vitrine, né?”, resume.

19 de abril de 2018

PESQUISAS! 

A)  COMENTÁRIO DE FÁBIO G. SOBRE A NOTA DE FRANCISCO GUIMARÃES – GPP, DE 17/04!

Muito interessante as considerações do Francisco sobre as pesquisas eleitorais no Ex-Blog. Para reflexão deixo alguns pontos:

1. “4. Uma pena que as pesquisas publicadas sejam tão pobres de informação.” Verdade, tem razão, porém me preocupa mais institutos venderem pesquisas sem metodologia sólida, como exemplo ele fala de exclusão de públicos formadores de opinião e ou “endógenos” ao processo político e com isso, com certeza, influi numa amostra probabilística. Outro problema aqui é “quem não sabe o que procura não entende o que encontra”, ou seja, os institutos querem vender e muitos clientes como partidos e candidatos não sabem com profundidade metodologia e com isso não discutem exatamente o que querem da pesquisa, acabam comprando “pacotes” prontos ou semi prontos que pouco acrescentam quando se busca avaliar dados, principalmente cruzados.

2. Em especial para 2018 e principalmente 2020 os Institutos deveriam buscar entender como será o processo de abstenção, se a tendência de crescimento se manterá, além da descrença da população, desânimo etc. e tal temos a questão da biometria, municípios, em especial os mais pobres, poderão ter a partir de 2020 abstenções recordes em função da obrigatoriedade biométrica, muitos são os fatores, como dificuldade de agendar biometria, filas, desmotivação do eleitor e destaco % de idosos ativos que sempre foram votar poder “dever cívico” mais não são mais obrigados por lei, grande parte deles não vão fazer a biometria por N fatores já enumerados e vão aumentar ainda mais o % de abstenção.

3. No caso do RJ vale segmentar os votos e abstenções das cidades de Rio das Ostras e Queimados (estão neste processo de cadastramento biométrico) e avaliar comparativamente suas votações e abstenções com outras cidades de mesmo porte que não estão ainda em processo de obrigatoriedade biométrica, quem conseguir entender bem esse processo poderá ter uma vantagem no planejamento e organização das campanhas municipais de 2020.

B) E MARINA? FRANCISCO GUIMARÃES – GPP!

Vejo a manchete no jornal que o crescimento da Marina se deu entre os mais pobres e menos escolarizados.

Muito provavelmente entre os evangélicos = pobres e menos escolarizados.

Será que é intenção de voto real ou o candidato que conhecem?

Neste segmento que ela cresceu, os eleitores conhecem quem da lista apresentada?

Desconfio que não é intenção de voto e sim conhecimento (marcou quem conhece).

18 de abril de 2018

“TECNOLOGIA E BIGDATA” 

Seminário da Fundação Konrad Adenauer – Santa Marta, Colômbia, 9-12/04/2018. Relatório de Jefferson Figueiredo, Presidente da JDEM-RIO.

1. Santa Marta é a cidade mais antiga da Colômbia, tendo sido fundada em 1525. É também o local onde Simón Bolivar passou seus últimos dias, na Quinta de São Pedro Alejandrino. – O governo local tem um programa de formação dos jovens como guias turísticos. A partir dos 14 anos, no contra turno escolar, recebem a formação e alimentação. A parte prática do curso é cumprida como guias para visitantes da Quinta de São Pedro Alejandrino. Lá eles podem receber gorjetas dos visitantes para complementar a renda.

2. Dra. Kristin Wesemann – Diretora Fundação Konrad Adenauer do Uruguai. – A América Latina tem distâncias inimagináveis e somente podemos mudar a realidade política seguindo juntos. – Estes diplomados servem para criar networking e intercâmbio de boas práticas. Em 10, 15 anos todos vão estar em postos de comando onde isto será importante.

3. Dra. Victoria Elena Gonzalez (Universidad del Externado Colombia) – “Ciberódio como origem das campanhas de desqualificação”.  – Ódio é uma tendência humana de repudiar o contrário e é tão antigo quanto a humanidade e se estende a todas as culturas. O aumento das redes de comunicação amplificou este ciclo. – A maioria dos discursos são direcionados a grupos em geral. Se atacam os apoiadores do político para desqualificá-lo. – A democracia reduziu por muito tempo a participação popular ao voto. Quando as redes sociais dão voz a essas pessoas, o ódio acumulado contra essa restrição junto ao anonimato pôs para fora todo este discurso de ódio.  – Os discursos de ódio podem ser efetivos, mas também são perigosos pelo efeito boomerang, vide Zapatero x Rajoy -2004

4. Dr. Daniel Quintero Calle (Ex-Viceministro de tecnologias de informação e comunicação da Colômbia) – “Objetivos e oportunidades da economia digital” – A informação hoje é o ativo mais importante para um país. 2,5 quadrilhões de livros de informação são criados diariamente digitalmente, mas só 0,5 % dessa informação está sendo processada. – As 4 maiores empresas do mundo são de informação digital. – Em 2030 teremos 15 coisas conectadas a internet, por pessoa, em média. – O custo de armazenamento baixou mil vezes entre 2010 e 2016. Isso facilitou a criação mais rápida de informação. – Às vezes os políticos funcionam como um bêbado procurando uma moeda de baixo de uma lâmpada. Mas não porque perdeu essa moeda, mas sim porquê só olha para esta lâmpada e não vê que existem outras lâmpadas e moedas na rua. – A educação não se transformou rápido o suficiente para transformar a sociedade em uma sociedade da informação. Hoje na Colômbia temos um computador ou tablet para cada dois jovens.

5. Adriana Vicentini (Venezuela / Inteligência de Dados) – “Manejo de dados em campanhas políticas”.  – O mundo é heterogêneo e complexo. Não existe um receptor de mensagem, o que existem são diferentes pessoas com diferentes agendas e objetivos. Como não podemos fazer uma campanha para cada pessoa, temos que separar a campanha por diferentes grupos de pessoas. – A mensagem que sai do político não mudou. O que mudou foram as ferramentas e as métricas para análise destes dados. – Cada vez que o político tem um evento, tem que ter alguém que possa fazer um cadastro destas pessoas. Telefone, email e uma ou duas perguntas. – Uma boa base de dados está divisível e adaptável a toda a equipe de campanha. – O mais difícil de uma base de dados é a sua limpeza. A equipe de Obama passou 3 anos atualizando e organizando a base de dados conseguida em 2008. Em 2011 a equipe entregou a base de dados com todos os possíveis eleitores e quais temas que atraíam estas pessoas. – Conhecer os eleitores economiza dinheiro. Você define onde, como e com que frequência contatar e gastar mais ou menos dinheiro. – A campanha política tem 3 tarefas: arrumar gente para votar em você, convencer a quem não vota em você e convencer os demais a não votarem.

6. Andreas Buhl MDL (Deputado Alemão pelo distrito de Turingia / CDU) – “Correspondente de assuntos sobre turismo”. – A agressividade que surgiu na Alemanha nas últimas eleições eu nunca tinha visto. Nas redes sociais, nas ruas. Hoje no parlamento estudamos a questão da influência estrangeira na disseminação desse ódio via redes. – Muitas vezes íamos a locais onde não deixavam a Chanceler falar. Em determinados locais iam integrantes da oposição apenas com o intuito de falar mal dela.- Para chegarmos a uma coalizão tivemos que fazer concessões na saúde e no ministério da fazenda. – Temos que ajudar todos os que estão em guerra, sofrendo perseguição. Em 2015 tivemos 1 milhão de imigrantes. Isso gerou as consequências de ódio que vemos nas pessoas durante a eleição. – Quando tivemos que governar sozinhos, todos os outros partidos se juntaram para fazer oposição, quando virou um governo de coalizão, essas críticas diminuíram. Olhando para trás, quando tivemos a total maioria, nem sempre tomamos as melhores decisões.

7. Christoph Zippel MDL (Deputado Alemão pelo distrito de Turingia / CDU) – “Correspondente sobre assuntos de saúde”. – Por 80 anos não tinha se ouvido ataques organizados contra minorias e grupos étnicos na Alemanha. Pensávamos que nunca mais isso iria acontecer. Mas agora temos um partido que incentiva estes valores. Hoje nas pesquisas este partido bate 13%.  – Com o tempo a CDU foi mais para o centro, deixou mais espaço para a direita e o partido social democrata foi mais para a esquerda. Isso deu abertura para este partido surgir. – A diferença entre a reeleição definida na América Latina e Alemanha, é que na Alemanha existem instituições de controle que fazem com que isso não seja maléfico ou que esta perpetuação cause problemas ao Estado. – Solidariedade é boa, mas tem seus limites. Uma nação rica tem por obrigação ajudar as pessoas. Mas quando vem pessoas que vem não por guerra, mas por uma melhor qualidade de vida, é preciso encontrar outra saída.- Se vierem milhares de imigrantes todos os anos, o sistema europeu e alemão vai se desestabilizar. É preciso encontrar uma forma de ajudar sem que eles precisem vir necessariamente. Por isso a Chanceler fala em seus discursos sobre ajudar a estes países a melhorarem a vida dos seus cidadãos.

17 de abril de 2018

PESQUISAS ELEITORAIS: REJEIÇÃO! VOTO ESPONTÂNEO, VOTO EFETIVO!

(Francisco Guimarães – Instituto GPP, 16) Algumas coisas que os Institutos e imprensa repetem, repetem e repetem e nunca pararam para refletir. Porque sempre fizeram e continuam fazendo.

1. Rejeição
Vendo a pesquisa Datafolha de governador de SP e o destaque para a rejeição aos candidatos. Entra ano e sai ano, continuamos assistindo a esta pergunta em todas as pesquisas e o tempo precioso que se perde, principalmente no Jornal Nacional. Bonner, de uns tempos para cá, apresenta a “evolução” da rejeição.

1.1. O que mede a rejeição?

Por que não vota no tal candidato?
– Porque não conhece;
– Não sabe direito o que fez;
– Não conhece suas propostas;
– Não conhece o trabalho dele; e por aí vai.

1.2. Mas o que mede?
NADA!

1.3. Um candidato com 30% de rejeição, sendo que 30% de imagem negativa e 70% de positiva contra um candidato com 15% de rejeição, sendo que este tem 15% de imagem negativa, 15% de imagem positiva e 70% de desconhecimento. Em qual apostaria? O que dá voto é a imagem positiva. A intenção de voto dos principais concorrentes migra para 60% da sua imagem positiva. Através de duas perguntas: conhecimento e imagem, além de termos a rejeição real dos candidatos que é a imagem negativa (conhece e possui imagem negativa), permite identificar potenciais eleitorais dos candidatos. Se entre quem conhece bem o candidato, ele não sai do lugar, esquece este candidato! Candidatos com pouco conhecimento e uma boa relação de imagem positiva com negativa, tem bom potencial de crescimento.

2. Voto espontâneo
Mesma coisa o voto espontâneo, o que mede? Mede intenção de voto ou o nome que está na cabeça do cidadão na hora da pesquisa?

2.1. Se queremos medir o voto consolidado, o patamar de cada candidato, o que devemos fazer com o eleitor que citou algum candidato na espontânea? Devemos estimular ele com a lista de candidatos ou marcar direto a opção dele (se estiver na lista, é claro!)?

2.2. Se é para determinar o pontapé inicial de cada candidato, este eleitor não deveria ser estimulado. Se ele é estimulado e muda o voto: “Não sabia que fulano é candidato, votaria nele”. Acontece e muito isso. Então, neste caso, o voto espontâneo inicial no candidato mediu o que? Qualquer coisa, menos intenção de voto, voto cristalizado, consolidado ou quer que seja.

2.3. IMPORTANTE: O eleitor muitas vezes fica constrangido de mudar o voto (espontâneo) quando estimulado. E tem casos em que o eleitor olha desconfiado para entrevistador, tipo: “será que errei?” “Já falei o nome do candidato e ele está me perguntando de novo?”

2.4. Se a pergunta mais importante da pesquisa é a intenção de voto estimulada (para mim é), não tem sentido realizar a espontânea, uma pergunta anterior que influencia seu resultado.

2.5. Se quer saber o patamar de cada candidato, o voto consolidado, basta fazer a seguinte pergunta após a estimulada: “No dia da eleição, votará com certeza neste candidato ou até lá poderá mudar o voto?”

3. Filtro
Repetindo pesquisas de mercado, em que algumas cabem determinado filtro, a maioria dos Institutos elimina um monte de eleitores da sua amostra. Por qual motivo? Sempre perguntei isso e ninguém responde de forma convincente, mas a resposta é a mesma acima: Estão repetindo o que quase todos fazem. E continuam repetindo sem nenhum questionamento.

3.1. Então vemos filtros enormes:

– Trabalha com jornalismo – deleta
– É filiado a algum partido político – deleta
– Trabalha em Instituto de pesquisa, agência de publicidade ou similar ou tem parente que trabalha – deleta
– E mais um monte de perguntas que encerram a pesquisa caso a resposta seja sim

3.2. O voto dessas pessoas não conta? Probabilisticamente, seriam abordados para responder na proporção existente. Por qual motivo deletar? Essa amostra desenhada por eles é representativa do universo pesquisado ou parte dele?

4. Uma pena que as pesquisas publicadas sejam tão pobres de informação.

16 de abril de 2018

ANTIPOLÍTICA E A ELEIÇÃO PRESIDENCIAL BRASILEIRA EM 2018!

1. Um voo amplo sobre as eleições de vários países, nos últimos anos, incluindo, claro, 2017 e 2018, mostra um crescimento sustentado da antipolítica, seja com os candidatos vitoriosos, seja com o crescimento de candidatos e novas forças, seja pela sinalização das pesquisas.

2. A antipolítica eleitoral e pré-eleitoral afirma a “morte” dos partidos políticos tradicionais e a necessidade da ascensão de nomes e movimentos, cuja principal bandeira é a rejeição aos partidos e aos políticos.

3. Como em geral as legislações eleitorais não autorizam candidatos avulsos, a antipolítica se apresenta fantasiada com a sigla de partidos políticos. Mesmo os partidos tradicionais -em muitos países- preferiram retirar de seu nome a palavra partido e passaram a se denominar por palavras-bandeiras.

4. É assim no Brasil com Rede, Patriotas, Podemos, Democratas, etc., e em outros países como a Espanha com Cidadãos e Podemos, que perfilam nas pesquisas ao lado dos tradicionais PP e PSOE. Exclua-se disso aqueles que tradicionalmente e há muitas décadas adotaram denominações com a expressão como União…

5. Agora, em 2018, pesquisas pré-eleitorais no Brasil -e especialmente a do Instituto Datafolha, pois foi realizada após as janelas de março e o troca-troca de partidos e a inclusão de personalidades no campo eleitoral- mostram claramente a força de saída da antipolítica.

6. Pelo menos, na América Latina, o amplo processo de corrupção envolvendo políticos e suas relações reforçou a percepção dos eleitores que há a necessidade de varrer do tabuleiro político os partidos tradicionais e que há que se dar prioridade aos que estão no campo da antipolítica.

7. Há que se sublinhar que a antipolítica e o populismo são primos irmãos e que se afirmam quase da mesma maneira, incluindo a tradicional rejeição às elites em defesa dos pobres. Isso traz incorporada a mensagem que os partidos e políticos formam as elites e que há que rejeitá-los.

8. A pesquisa do Instituto Datafolha divulgada no domingo, 15 de abril, mostra claramente esse quadro e a força da antipolítica. Ou seja, a força das pré-candidaturas que se afirmam pela rejeição aos partidos e aos políticos. O populismo antipolítico de Lula tem o destaque de sempre. Mas quando outros nomes do PT que não podem ser incluídos na antipolítica são apresentados, estes, não chegam a 2%.

9. Com o impedimento legal de Lula, a pesquisa Datafolha oferece alternativas.

10. Os dois primeiros nomes que se destacam e lideram as intenções de voto fazem parte do campo da antipolítica (rejeição a partidos, a políticos e até a política) independentemente de suas ideias. São eles Bolsonaro e Marina. E próximo a eles o ex-ministro do STF que capitaneou o julgamento do mensalão, Joaquim Barbosa. Bolsonaro perde um pouco de fôlego na medida em que outros nomes da antipolítica são oferecidos.

11. Ciro Gomes faz parte deste bloco na pesquisa, e aparentemente como nome partidário. Mas, seu passeio por vários partidos em sua trajetória política mostra coisa diferente. Não é exatamente o partido que o caracteriza. Mas seu populismo retórico e virulento, que aproxima sua comunicação da de Bolsonaro. E assim é percebido pelos eleitores.

12. É dessa forma que está formado o grid de largada para outubro de 2018. E esse será o desafio maior dos candidatos orgânicos, construir discursos e mensagens que os separem do facilitário oportunista da antipolítica.

13 de abril de 2018

EUA E SÍRIA!

(Ex-Emb. RF) 1. No dia em que as forças de Bashar al-Assad retomaram o controle de Douma, o último enclave ocupado pela oposição nos arredores da capital síria, especulava-se sobre a forma que iria assumir a retaliação anunciada por Donald Trump em resposta ao ataque com armas químicas do passado fim de semana, que causou 60 mortos e cerca de mil feridos, precisamente na cidade agora recuperada pelo regime de Damasco.

2. Numa tentativa de evitar um ataque americano às suas forças, o regime sírio convidou inspetores da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPCW, na sigla em inglês) a visitarem Douma e determinar a natureza das substâncias envolvidas.

3. Num primeiro comentário ao ataque, a OPCW referiu a possibilidade, com base nas informações prestadas pelos grupos rebeldes, de ter sido usada uma mistura de gás sarin e cloro. O representante da Rússia nas Nações Unidas, Vassily Nebenzia, anunciou a intenção de apresentar uma resolução no Conselho de Segurança da organização a propor o envio de uma missão da OPWC à Síria. O que estava a ser considerado pelos Estados Unidos, França e Grã-Bretanha uma manobra dilatória de Moscou para evitar a punição do regime Assad – que poderia estar por horas, ontem ao final do dia. Por seu lado, a OPWC confirmou ter tomado a iniciativa de pedir autorização ao governo sírio para efetuar o deslocamento. Nebenzia advertiu os EUA para “graves repercussões”, caso fossem desencadeadas operações retaliatórias na Síria.

4. Durante a tarde Trump falara com Theresa May, que antes deste contato estivera ao telefone com Emmanuel Macron, tendo os três dirigentes acordado que os responsáveis pelo ataque de Douma “têm de ser sofrer as consequências” da sua ação”, indicou um porta-voz de Downing Street após os contatos.

5. Fontes oficiais em Washington, exprimindo-se sob anonimato, explicaram à Reuters que diferentes opções militares estavam em discussão, com os EUA a procurarem uma articulação com os aliados internacionais. Não foram dados detalhes, mas sugeria-se que a finalidade da retaliação seria desencorajar, de uma vez por todas, o regime sírio de usar armas químicas.

6. Os alvos mais prováveis seriam os centros de comando e controle que terão dirigido os ataques e unidades de apoio, considerava um especialista em segurança internacional, Benjamin Haddad, do Hudson Institute, num texto ontem publicado online na Foreign Policy. Outro alvo poderia ser a base de Dumayr, de onde teriam partido os helicópteros envolvidos no ataque. A 6 de abril de 2017, em resposta a ataque semelhante, em Khan Shaykhum, os EUA dispararam 59 mísseis sobre a base de Shayrat, na província de Homs.

7. Aquelas hipóteses foram, de algum modo, confirmadas ao final do dia por Emmanuel Macron que disse, a haver ataques, estes terão como alvo instalações de armas químicas. Por outro lado, a representante dos EUA na ONU, Nikki Haley, numa reunião do Conselho de Segurança na noite de segunda-feira, recordou que há pouco mais de um ano mostrara fotografias de ataque semelhante ocorrido a 4 de abril de 2017 em Khan Shaykhun, na província de Idlib e apontou para “as mãos cheias de sangue da Federação Russa” no conflito sírio. Moscou vetou 11 resoluções a condenarem o regime de Assad, lembrou Haley, que disse ainda ser indispensável estabelecer-se “um mecanismo imparcial para investigar os ataques”. Em 2013, a Rússia e os EUA assinaram um acordo em que o primeiro país se tornava garante de que o regime de Assad entregaria para destruição todas as armas e agentes químicos suscetíveis de uso letal. Na época foi estimado que possuiria mil toneladas de armas químicas. Em agosto daquele ano, o regime de Damasco efetuara um ataque químico em Ghouta oriental, que causou mais de 1700 mortos, segundo fontes da oposição. A região que voltou agora a controlar.

8. Outro sinal da iminência de uma possível punição militar do regime de Assad foi dada pela notícia do cancelamento da viagem de Trump ao Peru, onde deveria participar sexta-feira na Cimeira das Américas, deslocando-se em seguida à Colômbia. Trump será substituído pelo vice-presidente Mike Pence.

9. Um terceiro sinal veio do ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Adel al-Jubeir, que falava em Paris no quadro da visita que o príncipe herdeiro Mohammad bin Salman concluiu ontem na França, e antes de Macron proferir a declaração acima citada. “Não vou especular sobre o que pode ou não pode suceder. O que posso dizer é que estão sendo avaliadas as opções disponíveis nesta questão”, disse o ministro saudita, que sublinhou estar Riad em total sintonia com Washington, Paris e Londres, antecipando o cenário de uma presença saudita nas operações a realizar.

10. Embora seja perceptível que os principais poderes envolvidos no conflito procuram, de alguma forma, não abrirem caminho a uma escalada de tensões de consequências imprevisíveis, os sinais de tensão continuam a multiplicar-se. Ontem, soube-se que, no fim de semana, um avião de combate russo sobrevoou a baixa altitude a fragata francesa Aquitaine, em patrulha no Mediterrâneo ao lardo do Líbano, numa violação das regras internacionais. A notícia, inicialmente divulgada pela edição online da revista Le Point, referia ainda que o aparelho voava com armamento completo.

11. Este caso confirma que a guerra na Síria é, de forma crescente, um conflito em que as grandes potências estão envolvidas e os poderes regionais estão a enfrentar-se de forma aberta. Caso de Israel e do Irã, o principal apoio do regime de Assad no terreno.

12. À medida que a guerra prossegue e a consolidação do poder de Assad depende, de forma clara, da presença das forças de Teerã e de seus aliados, como o Hezbollah libanês, Israel vê, com crescente preocupação, o reforço da presença militar iraniana na Síria, país com o qual tem fronteira comum. Assim, a determinação em impedir que isto suceda.

13. A consolidação da presença militar iraniana, mais as forças do Hezbollah (com o qual Israel já travou uma guerra em 2006, que terminou num relativo impasse) e os combatentes xiitas de várias partes do mundo, cria uma nova e potencial ameaça para as forças armadas israelitas. O que Israel já mostrou que não toleraria enquanto o Irã garantiu que o ataque à base de Tiyas “não ficará sem resposta”.

12 de abril de 2018

MINISTRA ROSA WEBER DEU MAIS PESO À ESTABILIDADE, O QUE PODE PRODUZIR MAIS EFEITOS QUE A PRISÃO DE LULA!

(Vinicius Mota – Folha de S.Paulo, 09) 1. O evento de efeitos mais duradouros destes dias tumultuados pode não ter sido a prisão do ex-presidente Lula, mas sim o voto da ministra Rosa Weber no julgamento de 4 de abril, no Supremo. O teor da manifestação da juíza foi coerente com seu modo de portar-se. Não dá entrevistas nem antecipa opiniões, não patrocina lobbies nem se mete em assuntos que conotem conflito de interesse. Não desafia a jurisprudência.

2. Uma corte suprema não deveria ser fator de insegurança, com mudanças bruscas de rumo. Os mapas que norteiam os juízos não se alteram só porque a maioria passou a pensar diversamente.

3. É preciso algo mais, como vários anos de acúmulo de precedentes no sentido contrário ou um choque da realidade fática, para alterar a jurisprudência do STF. Eis os pressupostos do voto da ministra Weber. Reflexos dos insultos subterrâneos à magistrada, plenos de machismo, vieram à tona tão logo a direção de seu voto ficou clara. Tal lógica condenaria o Judiciário ao imobilismo eterno, argumentam seus críticos mais civilizados.

4. Decerto ela fez opção entre dois valores jurídicos —a necessidade de evoluir e a de assegurar previsibilidade à expectativa dos agentes sociais. Preza mais o segundo, o que não significa anulação nem estrangulamento do primeiro.

5. O cumprimento de pena após a segunda instância tende a tornar-se regra sujeita a conjunto não desprezível de exceções. Prisões mal fundamentadas, alta probabilidade de sucesso nos recursos e falhas processuais graves têm justificado conceder liberdade ou relaxar o regime de detenção.

6. Se as instâncias inferiores se lambuzarem de punitivismo, os casos de revisão vão crescer ao longo dos próximos anos e isso poderá justificar mudança na jurisprudência. Esse é o voto da ministra Rosa, que não é Luxemburgo, mas cujo conservadorismo é quase revolucionário no Brasil.

11 de abril de 2018

RIO: TRÁFICO E MILÍCIAS, A DIFERENÇA DE SUAS DINÂMICAS E DE SEUS “NEGÓCIOS”!

1. A ação e o crescimento das milícias e do tráfico de drogas no varejo, no Rio, tem uma diferença básica.

2. A base das milícias, especialmente nos últimos anos, é a extorsão; seja direta, seja indireta, neste caso, com “a venda de produtos e serviços” como gás, TV, transporte…, compulsoriamente.

3. Nesse amplo sentido, os que pagam, o fazem sem demandar os bens e serviços às milícias “fornecedoras”. Seu pagamento e consumo às milícias é compulsório e imposto.

4. O tráfico de drogas no varejo, nas comunidades do Rio, diferentemente, vende seus produtos (cocaína, maconha…) por demanda dos consumidores. Onde atuam não há a obrigação de os moradores se viciarem e consumir as drogas.

5. De certa forma, mesmo no ciclo inicial das milícias, antes de sua expansão por toda a cidade, especialmente Zona Oeste e mais recentemente pela Baixada Fluminense, a ostensiva proibição de venda de drogas e expulsão dos traficantes e de quem tivesse relação com estes nas comunidades que controlavam mostrava com clareza a diferença “de mercado” entre ambas.

6. No início, por pânico dos moradores aos traficantes, os pagamentos dos moradores e comerciantes era realizado sem rejeição. Progressivamente se transformou em extorsão aberta, como ocorre atualmente.

7. É uma dinâmica de relação com os “consumidores” muito diferente do tráfico de drogas. Igualam-se eles -milícias e tráfico no varejo- para garantir a “prestação de seus serviços”, um regime de imposição de seu comando pela violência e submissão dos moradores.

8. Num caso (milícias), os moradores são “consumidores” compulsórios. No outro caso (tráfico de drogas), aos moradores é imposto um regime de obediência de forma a não atrapalhar o negócio do tráfico de drogas.

9. Em ambos, com o uso de armas pesadas para garantir o controle de suas áreas e a corrupção para sua proteção, inclusive em relação aos órgãos de fiscalização e policiamento.

10. Pela diferença de suas características e dinâmicas, a relação com a política não é a mesma. As milícias têm força eleitoral porque sua base de imposição são todos os moradores. No caso do tráfico de drogas no varejo, os moradores são “expectadores”. Por mais que prestem algum auxílio na compra de remédios ou em ajudas, estas não se referem ao conjunto da comunidade, mas apenas a alguns casos, de forma a suavizar suas imagens.

11. Com isso, no Rio, são raros os casos de políticos eleitos diretamente pelo tráfico de drogas no varejo e vários eleitos pelas milícias.

12. Por isso tudo, milícias e tráfico disputam militarmente territórios. Os fatos muito recentes de aproximação entre algumas milícias e o tráfico, como se noticiou, não tende a se estender pelas radicais diferenças entre uns e outros em seus “negócios”.

13. Mesmo no México, onde há essa convergência, a prevalência e comando é do tráfico e as milícias são terceirizadas, em geral como sicários. E não misturam os negócios nem as organizações nem o mercado.

10 de abril de 2018

DA CARTA AOS BRASILEIROS AO DISCURSO NO SINDICATO DOS METALÚRGICOS!

1. O marqueteiro vitorioso em 2002 insistiu com Lula e o PT que, para ganhar as eleições, deveriam suavizar o discurso. Daí saiu a Carta aos Brasileiros, uma espécie de compromisso (formal) democrático de respeito às instituições e às leis. E assim foi. Veio a vitória eleitoral. A continuidade da política econômica do governo anterior servia para demonstrar -ao distinto público- que o compromisso da Carta aos Brasileiros era para valer.

2. Mas, em pouco tempo, a reação interna cresceu. O ministro José Dirceu, numa reunião na sede do PT com dirigentes e militantes, justificou as medidas. Uma câmera oculta de uma emissora de TV divulgou o discurso que não poderia ser aberto. Nele, José Dirceu afirmou às companheiras e aos companheiros que tivessem paciência. Que a “correlação de forças” não permitia avançar muito naquele momento.

3. E, por isso, a política econômica cumpriria os “compromissos” com as instituições, as leis e a democracia. Mas a política externa retrataria a verdadeira política do partido. Ao lado do ministro de relações exteriores, na função de assessor especial do presidente, foi nomeado Marco Aurélio Garcia, um co-ministro de relações exteriores. E assim foi integrando o governo de Lula aos de Chávez, de Castro, de Ortega, de Correa, de Morales, do Irã e até da Líbia…

4. Enquanto a economia seguia seu rumo empurrada por um ciclo internacional favorável, as críticas à política externa ficavam meio desapercebidas, quase circunscritas aos especialistas.

5. No nível interno, o governo Lula-Dirceu entendeu que havia a necessidade de comprar parlamentares de forma a que se pudesse “legislar” por decreto e ocupar a máquina livremente. No início do segundo ano de governo isso ficou claro e foi sendo aberto, progressivamente, pela mídia e por vazamentos. O núcleo era o gabinete do poderoso ministro José Dirceu. Os vazamentos cresceram e já no primeiro semestre de 2005, com uma bombástica entrevista do deputado Jeferson à Folha de S.Paulo, ficou tudo às claras.

6. Foi aberta uma CPI e o ministro José Dirceu cassado por conta das denúncias. A CPI deu origem a um processo que ficou conhecido como Mensalão. As provas eram contundentes, com dinheiro sendo entregue na boca de caixa bancário, através de um crime que se imaginava perfeito, via agência de publicidade.

7. Blindado o gabinete presidencial, as denúncias e provas desintegraram presidentes e executivas de vários partidos, a começar pelo PT. Mas a locomotiva estatal seguia seu rumo. Foram distribuídos amplos subsídios aos movimentos sociais, aos sindicatos, a artistas e a intelectuais…, da casa. E, assim, a base aliada -interna e externa- se tornou gigantesca e plástica.

8. Era necessário garantir a reeleição e depois novas reeleições. Quando o IBOPE mostrou o crescimento do prefeito do Rio no início de 2005, na época recém reeleito, que já ocupava a segunda posição com folga, foi montada uma fraude através de uma intervenção inconstitucional na saúde pública municipal. Apesar de o STF ter derrubado em seguida essa intervenção, o resultado político havia sido alcançado.

9. Mas era necessário formar uma chapa imbatível com os dois maiores partidos ocupando a presidência e a vice-presidência. E assim foi em 2008. Com a máquina estatal ocupada partidariamente, com uma amplíssima maioria parlamentar submissa, o poder estava garantido e concentrado.

10. A crise financeira de 2008 começou a desmontar o uso da política econômica como disfarce e uma abertura crescente para o populismo econômico passar. A assunção de Dilma em 2011 já se deu num quadro que apontava para o desmonte econômico. A economia patinava e a inflação crescia. Começaram as pedaladas de forma a dar lastro ao populismo econômico.

11. Tudo foi ficando claro e a caixa preta foi sendo aberta até o impedimento da presidenta. Simultaneamente, no início do segundo mandato de Dilma, investigações realizadas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal mostraram o “mar de lama” sobre o qual se sustentava esse esquema, o que acabou envolvendo o próprio presidente.

12. É uma série que começa em 2003. A ilusão de um novo comportamento de Lula e do PT se desmanchou progressivamente. Foram 15 anos até a condenação de Lula, que já havia abatido -em voo- José Dirceu em 2005.

13. Isso tudo mostra que o desmonte deste esquema impediu o Brasil de entrar num sendeiro chavista, o que seria muito mais grave do que o triplex, que é apenas a ponta do iceberg. O discurso de 7 de abril na porta do Sindicato dos Metalúrgicos, com todos os malabarismos populistas, abriu o jogo na agressão às instituições e à liberdade de expressão. E deixou para trás a Carta aos Brasileiros e o respeito à democracia e às leis.

09 de abril de 2018

LULA: SEUS PROBLEMAS E SEUS DISCURSOS! E LA CASA DE PAPEL! 

1. A “informalidade” que acompanhou líderes sindicais nas suas relações com grandes empresas sempre foi uma rotina. As montadoras não cansaram de detalhar. Uma das idas de lideranças sindicais (entre elas Lula) a Alemanha foi, na época, divulgada com detalhes nos bares e boates, incluindo shows de strip-tease.

2. Essa informalidade e intimidade explicam o que ocorreu com Lula. Pode ser até que ele não entendesse isso como desvio de conduta ou ilegalidade. As explicações que Lula dá ao caso do triplex explica bem e com detalhes essa relação “informal” e íntima que alguns procuradores chamaram de promíscua. Mas ele não entende assim.

3. Seu discurso no carro de som, em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, traz informações que vão além do conteúdo. Por exemplo, ter falado para baixo, para os militantes e não direto para a TV, que era do próprio sindicato.

4. Ou seja, não se dirigia ao público que assistia ao vivo na TV ou depois nos sites. Dessa forma, Lula voltava a seu nicho e abandonava a condição de líder popular e mantinha-se apenas na condição de origem como líder sindical.

5. Isso não era a narrativa de sua história, mas a narrativa de sua realidade atual, numa espécie de giro político de 360 graus, voltando a ser o que foi.

6. A agressividade com que se dirigiu ao Ministério Público, ao Poder Judiciário e aos meios de comunicação e, claro, às elites, certamente não correspondia a um candidato a presidente. Não teve nem o cuidado de restringir com “alguns” ou algo assim. Ao contrário, generalizou as agressões.

7. Por isso, as associações representativas de procuradores e juízes e da mídia reagiram, porque todas se sentiram agredidos. Era um discurso de candidato a deputado e não de candidato majoritário.

8. A figura de retórica, dizendo que todos os militantes e lideranças sindicais ou políticas deveriam se sentir todos e cada um como Lula, incorporando-o, é bem explicativa.

9. Seria o caso de todos serem iguais a Lula, usando sua máscara. E o Sindicato dos Metalúrgicos seria a Casa de Papel (NetFlix), todos de máscaras de Lula e cercados pela Polícia Federal. E, depois da prisão, todos os militantes.

10. Esse discurso de transferência de personalidade às massas é característica do populismo dos anos 20 e 30 na Europa, incluindo as cores e os gestos. O conteúdo demagógico de seu discurso de que as elites, procuradores e juízes e mídia o perseguiam porque ele representava os pobres sequer produziu emoção. As imagens da TV do Sindicato retrataram isso.

11. Os anos de militância pós sindical, de militância política e de experiência internacional deveriam ter dado a Lula uma maturidade que não teve enquanto “enfrentou” a polícia em La Casa da Papel.

12. Não é sem razão que Lula repetia à exaustão que sua relação com Bush foi muito melhor e prazerosa que sua relação com Obama.

06 de abril de 2018

“EM 2016 E 2017, FORAM APREENDIDAS MAIS DE 20 TONELADAS DE COCAÍNA NO PORTO DE SANTOS!” 

(Matias Spektor – Folha de S.Paulo, 05) 1. Se o grupo de Michel Temer está envolvido em crimes de corrupção no porto de Santos, apenas as investigações dirão. O que sabemos é que, nos últimos dois anos, Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público começaram a expor as táticas das redes criminosas que atuam em Santos, assim como sua relação com o mundo político.

2. Em 2016 e 2017, foram apreendidas mais de 20 toneladas de cocaína no porto. Descobriu-se que as máfias da droga que ali operam possuem conexões com redes criminosas em Bélgica, Espanha, Inglaterra, Itália e Rússia. Como o Brasil é conivente com o malfeito, vai galgando posições no ranking de escoamento de droga sul-americana para a Europa. Os investigadores descobriram que funcionários do próprio porto de Santos envolvidos no esquema permitiam a entrada de veículos abarrotados de cocaína na calada da noite. Para embarcar a mercadoria, eles desligavam as luzes no trajeto ou viravam a direção das câmeras de segurança. Era esse grupo de funcionários que rompia os lacres de contêineres nos quais é embarcado o produto.

3. Em meio aos trabalhos de investigação, as autoridades também expuseram a máfia dos contêineres, associação criminosa que vendia placas de carro para acessar o porto e que, na tentativa de manter seu monopólio intacto, ameaçava ou usava violência contra empresários do setor de transportes.  Quiçá mais relevante, descobriu-se que alguns dos chefes dessa quadrilha eram ligados a sindicatos do setor, os quais, por sua vez, contribuíam ativamente para campanhas eleitorais.

4. As investigações em Santos vêm avançando, atraindo a atenção do governo dos Estados Unidos e das Nações Unidas por causa dos efeitos globais do problema. Mas o desafio é gigantesco e inclui outros grandes portos brasileiros, sobretudo em estados como Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

5. A situação é grave a ponto de deixar autoridades com medo de represálias. Funcionários públicos que trabalham nos portos e que não participam do esquema são alvo de pressão dos grupos que operam para atender aos interesses de traficantes, sonegadores e dos parceiros dessa gente em Brasília.

6. Não é difícil compreender que há uma relação entre a grande corrupção —por exemplo, o pagamento de propina em Brasília pela renovação de concessões de terminais portuários e outros tipos de “boquinha”— e o ambiente de criminalidade local, no qual florescem o narcotráfico e as máfias que tomaram conta dos grandes portos e cidades.

7. A descoberta de como funciona o nexo entre corrupção política e redes de narcotráfico em Santos está no início. Nos próximos meses, ficarão mais claros os seus mecanismos.

05 de abril de 2018

ELEIÇÕES NO EGITO RATIFICAM REGIME VERTICAL!

1. O presidente do Egito, Abdel-Fatah al Sisi, foi reconduzido ao cargo com 97% dos votos válidos, numa eleição em que o seu único oponente era um seu confesso apoiante. Os resultados foram anunciados esta segunda-feira e marcam uma esmagadora vitória do homem que tem sido acusado de apertar o garrote à oposição, transformando a dissidência política num crime.

2. Porém, é também o único visto pela maioria da população como capaz de impor a estabilidade que desapareceu do país desde os protestos que derrubaram Hosni Mubarak, em 2011.

3. Apesar de a participação ter sido relativamente baixa (41,5%), al Sisi teve mais votos do que nas últimas eleições, realizadas em 2014. Moussa Moustafa Moussa, o candidato que já tinha prometido lealdade ao general al Sisi, conseguiu apenas 3% (cerca de 656 mil votos), ou seja, ficou em terceiro lugar porque os votos nulos fixaram-se nos 7,27% (1,7 milhões).

4. Alguns cidadãos queixaram-se de terem sido coagidos a votar mas preferiram inutilizar o boletim do que votar numa eleição que consideram parcial e sem reais alternativas.

5. A revista “Economist” dá conta de vários em casos em que eleitores, descontentes com ambas as opções, terão riscado os nomes de al Sisi e Moussa e escolhido Mohamed Salah, um futebolista egípcio que joga no Liverpool.

6. Nas eleições de 2014, que decorreram entre 26 e 28 de maio, Al-Sisi, 63 anos, obteve 96,91% dos votos contra Hamdeen Sabahi, que também concorreu a estas eleições. Na altura, a taxa de participação ficou perto dos 48%, segundo os números oficiais. Também nessa altura a oposição se referiu à consulta como uma “farsa”.

7. Desta vez, a oposição espera que o segundo mandato de al Sisi acabe por se revelar um pouco mais aberto a novas alternativas, apesar de isso parecer mais um sonho do que uma exigência tangível. Todos os seis candidatos que não faziam parte do grupo de homens leais a al Sisi foram impedidos de figurar nos boletins e, mesmo dentro do próprio aparelho de Estado egípcio, o descontentamento foi claro durante o tempo de campanha.

8. “Não creio que al Sisi queira algum tipo de política real a acontecer no Egito. Ele odeia política. Ele odeia opiniões”, disse ao diário britânico “The Guardian” Hamdeen Sabahi, que tentou, com outros membros da oposição, instaurar um boicote às eleições. Ato contínuo, o procurador público colocou-o sob investigação, acusado de tentar derrubar o regime. Um outro oposicionista, Abdel Moneim Fotouh, está agora na lista de terroristas também por se ter envolvido em ações classificadas como um ataque ao regime.

9. O que é mais atípico é que esta perseguição também se estendeu ao exército, território pró-al Sisi, e mais precisamente a Sami Anan, antigo segundo no comando do Conselho Superior das Forças Armadas que foi detido depois de demonstrar a sua intenção de concorrer à presidência.

10. O problema que agora se começa a desenhar é a intenção, já demonstrada pelos apoiantes de al Sisi, em estender os mandatos presidenciais. Aumentar os anos dos mandatos ou suprimir qualquer limite pressupõe uma consulta popular para modificar a Constituição. Já aconteceu na Turquia, onde o enorme apoio ao presidente Erdogan se repetiu no apoio às mudanças constitucionais que ele propôs.

04 de abril de 2018

MINISTRA CARMEN LÚCIA, 02/04 – COMANDANTE VILLAS BOAS, 03/04! 

MINISTRA CARMEN LÚCIA

A democracia brasileira é fruto da luta de muitos. E fora da democracia não há respeito ao direito nem esperança de justiça e ética.

Vivemos tempos de intolerância e de intransigência contra pessoas e instituições.

Por isso mesmo, este é um tempo em que se há de pedir serenidade.

Serenidade para que as diferenças ideológicas não sejam fonte de desordem social.
Serenidade para se romper com o quadro de violência. Violência não é justiça. Violência é vingança e incivilidade.

Serenidade há de se pedir para que as pessoas possam expor suas ideias e posições, de forma legítima e pacífica.

Somos um povo, formamos uma nação. O fortalecimento da democracia brasileira depende da coesão cívica para a convivência tranquila de todos. Há que serem respeitadas opiniões diferentes.

Problemas resolvem-se com racionalidade, competência, equilíbrio e respeito aos direitos. Superam-se dificuldades fortalecendo-se os valores morais, sociais e jurídicos.

Problemas resolvem-se garantindo-se a observância da Constituição, papel fundamental e conferido ao Poder Judiciário, que o vem cumprindo com rigor.

Gerações de brasileiros ajudaram a construir uma sociedade, que se pretende livre, justa e solidária. Nela não podem persistir agravos e insultos contra pessoas e instituições pela só circunstância de se terem ideias e práticas próprias. Diferenças ideológicas não podem ser inimizades sociais. A liberdade democrática há de ser exercida sempre com respeito ao outro.

A efetividade dos direitos conquistados pelos cidadãos brasileiros exige garantia de liberdade para exposição de ideias e posições plurais, algumas mesmo contrárias. Repito: há que se respeitar opiniões diferentes. O sentimento de brasilidade deve sobrepor-se a ressentimentos ou interesses que não sejam aqueles do bem comum a todos os brasileiros.

A República brasileira é construção dos seus cidadãos.

A pátria merece respeito. O Brasil é cada cidadão a ser honrado em seus direitos, garantindo-se a integridade das instituições, responsável por assegurá-los.

COMANDANTE GENERAL VILLAS BOAS

Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais.

Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?

03 de abril de 2018

“AS JANELAS” SÓ AUMENTARAM AS INCERTEZAS!

1. A possibilidade de troca de partidos para os deputados estaduais e federais só aumentou as incertezas em relação às eleições de 2018.

2. Nenhum partido chegará a 11% das cadeiras na Câmara de Deputados. Mesmo que a pulverização não alcance os 28 partidos com presença no parlamento, o menor número de partidos com representação na Câmara de Deputados produzirá uma pulverização concentrada.

3. Explique-se. Nenhum partido alcançando 11% dos deputados e o número de partidos com presença parlamentar sendo reduzido dos 28 atuais para 20, ou menos, teremos uma pulverização concentrada ou concentração pulverizada.

4. Com isso, a tarefa do próximo presidente de formar uma base de sustentação será mais difícil, pelo peso relativo dos pequenos e médios partidos. Comparando com os parlamentos europeus, todos os partidos daqui serão pequenos ou médios.

5. O “não voto”, somando abstenção + votos brancos + votos nulos, estará na casa dos 40%. Isso aumenta a imprevisibilidade eleitoral, ou seja, o risco de deputados perderem o mandato.

6. A impossibilidade de doações empresariais, o menor período eleitoral, as restrições à propaganda, os riscos gerados por uma mais intensa fiscalização eleitoral e os constrangimentos ao populismo eletrônicos nas redes sociais ampliará ainda mais a imprevisibilidade.

7. Rigorosamente nenhum partido pode afirmar que elegerá 5 governadores, como na situação atual. E, somando-se a isso, igualmente a imprevisibilidade na eleição presidencial, a tarefa dos próximos presidentes dos poderes executivo e judiciário será começar a construir uma governança política no dia seguinte à eleição.

8. As pesquisas que devem ser publicadas para valer a partir de maio devem incluir novos elementos de convicção do eleitor, tanto de presença como de opções eleitorais. A oscilação do eleitor aumentará.

9. Mundo afora, as pesquisas do último mês de campanha têm apontado prognósticos com significativa diferença em relação aos resultados finais. Ou seja, os analistas, a imprensa, os candidatos e os eleitores devem usar com muito cuidado e prudência as pesquisas eleitorais.

02 de abril de 2018

“QUEM APEDREJA HOJE PODE VIRAR O APEDREJADO AMANHÔ!

Folha de S.Paulo (01) entrevista Sergio Adorno, coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da USP.

Folha: Há uma escalada de violência no meio político?
Sérgio Adorno: Não é recente esse fenômeno dos assassinatos de políticos e também de jornalistas mortos porque seu trabalho ameaça políticos poderosos. Mas até então era mais comum em cidades pequenas e médias, sem tanta repercussão na mídia. De qualquer forma, é preocupante. Está geralmente ligado à polarização e à radicalização.

F: Por que a violência ocorre?
SA: Primeiramente, nada justifica a violência. Numa sociedade democrática, existem mecanismos institucionais de enfrentamento dos conflitos, como os partidos, os espaços parlamentares, a mídia.

O limite do confronto é provocar dano à integridade física do seu opositor. No Brasil, não estabelecemos esse limite. Os conflitos vão se tornando cada vez mais graves e passionais, levando à ideia de que problemas só são resolvidos com a supressão do opositor, transformado em inimigo.

Isso faz parte de uma sociedade democrática que ainda lida mal com seus conflitos. Qualquer um pode ter posições políticas divergentes das do candidato Lula da Silva, mas isso não justifica agressão à integridade física de quem quer que seja, tanto dele quanto de seus apoiadores.

F: O governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) afirmou inicialmente que o PT colheu o que plantou.
SA: Achei que foi uma afirmação de cálculo político. Ele sabe que cresce se tirar uma fatia do eleitorado do [Jair] Bolsonaro, e para isso ele [Alckmin] precisa se colocar numa posição de crítico da esquerda. Eu entendo que é uma estratégia política, ainda que ele possa até acreditar nisso.

F: A polarização que vivemos é um combustível?
SA: Sim. Ela constrói um mundo de polaridades não negociáveis: certo e errado, justo e injusto, acerto e erro, verdade e mentira. A sociedade democrática é justamente aquela que lida com as diferenças. A polarização é um mal e é incompatível com a vida social.

Temos que enfrentar isso, porque a situação sempre pode se inverter. O apedrejador de hoje pode ser o apedrejado de amanhã. Perde-se o controle. A vida democrática precisa de previsibilidade de comportamentos. Se você vai para um debate sabendo que vai matar ou morrer, não é debate, é confronto de forças.

F: Era um cenário previsível?
SA: Em 2013, com os protestos, começa a se delinear um ajuste de contas de algo que estava sendo fermentado já havia alguns anos. E depois há uma disputa cada vez mais radicalizada, com 2014 mostrando essa divisão nas urnas.

Com a rarefação do discurso político, em que não se discutem saídas para o país, mas sim quem tem razão, vem um empobrecimento da vida associativa. Você seleciona com quem quer conversar, só se associa com os semelhantes.

F: É possível atribuir a radicalização à esquerda ou à direita?
SA: Tem havido uma radicalização dos dois lados, e ela se retroalimenta. Nem toda esquerda é radical, nem toda direita é radical. Mas as forças estavam se armando.

Temos uma sociedade que combina três fatores: a crise econômica, os impasses institucionais e o fato de terem vindo a público os mecanismos de corrupção que existiam há tempos, mas que não eram problematizados. É uma combustão agregada.

F: E aí as pessoas apelam para a violência?
SA: Há uma frustração geral, com candidatos, partidos. Grupos e classes reagem de maneiras diferentes. Um indivíduo pode ficar indiferente, outro pode ficar inquieto, outro extremamente ansioso. Quando essa frustração se transforma em ação política, pode ocorrer uma ação democraticamente aceita, como a realização de protestos, ou os indivíduos podem querer pegar em armas, fazer justiça com as próprias mãos.

F: E há tendência a isso no Brasil?
SA: Quero crer que não. Você pode se perguntar como tem gente embarcando nesse radicalismo, que é uma atitude absolutamente preocupante.

Como sociólogo, procuro pesar as diferentes forças e argumentos, para não embarcar numa visão catastrófica. Senão a gente estimula o medo e a busca de soluções “salvadoras”. Toda saída deve ser prevista no campo democrático, do diálogo, das ideias.

F: Faz sentido chamar de fascistas alguns dos atos no Brasil, como fazem certos grupos?
SA: O fascismo é um fenômeno muito mais complexo para simplesmente transportá-lo e aplicá-lo na realidade daqui. Mas é claro que há traços que lembram: a intolerância, o apelo à violência e ao pensamento único, a ideia de que a ordem se garante com medidas coercitivas, duras.

A sociedade brasileira convive com o chamado autoritarismo socialmente enraizado. Nem a transição da ditadura militar para a democracia conseguiu eliminar o emprego da força como um recurso de poder. Acho que estamos vivendo um momento de reavivamento disso. Paradoxalmente, esse autoritarismo convive com uma cultura política democrática.

F: O sr. vê risco de adiamento da eleição de outubro em razão desse reavivamento?
SA: Não tenho evidências claras disso. Acho que aqueles que estão se candidatando são os que mais têm interesse em que esse pleito seja realizado. As pessoas estão com muita expectativa de mudança de governo. Basta ver a popularidade do presidente.

F: Que saídas podem ser buscadas contra a radicalização?
SA: Nesse ponto sou muito convencional: temos que adensar o debate político. Sair dessa coisa rasa de radicalizar entre o bom e o mau, o certo e o errado, e buscar pontos de encontro. Nós, intelectuais e membros da academia, temos que nos recusar a entrar nessa batalha campal.

F: E como fazer isso chegar ao eleitor mais comum?
SA: É uma tarefa das mais desafiadoras, porque nós muitas vezes falamos para nossos pares. Os partidos também precisariam de uma autocrítica. E o eleitor tem que fazer a sua parte. Eleições são momentos privilegiados para qualificar o debate público.

28 de março de 2018

ECONOMIA BRASILEIRA: DÉCADA DE 2020! NEM TUDO É MÁ NOTÍCIA!

(Equipe JRRA – Casa das Garças – MARCOS LISBOA) 1. É certo que tivemos uma severa recessão, a mais severa desde que temos dados disponíveis. Também é igualmente correto que o ambiente de negócios não colabora. A complexidade institucional desafia o empreendedor mais otimista. Das regras tributárias, passando pela legislação trabalhista, até as normas de comércio exterior, muitas das nossas instituições parecem desenhadas para reduzir o investimento privado e a geração de renda e de emprego. Além disso, precisamos fazer um ajuste fiscal de 300 bilhões de reais para evitar a paralisia do setor público ou que a dívida pública se torne insustentável. Para agravar o quadro, devem ser reformar as regras da previdência, ou as contas públicas vão se agravar ainda mais.

2. As condições podem não ser boas, mas não são novas. Há vinte anos sabemos que adiar a reforma da previdência iria resultar em graves problemas. O Brasil atravessa uma rápida transição demográfica. Nos anos 1960, as famílias tinham, em média, mais de 6 filhos por casal. As novas gerações têm, atualmente, menos de 1,8. Nos próximos 35 anos, a população idosa irá aumentar mais de 260%. A população que trabalha, por outro lado, irá se reduzir em 6%. Com as regras atuais da previdência, o gasto irá aumentar em 6 pontos do PIB, agravando o já severo desequilíbrio fiscal. Há dez anos sabemos que as contas públicas do Rio de Janeiro são insustentáveis e o principal desequilíbrio ocorre na aposentadoria dos servidores.

3. Desde o fim da década passada, alertou-se que a retomada da agenda nacional desenvolvimentista iria ser um tiro no pé, com queda da produtividade, desperdício de recursos públicos e o resultado seria mais a repetição do fracasso do Governo Geisel. Todos esses problemas eram menosprezados até recentemente. A campanha presidencial de 2014 simplesmente os ignorou. Pois bem, a boa nova é que os problemas estão sendo discutidos e o atual governo desistiu da criatividade que dominou a política econômica durante quase uma década, além de iniciar uma agenda de reformas, apesar das crises da política. O resultado foi desanuviar as perspectivas de insolvência fiscal que parecia inevitável há pouco mais de um ano. A curva de juros de mercado fechou, o que permitiu a queda da Selic e da inflação.

4. A opção por uma política monetária convencional e que prima pela comunicação precisa resulta na retomada da atividade e do emprego um ano depois. A reforma da previdência deixou de ser tabu. Muitos reconhecem os imensos fracassos das políticas de desenvolvimento resgatadas a partir de 2008, como a expansão do crédito subsidiado para empresas selecionadas ou as regras de conteúdo nacional. Foram aprovados a emenda constitucional que limita o crescimento dos gastos públicos, a reforma trabalhista e a criação da TLP. Aos poucos, o debate público parece preferir à análise da evidência ao preconceito.

5. A agenda de reformas no Congresso avança mesmo quando a coordenação política do governo se ausenta. 17 As mudanças são imensas no setor privado e na política. Empresários criticam os subsídios desmedidos e defendem a concorrência e a abertura comercial. Políticos são eleitos governadores prometendo ajustar as contas públicas. Começa a existir um debate sobre os problemas e os difíceis dilemas a serem enfrentados. É verdade que ainda impressiona o montante do ajuste fiscal para evitar a paralisia do setor público nos próximos anos, além do risco de a dívida entrar em uma trajetória insustentável, um ajuste que vai necessitar da revisão de diversas normas legais nas políticas sociais e nos benefícios para diversos setores produtivos, como as desonerações e diversos subsídios.

6. Mas, ao menos, os problemas estão mais claros e ocorre o debate sobre como enfrenta-los. A norma constitucional conhecida como Regra de Ouro proíbe o país se endividar além das despesas de capital, que inclui os investimentos e a amortização da dívida. A boa regra veda dívida para pagar despesas correntes. O seu descumprimento implica crime de responsabilidade. Trata-se de uma regra que colabora com a sustentabilidade das contas públicas. Em 2018, a necessidade de financiamento do setor público deverá ultrapassar em 184 bilhões de reais o permitido pela Regra de Ouro. Medidas excepcionais, como a devolução dos recursos emprestados ao BNDES, contribuirão para cobrir a diferença. Nos anos seguintes, entretanto, o cumprimento da Regra de Ouro somente será possível com diversas reformas que reduzam os gastos obrigatórios, caso contrário assistiremos a paralisia do setor público.

7. O país encontra os limites de uma longa tradição de criação de despesas obrigatórias que se revelam incompatível com o crescimento da renda. A boa notícia é que os problemas estão claros e o país começa a enfrenta-los. Além disso, caso o país consiga fazer o ajuste fiscal, existe uma extensa agenda de reformas para retomar o crescimento econômico por muitos anos à frente. Essa agenda passa por reduzir a burocracia desnecessárias, simplificar o sistema tributário e melhorar o ambiente de negócios. A infraestrutura se beneficiaria do fortalecimento das agências reguladoras e da melhora da governança do setor público. Metas claras de desempenho e a avaliação independente da qualidade da política pública contribuiria para a melhor qualidade dos serviços oferecidos, sobretudo em educação, onde nossos resultados são inferiores aos obtidos nos demais países emergentes. A evidência disponível indica que a progressiva implementação dessa agenda pode ter impactos imediatos e significativos sobre a produtividade e permitir uma agenda de desenvolvimento econômico.

8. Na década passada, reformas tímidas, como a introdução do consignado e a alienação fiduciária, permitiram o forte crescimento do crédito privado, que passou de 10% para 30% do PIB em poucos anos. A agenda de reformas passa também pela melhora da qualidade da política pública. O Brasil gasta mais do que muitos países emergentes em várias políticas, como educação. Apesar disso, nossos resultados são piores nas comparações internacionais. Melhoras na gestão pública podem ter impactos significativos sobre a eficácia e eficiência do gasto público.

9. Não se trata, porém, de agenda fácil, afinal nossas distorções não decorrem de acidentes. Grupos de interesse e empresas ineficientes se beneficiam das muitas distorções e privilégios 18 concedidos pelo poder público. Apesar das resistências, aos poucos avança a agenda republicana de tratar igualmente os iguais, com a uniformização das regras tributárias, a abertura comercial e a melhora da gestão da política pública. Quem sabe consigamos realizá-las e, na próxima década, estejamos discutindo, apenas, os novos problemas de um país que, finalmente, comece a cumprir a sua promessa de desenvolvimento com inclusão social. Dessa vez, de forma sustentável.

27 de março de 2018

“TRÂNSITO É DESAFIO METEMÁTICO, DIZ CIENTISTAS”! 

As cidades são organismos vivos. Desenvolvem tendências históricas de ocupação. As ações dos governos devem potencializar as dinâmicas positivas e desestimular as negativas. Contrariar a lógica urbana construída pelos cidadãos por muitas décadas, é apostar no fracasso. Exemplos de intervenções positivas que potencializam a cidade gestada vêm desde Pereira Passos, que inaugura no Rio aquilo que anos mais tarde foi batizada de Rio-Cidade e Favela-Bairro. Exemplos de intervenção negativa, contrariando a lógica urbana histórica, é o chamado Porto Maravilha, que tentou criar artificialmente um bairro de escritórios e fracassou. E as intervenções recentes no Centro do Rio, que esvaziaram sua dinâmica comercial.

(Estado de S.Paulo, 22) 1. Soluções dependem de se estudar as razões dos deslocamentos. No início dos anos 2000, o físico inglês Stephen Hawking, morto no último dia 14, deu uma palestra em Cambridge sobre o que era possível esperar do século que se iniciava. Para ele, uma palavra caracterizaria a nova era: complexidade. Na plateia, estava o cientista Fábio Gandour, especialista em inovação que trabalhou durante 28 anos na IBM. A fala inspirou Gandour a buscar alternativas para lidar com os novos tempos. Foi quando começou a refletir sobre a relação entre ciência e mobilidade.

2. Para Gandour, engana-se quem pensa que o mundo digital pode, por si só, resolver problemas reais. Em tempos de Big Data e celulares, os dados são cada vez mais vistos como matéria-prima para criar soluções, mas essa é só uma parte do caminho. “As pessoas se esquecem de que não adianta ter dados se não houver quem conheça estatística e saiba explorá-los”, diz Gandour, que vai participar do Summit Mobilidade Urbana Latam 2018, realizado pelo Estado.

3. É fundamental, para ele, ir além dos dados e promover relações de causa e efeito, algo com que a ciência pode contribuir. “Mobilidade é uma questão muito bem definida em um capítulo da matemática chamado topologias, que busca estabelecer percursos entre pontos A e B.”

4. A seção, considerada uma extensão da geometria, cria modelos de transporte A e B possam ir um ao encontro do outro ou então se unirem em um terceiro ponto C. Uma questão fundamental, segundo Gando, é saber o que emotiva A e B a quererem ir um ao encontro do outro ou irem até C.

5. Este raciocínio motivou um dos principais projetos de urbanismo do mundo muito antes do dos celulares, do Big Data e mesmo da telefonia. Trata-se da reforma de Paris por Georges-Eugène Haussmann, que administrou a cidade de 1853 a 1870. É dele o conceito de arrondissement, as divisões administrativas que reúnem em seus perímetros ampla variedade de residências, comércio e serviços. Assim, o parisiense pode resolver a maioria de suas demandas em um raio de poucos metros e há menos deslocamentos.

6. A praça central do plano era o Arco do Triunfo, de onde era possível partir a pé para qualquer ponto da cidade. “Haussmann criou um plano topológico em que todos– A, B e C– vão encontrar elementos para suprir suas necessidades de sobrevivência”, diz Gandour. Este tipo de resposta, afirma, é mais eficiente para lidar com demandas por deslocamento do que qualquer medida originada pela tecnologia.

7. Para Gandour, os métodos tradicionais de gestão de problemas falham quando a complexidade aumenta. “A metodologia científica, por outro lado, lida bem com esse cenário”, diz. Isso o motivou a requerer a criação do Brazilian Research Lab da IBM, a principal divisão de pesquisas da empresa. O pedido foi feito à matriz em 2006 e, quatro anos depois, o laboratório foi inaugurado. Sua pedra fundamental era pensar na ciência como negócio. Soluções desenvolvidas por cientistas passaram a ser vistas como geradoras de patentes, que por sua vez criam negócios que impulsionam a economia. Gandour foi o cientista chefe da IBM até se desligar da empresa no mês passado, após quase três décadas de serviços prestados. Agora, tem se dedicado a palestras e projetos pessoais.

26 de março de 2018

“EXECUÇÕES” E “EXECUÇÕES”!

1. Acompanhando as imagens relativas ao movimento dos carros desde o local onde a vereadora Marielle participava de uma reunião na Lapa até as imagens da execução já consumada, formou-se -desde o início- um consenso: tratou-se de uma “execução”.

2. Mas as “execuções” não são homogêneas a ponto de permitir deduções relativas às responsabilidades e objetivos. No México, os cartéis desenvolveram o uso dos “sicários”, assassinos especializados que são contratados.

3. Este processo gerou “sicários” internos aos cartéis, assim como “sicários” terceirizados à disposição de quem os contratar, sejam organizações ou pessoas. Os “sicários” são usados dentro dos cartéis, facções, gangues, grupos, para eliminar concorrentes e redefinir o controle dos mesmos.

4. Assim, também, os “sicários” são usados para eliminar cabeças dos cartéis, grupos, facções, gangues, grupos, concorrentes. O mercado de “sicários” inclui crimes passionais e crimes intra e inter empresariais. Os casos são muitos e estão à disposição para estudo. Livros, filmes e documentários têm tratado de inúmeros casos e muitos e muitos anos.

5. Ocorrem até na repressão ao crime organizado quando forças policiais estimulam e até contratam “sicários” para eliminar as cabeças de um certo cartel ou facção. As séries na Netflix mostram casos diversos, especialmente na Colômbia, além do México.

6. A diversidade do uso -interno ou terceirizado- de “sicários” é de tal amplitude que a simples afirmação que um assassinato se enquadra na categoria “execução” não é suficiente para se deduzir autoria ou razões.

7. Um ex-delegado, comentarista do RJTV (TVG), afirmou que no caso da Vereadora, houve uma “execução”, pois o atirador era um profissional pela escolha da arma e da escolha do local. Ou seja: foi uma “execução”. Mas com isso não se avançou muito.

8. Ou de outra forma: era “um sicário”. Uma primeira conclusão óbvia pela atuação da Vereadora é que foi uma “execução” externa. Mas, com isso, não se avança suficientemente, pois tanto pode ser um “sicário” interno de uma organização, um “sicário” terceirizado profissional, e suas amplas variantes.

9. Esclarecer as razões e o comando da “execução” da Vereadora é fundamental, já que se pode ir mais longe do que se imagina. Mas como disse o Secretário de Segurança no final da semana passada: “Não podemos confundir celeridade com precipitação”.

10. Ou seja, a “execução” abre um quadro complexo de investigação e deve levar ao conhecimento efetivo de autoria direta ou indireta e razões, sem gerar quaisquer dúvidas.

23 de março de 2018

PPK: ERA UM ESTRANGEIRO QUE GOVERNAVA O PERU! 

(Emb. Raul Fernando  Leite Ribeiro ) 1. Presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski (PPK) anunciou que renuncia ao cargo. Fê-lo, pressionado pelo seu próprio Governo e pelo parlamento, na sequência da divulgação de vídeos e gravações áudio que provam uma alegada compra de votos em troca de obras. A chefia do Estado deverá passar para o primeiro vice-presidente, Martín Vizcarra, adianta o jornal peruano “El Comercio de Lima”.

2. A decisão foi tomada por PPK (o governante é conhecido pelas iniciais) a contragosto, numa reunião do Conselho de Ministros em que os integrantes do seu Governo lhe exigiram que se demitisse. Há 20 meses no cargo, teve um mandato marcado por conflitos com o Congresso, onde foram apresentados dois pedidos de destituição nos últimos três meses.

3. A mais recente, iniciativa de vários partidos da oposição, iria ser debatido e estava relacionado com as ligações do Presidente à construtora brasileira Odebrecht. A exoneração era dada como certa.

4. PPK tentou evitar uma maioria parlamentar que votasse pela sua demissão. Contava, nas fileiras da oposição, com a colaboração de Kenji Fujimori, dissidente do partido Força Popular (FP), liderado pela sua irmã, Keiko Fujimori, candidata que o demissionário derrotou nas presidenciais de 2016.

5. Foi esta última que fez divulgar vídeos e gravações em que o irmão (com outros deputados e até o ministro dos Transportes e Comunicações, Bruno Giuffra) procura aliciar um deputado da FP a votar a favor de PPK a troco de obras na sua província. Kenji e Keiko são filhos do antigo Presidente Alberto Fujimori (1990-2000) mas aos laços familiares sobrepõe-se a rivalidade política.

6. Embora em teoria Kenji fosse da oposição (pertencia ao partido da irmã, que abandonou recentemente para fundar a sua própria formação, Cambio 21), aliou-se a PPK quando, no final do ano passado, este último concedeu o indulto ao pai Fujimori, que estava preso por crimes contra a Humanidade e acabou, assim, por só cumprir 10 dos 25 anos a que fora condenado. Uma vergonhosa troca de apoios…

7. Para garantir o indulto do pai — extremamente polémico no Peru —, Kenji ajudou a salvar PPK do anterior pedido de destituição, em dezembro de 2017. Keiko opunha-se, pois não só desejava a queda do Presidente como a libertação do progenitor não lhe convinha politicamente, suscitando associações pouco abonatórias entre pai e filha.

8. Em causa no pedido de destituição que ia ser aprovado  estavam pagamentos de mais de quatro milhões de dólares da Odebrecht a duas firmas ligadas a Kuczynski na década passada. Os vídeos divulgados recentemente fizeram subir de tom as críticas a PPK, ex-banqueiro defensor do liberalismo económico, subiram de tom, ao ponto de a sua queda ser pedida por membros do seu partido, Peruanos pela Mudança [grafado em espanhol como Peruanos por el Kambio, para a sigla igualar a do Presidente].

9. As gravações, feitas em segredo por um deputado da FP em reuniões em que também participou o advogado do Presidente, foram a gota de água. “El Comercio” escreve que todo o Conselho de Ministros, incluindo a primeira-ministra Mercedes Araoz, pediram a PPK que se afastasse, sob pena de todos os membros do Executivo se demitirem em bloco.

10. Deputados que votaram a favor da manutenção do Presidente ou que se abstiveram quando do anterior pedido de destituição estavam, agora, dispostos a votar a favor da deposição. Havia 103 parlamentares a favor de pôr fim ao seu mandato, quando só eram necessários 87.

11. O Peru recuperou a normalidade democrática em 2000, ano em que Alberto Fujimori deixou o poder. Terminava uma década marcada pelo autogolpe do então chefe de Estado, que em 1992 dissolveu o parlamento e assumiu o controle do poder judicial, apoiado pelas forças armadas.

12. Sucessivos presidentes têm, porém, estado envolvidos em suspeitas de crime. Ollanta Humala (2011-16), antecessor de PPK, está em prisão preventiva, acusado de lavagem de capitais e associação ilícita, no âmbito do caso brasileiro Lava Jato. Antes dele governou Alan García (2006-11), que também fora chefe de Estado nos anos 80, e que foi acusado de enriquecimento ilícito após o primeiro mandato, tendo sido suspendido do cargo de senador vitalício que ocupava, optando por exilar-se na Colômbia. Outro antigo Presidente peruano acusado de ligações ilegais à Odebrecht é Alejandro Toledo (2001-06).

13. Como Embaixador em Lima, acompanhei de perto a atuação da Odebrecht, que tinha na sua “algibeira” todo o governo.