22 de maio de 2018

ELEIÇÕES: OPORTUNISMO E PRAGMATISMO CRESCEM MUNDO AFORA!

1. Nesta semana, na Itália, o MV5 -antissistema-, que obteve uma vitória  por maioria simples, e a Liga Norte, que no bloco majoritário da direita foi a mais votada, fecharam um acordo para formar maioria parlamentar e assumir o governo italiano.

2. Mas, para isso, deixaram de lado seus conflitos ideológicos e abriram mão de suas principais bandeiras que os levaram à vitória, como a rejeição ao Euro e a União Europeia.

3. Até se entende que durante o processo eleitoral os candidatos ou partidos flexibilizem seus programas, de forma a construir maioria que os leve a vitória e a governabilidade. O ponto que caracteriza oportunismo e pragmatismo é quando uma vez eleitos alterem seus compromissos de campanha de forma a construir uma maioria artificial para assumir o governo.

4. Em Portugal foi assim. A centro-direita do primeiro ministro Passos Coelho venceu com maioria simples. A centro esquerda do Partido Socialista ficou sem maioria parlamentar. Mas atraiu a esquerda radical, que fez sua campanha contra o Euro e contra a União Europeia. Mas, para constituir o governo, firmou um compromisso que negava as bandeiras da campanha. Dessa forma, o PS constituiu uma maioria parlamentar oportunista/pragmática e assumiu o governo.

5. Na Alemanha, os dois partidos de centro-direita, que historicamente formavam uma maioria parlamentar, não puderam refazer a aliança na eleição passada porque o FDP -liberal- não ultrapassou a cláusula de barreira. Mas, na última eleição, o FDP cresceu e formou bancada de deputados.

6. Surpreendentemente, não aceitou formar maioria parlamentar com o CDU, alegando que essa aliança o prejudicava eleitoralmente. Com isso, a primeira-ministra Merkel teria que convocar novas eleições ou repetir um governo híbrido como o anterior. E foi isso o que ocorreu. O PSOE, temendo uma nova eleição, preferiu decidir se mantinha a coligação híbrida anterior, embora na campanha tenha negado isso taxativamente. Convocou uma assembleia que decidiu manter a coligação. Só que agora com exigências muito maiores na composição do governo. Merkel achou melhor aceitar para não correr riscos de redução de sua bancada.

7. O governo espanhol do PP, de certa forma, foi salvo pelo radicalismo anti-euro do Podemos e pela crise na Catalunha. O Podemos não abriu mão de suas bandeiras anti-União Europeia e o PSOE não formou maioria que queria o PSOE. Coube, paradoxalmente, ao Podemos -digamos- por coerência, evitar que o PSOE constituísse uma maioria parlamentar oportunista e pragmaticamente. Na Catalunha a vitória dos independentistas reforçou a necessidade de se dar estabilidade ao governo do PP.

8. Mas as pesquisas já acusam que o bipartidarismo espanhol está acabando e é provável que o Ciudadanos -liberal- venha a ultrapassar o PP na próxima eleição. Sendo assim, teríamos um quadripartidarismo, tornando ainda mais complexa a formação de um governo nas próximas eleições, abrindo espaços para o pragmatismo e o oportunismo.

9. Aqui no Brasil, a pulverização parlamentar, onde nenhum partido alcança 15% das cadeiras, impulsiona o pragmatismo e o oportunismo na formação dos governos.

10. Curiosamente, uma consciência crescente do eleitorado em relação a questão econômica levou a candidatos ajustarem suas posições. De certa forma, foi um avanço, pois ocorreu durante a campanha e não após. Foi o caso de Lula em 2002 e agora de Bolsonaro.

11. Numa eleição imprevisível, onde blocos de opinião e corporações podem ser decisivos, já se notam os ajustes de posição de candidatos para aumentar as suas competitividades.

12. Bem, ocorrendo em campanha sem dar um golpe após a eleição como os exemplos citados, e informando ao eleitor suas novas posições, é um processo mais orgânico do que mudar de posição depois, para governar.

21 de maio de 2018

CENTRO – NOTA DO EX-BLOG EM 03 DE NOVEMBRO DE 2017: O QUE É O CENTRO NA POLÍTICA? CUIDADO COM O PÂNTANO!

1. Lenin, na sua Carta n. 5, nas Cartas de Longe, em 8 de abril de 1917, ainda no exílio na Suíça, criticava Kautsky, “principal teórico da Segunda Internacional e o mais proeminente representante do “CENTRO”, do “PÂNTANO”, tendência que agora é observada em todos os países, oscilando entre ‘direita e esquerda’…

2. A Democracia Cristã do Chile, no final dos anos 60, explicava que o seu CENTRO não era o meio caminho entre esquerda e direita, mas uma terceira instância que ficava num outro plano poligonal. E ao aproximar-se do modelo iugoslavo de autogestão, procurou demonstrar isso.

3. Na Europa do pós-guerra, os partidos deixaram de usar expressão CENTRO em seus nomes próprios. Talvez a Guerra Fria explique. Mais recentemente, o CDU, da Alemanha, e o PP, da Espanha, passaram a usar a expressão CENTRO como cenário de suas reuniões políticas, mostrando que se afastaram da direita. Na Espanha e na Alemanha há razões de sobra para isso na radicalização político-partidária.

4. Recentemente, o prefeito de São Paulo, numa entrevista, afirmava que para derrotar Lula e Bolsonaro era necessária uma FRENTE de CENTRO. Com isso, esse seu conceito se aproximava da crítica de Lenin a Kautsky, que tratou o CENTRO como sinônimo de PÂNTANO.

5. Nos debates constituintes 1987-1988, a força das teses dos constituintes em torno da esquerda assustou os constituintes em torno da direita e o presidente Sarney. Com isso, foi formado um bloco que, para ajudar a agregar votos, foi chamado de CENTRO. A imprensa adotou o apelido que a oposição passou a chamá-los: CENTRÃO. Até hoje CENTRÃO passou a ser um termo pejorativo que explicaria a agregação inorgânica de parlamentares.

6. O Democratas, que discute hoje um documento em direção a uma Convenção que incorpore deputados de outros partidos, busca caracterizar esta incorporação com outra denominação partidária. Naturalmente, foram levantadas adjetivações em torno da expressão CENTRO. Mas tiveram o cuidado de explicar que a expressão CENTRO se refere às relações de agregação do partido com os eleitores e a sociedade. Em grande medida, repete o conceito da Democracia Cristã chilena dos anos 60. Sendo assim, não se trataria de um meio caminho entre a direita e a esquerda, mas uma terceira instância poligonal.

7. O fato é que na percepção dos eleitores, o que de fato adjetiva uma denominação partidária é a sua prática. Aproveitando que estamos na semana dos 100 anos da revolução russa, repitamos uma conhecida frase de Lenin: A prática é o critério da verdade.

8. Desde as eleições de 2002, no Brasil, que todos os partidos -a começar pelo PT- afirmaram e demonstraram suas aproximações ao “CENTRO”. E o que se viu e o que se vê é todos -ou praticamente todos- mergulhados no PÂNTANO, o mesmo da critica de Lenin a Kautsky.

18 de maio de 2018

PARA ONDE ESTÁ INDO A POLÍTICA? 

(Fernando Rodrigues – Drive, 2) 1. “A maré vem das margens”. É o que opina a edição da newsletter de Gaudêncio Torquato, consultor político de Temer.

2. Diz o texto: “As perspectivas não são muito boas para o centro político (…) Com a dispersão dos candidatos centrais, as margens ganham força.

3. Bolsonaro vê seu nome ganhando cada vez mais visibilidade (…), mesmo com Lula na prisão e inviabilidade de sua candidatura, os candidatos do lado esquerdo do arco ideológico adquirem musculatura.

4. Ciro Gomes e Marina entram no rol de probabilidades”.

5. A última esperança. Nesse quadro, a torcida governista é pela boia salvadora do mercado: à medida em que se aprofundem os riscos externos e internos para a economia, o establishment reunirá forças pela manutenção da política econômica do governo atual.

6. O extremo pode se mover. É um erro grosseiro acreditar que o “quanto pior, melhor” force uma solução pró-governo. Durante as problemas econômicos do 2º governo de Fernando Henrique Cardoso, o eleitorado também se insinuou por uma saída no extremo do espectro político. FHC e seu candidato, José Serra, acreditaram que as urnas buscariam o conforto da política econômica que produziu o Plano Real.

7. Mas o adversário se moveu. Lula resolveu amenizar seu perfil extremista. Acenou ao mercado com a chamada “Carta ao brasileiros”, em 6 de junho de 2002.

8. Acabou elegendo-se e montando uma gestão bem mais ao centro do que o petismo esperava. Nada garante que Bolsonaro, Ciro e o PT não façam agora um movimento parecido.

17 de maio de 2018

ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE A PESQUISA CNT-MDA! A ALEGRIA DOS ESPECULADORES, DOS ANALISTAS E DA MÍDIA!

1. Havia uma expectativa que a pesquisa de maio, comparada com a de março, traria alguns sinais que pudessem projetar o futuro eleitoral, mesmo que próximo. Afinal, março foi o mês limite de troca de legendas e confirmação de candidaturas. Mas, maio, comparado com março de 2018, mostra uma espécie de imobilidade da opinião pública.

2. Uma das razões é que o desgaste é geral. Desgaste dos políticos, desgaste dos governos nos três níveis (federal, estadual e municipal), desgaste dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário). Isso, num quadro de alto desemprego e expectativa econômica.

3. Nenhum movimento ocorreu em relação a percepção das funções do governo. A percepção negativa se mantém em todas elas. Talvez com uma exceção: Segurança Pública teve uma abertura negativa maior. Os fatos por todo o país e a cobertura dos mesmos pela mídia ajudam a explicar.

4. Nenhum candidato a presidente atingiu 20%. Todos estão estacionados nos seus patamares. E os de cima, levemente decrescentes. Isso deve entusiasmar os de baixo. E traz um sinal que ainda há espaço para o surgimento de um nome fora dos destacados nas pesquisas.

5. Nesse sentido, a surpresa foi os outsiders mais conhecidos terem saído fora do jogo prematuramente. Com os espaços partidários ocupados, quase não há alternativa para novos outsiders, com 3 meses do início da campanha.

6. Quando a mídia explica o refluxo dos outsiders por pressões familiares, esquece de lembrar que essas pressões vieram do enorme risco de desgaste antecipado por notas e fotos, com acusados, doleiros e patrimônio no exterior. Os outsiders não estão blindados.

7. A intenção de voto com uma pequena lista de 4 candidatos -método utilizado para se avaliar potencial de voto útil ou troca de candidatos, nada acrescentou.

8. Na hipótese de segundo turno com os dois nomes, em várias hipóteses, o aumento da soma deles foi insignificante. Com isso, os eleitores que não marcam nenhum deles -em geral- supera os 50%.

9. As pesquisas insistem em incluir o nome de Lula. Como ele é incluído na primeira lista apresentada, isso confunde o eleitor entrevistado. Melhor seria colocar a hipótese Lula como última pergunta, no final da pesquisa, para não contaminar as anteriores.

10. A pergunta sobre rejeição aos candidatos mostra que todos eles estão acima dos 50%. Ou seja, que o eleitor não votaria de jeito nenhum.

11. Num quadro desses, o ideal seria que as pesquisas perguntassem no início se o eleitor pretende votar, pretende não votar ou, se for à urna, marcará branco ou nulo. Essa pergunta deveria ser feita de forma isolada, sem estar apenas como hipótese aos candidatos numa mesma pergunta de intenções de voto.

12. Se há alguma dedução com esta e outras pesquisas é a enorme taxa de imprevisibilidade nestas eleições, para a “alegria” dos analistas (amadores ou profissionais), da mídia e dos especuladores no mercado financeiro e cambial.

16 de maio de 2018

PESQUISA CNT/ MDA MAIO 2018! 

1. A avaliação dos governadores é também fortemente negativa: 19,5% de ótimo+bom e 40,9% de ruim+péssimo. Da mesma forma em relação aos prefeitos, embora mais suave: ótimo+bom 26,4% e 37% ruim+péssimo.

2. Expectativa em relação às seguintes situações: + vai melhorar / – vai piorar / = vai ficar igual.

Emprego: + 22% / – 31,5% / = 45,4%
Renda: + 20,6% / – 16,5% / = 50,3%
Saúde: + 18,5% / – 35,6% / = 42,9%
Educação: + 21% / – 28,8% / = 48,6%
Segurança Pública: + 17,9% / – 41,9% / = 37,2%

O resultado (saldo) mais negativo ocorre na Segurança Pública, com menos – 24%. O menos negativo ocorre em relação à renda, mais + 4,1%.

3. Voto espontâneo: Bolsonaro 12,4%. Demais 1,7% ou menos. Nada mudou desde março.

4. Estimulada: Bolsonaro 18,3%. Perdeu 2 pontos desde março. Marina 11,2%  – idem. Ciro 9%, Alckmin 5,3%. Perdeu 3 pontos desde março. Álvaro Dias 3%. Haddad 2,3%, etc.

5. Pesquisa com 4 nomes: Bolsonaro 19,7%, Marina 15,1%, Ciro 11,1%, Haddad 3,8%. Nenhum 42,2%. Potencial de transferência por voto útil muito baixo. Isso não produzirá estímulos para antecipar a retirada de pré-candidaturas.

6. Segundo turno: Bolsonaro 28,2% x Ciro 24,2% / Bolsonaro 27,8% x Alckmin 20,2% / Bolsonaro 27,2% x Marina 27,2% / Ciro 20,9% x Marina 20,4% / Marina 26,% x Alckmin 18,9%.

7. Não Votaria nesse de jeito nenhum: Ciro Gomes 46,4% / Haddad 46,1% / Alckmin 55,9% / Bolsonaro 52,8% / Marina 56,5% / Rodrigo Maia 55,6%.

Em todos os casos o potencial negativo é maior que o potencial positivo (vou votar + posso votar).

8. Características mais importantes para um futuro presidente. 3 opções: Honestidade 65,6% / Ter novas propostas 47,7% / Trajetória de vida 26,8% / Ser NOVO no meio político 12,1%.

9. Avaliação da Justiça no Brasil: ótimo+bom 8,8% / ruim+péssimo 55,7% / Confiança no Poder Judiciário: Muito confiável 6,4% / Pouco confiável 52,8% / Nada confiável 36,5%. / Justiça trata todos de igual maneira 6,1%, Não 90,3%

10. Corrupção: diminuiu  30,7% / Está igual 44,3% / Aumentou 17,3%.

11. Instituição que você mais confia. Um opção apenas. Igreja 40,1%, Forças Armadas 16,2%, Justiça 8,6%, Imprensa 5%, Polícia 4%. Etc.

15 de maio de 2018

A PRÉ-CAMPANHA E O VOTO ÚTIL! 

1. O Paraná Pesquisa lista 13 candidatos a presidente. Podemos dividir em 3 grupos. No primeiro, com a saída de Joaquim Barbosa, Bolsonaro lidera com mais de 20 pontos.

2. Há que se aguardar a repercussão da divulgação do documento em que ex-presidentes do regime militar coonestam execuções de quem qualificam como notáveis subversivos. A sistemática defesa por Bolsonaro do regime militar deverá ter repercussões em suas intenções de voto, apimentando um tema que será usado contra ele.

3. Num segundo bloco estão Marina e Ciro Gomes entre 13% e 11%. No terceiro bloco estão todos os demais, entre 4% e 1%. A pré-campanha, até fins de junho, indicará quais candidatos mudarão de patamar de votos, para cima ou para abaixo. E, assim, quem fica e quem sai.

4. Por enquanto, os eleitores marcam suas intenções de voto em função da memória. Isso está longe do que se poderia chamar de pré-decisão de voto.

5. Com a pré-campanha avançando, o corpo a corpo e as reuniões dos candidatos, as coberturas das mídias e das redes sociais, as pesquisas, passam a mensurar a pré-decisão de voto mais que intenções soltas de votos.

6. Nesse período, os candidatos, ao se diferenciarem ou afirmarem que representam melhor o eleitor que outro candidato convergente, começarão a construir o que os analistas chamam de voto-útil.

7. Ou seja, num quadro aberto e personalista como no Brasil, agrupam candidatos de uma mesma família em que os eleitores poderiam votar. É nesse momento que se inicia o processo do voto-útil.

8. Ou seja: mesmo o eleitor preferindo esse ou aquele e achando que outro candidato de sua família tem mais chance, passa a optar por esse. A busca do voto útil é um processo delicado, para não gerar hostilidade entre candidatos de uma mesma família, prejudicando a ambos.

9. Marina e Ciro, que estão no segundo grupo, são tão diferentes em ideias e perfis que tendem a esquecerem-se entre si e olharem para cima e para baixo. Para cima contando com uma derrapagem de Bolsonaro, como pode ter sido agora com a infeliz analogia dos excessos da repressão de primeiro escalão com “tapinhas no bumbum dos bebês.”

10. Essas derrapagens tendem a ocorrer em função da certeza de voto, ou seja, que o patamar atual tenderá a se manter, pois é firme, no caso de Bolsonaro.

11. Alckmin, Álvaro Dias e candidato de Temer farão uma pré-campanha de expectativas. O DEM, SD, PRB, PTB…, estarão analisando se um nome só de todos ultrapassará o patamar de Alckmin e Álvaro Dias. Enquanto isso, mesclarão pré-campanha com voto útil, tentando ver se alguém se destaca.

12. Finalmente, o PT, sem candidato, manterá o nome de Lula até o limite, quando informará finalmente quem será seu candidato contando com o efeito-poste, ou seja, qualquer um que Lula apoie pelas redes sociais cresceria por efeito-imitação. Hipótese pelo menos arriscada.

13. Dessa forma, entramos no bimestre maio-junho, que transformará a intenção de voto em pré-decisão e daí construirão os seus votos úteis.

14 de maio de 2018

ESTADÃO (13) ENTREVISTA PRESIDENTE DA CÂMARA DE DEPUTADOS RODRIGO MAIA!

ESP: O MDB já admitiu que pode não ter candidato à Presidência. O senhor acha que a demora do presidente Michel Temer em anunciar sua decisão prejudica?
RM: Acho que não porque os objetivos são distintos. É legítimo que o MDB tenha uma candidatura própria, que olha para o passado, seja com o presidente Michel ou com o ex-ministro Meirelles. Alguns outros partidos, como o DEM, estão querendo construir um projeto que olhe para o futuro.

ESP: O sr. não teme que essa fragmentação das candidaturas de centro leve à derrota nas urnas?
RM: A esquerda está dividida também. E por quê? Porque é o fim de um ciclo. A sociedade ainda não enxergou ninguém para comandar um novo ciclo. Mas uma aliança não necessariamente gera sinergia. Em política, nem sempre um mais um é igual a dois. Às vezes, o eleitor de um não aceita o do outro e acaba que, além de não ganhar um lado, você perde o seu.

ESP: Na quarta-feira, o sr. teve uma conversa com Geraldo Alckmin. Há possibilidade de acordo, de resgatar a aliança histórica entre o DEM e o PSDB?
RM: Neste momento, não. Eu sempre conversei com o governador Geraldo Alckmin. É um político com o qual tenho ótima relação. Temos projetos distintos, mas isso não vai nos levar a um conflito. Vamos continuar dialogando e aquele que chegar no segundo turno apoia o outro. Essa aliança (PSDB e DEM) vem sendo muito desgastada nos últimos anos. Em 2010, a composição foi difícil e em 2014 deixaram o DEM fora da chapa majoritária. Tudo isso mostra que o ciclo está terminando. A maioria do partido entende que o PSDB sempre priorizou seus projetos, e não o coletivo. Não é o meu caso, que cheguei à presidência da Câmara com o apoio do PSDB.

ESP: Fala-se do ex-ministro Meirelles (MDB) para vice de Alckmin. O DEM não ficaria isolado?
RM: Isolado? Isso é invenção. É legítimo que Michel possa construir com Fernando Henrique uma aliança. Eles têm uma relação histórica e são da mesma geração. Agora, não é dessa aliança que queremos participar. O ciclo de 30 anos pode acabar nessa eleição. Há um esgotamento. Está na cara que a sociedade não aceita mais as práticas, os métodos e a forma de se fazer política atual. Ou a gente vai construir essa solução ou ela será dada por um extremismo que não é bom.

ESP: A Lava Jato atingiu quase todos os partidos, inclusive o DEM. Denúncias de corrupção vão dominar a campanha?
RM: A gente precisa discutir não apenas a punição, mas também as condições para ter um Estado no qual os sistemas de controle sejam mais rígidos e não permitam mais o que vimos nas estatais.

ESP: Se vier uma terceira denúncia contra o presidente Temer, como o sr. vai se posicionar?
RM: Não vou tratar de terceira denúncia porque eu não tenho informação, não quero ter e acho que atrapalha. Gera mais instabilidade. É uma decisão da Procuradoria-Geral da República. Se vier, vamos pautar porque é nosso papel constitucional.

ESP: O sr. tem conversado com PP, PR, PRB, Podemos, para articular um bloco alternativo. Mas parte dessas siglas começou a flertar com Ciro Gomes (PDT). O DEM pode apoiá-lo?
RM: Não acredito em apoio a Ciro. Vamos levar minha candidatura até o final.

ESP: A saída de Joaquim Barbosa da disputa favorece quem? O PSB está dividido entre Ciro, Alckmin, PT e neutralidade…
RM: Ninguém está conseguindo liderar campo nenhum nessa eleição. É por isso que não unifica.

ESP: O sr. diz que ninguém está se destacando, mas Jair Bolsonaro (PSL) continua forte…
RM: Bolsonaro é mais à direita. Nos valores, ele é extrema-direita; na economia, é centro-esquerda porque é nacionalista, vota uma agenda de intervenção na economia.

ESP: Mas é que o sr. ainda está com 1% das intenções de voto. O sr. não pode desistir em nome de…
RM: Em nome de quê? De uma derrota?

ESP: Em nome de um candidato que pareça mais…
RM: Mas qual é o candidato? Se você me disser quem parece mais, eu respondo. O problema é que não tem. Há quem tenha alguma intenção de voto por ter sido governador, mas limitado a uma rejeição maior por ser mais conhecido. Com a crise, ninguém está olhando eleição.

ESP: E quem será o vice na sua chapa? Todo mundo já fala em vice…
RM: Por que vou tratar disso agora? Vocês são muito ansiosos. Quem está falando de vice agora não está falando a verdade.

ESP: Problemas na economia atrapalham a campanha dos aliados?
RM: Não sei. O problema é que você tem uma narrativa de um “ponto 10”, onde está o presidente Lula. A presidente Dilma entregou o governo com “ponto menos 8”, de recessão profunda. A economia, hoje, está no “ponto 2”. Só que, com o desgaste do presidente Temer, essa época (de Dilma) saiu da memória do eleitor. Com toda a dificuldade, o PT ainda tem um ativo muito forte, que é o Lula. Sem ele, pode voltar a ser o partido com maior restrição.

ESP: Carregar o presidente Temer na campanha é um fardo?
RM: A questão não é carregá-lo. Ele disse que ia fazer uma transição. Temos de construir uma candidatura que possa trabalhar pela conciliação do Brasil. Desse projeto todos podem participar, inclusive a esquerda. O próximo presidente, independentemente do campo que represente, precisará ter a capacidade de, no dia seguinte à vitória, sentar e pactuar uma agenda mínima, de recuperação da economia e das condições para reduzir as desigualdades.

ESP: Qual seria essa agenda?
RM: A reforma da Previdência é fundamental e também a reforma do Estado, que ficou muito caro. Além disso, são necessárias leis que garantam segurança jurídica para que o Brasil volte a ter investimento privado.

ESP: É melhor suspender a intervenção na segurança do Rio para que se consiga votar propostas de emenda à Constituição?
RM: Sou contra suspender a intervenção. Ela é necessária, mas foi feita sem planejamento. O mais importante é criar um modelo de integração entre as forças de segurança para enfrentar o crime organizado.

11 de maio de 2018

RISCO DE CONTÁGIO EM ANO ELEITORAL!

(Matias Spector, FGV-Doutor em Oxford – Folha de S.Paulo, 10) 1.Corretoras e fundos de investimento brasileiros correram no início desta semana para assegurar a seus clientes que o risco de contágio internacional devido à crise na Argentina é mínimo. Diferentemente de lá, o Brasil estaria preparado para resistir a choques externos.

2. Tal avaliação está equivocada porque ignora a dinâmica do contágio durante ciclos eleitorais em economias emergentes. O caso brasileiro tem todos os componentes necessários para um aumento sustentado do risco político até o fim de outubro.

3. A lógica é a seguinte. Grandes investidores internacionais tratam o Brasil como parte de um grande bloco de economias emergentes. Quando há aumento expressivo da taxa de juros americana, queda brusca no valor de commodities ou medo generalizado de instabilidade, o comportamento é de manada. Nos próximos meses, a lira turca e o peso mexicano podem afetar o real, assim como as estripulias de Trump no Irã.

4. Além disso, investidores estrangeiros reconhecem ter conhecimento limitado sobre o Brasil. Por isso, na hora de tomar decisões, observam de perto o comportamento dos investidores nacionais. Estes, por sua vez, enfrentam um ambiente político de alta incerteza. A imprevisibilidade na Faria Lima acende o alerta em Wall Street, Frankfurt e Londres.

5. Para lidar com o problema, os candidatos à Presidência mandam sinais ao mercado financeiro o tempo inteiro. Eles sabem que suas palavras afetam o clima econômico e, por tabela, as expectativas do eleitorado.

6. Assim, a campanha de Alckmin deu largada ao processo de sinalização com Persio Arida. Bolsonaro fez o mesmo, indicando Paulo Guedes. Devido ao histórico do candidato em questões econômicas, seu desafio na sinalização é bem maior: além de claro, ele tem de ser crível.

7. Ciro também começou a sinalizar, mas no sentido oposto. Sua estratégia de campanha é questionar as reformas de Temer e prometer outra saída. Em nome dele, já sinalizam Nelson Marconi e Mangabeira Unger. Diante da pergunta se Ciro seria domesticável para o mercado, a resposta deste último é certeira: “Jamais, a meu ver, será”. Marina ainda não emite sinais ao mercado, mas logo o fará.

8. Ocorre que, numa eleição como a brasileira, o vaivém das alianças dura todo o período eleitoral. Mercado e eleitorado não têm convicção plena de que os candidatos conseguirão impor suas preferências às coalizões em disputa até a formação do ministério, uma vez encerrada a contagem das urnas.

9. Na prática, essas características de nosso sistema criam oportunidades numerosas para dinâmicas de contágio que nenhuma autoridade nacional consegue controlar.  É melhor rejeitar as avaliações complacentes de quem vive de vender estabilidade.

10 de maio de 2018

REINO UNIDO – ELEIÇÕES LOCAIS 2018 – 04/05/2018!

1. Foram eleitos 150 conselhos locais parlamentaristas e 6 áreas com autoridade eleita diretamente.

2. Londres é dividida em diversas localidades. O Prefeito de Londres é uma espécie de Governador de toda a Região Metropolitana, eleito de 4 em 4 anos. Última eleição foi em 2016.

3. Resultados: Voto popular:

Trabalhista 35% (+8%)
Conservador 35% (-3%)
Liberal Democrata 16%(-2%)

4.  Distritos com Maioria

Trabalhista 74 (+0)
Conservador 46 (-2)
Liberal Democrata 9 (+4)

5. As análises afirmam que os resultados foram um alívio para os Conservadores, que não perderam espaço quanto analistas e pesquisas esperavam. Os Trabalhistas geraram expectativas mais altas, que não foram atingidas.

6. As localidades não realizam eleições todas ao mesmo tempo. Foram 156 localidades de um total de 353. Foram 44% delas.

09 de maio de 2018

E SE JOAQUIM BARBOSA FOSSE CANDIDATO A PRESIDENTE?

(Angela Alonso, Professora de sociologia da USP e preside o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – Ilustríssima – Folha de S.Paulo, 06) 1. Reprovado pelo politicamente correto, Monteiro Lobato passou com louvor em futurologia. A eleição de Obama ressuscitou seu romance de 1926, com o qual o criador e algoz de Nastácia visara arrebatar os Estados Unidos. “O Choque das Raças ou o Presidente Negro” imagina tecnologia prima da internet, práticas eugênicas, partido feminista e a organização política dos negros. Narra a triangulação dos americanos nas eleições de 2228, quando a divisão dos brancos, entre o Partido Feminino e o Masculino, redunda na vitória do líder da Associação Negra.

2. O enredo volta à cabeça quando um negro se apresenta com viabilidade à cadeira presidencial no aniversário de 130 anos da abolição da escravidão no Brasil. Vingando ou não, a candidatura de Joaquim Barbosa já agitou a fábrica política. À direita, celebra-se o “candidato-novidade”, moda de Miami a Paris. O mercado vem testando produtos nessa linha, de apresentador de TV a militar, passando por empresário. O lançamento do juiz nasce da boa aceitação da tendência da temporada, os magistrados na política. Barbosa chegou aos píncaros num campo, pode emplacar no outro.

3. Para vendedores desse sonho, a cor do presidente, que assombrava Lobato, não vem (ao menos ainda) ao caso. Importa sua embalagem. Chegaria às urnas envolto na toga de super-herói anticorrupção; campeão da moralidade pública capaz de salvar a política dos políticos.  Já aos que marcham do outro lado da cerca, o juiz perturba. Sem declarar em que time joga, acendeu luz vermelha para corredores individuais, daí os ensaios de uma equipe Ciro-Haddad. Barbosa assusta ao avançar sobre a simbologia da esquerda.

4. Numa frente, disputa a representação dos estratos inferiores por um seu igual. Lula se valeu da identidade de retirante, capaz de entender e exprimir anseios dos pobres. Com sua origem social baixa e ascensão pela educação —o diploma superior que o ex-presidente jamais adquiriu—, Barbosa tem capital para fazer dessa picada uma avenida. O outro emblema poderoso é sua negritude. O juiz pode avançar onde Marina Silva titubeou e se lançar a representante da maioria étnica.

5. Está quieto no quesito, mas seu estilo lobo solitário ameaça a exclusividade de movimento negro e aliados brandirem a ação afirmativa. É o que se presume de sua reação à ativista da Negritude Socialista que tentava selfie conjunta. Negou a carona. Sua exasperação marca uma distância em relação aos que já empreendem política em torno da pauta racial. Mas também ilustra como se pode ser exímio juiz e péssimo político.

6. Lula domina a arte de lidar com pessoas, da rodinha à multidão. Ausculta a pulsação coletiva antes de agir. Barbosa é técnico de gabinete, conhece mais dosimetria que empatia. Pode cair no precipício em cujas beiradas trafega Ciro Gomes e morrer pela boca. Pesando isso, o juiz, como o animador de TV, pode avaliar que é tarde para novo ofício. Mas a mera cogitação de candidato negro à Presidência impacta o imaginário nacional. Em papéis discrepantes de Nastácia e tio Barnabé, artistas vêm oferecendo modelos alternativos de comportamento para crianças negras. Mas a cultura brasileira sempre foi permeável, a hora do vamos ver é a do mando. E um presidente negro era até agora possibilidade fora do horizonte.

7. É que a desigualdade racial transcende o imaginário. Um marco de sua história aniversaria este maio. Lei curta e seca aboliu a escravidão. Depois a elite imperial distribuiu títulos de nobreza a ex-senhores, sem garantir direitos ou emprego a ex-escravos. Desde então, essa desigualdade se reproduz e estrutura as relações cotidianas e as estatísticas sociodemográficas. Os negros são maioria em empregos de menor qualificação e salário, em prisões e favelas. E raríssimos em cargos de poder e dinheiro. Um presidente negro, apesar de capa e martelo, não esmagará essa Medusa, de muitas cabeças e o dobro de olhos envenenados. Mas pode bagunçar a República do Sítio do Pica Pau Amarelo se puser a questão na mesa, com a legitimidade que pele e biografia lhe conferem.

8. Combinando bandeira da direita —anticorrupção, que o PT já não pode empunhar— e símbolos da esquerda —defensor de pobres e oprimidos—, Barbosa chega forte ao páreo. Resta saber se país racista suportaria presidente negro. No livro de Lobato, um negro chega à Casa Branca, mas jamais toma posse, ao passo que o Brasil de 2228 se dividiu em dois países: uma “república tropical”, com suas “convulsões”, e a “grande República do Paraná”.

08 de maio de 2018

ELEIÇÕES NO LÍBANO: HEZBOLLAH E XIITAS AVANÇAM MUITO! 

(Ex-Emb. RF) 1. O Hezbollah e seus aliados políticos conquistaram pouco mais da metade dos assentos nas eleições parlamentares do Líbano, segundo resultados extraoficiais, fortalecendo um movimento de base xiita apoiado pelo Irã que se opõe intensamente a Israel e destacando a influência regional crescente de Teerã. Se confirmados, os resultados preliminares citados por políticos e pela mídia também podem aumentar os riscos enfrentados pelo Líbano, que depende de ajuda militar dos Estados Unidos e espera obter bilhões de dólares de auxílio internacional e empréstimos para reanimar sua economia estagnada.

2. Classificado pelos EUA como um grupo terrorista, o Hezbollah, que tem braços político e militar, ganhou força desde que entrou na guerra da Síria em apoio ao presidente sírio, Bashar al-Assad, em 2012. Sua posição forte no Líbano reflete a ascendência do Irã, também de maioria xiita, em territórios que se estendem do Iraque e da Síria a Beirute. O Hezbollah foi criado no início dos anos 1980, com apoio iraniano, e teve papel vital para o fim da ocupação israelense do Sul do Líbano, que durou de 1982 a 2000.

3. ‘A presença parlamentar nossa e de nossos aliados garante a proteção da resistência’  — afirmou em discurso na TV o líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, referindo-se àquele período.

4. Contagem extraoficial da primeira votação parlamentar em nove anos indicou grandes perdas para o primeiro-ministro Saad al-Hariri, que tem apoio do Ocidente. Ele anunciou que seu partido, o Movimento Futuro, perdeu um terço de suas vagas no Parlamento: 21 assentos, ante 33 na legislatura anterior. Ainda assim, ele deve emergir como o líder muçulmano sunita com o maior bloco no Parlamento de 128 cadeiras, o que o tornará o favorito para formar o próximo governo. O premier libanês precisa ser um sunita em respeito ao sistema de partilha de poder sectário do país. O novo governo, como o que se encerra, deve incluir todos os grandes partidos, e já se acredita que as conversas para decidir os ocupantes do gabinete exigirão tempo.

5. O Líbano tem recebido muita ajuda estrangeira para lidar com a acolhida de um milhão de refugiados que fugiram do conflito na vizinha Síria, o equivalente a um quarto de sua população.

6. A eleição foi realizada de acordo com uma nova lei complexa, que reformulou a distribuição do eleitorado e alterou o sistema eleitoral adotando um critério de proporcionalidade, ao invés do esquema “o vencedor leva tudo”. O ministro do Interior disse que os resultados oficiais serão declarados nesta terça-feira.

7. As Forças Libanesas, um partido cristão ferrenhamente anti-Hezbollah, parecem ter emergido também vencedoras, já que passarão de 8 para 15 parlamentares, segundo indicações iniciais.

8. O Hezbollah, assim como grupos e indivíduos aliados, obteve ao menos 67 assentos, de acordo com um cálculo da Reuters baseado em resultados preliminares de quase todas as vagas obtidos de políticos e campanhas e noticiados pela mídia libanesa. Os aliados do Hezbollah incluem os xiitas do Movimento Amal, liderado pelo porta-voz do Parlamento, Nabih Berri e os cristão da Frente Patriótica Nacional (FPN) criada pelo presidente Michel Aoun, parceiro do Hezbollah desde 2006 que diz que as armas do grupo são necessárias para defender o Líbano.

9. Os muçulmanos sunitas, com apoio do Hezbollah, tiveram bons resultados em Beirute, Trípoli e Sidon, bastiões do Movimento Futuro, de Hariri, indicaram os resultados. O jornal pró-Hezbolah “al-Akhbar” publicou em sua capa que a eleição foi um “tapa” em Hariri.

10. O Líbano deveria ter realizado uma eleição parlamentar em 2013, mas seus legisladores votaram para estender o próprio mandato diante de um impasse para concordar com uma nova lei de eleição parlamentar.

11. Uma aliança anti-Hezbollah conduzida por Hariri e apoiada pela Arábia Saudita, chamada de “Março 14”, ganhou a maioria parlamentar em 2009. O grupo se desintegrou e a Arábia Saudita desviou atenção e recursos para confrontar o Irã em outras partes da região, sobretudo no Irã.

12. Samir Geagea, líder das Forças Libanesas, disseram que os resultados mostram que há “apoio popular” que sustenta a Março 14 e que dá “força e impulso para consertar o caminho bem mais do que éramos capazes no passado”. Ele é um dos principais opositores cristãos no Líbano, e conduziu seu grupo político nos anos da guerra civil como adversário de Aoun.

07 de maio de 2018

A CRISE ARGENTINA: HÁ RISCOS DE CONTAMINAÇÃO NO BRASIL? ECONÔMICA, NÃO! POLÍTICA, PODE SER!

1.  Ontem os contatos que este Ex-Blog fez com importantes economistas e com autoridades econômicas do governo brasileiro, produziram um significativo alívio. Menos pelo consenso que os riscos de contaminação da crise do dólar e da crise financeira argentina não tendem a atingir o Brasil, e muito mais pelas razões.

2. Todos eles/as afirmaram que há alguns pontos que garantem essa blindagem do Brasil e o diferenciam dos problemas argentinos. Em primeiro lugar, as reservas internacionais do Brasil superam os 380 bilhões de dólares. As contas externas brasileiras são apenas levemente deficitárias em 1% do PIB, contra 5% da Argentina. O forte saldo da balança comercial brasileira se tornou sustentável.

3. O déficit fiscal primário da Argentina e do Brasil são porcentualmente semelhantes, mas a adoção pelo Brasil, por lei, de um teto, produziu uma segurança muito maior. Semana passada, a Argentina definiu um déficit primário menor que 3% do PIB. Mas, por enquanto, é uma meta, ou um desejo.

4. A inflação argentina, na casa dos 20% ao ano, com metas ou desejos decrescentes, ainda não produziram confiança. A inflação brasileira se tornou sustentável na faixa dos 3. “No ano, o peso argentino foi a moeda que mais se desvalorizou em relação ao dólar, considerando uma cesta de 31 principais divisas do mundo. A queda é de 15,2%”.

5. O real aparece em quinto, com depreciação de 6,2%. A desvalorização do real ocorreu de forma progressiva, sem choque, como ocorre com o peso argentino. Em função disso, o banco central argentino elevou a taxa básica de juros para 40,  a maior do mundo.

6. Mas o fator político continua no Brasil. Outra vez, o fator político é o que preocupa. Na Argentina, a avaliação do governo do presidente Macri vem caindo desde fins de 2017, de certa maneira antecipando a crise econômico-financeira. No Brasil, há uma paradoxal relação entre a confiança na economia e a desconfiança na política. Alguns dados do último mês devem gerar atenção, com pequenas reversões de alguns indicadores econômicos, como o crescimento da indústria.

7. Provavelmente, a crise argentina chegará às eleições presidenciais brasileiras. A esquerda -por oportunismo- levantará dúvidas sobre a dinâmica econômica brasileira, comparando com a política econômica de Macri e seus paralelismos com a política econômica brasileira e a semelhanca entre os dois discursos liberais.

8. Se a crise argentina não contaminou e não deve contaminar a economia brasileira, o mesmo não se pode garantir em relação à política, especialmente num ano eleitoral. Sendo assim, há que se estender a blindagem para a esfera política, rejeitando liminarmente a relação de uma com outra e evitando que o velho discurso do medo venha a afetar as decisões dos eleitores.

04 de maio de 2018

LA DERROTA DEL SOCIALISMO DEL SIGLO XXI – QUE APRENDIMOS DE ESTA EXPERIÊNCIA!

Palestra de Alfredo Keller Consultor. Reunião da UPLA Union de Partidos Latino-Americanos em 23-24 abril de 2018.

1.  Por qué ha fracasado?

Colapso económico venezolano deja de financiar.

Lava Jato / Petrobrás / Odebrecht dejan de financiar. Desaparecen Fidel y Chávez (pierden estrategia y liderazgo).

Se evidencia el fracaso de las ofertas populistas.

Reestructuración política de la oposición democrática.

Liderazgos comprometidos con la recuperación democrática.

Aislamiento internacional reciente pero creciente.

Descalabro moral de Cristina K, de Maduro, de Correa y de Lula.

2. Causas estructurales

Pobreza y profunda desigualdad social.

Cultura populista y demagógica del asistencialismo. Resentimientos. Alergia pública al emprendimiento privado.

Débiles sistemas educativos.

Estructuras políticas elitistas orientadas sólo a elecciones.

Debate político orientado a las emociones y al espectáculo.

Obstáculos a la renovación generacional de los liderazgos. Corrupción, impunidad y débil disciplina institucional.

3.  Causas coyunturales

Surgimiento de liderazgos populistas carismáticos.

Un relato formidable sobre las causas de la pobreza. Otro relato formidable sobre el logro del bienestar.

La neo lengua y el uso de los simbolismos y la postverdad.

Uso extensivo del miedo como estrategia para la sumisión. Mucho dinero y muchos negocios.

Ausencia de un frente democrático internacional.
Fuerte desalineación entre la agenda popular y el Sistema

4.  Vision internacional sobre el Socialismo del Siglo XXI

“Lo tienen por bien merecido” (corrupción y desigualdad social)

El interés particular no se alinea con los problemas del conjunto

La nueva izquierda es menos hostil de lo esperado (Lula, Ortega, et al)

La ilusión de integración de A.L. es inviable: no representa riesgo

La nueva izquierda fracasará y el ciclo modernizador regresará

En A.L. hay escasos liderazgos e institucionalidad fuerte alternativa

No desesperar. Esperar. Mantener mensaje tradicional. Reconstruir institucionalidad democrática desde cero

5.  La pregunta que queda es si el Socialismo del Siglo XXI ha sido definitivamente derrotado o si las causas estructurales que lo llevaron al poder en más de medio Continente siguen vigentes y a la espera de nuevas coyunturas. Si sólo se trata de una retirada transitoria, la otra pregunta es sobre qué debemos hacer para evitar su resurgimiento.

6. Qué cosas podemos/debemos hacer

Hacer rentable la democracia a los sectores socialmente más vulnerables. Repensar y reforzar los sistemas educativos (formal e informal).

Mantener viva la imagen desastrosa de la experiencia del Socialismo del S. XXI

Reinstitucionalizar a nuestros partidos políticos.

Combatir de frente la corrupción y la impunidad.

Articular un amplio frente internacional efectivo y eficiente en defensa y promoción de la democracia.

Construir y uniformar un nuevo relato basado en la libertad.

03 de maio de 2018

CANDIDATOS DE CENTRO! ADVERSÁRIOS DE PROXIMIDADE! E O TIGRE! 

1. Todos os dias o noticiário político da pré-campanha eleitoral de 2018 destaca que candidatos ditos de Centro atuam de forma a que uns ou outros possam se somar às candidaturas de uns e outros.

2. Mas na medida em que nenhum deles se destaca nas pesquisas e desponta como favorito entre eles, não há nenhuma razão para que os demais se somem em torno desse ou daquele. Afinal, por que ele e não eu?

3. Nenhum dos candidatos que são considerados ou se consideram de Centro têm 8% ou menos. A diferença para os que estão no piso nas pesquisas é de uns 6%. Ou numa soma algébrica: se o de cima cair 3 pontos e o de baixo subir 3 pontos, eles estarão empatados.

4. Se sabe que quanto menor a % de intenções de voto, maior a margem de erro das pesquisas. Quem tem 2 pode ter 5. Bem, assim como quem tem 8 pode ter 5. Destacado para valer ainda se tem Bolsonaro com uns 20%. Claro que ele não pensa em abrir mão para ninguém.

5. E como a percepção de muitos é que se trata de um candidato de extrema direita, os ditos candidatos de Centro não pensam -de nenhuma forma- em se somar a ele.

6. O que cabe a todos -pelo menos até correr o mês de junho- é intensificar a pré-campanha, incluindo, aqui, abrir espaços na mídia, intensificar o uso das redes sociais e -claro- colocar o “pé na estrada” e buscar no contato direto com o eleitor um multiplicador crescente de opinião.

7. Nesse último sentido, uma leitura de Gabriel Tarde, “As Leis da Imitação”, ajudariam muito. Pena que, escrito em francês, não está traduzido para o português.

8. De nada adianta um candidato -dito de Centro- querer convencer os demais -os analistas- ou os chamados formadores de opinião, que ele é mais competitivo. Ou querer demonstrar isso nos cruzamentos nas pesquisas de opinião.

9. Isso é conversa para junho, quando pesquisas sucessivas e semanais de opinião eleitoral mostrarem que afirma-se uma tendência ascendente e sustentável, elevando essa ou aquela candidatura.

10. Até lá há que ter paciência. E lembrar sempre a conhecida história do tigre. Dois amigos conversavam quando viram apontar à distância um tigre que corria na direção deles. Um deles disse: Vamos correr. E o outro replicou: Para quê? O tigre corre muito mais que nós. E o primeiro arrematou: Não quero correr mais que o tigre, mas mais que você, e deixá-lo com o tigre.

11. É o que dizem os candidatos numa pré-campanha: Não quero passar o favorito, mas passar os da turma de trás e ir para o segundo turno. É o que todos os -ditos- candidatos de Centro pensam hoje.

12. Pelo menos será assim até abrir o mês de junho, tanto eles quanto seus potenciais partidos parceiros.

02 de maio de 2018

CARGA TRIBUTÁRIA BRASILEIRA: ESTIMAÇÃO E ANÁLISE DOS DETERMINANTES DA EVOLUÇÃO RECENTE – 2002-2012! 

Sumário Executivo – IPEA – Blog José Roberto Afonso, Abril 2018.

(Rodrigo Octávio Orair / Sergio Wulf Gobetti / Ésio Moreira Leal / Wesley de Jesus Silva) 1. Este texto não somente apresenta um arcabouço metodológico para a estimação da carga tributária bruta (CTB), como também analisa sua evolução no período 2002-2012. A metodologia de estimação distingue-se das principais apurações da CTB por fornecer um indicador em frequência mensal e menor defasagem (já atualizado até 2012). Os esforços foram consideráveis e exigiram um conjunto de procedimentos computacionais não triviais para a estruturação de um banco de dados com séries mensais da arrecadação do governo federal, governos estaduais e 3.305 prefeituras, além de procedimentos estatísticos para a estimação das séries relevantes.

2. Também se empreendeu um esforço considerável para corrigir as inconsistências dos dados primários e incorporar algumas das mais recentes recomendações para compilação das estatísticas fiscais.

3. Trata-se de um instrumental útil para subsidiar o acompanhamento conjuntural e pesquisas mais aprofundadas das  finanças  públicas. O objetivo geral é oferecer periodicamente um indicador conjuntural da carga tributária brasileira para subsidiar as análises da política fiscal da Coordenação de Finanças Públicas (CFP) do Ipea e demais órgãos públicos, mas que pode ser disponibilizado para quaisquer pesquisadores e analistas. Dá-se aqui prosseguimento a esforços similares de construção de séries fiscais de alta frequência pela CFP/Ipea.

4. As estimativas próprias também apresentam elevado grau de precisão, já que seus montantes anualizados mostram divergências inferiores a 1% em relação às apurações o ciais do Instituto Brasileiro de Geografia  e Estatística (IBGE) e da Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRFB). Esta precisão deve-se, em grande medida, à incorporação das recomendações realizadas no grupo de trabalho criado no Ministério da Fazenda (MF), com o objetivo de buscar uma convergência nas metodologias de estimação da carga tributária pelos diversos órgãos da administração pública federal. O grupo foi coordenado pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda (SPE/MF) e contou com a participação de alguns dos principais órgãos envolvidos com informações fiscais, como IBGE, SRFB, Secretaria do Tesouro Nacional (STN/MF) e Ipea.

5. De acordo com as estimativas próprias, a CTB mostrou uma tendência de ascensão em todo o período, quando saiu de 32% do PIB em 2002 até alcançar seu recorde histórico de 35,5% do PIB em meados de 2012. A segunda metade de 2012 foi caracterizada por ligeira reversão na CTB, que terminou o ano em 35,2% do PIB, mas ainda representa o maior patamar alcançado na série histórica para um mês de dezembro.

6. A principal causa da tendência de ascensão da CTB está ligada aos tributos que incidem principalmente sobre a renda do trabalho, a saber: impostos sobre a folha de pagamento, contribuições sociais e impostos sobre a renda, lucros e ganhos de capital – pessoas físicas. Seus acréscimos explicam quase integralmente a elevação da CTB – 2,9 pontos percentuais (p.p.) do total de 3,2 p.p. no período 2002-2012 –, ainda que a in fluência nos subperíodos intermediários seja diferenciada. Estes impostos contribuíram com cerca de metade do crescimento da CTB entre 2002 e 2007 (1,0 p.p. de 1,9 p.p.), e no período 2007-2012 cresceram mais do que a própria CTB (1,9 p.p. e 1,3 p.p., respectivamente).

7. A análise também sugere que a arrecadação sobre os rendimentos do trabalho vem mostrando uma relação bastante estreita com sua base tributável, que está crescendo mais do que o Produto Interno Bruto (PIB) em decorrência das características do padrão de crescimento econômico do período recente, o qual combina expansão mais acelerada da massa salarial e aumento do grau de formalização do mercado de trabalho.

8. Em relação aos fatores secundários, podem-se identificar dois momentos distintos. No período anterior à crise internacional, os impostos que incidem sobre o lucro das empresas (impostos sobre a renda, lucro e ganhos de capital – pessoa jurídica) contribuíram de maneira importante para a elevação da CTB. Estes impostos foram responsáveis por cerca de dois quintos do acréscimo da CTB no período 2002-2007 (0,8 p.p. do total de 1,9 p.p.). Contudo, os impostos sobre os lucros das empresas deixaram de ser relevantes para explicar a tendência de crescimento da CTB no período mais recente, quando inclusive passaram a contribuir para a sua queda (reduziram-se em 0,4 p.p. do PIB nos anos 2007-2012). A hipótese para explicar esta trajetória da arrecadação dos impostos sobre o lucro é de que houve um descolamento temporário em relação aos  fluxos correntes de produção que está relacionado a um boom  financeiro das receitas, vinculado aos ciclos de crescimento econômico no Brasil e dos mercados financeiros, mas que se reverteu após a crise internacional.

9. No período mais recente, são os impostos sobre o comércio e as transações internacionais que, impulsionados pelo crescimento do volume de importações na economia brasileira, passaram a constituir um fator explicativo relevante para o aumento da carga tributária, tendo contribuído com pouco mais de um terço da ampliação da carga tributária nos anos 2007-2012 (0,5 p.p. do total de 1,3 p.p.). Mostra-se ainda que as demais classes de impostos são pouco relevantes para explicar a tendência de elevação da carga tributária e que o principal efeito das mudanças na legislação tributária foi o redirecionamento da tributação sobre as transações  financeiras para as importações.

10. Sem dúvida, um aspecto relevante abordado ao longo do texto é que o período no qual predominavam aumentos da CTB por onerações tributárias encerrou-se em 2004 e que a política tributária do período mais recente caracterizou-se por elevados volumes de desonerações, constituindo um aparente paradoxo pouco tratado na literatura: por que a carga tributária tem crescido em meio a significativas desonerações? Este texto contribui para avançar nesta reflexão.

30 de abril de 2018

FUKUYAMA E O NACIONALISMO POPULISTA ATUAL!

(Uirá Machado – Ilustríssima – Folha de S.Paulo, 22) 1. Os dias de certeza de Francis Fukuyama há muito ficaram para trás. No final da década de 1980 e nos anos 90, o autor do célebre ensaio “O fim da história?” (1989) parecia convencido de que a democracia liberal representava o ápice da evolução ideológica da humanidade e se universalizaria como forma de governo. Passadas quase três décadas do artigo de 18 páginas na revista “The National Interest” (o interesse nacional), Fukuyama está preocupado. Ainda acredita na sobrevivência da democracia, mas considera que a ascensão de líderes populistas nacionalistas —Jair Bolsonaro (PSL) entre eles— constitui sério risco para o sistema político e econômicoque se difundiu no Ocidente.

2. Não lhe faltam motivos para isso, como fica claro em texto escrito para o Instituto de Pesquisa Credit Suisse e distribuído no Fórum Econômico Mundial de Davos deste ano. O professor de ciência política da prestigiosa Universidade Stanford registra que o número de países democráticos saltou de 35, em 1970, para quase 120 nos anos 2000. A partir de então, a onda começou a refluir. Do ponto de vista qualitativo, a situação piora. Fukuyama afirma que não se trata só de observar que o apoio à globalização tem sido substituído em muitos lugares por uma ênfase na soberania nacional. O problema é maior porque essa nova tendência ganha força dentro do próprio mundo democrático.

3. Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Holanda, Hungria e Polônia, cada um a seu modo, são exemplos de países ocidentais nos quais a agenda do nacionalismo populista ganha espaço crescente.  Com a engenhosidade típica de seus livros —sempre best-sellers mundiais—, Fukuyama lembra que a democracia liberal está construída sobre três pilares: um Estado que concentra poder e o utiliza pelo bem dos cidadãos; a igualdade de todos perante a lei; e mecanismos de controle do poder, como eleições livres.

4. Em seguida, chama a atenção para um aspecto grave: líderes populistas nacionalistas usam esse terceiro pilar para chegar ao poder e, a partir de dentro, corroer os outros dois. Ou seja, a legitimidade do processo democrático transforma-se em arma contra a própria democracia. “A única maneira de derrotá-los [os populistas nacionalistas] é criando uma mobilização para vencê-los nas urnas”, afirma Fukuyama em entrevista à Folha, por email.

5. É fácil falar, difícil fazer. O professor de Stanford sabe que políticos populistas se saem bem na comunicação com os eleitores. Nas redes sociais, tiram proveito da difusão de notícias falsas e da manipulação digital. Há esperança de que a informação verdadeira venha a prevalecer? “A defesa tradicional da liberdade de expressão depende da percepção de que, num livre mercado de ideias, as melhores vão vencer. Com os algoritmos das redes sociais, isso não é verdade”, diz. “Precisamos de mais curadoria na internet. Precisamos do retorno de editores e outros guardiães da informação, e as plataformas digitais precisam assumir sua responsabilidade.”

6. A manipulação, entretanto, é apenas parte da história. A depender do país, pode ser majoritária a parcela da sociedade disposta a apostar num candidato populista. Seu apoio “não vem dos pobres, mas de pessoas de classe média que perderam status devido à globalização, ou de grupos étnicos e raciais que deixaram de se sentir culturalmente dominantes”, diz o cientista político. A dimensão cultural é especialmente relevante. Para Fukuyama, mesmo quando o discurso anti-imigrantes expressa uma disputa por emprego, a motivação não é apenas econômica.

7. “Hegel era um observador melhor do que Marx. Ele viu que a luta por reconhecimento move a história, e não a luta por recursos. Reconhecimento é a grande questão nessa insurreição populista.”

8. Americanos e europeus conhecem bem esse cenário. Quando o governo acolhe imigrantes ou refugiados, ainda que lhes oferecendo estruturas precárias de assistência, fatias das populações locais reclamam do uso de impostos para benefício de estrangeiros e protestam contra o aumento da competição no mercado de trabalho —sobretudo quando há incentivos aos desfavorecidos. Mais que isso, interpretam a hospitalidade como falta de reconhecimento a grupos que sempre foram a base da identidade nacional. Isto é, os forasteiros estariam recebendo tratamento melhor do que os responsáveis por manter o país de pé.

9. Isso não significa que outros fatores devam ser desconsiderados. Desemprego e concentração de renda de fato têm aumentado, e a resposta dos governos chega quase sempre tarde demais para a população. A análise de Fukuyama é precisa para o contexto americano (Donald Trump) e britânico (Brexit), mas vale também para outros países da Europa e mesmo para o Brasil.

10. Embora não exista por aqui uma crise migratória, sempre houve problemas econômicos e um Estado ineficiente. Além disso, os mais pobres, ao melhorar de vida, passaram a cobrar mais dos governos e a recear a perda de suas conquistas. Ao mesmo tempo, grupos mais endinheirados, percebendo o movimento de ascensão social das classes baixas, sentiram que talvez deixassem de ser culturalmente dominantes.

27 de abril de 2018

“A ESQUERDA É O TITANIC DE 2018 – JÁ BATEU NO ICEBERG E AFUNDA EM MEIO AO RIDÍCULO”!

(Clovis Rossi – Folha de S.Paulo, 26) 1. Que a esquerda está em crise em boa parte do mundo não chega a ser uma grande novidade. Novidade é que significativa parcela do mais importante partido da esquerda brasileira, o PT, esteja contribuindo para esse cenário geral de crise com uma forte pitada de ridículo. Se a única ideia que os petistas podem oferecer é essa estupidez de acrescentar “Lula” ao nome, é melhor chamar o Tiririca para substituir a Gleisi Hoffmann na presidência do partido. Palhaçada por palhaçada, fiquemos com quem é mais autêntico.

2. Idiotice à parte, passemos a uma crítica fulminante à esquerda vinda de um acadêmico, Wanderley Guilherme dos Santos, de impecáveis credenciais esquerdistas e um propagandista entusiasmado do governo Lula. “Esse é um mundo no qual a esquerda do século 20 não tem mais lugar. Por isso toda esquerda no mundo hoje é obsoleta, conservadora e reacionária. Ela se organizou em termos de pensamento e ação no século 19 para concorrer com o liberalismo em termos de imaginário futuro de organização social.

3. O liberalismo oferecia o progresso, a esquerda oferecia a revolução pela ruptura. A queda do muro de Berlim destruiu esse projeto alternativo. A esquerda desde então tem estado na defensiva e não é à toa que sua palavra de ordem seja resistência”, escreveu esse cientista social para o último número de 2017 da trimestral revista Inteligência.

4. Sou obrigado a concordar com ele, até porque já escrevi inúmeras vezes que a esquerda —não só a brasileira— não conseguiu ainda sair dos escombros do muro de Berlim, mesmo passados quase 30 anos da queda. Foi também o fim do comunismo e é intrigante que mesmo a esquerda que não comungava com o comunismo soviético tenha se ressentido.

5. Se a obsolescência da esquerda tivesse provocado apenas a ascensão de uma direita civilizada, não haveria grandes problemas. Veja-se o Chile: a esquerdista Michelle Bachelet dá lugar ao direitista Sebastián Piñera, que, quatro anos depois, devolve a cadeira a Bachelet para que ela a entregue, após outros quatro anos, a Piñera. E o Chile vai em frente, tropeçando às vezes, mas sem uma crise tremenda como a que devorou o Brasil e ainda se faz sentir.

6. O problema é que o vácuo deixado pela esquerda foi preenchido pela extrema-direita, como escreve Dani Rodrik, um heterodoxo professor de economia política internacional na Escola de Governo John F. Kennedy, da mitológica Harvard: “Tivessem os partidos políticos, particularmente os de centro-esquerda, perseguido uma agenda mais ousada, talvez o crescimento de movimentos de direita, nativistas [nacionalistas], pudesse ter sido evitado”.

7. O raciocínio parece correto, mas o problema é que nem a direita (civilizada) nem a esquerda puseram de pé até agora uma agenda capaz de contrapor-se “às queixas que autocratas populistas exploraram com sucesso —desigualdade e ansiedade econômica, a percepção de declínio do status social e o abismo entre as elites e os cidadãos comuns”, para citar de novo Rodrik.

8. A esquerda brasileira acha mesmo que pôr “Lula” no nome é uma agenda suficiente?

26 de abril de 2018

REUNIÃO DA UNIÃO DE PARTIDOS LATINO AMERICANOS (UPLA) – 23-24/ DE ABRIL 2018, EM BRASÍLIA!

1. NICARÁGUA 
Rebelião popular contra Reforma da Previdência. A grande participação de jovens indica que a mobilização foi além da reforma da previdência. Repressão matou 30 manifestantes. Governo Ortega recuou da reforma e há sinais de desestabilização.

2. BRASIL 
Deputado José Carlos Aleluia apresentou o Instituto Guimarães (IG), que tem realizado pesquisas para o DEM. IG apresentou a metodologia que utiliza e elementos do cenário eleitoral e enfatizou os espaços abertos para um candidato à presidência com perfil conciliador, fora da polarização Bolsonaro x PT. Aleluia enfatizou a imprevisibilidade das eleições deste ano. Apresentou a situação paradoxal da economia brasileira estar indo bem com as reformas e a impopularidade do presidente Temer. 

3. ALFREDO KELLER. Consultor. 
3.1 Esquerda na América Latina vem destruindo o processo eleitoral democrático. O esquema dito bolivariano funciona como uma máfia no poder. Atenção ao México que pode eleger o populista de esquerda Lopez Obrador. A situação geoeconômica-politica, fronteira EUA-México, dependência econômica, pode inibir aventuras. De certa forma, a corrupção fez parte da competição Chávez x Lula por hegemonia na América Latina. Em certos momentos esta disputa se fez clara, como na reunião de Lula com países árabes que Chávez não foi convidado. Popularidade de Chávez, mesmo falecido, se mantém em 50%. Populismo hoje na América Latina tem legitimação cultural-religiosa. A política deles é de cultuar crenças. Uribe é o único líder no campo de centro-direita que confronta o chavismo. Piñera foi brando no primeiro governo e promete uma nítida diferenciação agora.  

3.2. UPLA precisa ter uma visão geopolítica. As eleições são apenas um dos vetores de enfrentamento do populismo na América Latina. A deslegitimização e a aplicação rigorosa da lei, sem receio, são outras. América Central, Equador, Argentina, Brasil, Peru, além da Venezuela, mostram isso.

3.3 Atenção aos elementos estruturais que permitiram a ascensão do chavismo, do populismo: 1) problemas estruturais; 2) Assistencialismo que explora ressentimentos sociais; 3) Débeis sistemas educativos. Educação informal passou a ser tão ou mais forte que a formal (escolas…); 4) Explorar alergia pública à iniciativa privada; 5) Estruturas políticas só eleitorais e parlamentares; 6) Debate político de espetáculo potencializado pelas redes sociais; 7) Vulnerabilidade à corrupção e a impunidade. 

3.4. Causas Conjunturais. 1) Surgimento de lideranças carismáticas, inclusive construídas em laboratório. Sala situacional de Havana é um exemplo; 2) Relatos sobre a pobreza; 3) Para eles só se consegue ascender por relações com o governo; 4) Uso hábil dos símbolos e da pós-verdade, e linguagem para as diferenças. Direita foi atraída por essa simbologia; 5) Uso Interno do medo; 6) Muito dinheiro da corrupção; 7) Ausência por muito tempo de uma frente democrática internacional; 8) Descolamento entre a questão popular e o sistema. 

3.5. ERROS. No campo particular não se consegue competir. Ilusão com a nova esquerda. Ilusão que integração da América Latina não gera riscos. Falta de líderes alternativos. Discurso passivo: Esperemos que isso vai passar. Desalinhamentos entre prioridades e comunicação (segurança jurídica, etc.?). Pesquisas mostram na Bolívia e Venezuela insatisfação com a democracia. O que o sistema oferece e o que as pessoas demandam. Perdas de valores e rejeição à política.

3.6. CHAVISMO definitivamente derrotado? Não, por enquanto a situação é transitória. Há que reestruturar. A democracia deve ser rentável aos pobres. Reforçar sistema educacional. Manter viva a imagem demagógica do socialismo bolivariano. Reconstruir partidos políticos. Renovar lideranças. Esquerda quer se apropriar da luta contra a corrupção. Frente internacional de defesa da democracia. Brainstorm para conformarmos um novo relato. Esquerda tem uma intelectualidade dedicada a se repensar. 

Obs1. Diferença entre proteção social e promoção social. 
Obs.2. Na Espanha, Ciudadanos cresce mais que Podemos e se aproxima do PP. Renovação do PP é inevitável.  
Obs.3. Os políticos não morrem. 
Obs.4. Agenda da Sociedade Civil por cima da do Estado. 
Obs.5. Guatemala sendo auditada pela ONG internacional CICI, referendada pelo Congresso. Grave.

4. NOVOS DESAFIOS PARA AMÉRICA LATINA

Desafios.

4.1. Reconstrução da institucionalidade democrática e da republica. Desmonte do populismo. Populismo não é republicano. Não há separação dos poderes. Retomar o Estado de Direito. Retomar as liberdades de expressão e iniciativa. Revisão do presidencialismo e da reeleição. Reeleição estanca os países. Direitos humanos para a esquerda é superoferta ilusória contra a pobreza. É uma bandeira que serve para qualquer coisa. Problema que se tem com estes relatos. Criaram mitos. Há que se criar um novo relato. Afetada a mobilidade interna dos partidos. Crescimento da delinquência.

4.2. Luta contra a corrupção. Vários presidentes acusados e condenados. Não é só Odebrecht. Veja FIFA, etc. Corrupção é um tema internacional que coloca em risco a própria soberania dos países. Na Guatemala, a organização internacional CICI, aprovada pelo Congresso, funciona como auditoria das instituições. Honduras, seguindo no mesmo caminho. Grave. Afeta a soberania das instituições.

4.3. Financiamento dos partidos políticos e das eleições. Financiamento legítimo e transparência.

4.4. Grupos evangélicos funcionando como partidos. Têm mais influência que Igreja Católica nos setores populares. Representam mais que 20% dos eleitores. Apoiam populista Lopez Obrador para presidente do México.

4.5. Redes Sociais são também uma nova forma de arranjo político. Há que regular.

4.6. Motivação à participação política. 1/3 das pessoas não participam: base da antipolítica. Abstenção maior que 30%.

25 de abril de 2018

FAKE NEWS: ANTES, AGORA…, E REDES SOCIAIS! 

1. Espalhar mentiras e boatos denegrindo pessoas ou instituições é prática mais velha que a “Sé de Braga”, como repetia e repete um ditado popular. Marat, um agitador da revolução francesa, com seu panfleto Amigo do Povo, espalhava mentiras, boatos e até verdades. E agitava as ruas. 

2. Em Paris do século 18, as fofocas da corte -mentiras e verdades- eram espalhadas por panfletos que circulavam com grande sucesso. A polícia do rei tinha até agentes secretos para identificar e prender os autores. 

3. Antes de Gutenberg, e com altas taxas de analfabetismo, os boatos -mentiras e verdades- eram espalhados oralmente. Assim foi na idade média e antiga. A disputa pelo poder desde sempre, foi acompanhada pelos boatos -mentiras e verdades. Com os aviões, a partir da Primeira Guerra Mundial, os panfletos eram lançados dos aviões com mentiras e verdades. 

4. A revolução iraniana dos aiatolás levou milhões às ruas através de fitas Cassetes. A Arte da Guerra, de Sun Tzu – 500 A.C., ensinava -e ensina- que a comunicação motivando os seus e deprimindo os outros é fundamental. Na eleição brasileira de 2010, milhões de panfletos e e-mails espalhados pelo PT et caterva, divulgavam uma lista de deputados que teria apresentado uma lei para acabar com o 13 salário. Uma mentira deslavada, pois o 13 salário é cláusula pétrea da Constituição. Dezenas de deputados perderam o mandato por isso. 

5. Evidentemente que os meios de comunicação, hoje e desde sempre, nunca ficaram imunes às fake news. Balzac, em seu clássico As Ilusões Perdidas (1836-1843), em função de fake news da época, denuncia o jornalismo, apresentando-o como a mais perversa forma de prostituição intelectual.

6. Então qual a novidade das Fake News e de toda polêmica gerada nos últimos anos, e especialmente com a eleição de Trump? A cada momento histórico, a multiplicação dos boatos -verdades e mentiras- eram multiplicadas em função da tecnologia disponível. O que inclui a capacidade de comunicação oral.

7. O frei Girolamo SAVONAROLA, no final do século 15, “incendiou” Florença, submeteu os Medicis e atordoou o Papa, com seus pregões. O populismo -incluindo o fascismo e o nazismo- sempre recorreu à retórica, a pregação demagógica e mentirosa. 

8. O que ocorre hoje com a internet e as redes sociais é a gigantesca capacidade de multiplicação eletrônica das fake news. Essa é a novidade. Fazendo uma analogia bélica, antes se usava espadas, pistolas, rifles, fuzis, metralhadoras, canhões, mísseis, bombas, etc. As redes sociais são como a bomba atômica, seu impacto atinge milhões de pessoas. A dura reação às armas químicas tem o mesmo sentido.  

9. O uso das redes sociais para propagar mentiras -as fake news- com uma capacidade mínima de filtragem pelos atingidos, e pelo caráter individual da multiplicação delas, traz como novidade não a propagação de mentiras, mas a enorme multiplicação delas com uma capacidade -ainda- mínima de identificação e reação. Essa é a novidade. 

10. Marat acabou na banheira assassinado (ver no Museu de Bruxelas o quadro de Louis David), Savonarola acabou na fogueira, paradoxalmente da mesma forma que os objetos e textos que denunciava, na Fogueira das Vaidades. Mas certamente estes são métodos que não se usam mais, desde a Inquisição. Espera-se. 

Entrevista de Cesar Maia ao jornal O Globo

Em janeiro deste ano o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), descartou a possibilidade de o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes se filiar ao DEM, afirmando que o partido era “muito pequeno” para ele e Cesar Maia. Três meses depois, contrariando essa constatação, Paes trocou o PMDB pelo DEM, com o objetivo de disputar o governo do estado. Cesar, que atualmente é vereador, diz que a reviravolta foi possível só porque ele resolveu sair de cena. O pai de Rodrigo Maia afirma que não se opôs à volta de seu ex-afilhado e atual desafeto a seu berço político, mas também não participou das negociações conduzidas pelo filho. E anuncia que não concorrerá a nenhum cargo nestas eleições. Ele era cotado para disputar o governo ou o Senado.

— Eu transferi o poder de decisão para o partido e não há necessidade nenhuma de reconciliação. Eu não tenho rancor de ninguém, o tempo passa e a gente vai levando — disse Cesar, que recebeu O GLOBO, na tarde da última quinta-feira, no gabinete da liderança do DEM na Câmara Municipal

Ele reagiu com indignação, no entanto, ao ser questionado sobre a possibilidade de ser vice em uma chapa encabeçada por Paes:

— É o cachorro que abana o rabo ou o rabo que abana o cachorro? Não tem sentido isso. Fui prefeito três vezes e deputado federal duas vezes. Como podem pensar que eu vou pegar carona em uma candidatura?

Procurado pelo GLOBO para falar sobre sua filiação ao DEM e a relação com Cesar Maia, Paes não respondeu.

Paes começou na política na Juventude Cesar Maia e participou da primeira campanha de seu mentor para a Prefeitura do Rio, em 1992. Após a vitória, foi nomeado subprefeito da Barra e Jacarepaguá. Os dois começaram a se distanciar dez anos depois, quando Paes deixou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, na segunda gestão de Cesar, para disputar novo mandato de deputado federal. E trocou o PFL pelo PSDB. Mas o rompimento definitivo veio em 2008, quando Paes se elegeu prefeito fazendo duras críticas à administração Cesar Maia.

— Na campanha de 2008 era natural que ele me criticasse, eu estava desgastado. Mas a partir daí… Ele nasceu do meu útero, veio na minha cadeirinha de balanço, o que eu esperava era que, passada a eleição, ele, vitorioso, tivesse a nobreza de esquecer o derrotado. O derrotado não é para ser atacado depois da eleição, mas houve continuidade até 2016. A Cidade da Música, por exemplo, não precisava ir para a primeira página do GLOBO. Faz auditoria, mas não precisa vocalizar — diz Cesar.

Em 2012, Paes se reelegeu derrotando Rodrigo Maia, que chegou a chamá-lo de “ingrato”. Paes respondeu que eleição não era “terapia de grupo”. A reaproximação com Rodrigo — de quem Paes é padrinho de uma das filhas — começou em 2014, quando o DEM fez parte do “Aezão”, movimento para eleger o senador Aécio Neves (PSDB-MG) presidente da República, e Luiz Fernando Pezão (PMDB) governador do Rio.

Cesar, por sua vez, permaneceu crítico à administração de Paes, a quem já chamou de “Dudu Milícia”, e lançou um livreto intitulado “Ao povo carioca — Prefeitura do Rio 2009-2012: Um desastre estratégico e de gestão”.

Em 2016, apesar de ter disputado a reeleição para a Câmara Municipal na mesma coligação do candidato do PMDB à Prefeitura, Pedro Paulo, afilhado de Paes, Cesar não fez campanha para ele.

— O Pedro Paulo criticava a minha administração. Eu votei no (Marcelo) Freixo (PSOL) no primeiro e no segundo turno. Minhas netas queriam votar no Freixo e diziam: “Meu pai (Rodrigo Maia) quer que eu vote no Pedro Paulo” — disse Cesar, em cuja casa moram duas filhas de Rodrigo, uma de 21 e outra de 23 anos.

Cesar disse que aceitaria gravar uma mensagem de apoio para eventual candidatura de Paes. No momento, o ex-peemedebista está inelegível por decisão do Tribunal Regional Eleitoral. Ainda cabe recurso ao Tribunal Superior Eleitoral:

— Eduardo agora é do partido, então me cabe cumprir o que o partido determinar. Se eu chegar em um lugar e o partido colocar uma câmera de televisão, colocar um texto no teleprompter (dispositivo para ler um texto na TV), eu vou ler. Ponto final.

Apesar disso, Cesar diz não poder afirmar se Paes seria um bom governador:

— Não posso falar, não sei o que ele está pensando do estado. Tem que esperar para ver o que ele vai propor.

Questionado se Paes foi um bom prefeito, responde que isso não tem importância na campanha para governador:

— Eu já vi muitos bons prefeitos serem péssimos governadores. O Pezão foi um excelente prefeito de Piraí e estamos vendo o que está acontecendo.

No último dia 9, após participar de evento na Associação Comercial do Rio, Rodrigo Maia foi questionado se, desta vez, o pai faria campanha ou repetiria o comportamento de 2016.

— Vamos construir para que desta vez tenha uma integração maior — disse o presidente da Câmara.

Cesar diz que não conversou com Paes durantes as negociações para filiação ao DEM nem depois. Segundo ele, os dois dialogaram “pouquíssimas” vezes depois do rompimento. Uma delas foi na campanha de 2014, quando Pezão e o presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, teriam pedido para Cesar procurar Paes. O então prefeito, que na época era do PMDB, estava apoiando Carlos Lupi (PDT) para o Senado, quando o candidato da chapa peemedebista era Cesar. O encontro ocorreu na Gávea Pequena, residência oficial do prefeito do Rio. Outra ocasião foi em dezembro de 2016, quando Rodrigo levou Paes à casa de Cesar. Segundo o anfitrião, Paes disse que tinha tomado a decisão de disputar para governador em 2018 e queria ouvir sua opinião.

Paes deixou o PMDB na tentativa de se desvencilhar do desgaste do partido no estado, que está com suas principais lideranças presas, como o ex-governador Sérgio Cabral. Os peemedebistas também arcam com a falência do estado, administrado por eles nos últimos 15 anos.

Esta é a quinta mudança de partido de Paes, que já passou pelo PV, PFL, PTB, PSDB e PMDB. Antes de fechar com o DEM, o ex-prefeito considerou voltar para o PSDB e estava em negociações avançadas com o PP. Seu aliado preferencial, porém, era Rodrigo Maia, que testa seu nome para disputar a Presidência da República. Como presidente da Câmara, ele conseguiu aumentar a bancada federal de 21 para 44 deputados.

— O DEM virou um partido grande, não pode ver em cada deputado, cada vereador, o que o incomoda — disse Cesar, ao comentar a filiação de Paes.