20 de junho de 2018

RELATÓRIO DA REUNIÃO DO COMITÊ EXECUTIVO DA ORGANIZAÇÃO DEMOCRATA CRISTÃ DAS AMÉRICAS (ODCA) – BOGOTÁ, 13-14/06/2018!

1. Informe do presidente da Organização Democrata Cristã das Américas (ODCA), La Torre, sobre a situação política de diversos países, destacando a grave situação da Venezuela e da Nicarágua e nenhum avanço em Cuba.

2. O informe incluiu críticas à IDC e Pastrana, seu presidente, em relação ao ingresso de Creo do Equador e Renovacion Nacional do Chile, alegando que as decisões de Malta não constam em nenhuma ata. Presentes, a ex-presidente e o atual presidente do PDC do Chile, base das críticas.

3. Andres Hernandes, de Cuba, e Cesar Maia, do Brasil, discordaram. Andres explicou que a natureza da IDC não era a mesma da ODCA. Cesar Maia enfatizou que a IDC é de centro e incorpora partidos islâmicos, etc. E sublinhou que se está generalizando a reação do PDC do Chile que, aliás, desde a reunião de Roma se afastou da IDC, depois de longa inadimplência de cotas.

4. O Informe do presidente da ODCA incluiu as dificuldades que vem tendo com a F.  Konrad Adenauer, que está dando um tratamento à ODCA, hoje, muito diferente do que dava antes.

5. Na lista de participação do encontro, partidos mais relevantes são P. Conservador da Colômbia, Democratas do Brasil, PDC do Chile, PAN do México, PAC da Costa Rica, Partido Nacional de Honduras e PP do Panamá.

6. Na eleição parlamentar de março, na Colômbia, houve uma renovação de 70% no Senado. Quem perder o segundo turno presidencial assume como senador.

7. Efraim Cepeda do P. Conservador da Colômbia, presidente do Senado (vice regional da ODCA), concordou com Cesar Maia e disse que a questão da cocaína é o grande desafio do próximo governo. A área plantada dobrou (hoje 220 mil hectares) e o micro-tráfico cresceu muito, envolvendo jovens e menores.

8. Uribe se fortaleceu. E para evitar o risco da esquerda, o Partido Conservador apoia Duque, candidato de Uribe, no segundo turno. Cláusula Petro é como se denomina os riscos de sua vitória.

9. Corrupção atingiu duramente o Partido de la U. Presidente Santos -pra valer- não apoiou o candidato de seu partido, mas Fajardo, de centro, que quase vai para o segundo turno. Fajardo liberou seus eleitores e diz que vai votar em branco no segundo turno.

10. Haverá eleição para Controlador Geral. Proposta de Cepeda, aceita, é que seja escolhido entre as vítimas das FARC. A anistia aos guerrilheiros das FARC não alcança atos posteriores a 01/12/2016, o que gerou reação das FARC pelo envolvimento de um dirigente nacional que tem que ser extraditado aos EUA por tráfico de drogas.

11. Senado disponibiliza um aplicativo que dá ampla transparência à atividade dos senadores e acesso livre dos eleitores.

12. México, presidenciais em 1 de julho. Não há segundo turno. 80% acham que o país vai mal. Corrupção e impunidade no governo federal. Violência contra políticos, mais de 100 assassinados. Lopes Obrador, candidato de esquerda populista, lidera pesquisas. Anaya, candidato do PAN, chama a voto útil.

13. Uso total da máquina federal contra Anaya, inclusive pela PGR – Procuradoria Geral da República. Denúncias vazias procuram enfraquecer Anaya.

14. Nicarágua num total descontrole. Greve geral convocada, incluindo empresários. Situação insustentável. A mesada do petróleo acabou. Sergio Rodrigues: Ortega não tem vida alternativa ao Poder.

15. Honduras. Partido Nacional reeleito no segundo turno, apesar das tentativas de fraude e do uso das maras e gangues para intimidar.

16. PDC do Chile. Reforma eleitoral o afetou duramente com registro automático e voto voluntário, elevando o não-voto a 50%. Oposição independente a Piñera. Foram isolados para a eleição de novembro. Improvisaram a lista parlamentar. Há que ajustar e modernizar os temas mantendo a doutrina.

17. Hoje há que se ter uma organização dinâmica. Usar redes sociais. Erro incluir o p. Comunista na coligação anterior. Saída de dois grandes dirigentes -Soledad e Guthemberg- não afetou. Não foram seguidos. Duras críticas à decisão da IDC de incorporar a Renovacion Nacional.

18. Venezuela. Uma catástrofe. Se um deputado viaja ao exterior, perde o passaporte. Reforma ministerial completa para criar expectativa. Há que ter um programa junto aos países para absorver migrantes com dignidade. Tradicional Copei teve sua sigla sequestrada, proibida.

19. Argentina. Câmara dos Deputados aprovou a despenalização do aborto num placar apertado: 129 x 125. Vai para o Senado, onde deve ser aprovada. Greve dos caminhoneiros. Crise econômica. Inflação volta a crescer. Juros e câmbio num patamar alto.

20. Congresso da ODCA renovando a presidência e comitê executivo no final de maio de 2019 em San Jose da Costa Rica.

19 de junho de 2018

“DE 1990 A 2014, NO CONGRESSO, REELEIÇÃO NÃO É REGRA, MAS EXCEÇÃO”!

Marcos Augusto Gonçalves – Folha de S.Paulo, entrevista uma dupla de pesquisadores brasileiros, Eduardo Cavaliere, 23, e Otavio Miranda, 24, que arregaçou as mangas e partiu para levantar e analisar os números relativos à renovação do Congresso de 1986 a 2014 —o que eles chamam de “renovação orgânica” do Legislativo. Ele concluíram que:

1. No Congresso, reeleição não é regra, mas exceção; 75% dos deputados federais não ultrapassam o segundo mandato.

2. O excesso de nacionalização do debate público negligencia a complexidade da política local. Erros de avaliação do desempenho dos partidos levam a conclusões equivocadas sobre o Congresso. Por exemplo, apesar do bom resultado em eleições presidenciais, ao longo da história o pior desempenho eleitoral do PT, por regiões, é no Nordeste. O partido, aliás, elegeu mais deputados federais que o PSDB em São Paulo.

3. Um número muito baixo (2,88%) de deputados federais venceu eleições majoritárias seguintes ao mandato no Legislativo.

4. Não existe nenhum exemplo concreto na história brasileira em que o fortalecimento conjunto de jovens, figuras inexperientes e ativistas tenha desaguado em imediata melhora qualitativa na resolução dos principais gargalos da vida pública.

Na entrevista que se segue, os dois apresentam os diversos aspectos da pesquisa e comentam o debate acerca da renovação política no país.

MAG: Diversos movimentos têm defendido a necessidade de levar gente nova para a política no Brasil. Também se difunde a ideia de que um outsider seria uma solução contra a política tradicional. O que os dados levantados por vocês dizem sobre essas visões? Como tem sido a renovação do Congresso, por exemplo?

EC/OM: Há uma diferença significativa entre a percepção geral e os números sobre a renovação no Congresso. Ao compararmos a quantidade de reeleições de deputados, numa série histórica, os números indicam que grande parte dos congressistas têm “vida curta”, contrariando, por exemplo, a percepção de que apenas “raposas velhas” ocupam a Câmara.

De 1990 a 2014, no Congresso, reeleição não é regra, mas exceção. Nesse período, cerca de 25% dos deputados federais ultrapassaram o segundo mandato. Quer dizer, há muito mais deputados eleitos uma ou duas vezes do que figuras reeleitas indefinidamente. No mesmo período, cerca de 21% dos senadores foram reeleitos. Números bem menores do que a percepção popular.

Entre os deputados eleitos nesse período, em torno de 57% estiveram na Câmara por um mandato e 21% conquistaram um segundo, reeleitos de maneira contínua ou após um breve período de interrupção.

No Brasil, o percentual de deputados eleitos cai bastante conforme se adicionam mandatos. Aproximadamente 11% alcançaram a marca dos 3 mandatos, 5,3% conquistaram 4 mandatos, 3,3% tiveram 5 e só 2,4% chegaram a 6. [Para comparar,] nos EUA, na legislatura atual, apenas 13% da Câmara é representada por deputados de primeiro mandato.

MAG: Temos então muita rotatividade no Congresso?

EC/OM: A verdade é que temos um dos Legislativos mais rotativos do mundo. Em relação a democracias consolidadas, a renovação do Congresso brasileiro está acima da média de países comparáveis.

Em 2014, 53% dos deputados federais brasileiros foram reeleitos, enquanto que 95% dos congressistas americanos, 90% dos britânicos, 88% dos espanhóis, 80% dos australianos e 72% dos canadenses se reelegeram. A baixíssima renovação em cada um desses países é razão de atraso ou ausência de progresso nacional? Improvável.

18 de junho de 2018

PREFEITURA DO RIO QUER PRIVATIZAR O CENTRO DE TRADIÇÕES NORDESTINAS/FEIRA DE SÃO CRISTÓVÃO!

(Globo, 16) 1. Principal reduto nordestino no Rio desde que foi criada, em 1945, a Feira de São Cristóvão, como é chamado o Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, espera receber até um milhão de pessoas na comemoração da maior festa de São João da cidade, que será aberta às 19h30 desta sexta-feira e só acaba em agosto.

2. Mas a esperança dos 634 feirantes de ver o lugar lotado em sua época mais agitada agora se mistura à preocupação com o futuro. Muita coisa deve mudar até o fim do ano no tradicional ponto turístico, visitado por três milhões de pessoas anualmente, mesmo público do Cristo Redentor.

3. Será lançado o edital de licitação para escolher uma empresa interessada em gerir o espaço, com repasses para a prefeitura, que alega nunca ter recebido nenhuma contrapartida por ceder o pavilhão onde a feira passou a funcionar em 2003 — antes, as barracas ficavam do lado de fora da estrutura de concreto.

4. Por outro lado, a prefeitura não cumpria suas obrigações com a feira firmadas na Lei 2052/93 e também no decreto 27.416, de 2006, criado para “fortalecer a Feira Nordestina de São Cristóvão” e “promover a divulgação de aspectos culturais, sociais e folclóricos do Nordeste brasileiro”. A empresa que vencer o edital será obrigada a realizar uma série de obras de melhoria. A mais importante será a troca da planta elétrica do lugar, planejada para suportar um consumo muito inferior ao atual.

5. Para Messina (secretário da Casa Civil da Prefeitura), o novo modelo de gestão vai aumentar o profissionalismo e o potencial turístico da feira, além de melhorar sua infraestrutura.— Todos os dias ocorrem em média quatro sobrecargas elétricas na feira. São curto-circuitos que podem até causar incêndios. A prefeitura poderia prorrogar o contrato com a empresa dos geradores de luz, mas não vai. Quem consome é que deve pagar — afirma o secretário. — Queremos uma feira profissional, que gere recursos para o município e ofereça segurança aos visitantes.

6. Segundo o secretário, a Lei 2052, criada em 1993 para estimular o crescimento da feira, pode ser alterada, e o decreto 27.416 terá que ser revogado. O decreto estabelece que os próprios feirantes são responsáveis por gerir o espaço, por meio de uma comissão composta por cinco representantes eleitos.

7. O mossoroense Gilberto Teixeira, de 64 anos, autor de três livros sobre a história da Feira de São Cristóvão, onde possui uma barraca desde 1997, critica a decisão. Ele também é diretor executivo do Instituto Cultural da Feira, criado há doze anos para produzir os projetos e eventos culturais do espaço.

8. — Sem democracia, não há legalidade. O primeiro a ser feito pelos feirantes é organizar uma eleição e escolher os cinco representantes legais da feira, como determina a Lei 2052. Depois disso, vamos conversar com os cinco eleitos para saber como proceder — afirma Gilberto, um dos líderes do movimento que conquistou o pavilhão em 2003.

9. Para o vereador e ex-prefeito Cesar Maia, autor do decreto 27.416, a mudança no modelo de gestão “pode ter consequências graves”.— Messina e Crivella deveriam conhecer a história da Feira de São Cristóvão. Eram barracas espalhadas na praça e nas calçadas fora do Pavilhão. Havia problemas graves de higiene e de violência.   A inclusão deles no Pavilhão com projeto e obras pagas pela Caixa Econômica e a Prefeitura, ocorreu num acordo de participação conforme o decreto registra. Ignorar a história e a parceria ocorrida e realizar uma simples privatização pode ter consequências graves em função de resistências e conflitos.

15 de junho de 2018

SÍRIA: 5,6 MILHÕES DE REFUGIADOS!

Mais de 920.000 deslocados em 2018. Um recorde desde o início do conflito

Estatísticas da ONU dão conta que, no total, 6,2 milhões de sírios abandonaram as suas casas no interior do país e cerca de 5,6 milhões continuam refugiados nos países vizinhos

Mais de 920.000 pessoas foram deslocadas na Síria durante os primeiros quatro meses do ano, um número recorde desde o início do conflito há sete anos, anunciou esta segunda-feira a ONU.

“Assistimos a um deslocamento em massa no interior da Síria (…) De janeiro a abril houve 920.000 novos deslocados”, declarou Panos Moumtzis, coordenador humanitário da ONU para a Síria, numa conferência de imprensa em Genebra.

“É o maior número de deslocados num curto período de tempo desde que o conflito começou”, adiantou.

No total, 6,2 milhões de sírios abandonaram as suas casas no interior do país e cerca de 5,6 milhões continuam refugiados nos países vizinhos, de acordo com os números das Nações Unidas.

Moumtzis precisou que os novos deslocados foram obrigados a partir devido à escalada dos combates no antigo bastião rebelde de Ghouta oriental, nos arredores de Damasco, e na província de Idleb (noroeste), que é quase na totalidade controlada por islamitas e grupos rebeldes extremistas.

Moumtzis teme que a situação em Idleb, onde vivem 2,5 milhões de pessoas, possa agravar a situação.

“Estamos preocupados por ver que 2,5 milhões de pessoas estão a ser cada vez mais empurradas para a fronteira turca”, disse, receando que “talvez não se tenha visto o pior da crise”.

Após a ofensiva bem-sucedida do regime contra a cidade de Alepo e na Ghouta oriental, os rebeldes e civis foram transferidos para Idleb, mas para os habitantes desta cidade “não há outra Idleb para onde os enviar”, sublinhou Moumtzis.

A guerra na Síria, desencadeada em 2011 pela repressão de manifestações pacíficas a favor de reformas democráticas, causou mais de 350.000 mortos e obrigou milhões a abandonarem as suas casas.

14 de junho de 2018

“NOVA DIREITA NA EUROPA CRESCE EMBALADA POR JOVENS! GRUPOS EXTRAPARLAMENTARES FORMAM BASE DE APOIO A PARTIDOS EXTREMISTAS”!

(Graça Ruether – Berlim – Globo, 11) 1. Um ano depois da vitória de Emmanuel Macron na França, que teve o efeito de frear provisoriamente a ascensão de Marine Le Pen, o fantasma da extrema-direita volta a assustar a Europa. Em Áustria, Itália, Eslovênia, Bulgária ou Dinamarca, populistas de direita participam de governos ou estão preparando-se para assumir o poder. No Leste Europeu, o grupo Visegrad, formado por Polônia, Hungria, República Tcheca e Eslováquia, desafia a União Europeia com a sua política de tolerância zero com refugiados.

2. Mas o que mais preocupa especialistas é a expansão de uma rede de organizações extraparlamentares com representantes em todos os setores da sociedade que formam a base de apoio aos partidos extremistas. Essa nova cultura juvenil é de extrema-direita, e grupos racistas (como o “movimento identitário”) ganharam fôlego com o tema refugiados e já se veem como a reedição da geração de 68, com a diferença de que, ao contrário dos seus pais, preferem hoje o patriotismo e uma sociedade homogênea do ponto de vista étnico.

3. Para Johanna Bussemer, da Fundação Rosa Luxemburgo, os partidos e organizações da “nova direita” são perigosos porque cumprem as suas ameaças, como indica a última decisão do governo austríaco de aliança conservadora/extrema-direita de fechar mesquitas e deportar imãs, sob a acusação de praticarem o “Islã politico”.

4. Considerado pelo embaixador americano em Berlim, Richard Grenell, um “popstar”, o chanceler austríaco, Sebastian Kurz, começou a pôr em prática o programa de governo negociado com o extremista Partido da Liberdade, ao anunciar o fechamento de sete mesquitas. Como explicou o próprio Kurz, que na próxima semana visita Berlim, a decisão visa a evitar radicais muçulmanos e o surgimento de “sociedades paralelas”. Mas seus críticos, como Helgard Kramer, socióloga e cientista política da universidade da cidade tcheca de Ostrov, reagiram alarmados: — Esse programa poderia ter saído também da pena do movimento identitário austríaco.

5. Os identitários da Áustria são um dos mais fortes da Europa de um movimento que vê a homogeneidade étnica do continente ameaçada pelo excesso de imigrantes de outras etnias. Como o Pegida de Dresden, atuam através da sua rede de apoiadores que praticam ações de grande visibilidade no estilo da ONG Greenpeace para aumentar a popularidade do grupo.

6. Um exemplo do efeito do trabalho das bases da nova direita é Götz Kubitschek, proprietário da Editora Antaios. Com o livro “Finis Germania”, do jornalista Peter Sieferle, a Antaios ajudou o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) e os identitários. A legenda foi eleita pela primeira vez para o Parlamento federal e os identitários ficaram conhecidos em todo o país com a ajuda do mecenas.

7. “Finis Germania” é um best seller que aborda o “perigo” do desaparecimento da etnia alemã em consequência da imigração em massa, tema que mais movimenta a nova direita. Kubitschek, de 46 anos, é o seu ideólogo. Com a editora — que tem outros títulos, como a revista “Sezession” — ele ajuda a tornar populares os temas de interesse da direita. O debate sobre os assuntos lançados por Kubitschek influencia os jovens a aderir aos partidos e organizações extraparlamentares. — Esses jovens da nova direita são a nova geração de 1968. Em comum com os 68, eles têm o interesse pela música pop. O rock de extrema-direita é apreciado até por jovens que não se interessam por política, como os irmãos de Daniel Fiss, vice-chefe do movimento identitário da Alemanha.

8. Mas aí terminam os pontos em comum. Para a nova direita, um elemento importante do espírito patriótico é o restabelecimento da homogeneidade étnica através da “frente ideológica de combate à imigração e ao multiculturalismo”. — Não somos monstros. Queremos apenas abrir o debate sobre quanta imigração a Europa é capaz de absorver — afirmou Fiss. A biografia do estudante de ciências políticas da Universidade de Rostock é um exemplo sobre como a nova direita procura ser simpática, evita as polêmicas como elogiar nazistas ou negar o Holocausto, mas tem no seu programa a mesma meta racista.

9. Os identitários atuam desde o ano passado no Mediterrâneo para salvar os fugitivos da morte por afogamento, mas devolvendo-os à África. Para Johanna Bussemer, a nova direita está crescendo também por motivos econômicos. — A desigualdade social aumentou na Europa, e os mais pobres ficam vulneráveis ao apelo dos extremistas. Isso explica porque ela é mais forte nos países do Leste Europeu — sustentou.

10. Mas Fiss, dono de uma gráfica, destacou que ele e seus colegas não têm motivação apenas material. O estudante vive com os pais e dois irmãos na cidade portuária de Rostock, onde praticamente não vivem imigrantes. Mas ainda assim ele se engaja na extrema-direita contra a ameaça fantasma. — Cada país tem o direito de decidir se quer ou não imigrantes — afirmou Fiss.

11. Nos eventos do grupo, a formulação é menos cautelosa. No estilo do livro “Finis Germania”, os encontros são realizados com debates contra a globalização e a favor da homogeneidade étnica. Fundado na França, em 2003, o movimento identitário expandiu-se rapidamente na Europa. No início, não foi visto como extremista pelo seu distanciamento dos nazistas clássicos. — Nós não negamos o Holocausto, consideramos a ditadura nazista criminosa, mas assim mesmo não queremos ver as nossas cidades com grandes populações de minorias estrangeiras — concluiu.

13 de junho de 2018

ELEIÇÕES E VOLATILIDADE DA OPINIÃO PÚBLICA! ELEIÇÃO PRESIDENCIAL 2018! 

1. Nos últimos anos, as pesquisas eleitorais divulgadas mostram números que muitas vezes ficam longe do resultado eleitoral. Independente de inversão ou não dos números, a diferença proporcional entre as intenções de voto e o voto tem sido significativa.

2. Partindo do princípio que as pesquisas dos institutos de maior qualidade e tradição representam a opinião dos eleitores em cada momento, não há nenhuma razão para que após as eleições a decisão de voto tomada tenha sustentabilidade no tempo.

3. O regime parlamentarista, pela flexibilidade que incorpora, pode corrigir essa variação num período maior.

4. Mas o regime presidencialista não tem essa flexibilidade, e a inversão da opinião pública pode produzir forte desgaste dos governos e crises políticas, como se tem visto mundo afora.

5. O sistema eleitoral é muito menos volátil no voto distrital puro, como no Reino Unido e nos Estados Unidos. O voto proporcional é muito mais volátil, especialmente nos dias de hoje. E muito mais na medida que essa volatilidade ocorre entre os partidos e até na existência dos mesmos, como na Itália e Espanha, recentemente, para citar apenas 2 exemplos de democracias amadurecidas. E Europa Central e América Latina em geral.

6. Os Institutos de Pesquisa têm explicado essas diferenças entre tendências nas pesquisas e resultados, afirmando que, cada vez mais, os eleitores deixam para a última hora suas decisões.

7. Poder-se-ia supor que entre as pessoas menos informadas ou menos ligadas ao processo político e eleitoral, a volatilidade tenderia a ser maior.

8. Mas em 2018, na campanha pré-eleitoral brasileira para presidente, isto ocorre entre os eleitores mais bem informados e mais conectados ao processo eleitoral, pois os resultados podem atingi-los.

9. Por exemplo, a “XP Investimentos” tem realizado sondagens mensais com investidores institucionais: 204 agora no início de junho. Num período de 30 dias ou pouco mais, a sondagem da XP Investimentos mostrou uma enorme variação nas resposta sobre “quem será o vencedor da eleição presidencial de 2018?”.

10. Em abril, Alckmin tinha 48% e nos dias 4/5 de junho 31%. Bolsonaro, em abril, tinha 29% e no início de junho 48%. Ciro Gomes tinha, em abril, 1% e agora no início de junho 13%. São números e diferenças enormes num espaço tão curto de tempo e entre pessoas das mais bem informadas, qualificadas e interessadas.

11. A sondagem da XP Investimentos, com essa gigantesca volatilidade em 30 dias, sugere que, mais do que nunca, as pesquisas de opinião serão apenas sinalizadores e que a decisão final do eleitor virá em cima da urna. Acompanhem sem ansiedade.

12 de junho de 2018

“A CRISE DA VELHA ORDEM POLÍTICA ESTÁ ADOTANDO MÚLTIPLAS FORMAS”! 

(Manuel Castells, sociólogo e referência em teoria da comunicação, professor emérito da Universidade da Califórnia em Berkeley – Trecho de RUPTURA – Ilustríssima- Folha de S.Paulo, 10) 1. Em tempos de incertezas costuma-se citar Gramsci quando não se sabe o que dizer. Em particular, sua célebre assertiva de que a velha ordem já não existe e a nova ainda está para nascer. O que pressupõe a necessidade de uma nova ordem depois da crise.

2. Mas não se contempla a hipótese do caos. Aposta-se no surgimento dessa nova ordem de uma nova política que substitua a obsoleta democracia liberal que, manifestamente, está caindo aos pedaços em todo o mundo, porque deixa de existir no único lugar em que pode perdurar: a mente dos cidadãos.

3. A crise dessa velha ordem política está adotando múltiplas formas. A subversão das instituições democráticas por caudilhos narcisistas que se apossam das molas do poder a partir da repugnância das pessoas com a podridão institucional e a injustiça social; a manipulação midiática das esperanças frustradas por encantadores de serpentes; a renovação aparente e transitória da representação política através da cooptação dos projetos de mudança; a consolidação de máfias no poder e de teocracias fundamentalistas, aproveitando as estratégias geopolíticas dos poderes mundiais; a pura e simples volta à brutalidade irrestrita do Estado em boa parte do mundo, da Rússia à China, da África neocolonial aos neofascismos do Leste Europeu e às marés ditatoriais na América Latina.

4. E, enfim, o entrincheiramento no cinismo político, disfarçado de possibilismo realista, dos restos da política partidária como forma de representação. Uma lenta agonia daquilo que foi essa ordem política.

5. De fato, a ruptura da relação institucional entre governantes e governados cria uma situação caótica que é particularmente problemática no contexto da evolução mais ampla de nossa existência como espécie no planeta azul. Isso no momento em que se questiona a habitabilidade deste planeta a partir da própria ação dos humanos e de nossa incapacidade de aplicar as medidas corretoras, de cuja necessidade estamos conscientes.

6. E no momento em que nosso extraordinário desenvolvimento tecnológico entra em contradição com nosso subdesenvolvimento político e ético, pondo nossas vidas nas mãos de nossas máquinas. E em que as condições ecológicas nas megalópoles, que concentram uma proporção crescente da população mundial, podem provocar, e de fato provocam, pandemias de todo tipo, que se transformam em mercado para as multinacionais farmacêuticas, esse malévolo poder que raptou e deformou a ciência da vida para seu exclusivo benefício.

7. Um planeta no qual a ameaça de um holocausto nuclear continua vigente pela loucura de endeusados governantes sem controle psiquiátrico. E no qual a capacidade tecnológica das novas formas de guerra, incluída a ciberguerra, prepara conflitos possivelmente mais atrozes do que os vividos no século 20. Sem que as instituições internacionais, dependentes dos Estados, e portanto da pequenez de objetivos, da corrupção e da falta de escrúpulos daqueles que os governam, sejam capazes de pôr em prática estratégias de sobrevivência para o bem comum.

8. A ruptura da mistificação ideológica de uma pseudo-representatividade institucional tem a vantagem da clareza da consciência a respeito de que mundo vivemos. Mas nos precipita na escuridão da incapacidade de decidir e atuar porque não temos instrumentos confiáveis para isso, particularmente no âmbito global em que pairam as ameaças sobre a vida.

9. A experiência histórica mostra que do fundo da opressão e do desespero surgem, sempre, movimentos sociais de diferentes formas que mudam as mentes e, através delas, as instituições. Como aconteceu com o movimento feminista, com a consciência ecológica, com os direitos humanos. Mas também sabemos que, até agora, as mudanças profundas demandaram uma substituição institucional a partir da transformação das mentes. E é nesse nível, o político-institucional propriamente, que o caos continua imperando. Daí a esperança, abrigada por milhões, de uma nova política.

10. Contudo, quais são as formas possíveis dessa nova política? Não estaríamos diante do velho esquema da esquerda, de esperar a solução mediante o aparecimento de um novo partido, o autêntico transformador que finalmente seja a alavanca da salvação humana? E se tal partido não existir? E se não pudermos recorrer a uma força externa àquilo que somos e vivemos para além de nossa cotidianidade?

11. Qual é essa nova ordem que necessariamente deve existir e substituir aquilo que morre? Ou será que estamos numa situação historicamente nova, na qual nós, cada um de nós, devemos assumir a responsabilidade de nossas vidas, das de nossos filhos e de nossa humanidade, sem intermediários, na prática de cada dia, na multidimensionalidade de nossa existência?

12. Ah, a velha utopia autogestionária. Mas por que não? E, sobretudo, qual é a alternativa? Onde estão essas novas instituições dignas da confiança de nossa representação? Auscultei muitas sociedades nas duas últimas décadas. E não detecto sinais de nova vida democrática por trás das aparências.

13. Há projetos embrionários pelos quais tenho respeito e simpatia, sobretudo porque me emocionam a sinceridade e a generosidade de tanta gente. Mas não são instituições estáveis, não são protopartidos ou pré-Estados. São humanos agindo como humanos. Utilizando a capacidade de autocomunicação, deliberação e codecisão de que agora dispomos na Galáxia Internet. Pondo em prática o enorme caudal de informação e conhecimento de que dispomos para gerir nossos problemas. Resolvendo o que vai surgindo a cada instante. E reconstruindo de baixo para cima o tecido de nossas vidas, no pessoal e no social.

14. Utópico? Utópico é pensar que o poder destrutivo das atuais instituições pode deixar de se reproduzir em novas instituições criadas a partir da mesma matriz. E, já que a destruição de um Estado para criar outro leva necessariamente ao Terror, como já aprendemos no século 20, poderíamos experimentar e ter a paciência histórica de ver como os embriões de liberdade plantados em nossa mente por nossa prática vão crescendo e se transformando.

15. Não necessariamente para constituir uma ordem nova. Mas sim, quem sabe, para configurar um caos criativo no qual aprendamos a fluir com a vida, em vez de aprisioná-la em burocracias e programá-la em algoritmos. Dada nossa experiência histórica, aprender a viver no caos talvez não seja tão nocivo quanto conformar-se à disciplina de uma ordem.

11 de junho de 2018

PESQUISA DATAFOLHA MOSTRA BOLSONARO AQUÉM DO QUE SE PREVIA: SINAIS DE ESGOTAMENTO!

1. O Datafolha insiste num equívoco. Ao incluir Lula -que está inelegível- como candidato, distorce as respostas seguintes dos entrevistados, quando Lula é excluído. Com isso, há uma tendência de aumentar a porcentagem dos que não marcam nenhum dos demais. Foi o que ocorreu nesta pesquisa. Os “sem candidato” passaram de 21% para 33%.

2. Na lista sem Lula, Bolsonaro lidera com 19%, uns 3 pontos abaixo do que se projetava. Marina surpreende e, com 15%, abre sobre Ciro Gomes cinco pontos (10%) e sobre Alckmin oito pontos (7%).

3. Marina surpreende outra vez quando da intenção de voto no segundo turno. Pela primeira vez, vence Bolsonaro por 42% x 32%. Vence Ciro Gomes 41% x 29%. E vence Alckmin 42% x 27%.

4. De qualquer forma -independente da inclusão inicial do nome de Lula- e na lista sem ele, Bolsonaro fica aquém do que se projetava. Seus 19% sugerem que finalmente sua curva de intenções de voto está descendente. Tanto o noticiário negativo de sua cobertura quanto a artilharia das redes sociais lembrando suas declarações e entrevistas algum tempo atrás ajudam a explicar.

5. E estar 10 pontos atrás de Marina na hipótese de segundo turno, 2 pontos atrás de Ciro Gomes e empatado com Alckmin também no segundo turno reforçam a ideia que sua curva ascendente deve ter se esgotado. Em campanha, o pequeno tempo de TV e a pouca capilaridade de seus candidatos a deputado, governador e senador reforçará essa tendência.

6. Com isso, a atratividade de sua liderança folgada e ascendente diminuirá e, com isso, a adesão de outros partidos, a dificuldade na formação de sua chapa e o efeito traição que havia começado -de candidatos a governador, senador e deputados- também sofrerá percalço.

7. Sem Lula, Bolsonaro cresceu 2 pontos, Ciro Gomes cresceu 3 pontos e Marina, expressivos, 5 pontos. A se confirmar este quadro em outras pesquisas, sua ida ao segundo turno deixará de ser um fator seguro.

8. A taxa de rejeição a Bolsonaro (37%) é maior que a Alckmin (27%), à Marina (24%) e a Ciro Gomes (23%). No Datafolha, Bolsonaro tem 26% da intenção de votos entre os homens e, apenas, 12% entre as mulheres. No Centro-Sul, tem 21%, 12% no Nordeste. Tem 25% entre eleitores com curso superior, mas só 11% entre os com ensino fundamental.

9. O jogo agora está aberto, o que entusiasmará seus adversários pré-inscritos, assim como eventuais outsiders.

08 de junho de 2018

“NOSSOS LÍDERES POLÍTICOS SE ESQUECERAM DE DEDICAR PARTE DA VIDA PÚBLICA À FORMAÇÃO DE NOVOS QUADROS”!

(Ilona Szabó de Carvalho, Cientista Político – Folha de S. Paulo, 06) 1. Não está nos planos da maioria dos velhos caciques políticos passar o bastão, a não ser para membros da própria linhagem ou afilhados parte do mesmo projeto de poder. Escuto com frequência em fóruns de debates políticos homens brancos e de idade avançada, incluindo alguns líderes partidários, dizerem que não há novas lideranças no país e que teremos que nos contentar com o que temos.

2. Na prática, a história não é bem essa. O Brasil está repleto de novas lideranças competentes e inspiradoras em todos os setores, algumas delas inclusive tentando se acercar da política. Como sabemos, o sistema está fechado e repele sangue novo de qualidade. Os que tomam a decisão de tentar furar esse bloqueio precisam de doses cavalares de coragem e resiliência, e de todo o apoio que pudermos dar.

3. A verdade é que nossos líderes políticos não foram estratégicos o suficiente. Se esqueceram de dedicar parte da vida pública à formação de novos quadros que pudessem levar adiante o ideário de seus partidos. Sabemos que a vida pública demanda responsabilidade e imensos sacrifícios em democracias mundo afora. Preparar-se é fundamental. Conheço jovens que foram mobilizados e estrategicamente treinados por seus partidos para assumirem ministérios ou concorrerem a cargos eletivos em países da América do Norte, do Sul e da Europa Ocidental.

4. E por aqui, ainda hoje os atuais líderes, quero dizer, os donos dos partidos, com raras exceções, controlam e escolhem com mão de ferro quem pode disputar cargos em suas legendas, em especial os majoritários. Se você não é famoso ou não tem dinheiro, se der muita sorte consegue concorrer a algum cargo proporcional para ajudar a eleger os candidatos prioritários do mesmo dono do partido. Em vez de recompensar novas ideias e promover os que genuinamente querem servir e resolver os problemas da população, a classe política brasileira sofre de nepotismo e clientelismo.

5. Se você é mulher, os desafios aumentam. Conversei com três pré-candidatas ao Congresso Federal, da Bahia, Paraná e Amazonas. Os relatos são dramáticos. Enfrentam machismo, assédio, ameaças implícitas e explícitas de competidores dentro e fora de seus partidos. Uma delas me contou sobre a proibição real de entrar em sua cidade natal, curral eleitoral de outro candidato. A outra faz campanha no interior de seu estado com segurança após receber ameaças, e a terceira teve o marido, policial, também ameaçado por causa da pré-campanha.

6. Estamos em 2018. Temos a obrigação de participar da reinvenção do nosso sistema político. E, honestamente, precisamos promover uma mudança de geração. Devemos sempre reconhecer a contribuição das gerações anteriores, mas está claro que os que estão no poder não serão capazes de solucionar sozinhos os problemas gigantescos que, em boa parte, criaram.

7. A incapacidade de abrir espaço a novas lideranças políticas no Brasil tem profundas consequências. Um sistema político que não consegue se modernizar sofre colapso e, eventualmente, se desintegra. Hoje boa parte da classe política está atolada em corrupção e incapaz de posicionar o país no século 21. A reação é sentida nacionalmente com o surgimento da antipolítica no Brasil e a aversão pública ao establishment político.

8. Estamos vendo o impensável, incluindo pedidos pelo retorno do governo militar. A democratização e transparência das estruturas partidárias é condição para a reforma do sistema. Se isso falhar, a vítima pode ser a própria democracia. Alerta vermelho: ainda podemos virar esse jogo, mas precisamos começar agora.

07 de junho de 2018

ITÁLIA: DISCURSO DO PRIMEIRO-MINISTRO QUE ENTRA! ESPANHA: DISCURSO DO PRIMEIRO-MINISTRO QUE SAI!

1. ITÁLIA: CONTE!

O primeiro-ministro italiano discursou no Senado, defendendo redução da dívida pública, mas sem recorrer à austeridade.

“Hoje, estamos diante de vocês para vos pedir a confiança não só numa equipe de governo, mas também num projeto para a mudança de Itália”, disse o novo primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, num discurso no Senado. “A verdade é que criamos uma mudança radical e estamos orgulhosos disso”, acrescentou, defendendo que Itália deve reduzir a sua enorme dívida pública, mas através do crescimento e não recorrendo a medidas de austeridade.

A coligação de governo, formada pelo Movimento 5 Estrelas (M5E, antissistema) e a Liga Norte (extrema-direita) conta com uma maioria de dez votos no Senado e ainda maior no Congresso dos Deputados, onde amanhã haverá um novo voto de confiança.

Conte, um professor de Direito de 53 anos, discursou ao lado dos dois vice-presidentes: o líder do M5E e ministro do Trabalho e Indústria, Luigi di Maio, e o líder da Liga Norte, Matteo Salvini, que ficou também com a pasta do Interior.

“As forças políticas que formam este governo têm sido acusadas de ser ‘populistas’ e ‘antissistema’. Se ‘populismo’ significa que a classe governante ouve as necessidades das pessoas e se ‘antissistema’ significa querer introduzir um novo sistema, que remove velhos privilégios e poder incrustado, então estas forças políticas merecem ambos os epítetos”, referiu.

A dívida pública italiana é a segunda maior da zona euro, depois da grega. “É hoje totalmente sustentável, mas deve contudo ser reduzida, numa perspectiva de crescimento econômico”, referiu o novo primeiro-ministro, alegando que é preciso reduzir a diferença de crescimento entre a Itália e a Europa. “É o nosso objetivo.”

“A Europa é a nossa casa”, assegurou ainda Conte, que lidera a coligação que quer também melhorar as relações com a Rússia. O primeiro-ministro defendeu “uma Europa mais forte, mas também mais justa”. Na sua opinião, as regras fiscais que gerem a zona euro devem ter como objetivo “ajudar os cidadãos”, uma discussão que Itália quer liderar.

Conte indicou que a prioridade do governo será a introdução de um novo rendimento universal para os mais necessitados, uma das promessas eleitorais do M5E, assim como travar a entrada irregular de migrantes, uma promessa da Liga. Conte disse que quer acabar com “o negócio da imigração, que cresceu fora de proporção, sob o mando da falsa solidariedade. Antes , Salvini defendera que a Itália vai deixar de ser “o campo de refugiados da Europa”.

Depois de garantir os votos de confiança, Conte irá viajar para o primeiro compromisso internacional: a cimeira do G7 no Canadá, que começa na sexta-feira.

2. ESPANHA: RAJOY!

Mariano Rajoy comunicou que abandona a liderança do Partido Popular (PP) e também a política. O anúncio surge apenas três dias após o socialista Pedro Sánchez tomar posse como chefe do Governo espanhol.

“Senti-me muito reconfortado pelo vosso apoio nestes dias que não foram fáceis para mim”, disse Rajoy. “Chegou o momento de colocar um ponto final nesta história. O PP deve avançar sob a liderança de outra pessoa. É o melhor para mim e para o PP”, acrescentou. “E creio que também para Espanha. Todo o resto não importa nada.”

Rajoy discursava num encontro do Comitê Executivo do PP, que terá agora de organizar um congresso extraordinário para escolher o novo líder. “Cumprirei o meu mandato até que elejais a pessoa que vai suceder-me.”

Diante dos seus pares, que o receberam com uma ovação, Rajoy passou em revista os seus anos no Palácio da Moncloa e mostrou-se pessimista em relação ao futuro do Governo atualmente em funções. “Hoje Espanha é governada por quem não ganhou quaisquer eleições gerais, o que é um grave precedente. E para o fazer faz-se acompanhar por independentistas e pela esquerda radical e populista. É um projeto débil, incerto e instável”.

Mariano Rajoy assumiu a presidência do PP em 2003, designado por José María Aznar. Desde então, perdeu duas eleições gerais (2004 e 2008) e venceu três (2011, 2015 e 2016). Presidiu ao Governo de Madrid durante quase sete anos (2011-2018).

06 de junho de 2018

QUASE TODOS OS CANDIDATOS, MAJORITÁRIOS E PROPORCIONAIS, DISPUTARÃO COMO “INDEPENDENTES”!

1. Bolsonaro deu a partida. Não terá candidato a governador em nenhum Estado. Quem quiser que o apoie. Será um prato feito para a fiscalização. Os candidatos a governador, senador e deputados que se cuidem.

2. Inversamente, em função da impopularidade do Presidente Temer, os candidatos do MDB e eventuais coligados vão procurar se descolar.

3. Vão proliferar os panfletos que, para driblar as irregularidades, virão com nomes de pessoas físicas, em cima do panfleto, afirmando: Fulamo apoia e embaixo listando uma chapa com todos os cruzamentos possíveis.

4. Como ao lado do nome desses “Fulanos” terão que vir seus registros legais, o trabalho da fiscalização terá que ser localizá-los e comprovar que realmente patrocinaram os panfletos, indo também atrás do nome das gráficas.

5. Será necessária uma fiscalização com lupa para enxergar o nome dos candidatos majoritários -sem expressão em pesquisas- das chapas, de forma a respeitar à legislação.

6. Os exemplos mais acima são os casos extremos e conhecidos. Mas com uma campanha em que praticamente todos os candidatos a presidente têm uma baixa porcentagem nas pesquisas, a atração à traição será generalizada.

7. Especialmente pela alta proporção de abstenção e votos brancos e nulos. Com isso, se forma um quadro de candidatos pulverizado, sinalizando para poderes legislativos igualmente pulverizados.

8. Se o presidente da República e os governadores têm tido tradicionalmente dificuldade em construir uma maioria orgânica no poder legislativo, agora muito, muito mais.

9. Poder-se-ia afirmar que este quadro gera vantagem para um ou outro candidato favorito. Mas isso só será verdade se o favoritismo for amplo e regionalmente espalhado.

10. Isso para presidente da República será raro. E para governador da mesma forma nos maiores colégios eleitorais.

11. Ou seja, uma eleição de candidatos “independentes”.

05 de junho de 2018

BLOG VOTO POSITIVO – PENSAR O RIO DE JANEIRO – ENTREVISTA COM O PROFESSOR MARCELO BURGOS!

1. Professor Marcelo Burgos, como chegou a essa profunda crise cívica na Cidade do Rio de Janeiro? A economia fragmentada do estado do Rio de Janeiro é causa ou consequência disso tudo que testemunhamos desde a passagem das Olimpíadas?

R: Crise social e política é uma condição latente ao Rio de Janeiro, que tem uma história caracterizada por descontinuidades político-administrativas (Brasília e a fusão dos estados são dois momentos extremamente complexos para a cidade), e por uma relação muito singular entre elite e povo, da qual também faz parte a forma pela qual a estrutura social está organizada em nosso espaço urbano. Nesse sentido, não seria exagero dizer que, aqui, a economia depende muito da política e da cultura popular, em uma escala muito maior do que em São Paulo, por exemplo, onde o mercado tem maior autonomia. A economia do petróleo e gás, a maior força dos interesses da indústria do turismo, e a presença mais marcante da principal empresa de comunicação do país na vida do Rio são, desse ponto de vista, alguns dos fatores que tornaram ainda mais complexa a estrutura econômico-social da cidade e da metrópole. Por um momento, parecia que os governos Cabral/Paes significavam uma virada que indicava que a burguesia finalmente tinha assumido o controle da gestão da cidade e do estado, mas logo ficou claro que o que se tinha era uma forma muito perversa e mafiosa de articulação entre o mercado e a política, que somente se sustentava a partir do controle da vida popular por máquinas políticas, inclusive de milícias, e também por estratégias de neutralização da mídia, do Ministério Público e do Poder Legislativo.

2. O Governo Federal sinalizou nos dois últimos anos com duas iniciativas que teria como objetivo superar a calamidade e salvar um campo político conservador. O acordo de ajuda financeira, que levou o Orçamento do Estado a se comprometer com uma ampla redução de sua capacidade de investimento, e a Intervenção Federal na Segurança Pública, que ainda não foi além das medidas “paliativas”. Qual a sua avaliação sobre essas iniciativas?

R: Talvez se pudesse afirmar que o custo político da ajuda financeira foi cobrado no momento da intervenção na segurança pública. A ajuda financeira foi uma costura complexa e inconclusa, que inclusive colocou a Cedae como moeda de troca, cobrada por um governo federal orientado por um fundamentalismo de mercado, e muito preocupado em dar satisfação a grupos financeiros nacionais e estrangeiros. Tratava-se de um momento extremamente frágil do governo estadual, mas o socorro federal não podia arranhar a ortodoxia com que o governo federal pretendia pautar sua macroeconomia. E qual será o saldo da operação financeira ainda não sabemos ao certo, pois também é verdade que o preço do barril de petróleo – de que tanto depende a economia do estado – voltou a subir, reduzindo momentaneamente a gravidade da situação. Por outro lado, com a intervenção militar deu-se quase o inverso: uma tentativa de usar o Rio para salvar o governo federal do que prometia ser – e ao que tudo indica será – um final melancólico do mandato do governo espúrio do Temer. Acuado pelas forças de segurança do estado, e por um quadro de descontrole em face das milícias, e ainda refém do acordo financeiro não cumprido com o governo federal, o governador Pezão se viu obrigado a aceitar a proposta, anulando-se. Como se vê, a operação financeira e a intervenção na segurança pública estão interligadas, como processos interdependentes, tendo sido o Rio, por sua importância na cena política do país, tomado como uma espécie de laboratório onde se experimenta um novo tipo de acordo federativo, que combina submissão ao mercado com submissão à autoridade militar. As consequências desse coquetel são visíveis a olho nu: profunda crise social e ausência completa de controle social sobre a política de segurança.

3. Uma longa sequência de demissões acompanha o estado do Rio de Janeiro. Sua grande maioria seriam trabalhadores da construção civil e muitos jovens não conseguem seu primeiro emprego. Há alguma solução política para isso? A força de candidatura do Deputado Jair Bolsonaro (PSL), de extrema-direita, teria essa base no Rio de Janeiro?

R: Sem dúvida, o Rio tem sido um dos estados que mais sofre com a crise econômica, política e social porque passa o país. A construção civil recuou no país inteiro, mas é claro que o dia seguinte ao do ciclo olímpico teve aqui um impacto mais violento. A ausência de respostas dos governos estadual e municipal para tentar criar frentes de trabalho agrava o quadro. Quanto ao Bolsonaro, é verdade que uma parcela da população que está disposta a votar nele vem desse segmento de trabalhadores desempregados. Mas sua base política parece bem mais sólida entre setores de classe média e classe média baixa, que de algum modo o veem como uma resposta ao problema da corrupção e da insegurança, e do que percebem como a impunidade dos criminosos.

4. O último campeonato carioca de futebol foi um dos que menos atraiu um público para os Estádios. Crise econômica, desemprego e a violência seriam algumas das explicações. Entretanto, não poderia ser uma mudança da postura do carioca em relação ao futebol uma vez que a Federação e os meios de comunicação lhe conferem mais um viés de espetáculo do que de diálogo entre torcedores e bairros?

R: É verdade que a questão do futebol não pode ser desvinculada do modelo arena-televisão que se construiu em torno dele. De fato, o crime cometido com a desfiguração do Maracanã deixou a cidade sem sua principal referência popular. Mas outros fatores também entram nessa equação, como a crise econômica e o desemprego, associada à elevação das vivências de todo tipo de violência. Mas se aceitarmos que parte dessas variáveis também estariam presentes no último campeonato brasileiro, e que neste caso a média do público dos times do Rio não foi inferior ao das principais praças de futebol do país, precisamos avaliar se, no caso do campeonato carioca, também não estaria presente uma deliberada desvalorização do certame regional, possivelmente em função da briga travada entre a FFERJ e a emissora que tem comprado os direitos de transmissão do campeonato. Seja como for, creio que o campeonato carioca continua sendo um evento muito querido pelo povo carioca.

5. Uma Agremiação de Escola de Samba do Grupo Especial teve um processo eleitoral recentemente marcado pelas denúncias disputa de influência da contravenção e das forças milicianas. O Senhor acredita que a iniciativa do Prefeito Marcelo Crivella (PRB) em reduzir verbas oficiais para as Escolas de Samba agravará esse cenário?

R: Infelizmente, muitas escolas de samba estão há muito tempo ligadas à contravenção, por outro lado, a essa altura há evidências de que bicheiros e milicianos disputam espaços mas também se unem em muitas ações, como no caso das máquinas de jogos “caça-níqueis”. O carnaval carioca é um espaço privilegiado de articulação com a vida popular, servindo por isso mesmo como via de capitalização política. Por isso, é claro que se o poder público recua muito, a tendência é a de se aumentar ainda mais os laços de dependência com outras formas de financiamento, bem como de submissão a contraventores e milicianos. Mas este é um terreno complexo, e talvez a pergunta formulada seja especialmente oportuna justamente porque nos obriga a colocar luz sobre a economia do carnaval, bem como sobre sua vida associativa. Afinal, se é verdade que a vida popular do Rio de Janeiro está submetida a um controle muito pesado de grupos paramilitares que atuam em parceria com grupos políticos, e se é verdade que a apropriação dos bens simbólicos do carnaval por esses grupos é parte importante desse controle, pode-se concluir que temos aqui uma agenda fundamental para trabalharmos pela emancipação popular.

6. O que aconteceu com o Associativismo de Bairro do carioca? O Senhor conhece alguma experiência positiva na atualidade?

R: O associativismo de bairro não morreu, o problema é que se ele fica muito desgarrado da vida da cidade em um sentido mais amplo, acaba refém da lógica do “não no meu quintal”, ou seja, de uma lógica puramente defensiva. Para que ele possa ter uma atuação mais cívica e democrática, é preciso valorizar sua relação com outras organizações e com a própria vida partidária. Acho que o movimento contra a construção da Linha 4 do metrô, realizado com muita energia por parte das associações de moradores, foi uma demonstração de força importante, pena que foi derrotado pela máfia do Cabral, que o ignorou completamente, implantando contra todas as opiniões em contrário “o linhão” que interliga Ipanema à Barra, de modo a atender interesses particularistas de seus sócios. Perdeu-se ali uma oportunidade de democratização real da vida da cidade. Hoje, vivemos um momento de recuo, fortemente guiado pela égide do medo, e por isso é compreensível que o associativismo de bairro tenha recuado tanto. Mas precisamos combater essa tendência, pois a cidade precisa muito dele.

7. Recentemente foi divulgado que o sociólogo Luiz Eduardo Soares fez uma reunião na sua residência para buscar a unidade da esquerda do Rio de Janeiro no primeiro turno. Essa ideia é utópica? Como avalia o quadro da esquerda fluminense desde as eleições de 2016?

R: O problema é qual a utopia? Ou seja, em nome do que estamos nos movendo. A construção de um estado e de uma cidade mais justos, com geração de empregos e renda, e ampliação do acesso à segurança pública, educação e cultura, saúde, habitação e mobilidade urbana; com a melhoria da infra estrutura urbana e de logística econômica; e com medidas concretas no sentido de favorecer a emancipação popular do jugo de grupos paramilitares e de máquinas políticas, tudo isso pressupõe a construção de um ambiente político pautado por uma articulação capaz de reunir diferentes atores em torno de um campo democrático, republicano e progressista. Acredito que essa construção pressupõe a organização de pontes comunicando diferentes grupos políticos, diferentes classes sociais e também diferentes gerações.

8. As pesquisas iniciais ao Senado indicam a possibilidade de vitória do filho do Deputado Federal Jair Bolsonaro e do vereador Cesar Maia pelo (DEM). Há espaço político para surpresas nas eleições para o Senado?

R: A família Bolsonaro se beneficia do medo e do caos, e também da cultura de escândalos de corrupção que caracteriza boa parte da grande mídia, e que ganhou espaço na agenda de parte do Judiciário. É preciso insistir que os Bolsonaros não têm qualquer compromisso com a democracia, e que embora vivam há muito tempo como parlamentares, apenas pretendem instrumentalizar a democracia para chegar ao poder, para no dia seguinte implantarem um governo autoritário, com ou sem o apoio militar. E o que é pior: ninguém poderá dizer que o chefe do clã não avisou. Por onde anda, tem dito isso em alto e bom som, e muitas vezes sob o aplauso de diferentes plateias. Ainda há tempo para tentar impedir esse gesto de loucura e de suicídio político que viria por parte de parcela do eleitorado, mas para isso será preciso estarmos mais atentos aos fatores que têm contribuído para impulsionar o projeto do clã. Quanto às surpresas, poderão acontecer, já que são duas vagas para o senado, e o cenário ainda está aberto.

04 de junho de 2018

ITÁLIA FORMA GOVERNO E DÁ EXEMPLO DE FLEXIBILIDADE POLÍTICA!

(Editorial Folha de S.Paulo, 01/06) 1.A queda de um primeiro-ministro e divergências para formar um governo não constituem propriamente novidade na Itália, habituada à volatilidade política e à rotatividade dos ocupantes do cargo. A solução encontrada para o impasse da vez, embora longe de garantir estabilidade, ao menos desfaz temores de que viesse a emergir um governo abertamente disposto a retirar o país da União Europeia.

2. O imbróglio começou quando o presidente italiano, Sergio Mattarella, rejeitou a indicação de Paolo Savona como ministro da Economia, justamente por seu euroceticismo —ele já classificara como “erro histórico” o país ter adotado a moeda única do bloco e falara da necessidade de um “plano B”.

3. O gesto do chefe de Estado deixou patente a desconfiança com a coalizão formada após as eleições de março, na qual nenhum partido obteve maioria parlamentar.

4. Mais votados no pleito, a Liga, de direita nacionalista, e o Movimento 5 Estrelas, autoproclamado antissistema, se uniram e decidiram bancar como premiê o professor de direito Giuseppe Conte, um neófito na vida pública.Este, porém, no intervalo de apenas quatro dias, renunciou à tarefa de montar seu ministério, em razão do veto a Savona.

5. Pois foram necessários outros quatro dias, somente, para Conte voltar a ser indicado para governar a Itália. Nesta quinta-feira (31), o presidente avalizou o gabinete, agora com outro nome para a economia: Giovanni Tria, cujas críticas ao europeísmo não despertam tanta preocupação nos mercados.
O acerto traz certo alívio por evitar a realização de novas eleições, em que as legendas com plataforma anti-UE poderiam ter um desempenho ainda mais expressivo.

6. Entretanto há razões para se recomendar cautela, dada a extravagância da aliança entre Liga e 5 Estrelas, na qual coabitam propostas como cortes de bilhões de euros em impostos e aumento de gastos com programas sociais.

7. Tudo isso, ressalte-se, num país cuja dívida pública chegou a 132% do Produto Interno Bruto em 2017, percentual que só ficou abaixo da convalescente Grécia (179%) entre as 28 nações do bloco europeu.

8. Compreende-se a insatisfação popular com a UE, em especial por causa da ajuda insuficiente ao governo italiano para lidar com o recente fluxo migratório oriundo do Oriente Médio e do Norte da África.

9. No tocante à economia, porém, cabe dizer que boa parte dos problemas italianos não nasceu por diretrizes de Bruxelas. Reconhecer esse fato e conduzir uma gestão que não se renda à faceta populista de seus fiadores estão entre os desafios do premiê Conte.

01 de junho de 2018

CRISE INSTITUCIONAL NA ESPANHA!

(RFLR) 1. Rajoy é destituído; Pedro Sánchez é o novo chefe do governo da Espanha. Abalado por casos de corrupção em seu partido, Mariano Rajoy reconheceu mesmo antes da votação que seria derrotado. Seu breve discurso de despedida no parlamento da Espanha é um exemplo para os democratas do mundo todo.

2. Na sequência da condenação de dirigentes e do próprio Partido Popular no caso Gürtel, o PSOE de Pedro Sánchez apresentou com uma moção de censura. Para ter sucesso, o dirigente socialista terá de mostrar dotes de negociador e alcançar o apoio dos partidos nacionalistas catalães e bascos ou do Ciudadanos

3. Não é provável, mas pode dar-se o caso de a moção de censura não cumprir algum requisito e ser invalidada pela mesa do Congresso. A Constituição espanhola e o regulamento parlamentar exigem que a iniciativa seja subscrita por 35 deputados, pelo menos, e que inclua um candidato para substituir a chefia do governo.

4. A moção do PSOE tem o apoio integral da sua bancada, ou seja, de 84 representantes socialistas. E indica um não deputado – o secretário-geral do partido, Pedro Sánchez – candidato ao cargo, o que também é válido. Outra hipótese de a moção não ser votada é dar-se ainda o caso de PSOE e PP se concertarem: o primeiro retiraria a moção e Mariano Rajoy convocaria eleições antecipadas.

5. Se a moção estiver conforme os regulamentos, cabe à presidente do Congresso, Ana Pastor (do PP), agendar a moção, tendo em conta os compromissos do primeiro-ministro. Da apresentação à votação há um período mínimo de cinco dias, sendo que nas primeiras 48 horas podem ser apresentadas moções alternativas. Estas seriam discutidas e votadas no mesmo plenário. Contas feitas, a votação só ocorre em junho.

6. A aritmética indica-nos que uma moção de censura só vinga quando votada favoravelmente por 176 deputados, pelo menos. Além dos 84 votos dos socialistas, já se sabe que conta com o Unidos Podemos (67 deputados). Pablo Iglesias, em meio de uma crise interna que lhe pode custar a liderança – um plebiscito online por parte dos militantes que termina hoje – afirmou que apoia de forma incondicional a moção de censura para “desalojar os corruptos”, mas lembrou que é necessário instaurar um programa social. Além do Podemos, há ainda os votos garantidos de Compromìs (quatro), e Nova Canárias (um) o que é insuficiente para o sucesso da iniciativa, uma vez que fica a 20 votos da aprovação. Com mais ou menos apoios, se a moção não passar, o plano de Mariano Rajoy passa por convocar eleições antecipadas para março de 2019, ou, caso a situação política se deteriore, para este outono, revela o La Vanguardia. Publicamente, no entanto, o chefe do governo reafirmou que é seu objetivo cumprir a legislatura, iniciada em novembro de 2016.

7. Nas próximas horas Pedro Sánchez e a sua equipe têm a missão de convencer os restantes partidos. Mas obter o apoio simultâneo de nacionalistas (PNV, Bildu, PDeCat, ERC) e do Ciudadanos é visto como realizar a quadratura do círculo. Para catalães e bascos se aliarem aos socialistas, estes terão de afinar a mensagem. Sánchez relembrou que um governo seu “fará cumprir a Constituição”, uma outra maneira de dizer que apoia a manutenção em vigor do artigo 155.º na Catalunha. Mas poderá introduzir no discurso algumas nuances para chegar a um acordo com os nacionalistas.

8. A chave, creem os analistas espanhóis, reside no Partido Nacionalista Basco (PNV), que tem sido parceiro do Partido Popular. Ainda na quarta-feira a formação centenária foi determinante para a aprovação do Orçamento Geral do Estado espanhol. No entanto, o partido liderado por Andoni Ortuzar já mostrou abertura para negociar com o PSOE. A “crise territorial do Estado” é uma das prioridades do PNV, que exige o reconhecimento do autogoverno no País Basco e na Catalunha.

9. A primeira reação do Ciudadanos foi de que descartava a moção porque não queria substituir Rajoy por Sánchez, mas sim novas eleições. E que não alinharia num acordo em que estivessem incluídos os partidos independentistas catalães. À formação de Albert Rivera, os socialistas responderam ontem ao prometerem a realização de eleições num espaço de “alguns meses”, uma vez posta em funcionamento uma “agenda social”, que passe pela subida de salários, pensões e de mais verbas para a educação.

10. O Ciudadanos propôs então que o PSOE retirasse a moção e se apresentasse outra, uma “moção instrumental”, sem Sánchez nem Rivera como candidatos. Mas essa figura não existe em Espanha. Mesmo que o PSOE decidisse ir de imediato para eleições antecipadas, estas só podem realizar-se 54 dias depois da convocação.

11. Desde 1978, ano em que a Constituição da Espanha democrática entrou em vigor, foram apresentadas três moções de censura. A primeira, em 1980, ficou marcada por um debate que se prolongou por 20 horas. Foi apresentada pelo grupo parlamentar socialista contra o governo liderado por Adolfo Suárez, da União do Centro Democrático, mas os 152 votos favoráveis foram insuficientes para levar Felipe González para o poder. O socialista foi desafiado em 1987 pela Aliança Popular (antecessor do PP), mas apenas 67 deputados deram o sim à moção. Por fim, no ano passado, o Unidos Podemos apresentou Pablo Iglesias como alternativa a Mariano Rajoy e reuniu 82 votos favoráveis. Então, o PSOE acusou Iglesias de atuar de “má-fé” e de ser “irresponsável”.

30 de maio de 2018

QUATRO QUESTÕES BÁSICAS SOBRE A GREVE DOS CAMINHONEIROS!

(Vinicius Mota, secretário de Redação da Folha de S.Paulo – UOL, 28) 1.  A matriz de transportes dependente de caminhões não favoreceu a crise. Em qualquer lugar do mundo, o caminhão é o elo mais frequente entre o varejista, que abastece os consumidores, e o seu fornecedor. A gasolina não chega aos postos de trem nem de navio. A batata, o tomate e a carne não viajam de “alimentoduto” até os supermercados. Precisam em geral de veículos de carga que trafegam pelas estradas e pelas ruas. Na França, paraíso ferroviário, greves de caminhoneiros sufocam o abastecimento de combustível e produzem as mesmas imagens de filas nos postos que vimos aqui. Também não é uma locomotiva que vai buscar o leite nas fazendas ou entregar os insumos para a criação dos frangos nas granjas. São basicamente caminhões em qualquer parte do planeta. A matriz de transportes brasileira é excessivamente dependente de caminhões nos grandes troncos de escoamento e nas grandes distâncias. Isso cobra um preço em termos de eficiência econômica, mas não torna o consumidor brasileiro mais vulnerável a paralisações. Na verdade, se essas operações fossem mais concentradas em ferrovias e hidrovias, seria muito mais fácil meia dúzia de sindicatos pararem o Brasil. Trens e navios são poucos e trafegam por poucas vias. Coordenar centenas de milhares de caminhoneiros pelas vias capilarizadas deste país continental é bem mais difícil.

2. Floresce no Brasil uma espécie de anarquismo de direita. Há pouca coordenação nessa revolta, que se alimenta do clamor difuso e mal fundamentado pelo restabelecimento de um ideal de ordem e hierarquia. Mas essa restauração só viria pela destruição violenta e súbita de todos os que estão aí, exercendo postos de poder. Não se engane, leitor moderado de centro-esquerda ou centro-direita, este é um movimento da direita autêntica, talvez o maior da história do Brasil urbano e democrático. A leitura apressada do quadro pode levar a atitudes equivocadas como a dos petroleiros, que anunciam uma greve supondo-a favorável ao petismo. Estão apenas colocando azeitona na empada dos brucutus. Os anarquistas anticapitalistas do passado cultivavam a ideia de que uma greve geral revolucionária, com adesão absoluta, derrubaria o sistema num só golpe. Eis que o seu negativo de direita, no Brasil mal instruído do século 21, aparece aboletado na cabine de um caminhão.

3. Este presidencialismo e a irresponsabilidade dos poderosos têm-nos custado muito. Governos fracos, estabelece uma regra universal, são presas doces para grupos que saqueiam as rendas da maioria desorganizada. No contexto brasileiro desde junho de 2013, o presidencialismo, ao dificultar a reciclagem nas urnas de lideranças tornadas inertes, tem exposto carcaças de mandatários aos predadores por tempo demasiado. Não é razão suficiente para trocar o regime pelo parlamentarismo, por exemplo. Uma transição desse tipo acarretaria mudanças tectônicas talvez contraproducentes. Mas é preciso debater mecanismos que facilitem a resolução democrática de impasses, incluindo na equação o voto popular. As raízes fiscais da instabilidade política são profundas e estão se fortalecendo. Precisamos nos preparar para no mínimo mais uma década de fortes emoções. A despeito disso, ajudaria se as autoridades evitassem o cinismo e cumprissem o seu papel. Em junho do ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral fechou os olhos diante de toneladas de provas de abuso do poder econômico nas eleições de 2014. Manteve o cadáver de Temer no Planalto, a alimentar as hienas.

4. Ainda longe do cataclismo, a sociedade tem capacidade quase infinita de se adaptar às restrições enquanto combate os chantagistas. A partir de 5 de setembro de 1940 e por praticamente 76 noites consecutivas, Londres foi maciçamente bombardeada pela Força Aérea alemã. Foi a consequência da opção do premiê Winston Churchill por combater Hitler, em vez de tentar selar um armistício com o ditador. Os londrinos se adaptaram à rotina dos massacres aéreos não como ato de resignação diante de um destino cruel e inevitável. Aceitaram pagar esse custo altíssimo em nome da luta contra a tirania e a opressão. Deu certo, e a virtude demonstrada pelos britânicos não seria menor em caso de derrota. O exemplo extremo, muito distante do nosso aqui, serve para nos lembrar de duas coisas: é imensa a capacidade de adaptação das sociedades em situação de cerco; privar-se de bens e serviços habituais pode mobilizar a população contra aqueles que a estão fazendo sofrer. Caminhoneiros e empresários de transporte adotaram a via dos piratas e dos saqueadores do passado. Sitiam cidades e estrangulam o fornecimento de bens essenciais. Provocam sofrimento em dezenas de milhões de pessoas para arrancar delas mesmas, pela via do resgate bilionário chancelado pelo governo, a solução para seus problemas. Se você gosta disso, se simpatiza com os meios empregados pelos bucaneiros sobre rodas, então está flertando com a tirania. Bate palmas para a lógica do torturador. Você não gosta da democracia. Se você, como eu, detesta truculência e chantagem, então talvez devesse exigir de seus representantes que resistam às investidas do protofascismo. É uma luta vã, em larga medida. Não temos Churchill. Nossas tristes lideranças, os chefes do Planalto, da Câmara e do Senado, já entregaram tudo para os alemães. E os alemães, como todos os tiranetes sádicos, ainda não ficaram satisfeitos.

29 de maio de 2018

“ELEIÇÕES DE 2018: UM PROCESSO QUASE CONSTITUINTE”!

(Luiz Werneck Viana, Sociólogo – PUC-RJ – Estado de S. Paulo, 27) 1. O processo eleitoral que já vivemos pode ser considerado como um momento quase constituinte, na medida em que deve impor pelo voto uma radical mudança nas relações entre o Estado e a sociedade civil. O movimento de junho de 2013 da juventude anunciou com tintas fortes a profundidade da crise dessa relação, enquanto a devassa nos negócios entre agentes públicos e empresas privadas procedida pela chamada Operação Lava Jato fez o resto, jogando ao chão o que ainda restava dela. Decerto que o momento de uma campanha eleitoral não seria o mais oportuno, pelas paixões que ela suscita, mas, por ora, só contamos com ele.

2. A seleção das candidaturas e suas alianças devem, portanto, considerar a excepcionalidade deste processo eleitoral. No caso, não se pode deixar de considerar, nesta hora de falta de rumos confiáveis para o nosso futuro, em meio às ruínas em que sobrevivemos, o manifesto Por um polo democrático e reformista, lançado a público por iniciativa de dois parlamentares, o deputado Marcus Pestana e o senador Cristovam Buarque, já subscrito por Fernando Henrique Cardoso, uma extraordinária personagem das que nos sobraram de tempos menos sombrios do que os que agora vivemos, que parece ter saído das páginas dos textos políticos de um Max Weber, pela coragem sóbria, sempre fiel às suas convicções de fundo, defendidas com responsabilidade, que nos afiança os caminhos preconizados nesse bem-vindo manifesto, a rigor, um programa de ação de um novo governo.

3. Nesse manifesto-programa se conclamam “todas as forças democráticas e reformistas em torno de um projeto nacional que, a um só tempo, dê conta de inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento social e econômico, a partir dos avanços alcançados nos últimos anos, e afaste um horizonte nebuloso de confrontação entre populismos radicais, autoritários e anacrônicos”. O texto continua para afirmar que para o sucesso dessa iniciativa se devem agregar, de forma plural, liberais, democratas, social-democratas, democratas cristãos, socialistas democráticos, numa frente que se empenhe, nesta hora decisiva para a construção do futuro, na realização de um programa de desenvolvimento com mudança social que abra as portas para o moderno no Brasil, pondo fim aos processos de modernização autoritária que levaram o País a um lugar sem saída.

4. O tempo é curto para que essa iniciativa possa encontrar seu ponto de maturação. É preciso invocar a sabedoria dos nossos maiores, que no passado, do Império à República, como no caso recente da transição do regime militar para o democrático, sempre pela via da negociação souberam encontrar soluções para os nossos impasses políticos e institucionais. Seus adversários são conhecidos e ambos desejam vias de ruptura: à direita, os que desejam uma saída neoliberal clássica – desejo mal escondido de poderosa rede de comunicação; à esquerda, os que visam a uma retomada das vias bolivarianas.

5. O papel do centro político como estratégico na nossa formação não pode ser ignorado, e para só falar do período republicano, a exemplo de Vargas, que em 1945 fundou o PSD com lideranças tradicionais a fim de respaldar sua obra social reformadora, reeditado em grande estilo por Ulysses Guimarães e Tancredo Neves para abrir caminho à democratização. O manifesto, que ora circula em busca de adesões, segue as pegadas de momentos criativos e fecundos da política brasileira, que nos seus estonteantes ziguezagues nunca perdeu de vista seus compromissos com a obra da civilização singular que fazemos aqui.

6. Como palavras finais, deve-se mencionar que tal movimento, ao menos in pectore, admita que sua vitória trará consigo um momento de concórdia, reeditando a época do movimento da anistia, que envolva a sociedade, o Congresso e, principalmente, o sistema de Justiça, que pacifique de verdade esta praça de guerra que desgraçadamente nos tornamos. o Manifesto conclama as forças democráticas e reformistas à união, com vista à eleição.

28 de maio de 2018

GREVE DOS CAMINHONEIROS E ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS: QUEM GANHA E QUEM PERDE?

1. A reação dos pré-candidatos a presidente da República à greve dos caminhoneiros foi um festival de oportunismos. Flavio Rocha, dono da Riachuelo, postou sua opinião totalmente favorável à greve. Ainda mais à direita que ele, Bolsonaro fez a mesma coisa em suas postagens.

2. Mas, no extremo oposto, a esquerda fez o mesmo, com postagens de líderes do PSOL e PT. Em geral, os candidatos a governador dos Estados preferiram manterem-se omissos, a maioria reclamando que não querem participar da “vaquinha” promovida pelo governo federal com seus tributos. Mas há uma estranha e paradoxal exceção: Pezão, que encaminhou projeto de lei reduzindo o ICMS do óleo diesel de 16% para 12%, uma redução significativa de 25%.

3. Em geral, foi tudo como se a greve dos caminhoneiros e suas consequências gerassem um consenso ideológico. As imagens da greve, com milhares de caminhões parados nas beiras das estradas ou as obstruindo, teve uma cobertura geral da mídia, em tempo integral, e em tempo real.

4. Isso apavorou os candidatos que, há menos de 3 meses das convenções, resolveram tirar uma casquinha eleitoral da greve. Nos jornais, as suas declarações tiveram pouco espaço. A TV entrevistou as autoridades e os atores da greve- patrocinadores e vítimas, mas não os candidatos.

5. Mas, nas redes sociais, os pré-candidatos deitaram e rolaram. Pré-candidatos e seus porta-vozes, em todos os níveis políticos, postaram seus vídeos, suas declarações e seus memes. Todos na mesma direção. Num extremo, Bolsonaro. Em outro extremo, o PSOL e o PT, passando pelo empresário Flavio Rocha – proto-liberal. Flávio Rocha fez sua estreia no oportunismo político-eleitoral, mostrando o quanto é igual aos demais e à média política brasileira.

6. Mas quem perde e quem ganha -política e eleitoralmente- num ano crítico e estratégico como 2018? De nada adiantam as postagens, as entrevistas e os discursos? O fundamental é o perfil e a imagem acumulados, de cada um dos pré-candidatos.

7. Lula manteve-se silente, talvez por orientação de seus advogados. O PT não tem outro porta-voz e nem consenso para nada, hoje – exceção ao repetitivo “fora Temer”. Continuou fora do jogo. Alckmin tem uma imagem suave, que nada tem a ver com a violência da greve. Da mesma forma, Marina, que no limite fala da questão ambiental e do impacto do transporte rodoviário. Álvaro Dias não construiu uma imagem, um perfil na pré-campanha fora do Paraná.

8. Dessa forma, restam Bolsonaro e Ciro Gomes, com perfis mais explosivos e histriônicos, harmonizando com os caminhoneiros. Ambos -potencialmente-poderiam capitalizar eleitoralmente a greve dos caminhoneiros.

9. O governo federal e Temer ganharam mais um desgaste com uma crítica generalizada de que não se anteciparam e se atrasaram nas ações mais incisivas. E ainda receberam as críticas dos economistas liberais contrariados com os subsídios aprovados pela repercussão fiscal das medidas.

10. Cabe um exercício de silogismo, projetando o futuro da greve. Independente de suas consequências e do prazo, a greve vai terminar, até por exaustão. E que imagens estarão associadas ao fim da greve? Com certeza apenas as imagens generalizada: o Exército, seus soldados, seus veículos e tanques nas ruas.

11. As pesquisas todas mostram a confiança popular-institucional nas Forças Armadas, só ficando atrás da “Igreja”. A percepção será que a greve terminou graças às FFAA.

12. E quem é o político e pré-candidato com imagem associada às FFAA e reforçada pelas afirmações verticais de autoridade? Obviamente, Bolsonaro, que sempre galopou em sua condição de ex-oficial do Exército e defensor do regime autoritário. E quem corre maior risco com isso? Ciro Gomes, que por desenvolver um perfil primo-irmão de valentia, na medida em que o eleitor deduzir que o mais confiável nas crises é Bolsonaro, tenderá a transferir suas intenções de voto de Ciro para ele.

13. Paradoxalmente, se beneficia o extremo oposto, com perfil de suavidade: Marina e Alckmin, que poderão passar a ser favoritos para um segundo turno com a perda de competitividade de Ciro Gomes.

14. Agora há que acompanhar.

25 de maio de 2018

PACTO DE GOVERNO ENTRE O M5S E A LIGA, NA ITÁLIA!

1. O Movimento Cinco Estrelas (M5S), um partido antissistema, e a Liga (nacionalista) concluíram hoje um programa de governo conjunto que inclui a expulsão massiva na Itália de imigrantes e um “imposto único”, anunciou o líder do M5S, Luigi di Maio.

2. Num vídeo divulgado através da sua conta de Facebook, Di Maio convidou os militantes do partido a votar o pacto de governo através da Internet até às 20:00 .

3. O texto do pacto tem 57 páginas e 23 pontos de programa de Governo, embora deixe em aberto a decisão sobre quem será o presidente do Governo.

4. Ambos os partidos, que defenderam na campanha eleitoral o reforço dos controles fronteiriços para travar a imigração ilegal, propõem a expulsão de meio milhão de imigrantes ilegais e a construção de centros para os acolher quando chegarem ao país e onde ficarão enquanto estiverem irregulares.

5. O programa comum inclui também a alteração do sistema de pensões para facilitar o acesso à reforma e à renovação de gerações, através de um sistema, designado ‘quota 100’, que permitirá a reforma quando a soma dos anos de idade e de descontos some 100, se bem que por enquanto não há uma idade mínima para a aposentadoria.

6. De acordo com o El País, o pacto entre os dois partidos inclui a descida de impostos, a introdução de um rendimento básico de cidadania de 780 euros mensais e subsídios para creches apenas destinados a famílias italianas.

7. O líder do M5S, Luigi di Maio, disse estar “muito feliz” com a definição do pacto de Governo, depois de “70 dias” de trabalho “intensos”.

24 de maio de 2018

RECRUDESCE A COCAÍNA NA COLÔMBIA: CULTIVO AUMENTOU 52%, PRODUÇÃO DE COCAÍNA AUMENTOU 34% E  PREÇO DO KG DE FOLHA DE COCA 43%!

(RF) 1. O procurador-geral da Colômbia, Fernando Carrillo, afirmou que o país está “inundado em coca” e que é preciso repensar as políticas para acabar com os cultivos ilegais. Carrillo disse aos jornalistas que o país vive “inundado em coca, especialmente nas áreas fronteiriças”, o que obriga a pensar num novo método, diferente da substituição voluntária, para pôr fim aos cultivos ilegais.

2. Em maio do ano passado, o Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, lançou um plano de substituição das plantações de coca, componente base da cocaína, para aplicar o acordo de paz assinado com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e terminar meio século de conflito armado.

3. Para Fernando Carrillo, o plano que oferece uma solução para os cultivadores de coca, de modo a que a substituam por produtos legais, não se tem mostrado eficiente. “Se de agora em diante, e como se tem verificado, a estratégia não funcionar, há que pensar noutras soluções”, disse.

4. O procurador-geral sublinhou que nas regiões onde o cultivo de coca aumentou, “há também uma crescente presença do crime organizado, grupos armados e cartéis internacionais”. “Onde há cartéis, crime organizado, pouca presença do Estado, a corrupção domina”, acrescentou.

5. O antecessor de Carrillo na Procuradoria Geral da República Alejandro Ordóñez já havia alertado, em 2015, que a Colômbia estava “a nadar em coca”.  O cultivo de coca na Colômbia aumentou 52% em 2016, tendo a área de plantação passado dos 96 mil para os 146 mil hectares, de acordo com um estudo, divulgado em julho passado, pela Agência das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC).

6. Em relação à produção de cocaína, o mesmo estudo calculou um aumento de 34%, de 646 toneladas em 2015, para 866 toneladas em 2016.  A ONU também sublinhou que o preço por quilo de folhas de coca aumentou 43% relativamente às estimativas de 2013, “o ano em que a tendência começou a ser de aumento da área plantada”.

23 de maio de 2018

“APATIA DO ELEITOR”! 

(Editorial Estado de S.Paulo, 21) 1.  Há na política nacional um clima de apatia e desencanto. Em menos de cinco meses haverá eleições e o cidadão mostra-se reticente com suas preferências. “Os eleitores estão sem perspectiva de melhora”, diz Márcia Cavallari, diretora executiva do Ibope Inteligência. “Não conseguem ver como sair desse lugar em que estamos, não conseguem enxergar uma luz no fim do túnel.”

2. O fenômeno da apatia com a política tem traços paradoxais. Nos últimos dois anos, o brasileiro experimentou uma melhora da situação econômica e social do País, que foi em boa medida resultado da mudança do governo federal. O impeachment de Dilma Rousseff serviu de ocasião para retificar os rumos da política econômica, com efeitos diretos sobre a inflação, o emprego, os juros, o consumo. Ainda há muito a fazer, mas a situação do País hoje é incomparavelmente melhor do que há dois anos. Há evidências empíricas, portanto, de que o modo como o País é governado tem consequências práticas sobre a população. Em tese, tal constatação deveria ser mais que suficiente para que o eleitor reconhecesse a importância da política e, portanto, das próximas eleições, para o seu futuro imediato. Do resultado das urnas dependerá a continuidade da reconstrução do País.

3. A percepção sobre a importância das eleições é, no entanto, ainda muito frágil. Na prática, a ideia de que as eleições periódicas são fundamentais para o País convive, sem maiores conflitos, com um profundo alheamento da política. Em geral, não se nega o valor do voto, mas ele é visto como incapaz de mudar o País. Segundo esse raciocínio, o melhor seria não criar expectativas com as eleições. Ou seja, o cidadão não parece disposto a utilizar o voto como um poderoso instrumento de mudança.

4. Entre as causas da apatia, que conduz a graves distorções na representação, ressaltam o populismo praticado pelo PT ao longo das últimas décadas e a demagogia que se tornou método de quase todos os partidos. De certa forma, o eleitor tem razão para estar frustrado. Foi-lhe dito que não era preciso cuidar do equilíbrio fiscal, foi-lhe prometida a diminuição dos juros por simples ato de vontade da presidente da República, foi-lhe afirmado que o déficit da Previdência não era motivo para preocupação, assim como tantas outras barbaridades. O lulopetismo prometeu ao brasileiro um futuro espetacular sem necessidade de esforço. A única condição para que o paraíso fosse definitivamente instalado na terra era manter o PT no poder.        

5. Como bem se sabe, não foi isso o que ocorreu. As lideranças petistas trouxeram de volta a inflação, o desemprego, o aumento dos juros. Em suma, o PT deu motivo para que a população desconfiasse do governo – qualquer governo – e descresse do País.   Para piorar, a crise econômica veio acompanhada de grandes escândalos de corrupção. Sob o discurso da preocupação social, tão repetido pelos petistas, havia uma enorme podridão moral, capaz de gerar casos como o do mensalão e o do petrolão. Os recursos públicos desviados ganharam proporções inéditas.

6. Diante desse quadro, houve quem tenha vislumbrado a oportunidade para difundir a ideia de que todo o sistema político estaria podre. Com adeptos no Judiciário e no Ministério Público, essa causa disseminou ainda mais desconfiança em relação à política. Se, como afirmam, tudo está irremediavelmente podre, qualquer medida que venha da política estaria viciada pela raiz. Essa atitude é profundamente antidemocrática, pois o trabalho de reconstrução do País caberia apenas a alguns poucos iluminados, que não receberam nenhum voto para isso.

7. O eleitor precisa resgatar o seu protagonismo, ressaltando toda a importância do voto para o futuro do País. Isso não significa que a simples ocorrência de eleições seja garantia inexorável de um futuro promissor. Significa que o voto é o instrumento democrático e legítimo para a mudança dos hábitos administrativos e dos costumes políticos que têm levado o País ao fundo do poço. Somente a consciência dos nefastos efeitos de escolhas irresponsáveis nas eleições pode levar o eleitor a uma conduta mais madura diante das urnas. Não se constrói um País sem a ativa participação política e o trabalho de seu povo.