18 de julho de 2018

“A RELAÇÃO ENTRE NOVAS E VELHAS MÍDIAS ESTÁ MELHORANDO O JORNALISMO LATINO-AMERICANO”!

(The Economist – Estado de S.Paulo, 17) 1. Durante os distúrbios na Nicarágua, o presidente Daniel Ortega tentou uma tática que já havia funcionado antes. Em León, reduto do governo, brutamontes leais a seu regime tentaram colocar estudantes universitários em um ônibus para Manágua para ajudar a suprimir os protestos. Os estudantes se recusaram. Eles tinham visto vídeos da polícia batendo em manifestantes e não queriam participar. A resistência, relatada em sites de notícias independentes, inspirou mais protestos. Depois que Ortega foi eleito, em 2006, ele vendeu metade dos canais estatais de radiodifusão, colocou seus filhos no comando da outra metade e deixou sua mulher (que também é vice-presidente) apresentarse por 20 minutos ao dia na TV nacional. Mas páginas nas mídias sociais estão cobrindo os protestos, enquanto canais mais estabelecidos, como o 100% Noticias, pararam de se autocensurar. “As pessoas não estão mais interessadas em notícias fornecidas pelo regime”, diz Carlos Fernando Chamorro, dono do Confidencial, um jornal independente.

2. Em muitos países latino-americanos, a mídia tradicional fez um trabalho razoável de responsabilizar os governos. Jornais de Brasil, Argentina, Peru e Guatemala investigaram a corrupção e ajudaram a derrubar presidentes e ministros. Na Colômbia, a Semana, uma revista de notícias, tem uma longa tradição de denunciar abusos das forças de segurança. Muitos jornalistas, especialmente em províncias distantes, foram assassinados por seu trabalho, muitas vezes por traficantes de drogas ou outros poderosos locais. Mas os mercados de mídia da América Latina tendem a ser pequenos e dominados por magnatas com outros negócios, que prezam o bom relacionamento com os governos. Eles estão sendo abalados pela mídia digital. “Sem a necessidade de comprar ou alugar máquinas de impressão, os editores digitais podem começar apenas com o trabalho duro”, diz Janine Warner, da SembraMedia, uma ONG que ajuda jornalistas latino-americanos a se tornarem empreendedores. Seu diretório lista mais de 770 sites em 19 países que “atendem ao interesse público” e não dependem de uma única corporação ou partido pela receita.

3. Nas ditaduras elas são as únicas vozes independentes dos meios de comunicação. Na Venezuela, o Efecto Cocuyo (“Efeito Vagalume”) relata fatos que o regime tenta esconder, incluindo contagens de homicídios e a taxa de câmbio do mercado negro. Em Cuba, empresas iniciantes como El Estornudo (“O Espirro”) e o Periodismo de Barrio, embora cautelosos em questionar a legitimidade do regime, trazem relatos críticos sobre o país. Em lugares mais livres, os iniciantes estão desafiando o oligopólio tanto quanto o oficialismo. De acordo com a Unesco, na maior parte da América Latina, uma única empresa controla cerca de metade do mercado em cada categoria de mídia. No Chile, duas empresas de jornais, El Mercurio e Copesa, têm mais de 90% dos leitores. Na Colômbia, três conglomerados têm quase 60% da audiência impressa, de rádio e internet. No México, o governo de Enrique Peña Nieto, cujo mandato termina em dezembro, manteve os jornais e as emissoras de TV tranquilos, comprando muitos anúncios. Concentração e viés provocam desconfiança.

4. Apenas um quarto dos latino-americanos acha que os meios de comunicação são independentes de interesses poderosos, de acordo com pesquisas do Latinobarômetro. A nova geração de jornalistas produziu alguns “furos” impressionantes. Repórteres do site Aristegui Noticias descobriram alguns dos maiores escândalos do governo de Peña Nieto, incluindo a compra de uma mansão por sua mulher com a ajuda de um empreiteiro. Em abril de 2015, o site informou que a polícia federal havia matado 16 civis em Apatzingán, cidade no centro do México. O jornal Universal teria se recusado a publicar a matéria. Chequeado tornou-se o primeiro site de checagem de fatos da América Latina, que deixa embaraçadas tanto a esquerda quanto a direita. Segundo ele, a campanha de Mauricio Macri, atual presidente da Argentina, recebeu contribuições de empresas que haviam conquistado contratos com o governo em Buenos Aires, enquanto ele era prefeito.

5. O site também revelou que as empresas de construção no centro da investigação de corrupção da Lava Jato, no Brasil, ganharam pelo menos US$ 9,6 bilhões em contratos supervalorizados na Argentina durante os governos de Cristina Kirchner e de seu marido, Néstor Kirchner. Em 2015, o Chequeado foi a primeira empresa de comunicação na América Latina a conferir os fatos de um debate sobre as eleições presidenciais em tempo real. “Nossa meta é aumentar o custo de uma mentira”, diz sua fundadora, Laura Zommer. No Brasil, a maioria das revelações da Lava Jato foi dada aos principais jornais pelos promotores. Novos meios de comunicação se concentram em temas negligenciados. O Jota disseca o Judiciário. O Nexo é especializado em jornalismo explicativo com gráficos e cronogramas. A Agência Pública, que se concentra em direitos humanos, revelou abuso de jovens negros nas favelas pela polícia e um acordo secreto entre o governo e empresas de mineração para reter a compensação às famílias de 17 pessoas que morreram depois que uma represa se rompeu, em 2015.

6. Os iniciantes estão produzindo mudanças. Quando o site Animal Político acusou o ex-governador de Veracruz de desviar milhões de dólares para empresas fantasmas, ele fugiu do México. Depois de uma perseguição de seis meses em pelo menos três continentes, ele foi capturado na Guatemala e aguarda julgamento. As publicações digitais também participaram de uma grande reforma na Argentina. Foi em grande parte graças a seus esforços que um projeto de lei para descriminalizar o aborto foi aprovado no mês passado pela Câmara dos Deputados. Os “furos” renderam elogios, incluindo uma participação em um prêmio Pulitzer para a Aristegui Noticias e a Connectas, da Colômbia, por seu papel nas reportagens sobre os Panama Papers, que revelaram a evasão fiscal de pessoas poderosas em todo o mundo. Também renderam represálias. Entre os 14 jornalistas assassinados no México, no ano passado, quase todos trabalhavam para estabelecimentos independentes. Segundo quase metade das 100 editoras pesquisadas pela SembraMedia, membros de suas equipes sofreram ameaças ou chantagens, e mais da metade perdeu publicidade.

7. Mas os iniciantes são financeiramente vulneráveis. Pouco mais de um quarto dos sites pesquisados pela SembraMedia faturou mais de US$ 100 mil em 2016 e metade perdeu dinheiro. Idealistas em relação ao jornalismo, muitos sites ignoram os resultados financeiros. Poucos acompanham quantos leitores possuem ou coletam informações demográficas que os ajudariam a obter publicidade.  Os mais bem-sucedidos tentam conciliar o idealismo com a necessidade de pagar contas. Alguns complementam a receita de publicidade com outras receitas, como subvenções. O Chequeado, que mais do que triplicou seu orçamento desde 2013 para US$ 770 mil, é exigente com os anunciantes, mas recebe dinheiro de ONGs estrangeiras e governos. La Silla Vacía, a terceira fonte de notícias mais influente da Colômbia, de acordo com pesquisa recente, recebe 57% de sua receita de doações e 28% de publicidade e patrocínios. O restante vem do financiamento coletivo (crowd-funding) e de uma plataforma na qual os acadêmicos podem publicar trabalhos acadêmicos. Jornalistas do El Faro, em El Salvador, fundado há 20 anos, recentemente começaram a usar ferramentas como o Google Analytics para entender e expandir seu público. Em dezembro, Natalia Viana, que fundou a Agência Pública há sete anos com um grupo de outras mulheres, reuniu sua equipe para escrever o primeiro plano estratégico do empreendimento.

8. À medida que os novatos amadurecem, os antigos meios de comunicação estão se tornando cada vez mais parecidos com eles. Parte da receita do Chequeado vem da oferta de cursos de treinamento em verificação de fatos para redações em toda a América Latina. Três sites de checagem de fatos começaram no Brasil nos últimos dois anos, incluindo o Truco, que faz parte da Agência Pública. Seu trabalho, por sua vez, levou gigantes como Globo e O Estado de S. Paulo a criar equipes de checagem de fatos.  A velha e a nova mídia estão colaborando também. Investigações conjuntas e acordos de distribuição tornaram-se comuns. Jornalistas fazem vaivém entre os dois. A Agência Pública, que publica todas as suas reportagens em colaboração com outros grupos de mídia, recebe uma dúzia de reimpressões em média em blogs e jornais como Folha de S. Paulo e Guardian. Essa fertilização cruzada está melhorando o jornalismo latino-americano, mesmo na Nicarágua. O entusiasmo demonstrado por sites independentes forçou as grandes empresas a “começar a fazer jornalismo ou se arriscar a perder espectadores”, diz Chamorro. As empresas iniciantes podem ser pequenas, mas seu impacto é considerável.

9. A relação entre novas e velhas mídias está melhorando o jornalismo latino-americano.

17 de julho de 2018

ONU: PRODUÇÃO E CONSUMO GLOBAL DE DROGAS BATEM RECORDE! 87 TONELADAS DE OPIOIDES APREENDIDOS EM 2016!

(Fernanda Mena – Folha de S.Paulo, 15) 1. O mundo nunca produziu tanta cocaína nem tanto ópio quanto hoje. As pessoas nunca fizeram tanto uso não medicinal de remédios com prescrição, em especial os opioides, cujo abuso levou à morte de mais de 63 mil pessoas nos EUA em 2016. E, pela primeira vez, subiu o número de pessoas com mais de 50 anos que usam e abusam de substâncias psicotrópicas.

2. Esse quadro, tão grave quanto complexo, foi exposto pelo Relatório Mundial de Drogas 2018 do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (Unodc), lançado na mesma semana que o Monitor de Políticas de Drogas das Américas, plataforma interativa que explora as mudanças do setor nos países do continente, seus mecanismos e impactos.

3. “As Américas estão liderando as inovações em políticas de drogas em vários sentidos, ainda que muitos países tenham similaridades nas abordagens mais convencionais”, diz Ana Paula Pellegrino, pesquisadora do Instituto Igarapé, responsável pelo projeto. Para ela, a inovação mais marcante são os mercados legais e regulados de maconha para uso recreativo no Canadá, no Uruguai e em nove estados americanos —que, no entanto, são pouco explorados no documento da ONU.

4. O relatório se concentra na produção de substâncias psicotrópicas consideradas ilegais, em quantidades apreendidas e no perfil de usuários. Registrou aumento de consumidores de drogas com mais de 50 anos, algo inédito desde que a ONU criou essas métricas e que se deve a dois fatores. Primeiro, ao fato de as gerações que cresceram num ambiente em que drogas eram populares estarem envelhecendo. Seria esse o caso dos chamados baby boomers, nascidos entre 1946 e 1964, que consumiram mais drogas em sua juventude do que as gerações anteriores, e dos quais muitos podem ter mantido o hábito na maturidade.

5. O segundo fator é que muitas pessoas mais velhas estariam buscando nessas substâncias ilícitas o alívio para dores e outros problemas. Isso explicaria por que as drogas mais consumidas nesta faixa etária são os opioides, os analgésicos e a maconha. Nos EUA, por exemplo, o número de consumidores de drogas com mais de 50 anos subiu de 3,6 milhões em 2006 para 10,8 milhões em 2016 —um aumento de 200%.

6. Com isso, o número de mortes por abuso de drogas nessa faixa etária também cresceu. Em 2000, 27% eram pessoas com mais de 50 anos. Em 2015, 39%. “Esse crescimento implica em fortes mudanças do ponto de vista da saúde pública e da orientação dos médicos, que muitas vezes prescrevem medicamentos analgésicos que contêm opioides sem se dar conta que seu uso pode gerar dependência”, avalia o psiquiatra Arthur Guerra, especialista em dependência química.

7. O aumento do uso não medicinal de remédios vendidos sob prescrição estaria ligado a essa prática. Para ter uma ideia, a quantidade de medicamentos opioides apreendidos em 2016 (87 toneladas) foi praticamente a mesma quantidade de heroína confiscada naquele ano (91 toneladas). Para Guerra, o tráfico dessas substâncias é muito mais fácil porque sua produção é legalizada. É o caso do fentanil, opioide cujo uso explodiu nos EUA e migrou para a Europa, e do tramadol, outro opioide farmacêutico que se alastra pelo Norte da África e pelo Oriente Médio.

8; Segundo o psiquiatra, as empresas produtoras desses remédios “serão acionadas em algum momento” pelos problemas de saúde pública que eles têm causado.

9. No extremo oposto da pirâmide etária também há problemas. O consumo de maconha entre adolescentes de 15 e 16 anos foi mais prevalente do que na população de 15 a 64 anos —5,6% deles consumiram maconha em 2016, ante 3,9% na população em geral. “Sabe-se que o dano provocado pela maconha é maior em pessoas cujo cérebro e o sistema nervoso ainda estão em desenvolvimento”, explica Gabriel Elias, coordenador de relações institucionais da Plataforma Brasileira de Política de Drogas.

10. “A regulação responsável dessa substância poderia diminuir esse uso precoce, já que a proibição torna o acesso igualitário para todas as faixas etárias.”

16 de julho de 2018

“CAIS DO VALONGO, NO PORTO DO RIO, SEM PROTEÇÃO E SEM RECURSOS”!

(Sonia Rabello, 12) Qual será o destino do chamado Cais do Valongo, declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO, localizado no Porto do Rio?

Na gangorra do vai e vem da absoluta falta de planejamento da Prefeitura do Rio, desde a gestão anterior, ninguém pode afiançar coisa alguma sobre o futuro desta área. Desde que o Cais do Valongo foi revelado, por conta das primeiras escavações das obras do projeto “Porto Maravilha”,

Há uma queda de braço entre “faturar”, internacionalmente, este excepcional patrimônio cultural, atribuindo-lhe o título honorífico de patrimônio mundial pela UNESCO, e, por outro lado, não deixar que este sítio arqueológico “atrapalhe” a previsão de ocupação de macro intensidade edilícia da área, densidade esta já vendida ao fundo imobiliária criado pelo Governo Federal via CAIXA.

Dois pontos merecem destaque, uma vez que o sítio do Cais do Valongo voltou a mídia.

1. A ausência de recursos, não só para agenciar e melhorar o próprio sítio e sua compreensão pelo público, como também para viabilizar a guarda e museificação dos objetos arquelógicos achados na área do Porto do Rio, local de  significado expressivo da memória da nossa tradição negra.

2. O outro aspecto, este importantíssimo, é que o dossiê brasileiro encaminhado à UNESCO afirma que o sítio patrimônio mundial está protegido porque é um sítio arqueológico tutelado pela  lei brasileira de arqueologia – lei 3924/1961 (p.123 do dossiê)* Ledo engano. Esta lei protege sítios arqueológicos pré-históricos tão somente para serem escavados, pesquisados e, posteriormente, poderem ser eventualmente ocupados.

Hoje, a proteção do sítio arqueológico do Valongo é quase inexistente. Isto porque todos sabiam, desde o início, da dificuldade que seria estabelecer uma verdadeira área de entorno/ambiência do sítio arqueológico caso houvesse sua real proteção pelo tombamento.

Havendo tombamento – o que protegeria de fato e de direito o Sítio Arqueológico do Valongo – haveria de se estabelecer uma área de entorno de sua visibilidade. Daí porque nem o dossiê, nem o IPHAN e nem a Prefeitura, (esta através do órgão de proteção do patrimônio cultural, o IRPH), moveram uma palha para tombar o sítio arqueológico.

E é por isso que o Sítio Arqueológico do Valongo continua desprotegido, apesar do espetáculo internacional de sua inscrição como patrimônio mundial! É como somos: irresponsáveis…

13 de julho de 2018

DIPLOMADO EM COMUNICAÇÃO POLÍTICA! SEGUNDA PARTE!

Universidade de Montevideo e Fundação Konrad Adenauer – Relatório de Antônio Mariano, presidente da Juventude Democratas – Rio de Janeiro.

4. Comunicação de Crise (Luciano Elizalde)

–       Comunicação de crise é ter uma boa equipe bem preparada tanto academicamente, como profissionalmente. Estão a todo instante treinando situações e conjunturas de crise, de modo a não perderem tempo na hora de reagir.

–       Crise é algo que foge ao nosso controle, em um momento inesperado, fora de qualquer manual.

–       É um momento aberto, sem previsão de fim e sempre imprevisível e improvável. É a hora buscar consenso para baixar a incerteza causada pela abertura.

–       Início do planejamento de uma crise: definição conjunta do problema, entender as características da organização e calcular expectativas e resultados. A partir daí, recrutar uma equipe, delegar funções dentro desta equipe, representar as situações complexas e unificar critérios e linhas de discurso.

–       A não unificação de critérios aporta a crise e você está sempre dentro, participando e vivendo a crise, nunca do lado de fora.

–       Apesar da crise ser um momento de descontrole e do imprevisível, é importante que cada organização tenha seu próprio protocolo de gerenciamento de crise.

–       Tempo da crise: 1) das redes (imediato e contínuo – necessidade de monitoramento constante e pressão mudando a cada instante), 2) da imprensa (rápida, mas não imediata – monitoramento constante, atenção permanente, necessidade de respostas prontas e estrutura temporal) e  3) justiça (bem mais lento – resultados legais).

–       Crise afetou a reputação ou a imagem? São duas coisas totalmente diferentes.

–       O motor e catalisador da crise é a imprensa.

–       O jornalismo sempre vai desconfiar da comunicação política e institucional, porque é seu trabalho fazer isso e buscar outras fontes e visões sobre a questão apresentada. Se nos irritamos com isso, é porque não entendemos o verdadeiro papel do jornalismo.

–       O melhor respaldo é o que é tomado como fonte posteriormente. E para a comunicação de crise é preciso muito respaldo.

–       Comunicação é tudo aquilo que pode mudar decisões. É um processo de negociação de longo prazo e por isso é difícil de prever. Na comunicação tentamos condicionar as decisões que serão tomadas.

–       A crise é produzida por um desequilíbrio nas relações de poder. O desequilíbrio se ativa por conta do dissenso público e/ou privado de certos jogadores e observadores.

–       Crise de julgamento. Situação social em que se julga e como resultado deste processo, muda a posição relativa do poder.

–       Crise de necessidade: Como uma experiência de necessidade não satisfeita sobre um recurso controlado por um certo jogador.

–       Crise de percepção. Como resultado da modificação da reputação e da imagem de certos jogadores.

–       Tempo: ter cenários para contar com mais tempo. Emoções e estresse: treinar-se para atuar “com distanciamento” temporal. Ações: controlar as soluções e opções. Poder: manter e fortalecer as relações de poder.

–       ANTES: 1) sem história: diagnóstico, cenários, treinamentos e protocolos; 2) com “história”: diagnóstico, fincar pé em cenários, treinamentos e protocolos.

–       DURANTE: 1) início: “enforcar-se” ou “re-enforcarse” em uma estratégica; 2) meio: gerenciar a crise cuidando de não produzir outras crises; 3) final: manter a estratégia.

5.  Media Training (Patricia Schroeder)

–       Entender o sistema de meio, compreender os critérios de “noticiabilidade” e preparar a mensagem.

–       Os meios de comunicação são empresas sujeitas às leis do mercado. Competem com outros meios e devem buscar a rentabilidade, subsistir e desenvolver-se.

–       Nos meios existem conflitos internos: a área administrativa se preocupa com custos e rentabilidade; a área comercial também se interesse pelos aspectos empresariais e; a edição/produção quer saber das notícias.

–       Critérios de “noticiabilidade”: novidade, originalidade, imprevisibilidade, ineditismo, evolução futura dos acontecimentos, proximidade geográfica, magnitude pela quantidade de pessoas, hierarquia dos personagens.

–        Elementos para um estratégia com os meios de comunicação: definir quem é o responsável final pelo tema, é necessário unificar o discursos (ter um porta voz), sustentar a verdade na transparência e com ideias força, conhecer e diferenciar os públicos, a informação interna deve fluir, é preciso desenhar um mapa de meios.

–       Como se preparar para a entrevista: preparar o tema com três mensagens, pensar e ensaiar as perguntas mais difíceis, escute-se e veja-se, praticar antes, preparar perguntas obvias e previsíveis (o que houve? Quem era o responsável? O que se espera para o futuro?).

–       O jornalista é apenas um intermediário, quem realmente importa é o público que irá receber a sua mensagem.

6. Comunicação de Governo (Mario Riorda)

–       Comunicação de governo (CG) é a mais a largo prazo de todos os tipos de comunicação política que existe. Transcende qualquer período.

–       Comunicação de riscos é feita para mudar hábitos e pode ser trabalhada junto com a comunicação de governo. Ex: qualquer campanha de prevenção feita por um governo, é uma comunicação de risco.

–       CG é criar legitimidade e isso demanda muito tempo.

–       Cada vez que aparece um fato político, necessariamente aparece um fato comunicacional.

–       Não existe separação entre a comunicação e a política, quem não sabe de um, não pode fazer um bom trabalho para o outro.

–       “Hiper personalização” é o conceito onde as pessoas ficam na frente das instituições. Exemplo disso é que partidos e coligações já não ganham mais campanhas eleitorais, mas sim os líderes, as pessoas.

–       No governo, o controle da estratégia da comunicação é muito menor do que na comunicação eleitoral.

–       As médias de avaliação dos governos na América Latina tem sido de 35% e de 60% de reprovação, salvo algumas exceções específicas.

–       Ira, bronca e ódio são três sentimentos que resumem perfeitamente o sentimento da população com relação aos políticos e governos.

–       A política é um grande caldeirão de elementos misturados e, por isso, não há apenas um erro que demonstre a descrença nela, mas é possível apontar dois principais: 1) a gestão das expectativas da população, os governos acham que as decisões são binárias, entre SIM ou NÃO, esquecendo que as pessoas querem muito mais do que isso e; 2) as crises e os ciclos econômicos dos últimos anos, que sempre afetam qualquer governo.

–       Segundo Latino barômetro, os problemas de 20 anos atrás são exatamente os mesmos: falta de trabalho, pobreza estrutural e corrupção (esta última cada vez mais evidente).

–       Ter estilo de governo é importante, mas quando ele se sobrepõe a fazer a verdadeira política, o bom governo acaba.

–       O conceito de múltiplas agendas é algo que veio para ficar. Por exemplo: na mesma manhã, na Argentina, foi aprovada a despenalização do aborto pela Câmara dos Deputados, houve o início da Copa do Mundo e, por fim, a corrida bancaria mais importante dos últimos anos. Ou seja, não existe mais a ideia de que um agenda vai se sobrepor a outra na mídia e – muito menos – nas redes sociais.

–       A média de mudança das manchetes dos principais jornais do mundo é maior do que os trending topics do Twitter.

–       A “hiper personalização” é um fenômeno internacional e que vem sendo mais presente nos governos parlamentares da Europa. Não é algo exclusivo da América Latina.

–       O único país da América Latina que não rompeu com o seu sistema partidário foi o Uruguai.

–       Em análise realizada nas 63 áreas com mais de um milhão de habitantes na América Latina (exceto Cuba e Haiti), verificou-se que 35% das equipes cuidavam apenas da comunicação do governo local, enquanto 62,5% cuidavam tanto da comunicação governamental como do próprio prefeito. “Simbiose”.

–       Uma área de comunicação no mesmo nível que outras pastas (p. Ex. Secretaria de comunicação de uma Prefeitura/Governo) é bom porque gera um mesmo nível de hierarquia e de importância para o setor. Por outro lado, é péssimo porque não gera transversalidade do tema entre as demais pastas. Chamado “governo analógico”.

–       No “governo digital”, a área responsável pela comunicação é independente, das demais áreas, respondendo apenas ao governante. Isso garante transversalidade em todo o governo.

12 de julho de 2018

DIPLOMADO EM COMUNICAÇÃO  POLÍTICA! PRIMEIRA PARTE!

Universidade de Montevideo e Fundação Konrad Adenauer – Relatório de Antônio Mariano, presidente da Juventude Democratas – Rio de Janeiro – 25/06 a 02/07- 10 horas de aula por dia.

1. Comunicação Política e Opinião Pública (Belén Amadeo)

– 3 máximas da comunicação: 1) tudo comunica, 2) se eu não comunico, alguém o fará por mim e, 3) a mensagem é do receptor e não do emissor.

–       Opinião pública é formada pela soma de três fatores: a classe política, os cidadãos e os meios de comunicação.

–       Se você tem perfeita noção do que quer transmitir e também sabe o que o adversário quer dizer, é possível construir um consenso, caso seja necessário. Ambos os lados devem estar em sintonia para construir juntos.

–       Comunicação governamental e comunicação eleitoral são dois tipos de comunicação política completamente distintos.

–       A comunicação muda de país a país, uma campanha da Guatemala não será exitosa no Uruguai, por exemplo, dada a cultura política diferente. Para ter sucesso, é preciso entender os sistemas eleitorais, de governo e de partidos de cada país.

–       Características da opinião pública: 1) polissêmica, 2) interdisciplinária e 3) dependente do contexto histórico e cultural.

–       A primeira vez que foi cunhado o termo, foi no ano de 1750 pelo ministro de finanças do rei da França, quando disse que era preciso “prestar contas à opinião pública”.

–       Todas as definições de opinião pública são válidas, visto que é um conceito mutável, equívoco e seu estudo nos aporta múltiplas definições.

–       Quatro momentos da opinião pública: 1) Pré-moderno (quando a opinião não era pública, o povo não era um ente, não havia o conceito de nação – época de Maquiavel); 2) Moderno (criação de espaços públicos genuínos, de trocas comerciais e informações; início de pensamentos liberais; maiorias e minorias); 3) Científico (a partir do século 19, com a sociedade como objeto de análise e ente comum; até a década de 1930, prevalecia uma opinião mais qualitativa, até que as pesquisas quantitativas começaram a aparecer nesta época); 4) Midiático (a partir do final da década de 1970, com a massificação da televisão).

–       Para os jovens atuais não tem diferença entre vida real e vida virtual, para eles é tudo uma única coisa. E se queremos trabalhar com comunicação, devemos ter isso em mente e saber que essa nova geração lida com o poder de uma maneira totalmente diferente da qual estamos acostumados.

–       Os políticos atuais não vão ter sucesso com a nova geração, porque sequer sabem para que servem as redes sociais.

–       Definição de cultura política (1960): conjunto de orientações políticas de uma comunidade nacional ou subnacional; ter componentes cognitivos, afetivos e de avaliação, que incluem conhecimentos e crenças sobre a realidade política, os sentimentos políticos e os compromissos com os valores políticos.

–       O conteúdo da cultura política é o resultado da socialização primária, da educação, da exposição aos meios e das experiências adultas das atuações governamentais, sociais e econômicas.

–       A cultura política afeta a atuação governamental e a estrutura política condicionando-as, ainda que não determinando-as porque sua relação flui em ambas direções.

–       4 gerações: baby boomers, analógicos, filhos da segunda guerra mundial e nascidos entre 1946 e 1964; geração X, imigrantes digitais, juventude dos anos 1980 e nascidos entre 1965 e 1979; geração Y, nativo digital, millenials e nascido entre 1980 e 2000 e; geração Z, nativo digital, geração internet e nascidos a partir de 2001.

–       A identidade saiu das instituições e foi para os indivíduos.

–       O que acontece quando há eleições a cada dois anos? A legitimidade de origem se renova constantemente e isso altera tanto as relações de poder como a sua comunicação.

–       Elementos que devem ser considerados: marco institucional, relações de poder, história recente, cultura política e mapa de meios de comunicação de massa.

–       Definição de populismo é contestada dentro da literatura política e vai depender sempre do contexto histórico e cultural de cada país.

–       Qual é o tipo de democracia na América Latina? Segundo diversos estudos, é possível chegar a seguinte conclusão: 1) poder personalista; 2) descrença nos partidos políticos; 3) fãs e seguidores antes de interlocutores e cidadãos e; 4) é construída via meios de comunicação e pesquisas de opinião.

–       Meios de comunicação são instituições, ou seja, transcendem as pessoas – e transmitem conteúdos simbólicos.

–       Impacto da TV na política: midiatização, audiovisualização, espetacularização, personalização e marketinização.

–       Conceito de cidadão supõe uma pessoa politicamente mobilizado e/ou inquieto. Diferente de um espectador, que apenas senta e observa, esperando para ver o que vai acontecer.

–       Os meios de comunicação impõe a sua lógica de entretenimento na construção da realidade política.

–       Mujica: reality show; Cristina: novela; Chávez: talk show. Cada presidente tem seu próprio jeito de fazer política midiática.

–       Os meios de comunicação se constituem em atores, cenários e dispositivos fundamentais para a política.

–       Amplificam a comunicação política, mas tiram a profundidade, argumento e densidade. Ganham estética e impacto.

–       Os políticos ou amam, ou odeiam os meios de comunicação, mas acreditam neles e dão legitimidade.

–       Auge e consolidação dos meios de comunicação, declive do discursos racional – o debate entre iguais e tempos maiores. Governar é um ato de estar em uma cena midiática, mais do que tomar decisões frente aos grandes problemas.

–   Sistemas eleitoral, de governo e de partidos condicionam a comunicação de governo.

–       A equipe de comunicação oficial faz a gestão em tempos de constantes campanhas, ainda que não seja um sistema de campanha permanente.

–       Há uma sensação de interação, mas se conserva a lógica de comunicação unidirecional.

–  “Extimidad”, todos os protagonistas de uma comunicação governamental que cada vez se centra mais nos homens e menos na gestão – e o que buscam com histórias é aumentar a avaliação da gestão.

–       Cuidado para não ter uma história extremamente personalista. Governo é gestão, e também deve executar e comunicar. As pessoas querem ver GESTÃO. O destinatário da gestão e da comunicação devem ser os cidadãos.

–       Oposição não mostra gestão, mas apenas projetos concretos e tangíveis. Nunca algo megalomaníaco, para não iludir e confundir a sociedade.

–     A comunicação de posicionamento para um indivíduo que está dentro de um partido manchado não adianta muito. É quase certo que vá perder.

–       Seu pior inimigo está dentro do partido e nunca no outro, mas é dele que você vai precisar de apoio na hora da eleição, então é preciso saber medir o humor político do momento para ver até que ponto a briga com ele pode ir, sem perder o apoio posterior da população.

–       Tipos de comunicação: 1) eleitoral (com dinheiro, agilidade, acidez, glamour), 2) governamental (estratégica, comunicação de feitos, crescendo nos últimos 15 anos), 3) de posicionamento (ante sala da comunicação eleitoral, para apresentação do candidato, mas é preciso que seja feita com um atributo associado ao candidato, com muita pesquisa e planejamento prévio – meses e até anos) e 4) de oposição (comunicação mais reativa ao que o governo diz, de preferência estando em um cargo legislativo ou em um subnacional menor, para poder apresentar projetos mais concretos e com maior facilidade).

2. Estratégias Audiovisuais em Campanhas (Elisa Lieber)

–       A midiatização da política + a preferencia dos eleitores pelo visual em lugar do argumento, coloca a videopolítica no centro da atividade proselitista. Videopolítica é o domínio da imagem e das ferramentas da comunicação audiovisual.

–      As imagens constituem, na verdade, representações políticas simplificas e esquematizadas.

–       Quando a identificação com um partido perde importância, surge a necessidade de buscar atalhos alternativos.

–       Fatores que incidem na videopolítica: conteúdo, comunicação verbal (o que e como falamos), comunicação não verbal, diferentes tipos de emissões e jornalistas e a posição no cenário (fundo, vestimenta, detalhes, etc).

–       Os conteúdos: o resumo, o debate, prepara as respostas que devem ser dadas em público, chaves centrais da mensagem, como condensar o discurso?, responder o que é perguntado, preparar-se para lançar manchetes, media training específicos para conteúdos.

–       Comunicação verbal: valorização do uso de frases eficazes, engenhosas, provocativas, da réplica. Frequentemente damos mais valor a um tom mais leve e anedótico.

–       Frases relativamente breves para que se entenda melhor; reduzir a variedade de vocabulário para ser massivo; gesticular sem ser exagerado; enfatizar algumas palavras chave; falar devagar; dar ritmo nas respostas; trabalhar o tempo a seu favor; a importância da espontaneidade em tempos de redes.

–       Comunicação não verbal: a dificuldade de exercer um controle sobre a própria mensagem audiovisual, devido a importante papel que joga a comunicação não verbal, e que pode modificar consideravelmente a mensagem, apesar de todos os esforços feitos para balancear.

–       Ter cuidado com a postura e com os movimentos das mãos; não mover-se na cadeira; ser o mais natural possível; muitas vezes os telespectadores não lembram do conteúdo de uma entrevista, mas a firmeza, o entusiasmo e ter sido amigável.

2.1. Estratégias Audiovisuais em Campanhas (Elisa Lieber)

–       O jornalista vai sempre colocar a câmera na altura dos olhos, mas nunca deixe que te filme de cima.

–       Perguntas que devemos fazer antes de ir a um programa: qual é o programa que estou indo?, qual o horário de gravação e de exibição?, aonde será feita a entrevista?, será o único entrevistado?, quem é o jornalista entrevistador?, quais temas serão abordados?, existe algum evento extra?

–       Entrevistas ao vivo apenas se você tiver 100% de certeza de que está 100% preparado para responder.

–       Nos debates: preparar as regras e a forma – quando mais interrupção, mais divertido; quem começa?, limites de tempo?, interrupção?, onde ficam?, decoração (fundo, púlpito, etc)?, edição dos planos?

–       Story-telling: conte a história da sua forma.

–       Quem é o herói, o candidato ou o cidadão? Sempre o cidadão, o candidato é o mentor, o que ajuda, mas nunca o protagonista.

–       Quem realiza sabe o enquadre correto, a iluminação e o som. Sempre conte com um técnico especialista, se quiser um bom resultado.

–       Redes sociais são para mensagens espontâneas. Atuações ficam par a televisão.

–       Cada rede é diferente, em algumas se utilizam memes e gifs, em outras fotos, outras textos, etc. O conteúdo não pode ser homogêneo.

3.  Relações entre os Poderes Públicos (Roberto Starke)

–       A democracia de hoje.

–       A divisão de poderes está em xeque por diversos atores.

–       Acreditar na independência dos três poderes é acreditar em uma utopia.

–       A política vive da heterogeneidade social. A ordem política implica obrigações, proibições e coerções. A política discrimina e divide. Não existe conflito de ideias que não esconda um conflito de pessoas.

–       A política não é universal e vai de mãos dadas com o conflito, mas também é consenso e ambos vão se equilibrando.

–       Política é feita para políticos. São sobreviventes natos, sobrevivem todos os dias.

–    Quem consegue controlar o tempo tem uma habilidade política fora do comum. Prestígio, circunstância e tempo, quando bem combinamos, resultam na possibilidade de sobreviver e adaptar-se permanente e alcançar os objetivos.

–       A democracia é um regime que busca a distribuição de poder na sociedade; tenta um equilíbrio de poder; uma das conquistas deste regime é a distinção entre a sociedade civil e a sociedade política. É um princípio de legitimidade, é um ideal. É um sistema político para resolver problemas de exercício de poder.

–       A democracia deve ser: 1) fundamentalmente uma democracia representativa, 2) primar pelo Estado de Direito, 3) proteger os direitos e as liberdades individuais e coletivas, 4) existe e se fomenta no pluralismo político, sempre respeitando as minorias, 5) com separação e independência entre os três poderes e 6) ser praticada com o sufrágio universal através de eleições livres e respeito às leis.

–       O conceito de Estado Nação tem estado em xeque, a partir do momento que um dos seus conceitos, o território, passa a ser algo totalmente permeável (vide a imigração).

–       Atualmente não são as massas que constituem um desafio para a democracia, mas sim a sua apatia.

–       Promessas não cumpridas da democracia: 1) sociedade pluralista, 2) a revanche de interesses (particular X público), 3) persistência das oligarquias, não se pode derrotar o poder oligárquico, 4) a democracia política e a democracia social – a democracia não tem conseguido ocupar todos os espaços aonde é exercido o poder, 5) o poder invisível, 6) o cidadão não educado e 7) o voto por trocas (clientelismo).

–       Democracia no século 21: fragmentação de poder, descrédito dos partidos políticos, ressurgimento da antipolítica, poderes econômicos tem um dimensão cada vez mais global, a política não termina de criar dimensão frente a economia, local X global e a globalização dos problemas.

–       Igualdade se opõe a liberdade. Valores são contraditórios entre si, o que demonstra que não existe sistema perfeito, mas o sistema que responde as circunstâncias.

–       A democracia não é uma resposta universal, já que tem mais a ver com a cultura política de cada país.

–       Sociedade civil é todo o mundo que não está vinculado a política estatal ou partidária. É a esfera em que os cidadãos se organizam de maneira autônoma e diferenciada tanto do mercado, como do Estado.

–       Ampliar a participação é ampliar o escopo de pessoas passíveis de tomarem decisões e a partir do momento em que isso acontece, perde-se consistência nas decisões tomadas.

–       A partir do momento em que a decisão fica mais próxima da população, mais legítima ela é. Do contrário, há críticas.

–       A sociedade civil pode influenciar, mas não tomar as decisões. Há uma relação formal, mas pouco efetiva, junto a classe política.

–       A sociedade civil hoje é um ator decisivo, visto que o Estado vem perdendo capacidade de tomar decisões e cumprir promessas. Ocorre um vazio entre poder e política.

–       As redes sociais otimizam a capacidade de mobilização e desafio o controle e a vigilância do Estado. No meio disso tudo, aparecem movimentos cada vez mais complexos para a democracia.

–       O poder é a capacidade de impor ou pedir as ações atuais ou futuras de outras pessoas ou grupos. O poder se expressa de quatro formas fundamentais: pela força, pelo código, pela mensagem e pela recompensa.

–       A força é o instrumento mais contundente através da qual se exerce o poder. O código apela para a obrigação moral sem coerção, por imposição social ou costume. A mensagem é a capacidade de persuadir os outros a mudarem ou aumentarem sua percepção sobre os interesses de quem persuade. A recompensa usa benefícios materiais para induzir um comportamento.

–   Existem três tipos de poder: soft power (convencimento e sedução – Obama), hard power (força – Putin) e o sharp power (mistura de ambos, mas exige uma enorme manipulação da informação, de ideias, percepções políticas e processos eleitorais – Merkel e Macron).

–       Sharp power, o poder agudo. O exemplo mais preciso são os meios de comunicação. “O que tem, será dado. O que tem pouco, será retirado, Castells.

–      Lógica dos meios: Somente os que tem informações estão em condições de receber mais informações. Aqueles sem informação ampliam a brecha entre o indivíduo e a realidade.

–       Jornalismo: legitimar a informação e quem converte a informação em comunicação.

–       Que tipo de liderança quer o povo? Conciliadores, menos confronto e mais resolução, respondendo as demandas sociais, éticos e transparentes, menos marketing e mais emoção.

–       Líderes transformadores: surge em períodos de instabilidade, as crises liberam os líderes das correntes tradicionais e o lema é “Vamos mudar a história”.

–       Líderes transacionais: o líder que privilegia o status quo e que é muito efetivo em ambientes prescindíveis. A grande maioria dos líderes são assim.

–   Soft power: inteligência emocional, visão e comunicação. Hard power: capacidade organizacional e a capacidade de articular coalizões políticas e sociais.

–       Fenômeno do populismo: difícil de definir, sinônimo de anti establishment, reflexo do mau humor social, tende a sequestrar o aparelho estatal, se desprende dos intermediários, se respalda em simples organizações e não em partidos, assédio à sociedade civil, discurso de nós X eles é o eixo da comunicação e não responde a uma ideologia.

–       A ideologia é um conjunto de ideias que explicam a realidade a partir de uma única forma.

–    A mobilização da sociedade civil pode dar total legitimidade para um líder populista.

–       O populismo chega ao poder a partir do momento em que põem-se em dúvida as regras, procedimentos e instituições, suspendem ou são alteradas as liberdades civis, desconhece a legitimidade do rival e quando encoraja a violência.

–       A cidadania está indignada e perdeu a confiança dos políticos em geral. As instituições e os partidos tem uma capacidade tardia de resposta e dão a sensação de serem pouco transparentes. A revolução das comunicações tem feito que a população tenha à disposição uma grande quantidade de informação de forma imediata e, ademais, também se converteram em transmissoras de opiniões.

–       Há 20 anos o mundo estava dividido entre “bons” e “maus”. Hoje em dia, quem são os bons e quem são os maus?

11 de julho de 2018

ELEIÇÃO SERÁ DECIDIDA NOS PÊNALTIS!

(Bruno Boghossian – Folha de S.Paulo, 07) 1. A eliminação precoce do Brasil na Copa pode até redirecionar alguns holofotes para a eleição presidencial, mas a disputa deste ano só será resolvida nos acréscimos. Fora dos campos, o quadro político continua indefinido, os partidos prolongam suas articulações e os eleitores permanecem indecisos.

2.  Em 2014, cerca de 15% dos brasileiros chegaram à véspera da abertura das urnas sem um candidato escolhido. Isso significa que 21 milhões de votos foram definidos nas 48 horas que antecederam o primeiro turno. Outros 19% se decidiram apenas duas semanas antes de votar.

3. Tradicionalmente, metade dos eleitores não consegue escolher um candidato de maneira espontânea antes do início da propaganda eleitoral na TV. Este ano, a indefinição deve se prolongar: a legislação mudou e os programas dos presidenciáveis só estrearão em setembro.

4. Os partidos aproveitam a confusão para adiar a definição de suas alianças e conseguir barganhar bons acordos com os candidatos. As siglas que formaram um bloco de negociação liderado por DEM e PP, por exemplo, prometiam definir seus rumos após a participação da seleção brasileira na Copa, mas o martelo ainda pode levar de 10 a 15 dias para ser batido. O grupo tende a fechar com Ciro Gomes (PDT), mas Geraldo Alckmin (PSDB) continua de olho em algumas das legendas.

5. A disputa em ritmo de aquecimento favorece Jair Bolsonaro (PSL). O deputado lidera parte das pesquisas, consolida seu eleitorado e foge da exposição a ataques de rivais. O mesmo vale para o PT, que esconde seu verdadeiro candidato no banco de reservas e insiste no nome de Lula.

6. A eleição só começará a tomar forma quando os petistas lançarem esse substituto —provavelmente Fernando Haddad— e quando as coligações mostrarem se Bolsonaro e Ciro terão acesso a uma fatia razoável de tempo na propaganda eleitoral.

7. O cenário deve continuar nebuloso por mais tempo. Os times ainda nem entraram em campo, e o placar só será definido nos minutos finais.

10 de julho de 2018

“TITE É BIPOLAR”! 

Ex-Blog entrevista um técnico sênior, de larga experiência nacional e internacional.

Ex-Blog: Com sua enorme experiência como treinador de clubes e seleções de futebol, como analisa a performance do técnico Tite na Copa do Mundo de 2018?

Técnico Sênior: Não é uma análise simples e, por isso, preferi não responder com meu nome. Ele se tornou uma unanimidade da mídia e dos comentaristas e foi aclamado, talvez em função disso, pela opinião pública.

EB: Mas se tiver que avaliar Tite como treinador da seleção brasileira nesta Copa do Mundo de 2018, de uma forma -digamos- sintética, como o focalizaria?

TS: Vamos tratar desta Copa do Mundo. Pelo menos, nela, Tite foi BIPOLAR.

EB: Explique.

TS: Para facilitar, vamos ficar com as imagens de Tite, nas transmissões e cobertura da televisão. Nas entrevistas pessoais e nas entrevistas coletivas, Tite respondia como um intelectual, como um cientista do futebol. Falava de forma professoral. Fatiava suas explicações em técnicas da equipe e dos jogadores e psicológicas da equipe e dos jogadores. Aparecia como um verdadeiro doutor de futebol e de psicologia esportiva.

EB: Bem, esse é um aspecto, um polo. Mas você falou em bipolar. Qual o outro polo?

TS: Mas quando entrava em campo e começava a partida, Tite se transformava. Na beira do campo perdia a serenidade das entrevistas. Era como se perdesse o autocontrole. A emoção o levava a correr, gritar, assobiar como se estivesse com um apito na boca. Gritava, gesticulava, apontava de longe para os jogadores como se eles pudessem à distância entender os berros e os gestos. Sua queda depois de um gol do Brasil é exemplo disso.

EB: É isso que você chama de bipolaridade no Tite?

TS: Exatamente. Os jogadores não tinham como entender essa transformação. O psicólogo dos jogadores os tratava paternalmente. Isso certamente os inibia. Nas entrevistas e coletivas, ele dizia que teve uma conversa pessoal de pé do ouvido, com este ou aquele jogador quando justificava seus atos. Então para que dar essa informação à imprensa?

EB: Essa bipolaridade que efeito tinha?

TS: Inevitavelmente produzia confusão nos jogadores. Talvez explique o comportamento oscilante do Neymar, por exemplo.

EB: Que outro exemplo?

TS: As expressões faciais de Gabriel Jesus, na fronteira do sério e do choro, é uma imagem clara disso. O zagueiro David Luiz foi muito criticado em 2014, por seus impulsos, alegrias e choros. Tite, na beira do campo, foi um David Luiz de 2014 em 2018. A seleção não teve capitão fixo. Não precisava, pois Tite “acumulava”.

EB: Compare com os demais técnicos?

TS: Na beira do campo quem mais se aproximou de Tite foi o técnico argentino Sampaoli. Por isso terminou “substituído” de fato pelo jogador Mascherano. Repare a postura dos técnicos vencedores em 2018. O técnico da Croácia, de terno, assistia os jogos sentado em boa parte do tempo. Os técnicos inglês, francês e belga, para apenas citar estes, da mesma forma. Na beira do campo, mostravam postura e tranquilidade.

EB: Vamos tratar de Tite tecnicamente, como tático, como estrategista em campo. O que comentaria?

TS: Nosso acordo para esta entrevista era não tratar destas questões, pois isso depende também de como formulam seus adversários. Mas para não deixar você sem resposta, vamos lá. O técnico do México inverteu a tática que usou contra a Alemanha e partiu no início do jogo contra o Brasil de forma intensamente ofensiva. Demos sorte, pois o México poderia ter feito naquele início do jogo um ou dois gols. O técnico da Bélgica copiou Osório, do México. E deu certo, fazendo dois gols. Tite, contra a Bélgica, deveria ter avaliado a possibilidade de a Bélgica fazer como o México. Resultado: levou dois gols, se perdeu no primeiro tempo e só foi acordar no segundo tempo. E vou ficar por aqui. E no caso de Fernandinho, quem errou foi Tite e não ele.

EB: Algo mais para terminarmos a entrevista?

TS: O Brasil venceu cinco Copas do Mundo. Só em 1958 venceu na Europa, na Suécia. 60 anos atrás. Todas as demais quatro foram vencidas fora da Europa. Tite deveria se alertar para isso.

09 de julho de 2018

2018: A ELEIÇÃO DO VOTO ÚTIL!

1. Entra pesquisa e sai pesquisa, de antigos e novos institutos de pesquisa, e os números pouco flutuam.

2. Bolsonaro mantém seus 20% ou pouco menos, que não mudam há meses. O segundo grupo, da mesma forma: Marina, Ciro Gomes e Alckmin que oscilam entre 7% e 10%, em geral, com Marina na frente, seguida por Ciro Gomes e Alckmin. Alvaro Dias continua estancado em 5%, concentrados no sul.

3. A única novidade é a inclusão do nome de Haddad, do PT, precedido de “candidato do Lula”. Sem isso, ele está no grupo de baixo, com 2%. Com essa inclusão, ele tem quase 10%. Essa transferência não vem dos demais candidatos, mas dos que não marcam nenhum candidato, que passam de cerca de 35% para 30%. Essa informação o eleitor terá progressivamente em campanha.

4. Com isso, o segundo grupo, dos 10%, passa a ter mais um nome: Marina, Ciro Gomes, Haddad e Alckmin.

5. Para este segundo grupo só vale atirar em Bolsonaro se houver a expectativa de que eleitores de Bolsonaro possam passar a serem eleitores de um dos outros do segundo grupo. Essa hipótese é improvável para os eleitores de Haddad e Marina.  Os demais vão contar com a cobertura do noticiário que, pelas características e história de Bolsonaro, devem afetar a intenção de voto em Bolsonaro. Ou já afetaram, dada a sua estabilização em pouco menos de 20%.

6. Haddad terá que contar exclusivamente com o impacto do apoio de Lula, que será cada vez mais aberto. Ou seja, da transferência do Não Voto para ele, ou, muito marginalmente, de Ciro Gomes e Marina.

7. A disputa dentro do segundo grupo explica a maior flexibilidade política/ideológica dos candidatos do segundo grupo -excluindo Haddad- pelo apoio dos partidos e políticos, de centro e centro-direita.

8. A diferença entre estes, do segundo grupo, está dentro do que os institutos chamam de empate técnico. Isso leva todos eles a lutarem pelo “voto útil”, ou seja, “já que o meu preferido tem menos chance, então vou optar por outro”.

9. O voto útil pode ser ajudado pelas pesquisas, na medida em que as diferenças no segundo grupo cresçam. Mas -e de qualquer forma- deve ser induzido pela campanha dos demais. E não se trata de bater no adversário cujo eleitor possa decidir transferir seu voto. Isso, às vezes, fixa mais o voto.

10. A comunicação pelo voto útil deve ser direta, ou seja, sem bater, mostrar que as chances de um candidato são diminutas e, por isso, pragmaticamente, o eleitor deveria fazer o voto útil, mudando a sua intenção de voto.

11. Já sem a Copa do Mundo, as eleições passarão a concentrar a atenção dos eleitores. Aguardemos as pesquisas de agosto.

06 de julho de 2018

NOTA DO DEMOCRATAS À IDC SOBRE A CONJUNTURA BRASILEIRA!

BRASIL:

1. POLÍTICA.

Brasil terá eleições gerais para presidente, governadores, senadores, deputados federais e deputados estaduais em 7 de outubro de 2018. O quadro político geral é de grande rejeição aos políticos. As eleições recentes que ocorreram por afastamento de dois governadores e alguns prefeitos, mostraram uma alta taxa de abstenção + votos brancos e nulos, que somaram mais de 40%. Com isso a imprevisibilidade para outubro é muito grande. A operação “Lava Jato” – versão brasileira da operação “mãos limpas” italiana, continua com prisões de políticos, empresários e doleiros (operadores de câmbio). Lula foi condenado e permanece preso em uma sala da policia federal. Mesmo assim, seu nome continua liderando pesquisas para presidente com 30%, embora a justiça em todas as instâncias decidiu que ele não pode ser candidato a presidente. As pesquisas mostram um deputado (ex-capitão do exército) de extrema direita liderando com 20%. Está em um pequeno partido o que o prejudicará em campanha pelo tempo de TV. Segue Ciro Gomes de centro-esquerda, com 10%, que procura se aproximar do centro, inclusive do Democratas, e chamou um economista liberal para assessorá-lo e suavizar sua imagem. Seguem Marina Silva, 10%, de origem como ecologista, ex-senadora e ex-ministra, ex-candidata a presidente, também de um pequeno partido; e Alckmin, do PSDB, de Cardoso, ex-governador de S.Paulo, que surpreende pela baixa intenção de votos (7%). As coligações de apoio aos candidatos ainda estão em formação. As convenções ocorrerão em agosto. A impopularidade do presidente Temer é recorde, com apoio de menos de 10% dos eleitores.

2. ECONOMIA.

As reformas liberais que vinham sendo aplicadas com sucesso foram interrompidas, especialmente a reforma previdenciária, após denúncia pelo procurador geral contra o presidente, o que mobilizou o Congresso na votação da autorização para seu afastamento. O Congresso negou e o processo volta em janeiro de 2019, quando Temer perder o foro de presidente. A inflação caiu para 3% ao ano, subindo agora um pouco após a greve geral dos caminhoneiros, que parou o país por 15 dias. O PIB cresce lentamente e a previsão para 2018 é que cresça 2%. A taxa de desemprego de 10% vem diminuindo muito lentamente. Uma notícia positiva é que todos os candidatos a presidente têm declarado, através de seus porta-vozes e assessores econômicos, que já no início de 2019 as reformas, especialmente a previdenciária, prosseguirão. Um problema adicional é a crise argentina, que tem afetado a economia brasileira. A economia argentina é frágil por seu pequeno mercado financeiro e poupança preferencial em dólar.

3. JUDICIÁRIO.

Há um enorme empoderamento do poder judiciário, não só pela operação “Lava Jato”, como pelos seus desdobramentos. O Supremo Tribunal Federal tem destaque diário na imprensa, com suas decisões. Passou a ser o poder de fato. Neste momento, se encontra dividido. São 11 ministros distribuídos em 2 câmaras de 5 ministros. A presidente só delibera em plenário completo. Numa câmara há resistência aberta aos excessos da operação “Lava Jato”.

4. DEMOCRATAS.

O Democratas não deve lançar candidato a presidente da República. Sua prioridade é eleger deputados e continuar presidindo a Câmara de Deputados, que tem enorme poder. A Câmara de Deputados é pulverizada. Os dois maiores partidos (PMDB e PT) tem um pouco menos de 15% dos deputados. PSDB 10%. Democratas 8%. São 513 deputados. A imprevisibilidade quanto à próxima eleição é grande. A eleição de Lopes Obrador no México era previsível. O que não era previsível é que seu partido recém criado (Morena) elegesse a maioria relativa de deputados e senadores.

CESAR MAIA

05 de julho de 2018

A CRISE ARGENTINA COMEÇA A SALPICAR NO BRASIL!  

1. (Janaina Figueiredo – Globo Online, 03) Segundo recentes pesquisas divulgadas pela imprensa local, o cenário para o chefe de Estado mudou drasticamente e hoje sua popularidade alcança 37,9%, contra um índice de rejeição que já chega a 59,8%. O inferno astral de Macri só piora. Mas o panorama político tem mudado rapidamente e, faltando mais de um ano para as presidenciais, a preocupação é grande na Casa Rosada. A crise desencadeada pelas demissões em massa na Télam somou-se às instabilidades no mercado cambial (o dólar está perto dos 30 pesos), desaceleração econômica (a projeção de crescimento neste ano caiu de 3% para 1%), perda de cerca de 100 mil empregos nos primeiros meses do ano, tensão com os sindicatos e um debate cada vez mais acirrado em relação ao projeto de lei de legalização do aborto. Para o eleitor médio de Macri (que se opõe ao aborto legal), a Argentina atual não tem nada a ver com o que se esperava de um governo macrista.

2. (Joaquim Morales Solá – La Nacion, 02) La pregunta, entonces, es por qué la economía argentina es tan potencialmente peligrosa. Veamos primero sus carencias. No tiene moneda y su mercado financiero es insignificante. Para los argentinos, la moneda de ahorro, la que verdaderamente importa, es el dólar; el peso es solo una moneda de transacción. ¿Se han equivocado? Nunca. Hasta en los últimos seis meses, después de que la última devaluación fuera mayor que cualquier tasa de interés anterior. De hecho, en el único momento en que los argentinos se sintieron tranquilos fue cuando el peso era convertible con el dólar, y valían lo mismo. El ahorro en dólares es una cultura tan extendida que va del jubilado, cuando puede, hasta el empresario más importante. Por otro lado, el mercado financiero local es demasiado insignificante como para absorber los papeles argentinos que se liquidan en el exterior. Brasil tiene un mercado financiero cinco veces más grande que el argentino. El mercado de Colombia es tres veces más importante que el local. Las cajas de seguridad o los bancos del exterior (aun en tiempos recientes, cuando también caían los bancos en el extranjero) son más seguros que el sistema financiero argentino después de que varias veces los ahorros fueran confiscados. La bancarización, que existe, sirve para los gastos del día a día, no para el ahorro. Para peor, hay abundancia de lo que no debería haber: inflación y déficits fiscal y de cuenta corriente. Hace 67 años, desde 1951, que la Argentina no puede controlar su economía inflacionaria, salvo el breve paréntesis de la convertibilidad menemista. No pudieron ni peronistas ni radicales ni militares. Ninguno. Y el déficit de cuenta corriente describe a un país que gasta más dólares que los que recibe. Los gobiernos son los primeros culpables, pero hay también una parte de la sociedad, la que puede, que prefiere pagar los placeres de la vida en el exterior. Es cierto que aquí hay una notable pérdida de noción de los precios relativos. Cualquier cosa, menos los servicios públicos, cuesta en la Argentina mucho más que en los países más caros del mundo. Está la sociedad, es cierto, pero está también la estructura del país que la empuja a hacer sus gastos en el exterior.

04 de julho de 2018

“OS INTELECTUAIS E A ARANHA” 

(Luiz Werneck Vianna – Professor, Sociólogo PUC-RJ – Estado de S.Paulo, 01) 1. A natureza balsâmica do processo eleitoral é um fato que se impõe à observação de quem se dedica à análise da cena moderna brasileira, momento em que “os de cima” calculam as condições que levem à preservação de suas posições de domínio e “os de baixo”, as oportunidades para terem acesso a mais direitos sociais e políticos. Dado que na nossa sociedade o voto se tornou universal e a democracia política encontrou âncora segura na Carta de 88, elementar que o sucesso eleitoral, diante das profundas desigualdades sociais e das diferenças regionais que nos caracterizam, dependa de uma feliz combinação entre as partes que compõem o tecido social. Pelo voto nenhuma delas ganhará tudo.

2. Se assim é, a negociação reveste-se de elemento-chave na disputa eleitoral em curso e sob esse registro tende a dissipar o clima de cólera e de intolerância com o outro até então dominante. Mais uma vez fica evidente que, entre nós, a forma superior de luta se trava no processo eleitoral – já confirmada no regime militar –, e não pelo recurso à luta armada, conforme lenda urbana ainda circulante em pequenos círculos da esquerda, usando uma expressão do repertório de sarcasmos do ministro Gilmar Mendes.

3. Dessa forma, embora persista a ação de renitentes que nos prometem uma catástrofe iminente, sem nenhum triunfalismo já se pode proclamar em alto e bom som que a crise que ameaçou a nossa democracia se encontra superada, em mais um momento de consagração da nossa Constituição. Com isso não se quer dizer que se tenha pela frente um horizonte aprazível – absolutamente não –, mas que os conflitos e as disputas que nos são próprios vêm encontrando, mesmo que apenas por ensaio e erro, as vias institucionais dos partidos, sindicatos e da vida associativa em geral, num processo com origem na sociedade civil, não no Estado, como resultou, por exemplo, na criação dos sindicatos na era Vargas e do PTB na agonia do regime autoritário de 1937.

4. Aos trancos e barrancos, a sociedade brasileira avança meio às cegas em direção ao moderno. Pode-se sustentar até que esse movimento que vem deixando para trás o peso da nossa tradição de décadas de modernização conservadora, nos termos da obra clássica de Barrington Moore, vem operando mais no terreno da societas rerum do que no da ação intencional dos homens. Com efeito, as mutações demográficas, econômicas e sociais vindas dos impulsos modernizantes vindos do vértice político – tanto os de origem em conjunturas democráticas, como nos tempos do governo JK, quanto os conduzidos por regimes autoritários, como no Estado Novo, de 1937, e no recente regime militar – têm importado numa segura conversão do caos social com que nossa sociedade iniciou sua história para se tornar uma sociedade de composição demográfica racional ao capitalismo, categoria importante no arsenal teórico de um grande autor.

5. Tal mutação está na raiz da profunda crise política com que se abriram as jornadas de junho de 2013, movimento massivo da juventude “contra tudo o que está aí”, sinal forte de risco que os acontecimentos futuros vieram a confirmar, com o impeachment e a chamada Operação Lava Jato, significando, ao fundo, o estado de exaustão das práticas e concepções com que há décadas vínhamos sendo governados.

6. Fixada a observação no movimento das estruturas da societas rerum o cenário é, pois, o de mudança que se faz indicar no terreno dos fatos, como ilustra o conjunto de importantes reformas já introduzidas na vida econômica, a maioria delas de caráter irreversível. Contudo, se o olhar se desloca para o plano das ideias e das concepções do mundo, o curso da mudança, embora tenha havido nas últimas décadas uma altamente significativa expansão do estrato dos intelectuais nas universidades e nas atividades artísticas, definha e apresenta um cenário desalentador de mesmice e de pouca criatividade.

7. Na economia, numa das sociedades mais desiguais do planeta, tivemos de esperar a notável obra de Thomas Piketty, de edição recente, para que a produção dos especialistas se voltasse para esse tema estratégico. Nas ciências sociais, desprendemo-nos da excelsa tradição que vinha de um Gilberto Freyre, de Florestan Fernandes, de Fernando Henrique Cardoso, de Raymundo Faoro, Roberto DaMatta, entre tantos nomes que se dedicaram a interpretar o País, para instalar em seu lugar os estudos identitários, que, embora importantes, certamente não têm a relevância do que foi o mainstream da reflexão disciplinar, tão necessário nesta hora em que se faz imperativa a busca de novos rumos.

8. O dilema perturbador de sempre no estudo das sociedades é o que importa mais para a observação, se a aranha ou a teia que ela tece, tal como na célebre metáfora com que Max Weber retrucou a um colega sobre suas diferenças com a teoria social de Karl Marx. A controvérsia sobre o tema provavelmente persistirá até o fim dos tempos, e esses mesmos gigantes do pensamento sempre oscilaram em suas respostas, ora favorecendo o papel do ator, ora dos fatos com que ele se enreda.

9. A grande transformação que a partir da Revolução de 1930 revolveu os fundamentos da sociedade brasileira, conduzindo-a do estágio agrário em que se encontrava para o urbano-industrial, foi antecedida por um intenso movimento de ideias nas elites intelectuais da época, de que são exemplares a obra de Euclides da Cunha, o tenentismo na juventude militar, a criação do Centro João Vital por intelectuais católicos, a Semana de Arte Moderna, em 1922, e a chegada, nesse mesmo ano, dos trabalhadores à cena política com a fundação do Partido Comunista.

10. O momento propício que experimentamos agora pode frustrar-se se os intelectuais – a aranha da metáfora de Weber – cederem ao ceticismo que ora grassa entre eles, abandonando de vez o exercício dos papéis de vanguarda com que marcaram a nossa trajetória como nação.

03 de julho de 2018

ENTREVISTA DO FILÓSOFO MANGABEIRA UNGER AO ESTADO DE S.PAULO, 01/06! 

1. A candidatura do Ciro Gomes deve ter dois lados. De um lado, é uma candidatura de centro-esquerda, que prioriza as alianças com partidos desse campo, a começar pelo PSB e PCdoB. O outro lado: a candidatura de Ciro não deve ser vista apenas como de centro-esquerda. Ela deve se oferecer também como agente social mais importante do Brasil de hoje, que são os emergentes. Quem são eles? Em primeiro lugar, é uma pequena burguesia empreendedora mestiça e morena que luta para abrir e manter pequenos negócios. Em segundo lugar, é uma massa de trabalhadores ainda pobres, mas que mantém dois ou três empregos. Em terceiro, é a multidão que é maioria pobre que já tem os olhos vidrados na vanguarda dos emergentes. Há determinados partidos que estão em diálogo com essa realidade social.

2.  Por exemplo, o DEM. Não vejo o Democratas como direita ou centro-direita. Eles são o partido dos empreendedores regionais. Têm raízes nessa estrutura produtiva descentralizada do País. Pelo contrário, o PSDB, que muitas vezes é visto como um partido à esquerda do Democratas, me parece estar à direita do DEM. Está comprometido com o receituário tradicional do chamado Consenso de Washington. Com uma política social meramente compensatória e um colonialismo mental e cosmopolita. Isso que é direita. Não considero que uma aliança com o Democratas seja apenas um oportunismo tático. Vejo consistência em manter uma candidatura que tem esses dois lados, que não estão em contradição. Não podemos nos permitir abusar do sectarismo ideológico.

3. Precisamos construir uma candidatura que não seja apenas de centro-esquerda, mas seja também uma candidatura com um projeto produtivista que conquiste os emergentes. Uma candidatura desse tipo precisa incorporar os empreendedores A conta foi invertida. Nós temos todo direito de pleitear que o PT se junte a nós antes do primeiro turno.” graúdos, pequenos e médios. Não vejo nenhuma inconsistência nisso.

4. Não sei se forças tradicionais vão ou não arrumar uma candidatura plausível. Por enquanto, não o fizeram. O que vejo é que temos uma grande obra de transformação institucional no País. A última grande obra institucional no Brasil é a de Getúlio Vargas, e nós ainda vivemos em meio aos destroços do corporativismo do Vargas. O PSDB, que muitas vezes é visto como um partido à esquerda do Democratas, me parece estar à direita do DEM.

5. Lula deu muitos benefícios ao povo brasileiro, mas não deixou um legado institucional. As candidaturas de Lula e Ciro não são dois cavalos andando na mesma direção. Tenho imenso respeito pelo presidente Lula, mas vejo que, se amanhã ele voltasse à Presidência, a tendência seria continuar o que fez antes: essa popularização do consumo com o mínimo de construção institucional. É uma forma de fazer política que privilegia apenas o consenso.

02 de julho de 2018

INTERNACIONAIS DE CENTRO/CENTRO-DIREITA PASSAM A ATUAR EM CONJUNTO! DECISÃO FOI ADOTADA NA REUNIÃO DA IDC EM BRUXELAS LIDERADA POR AMBOS OS PRESIDENTES!

RELATÓRIO DA REUNIÃO DA INTERNACIONAL DEMOCRATA DE CENTRO (IDC) – REALIZADA ENTRE 28/30 DE JUNHO DE 2018 EM BRUXELAS – REALIZADA NO PARLAMENTO EUROPEU!

1. Presente Harper,  primeiro-ministro do Canadá e presidente da UDI – União Democrata Internacional.

Presentes 60 dos 94 países da IDC.

2. Lopez, secretário geral da IDC. Cumprimentos a Jano, eleito com o partido mais votado da Eslovénia. / Presença de Harper é um fato e UM encontro histórico, e é o início de uma atuação conjunta./ Declaração conjunta IDC/UDI sobre Cuba teve 90.000 interações./ Vamos criar um fórum especial sobre fake-news. Essa é uma preocupação da União Europeia./ Importância dos Observadores Internacionais da IDC e UDI. /Estatuto da Juventude-IDC pronto está sendo submetido ao comitê executivo e aos partidos membros./ Organização do Comitê de Mulheres está atrasado./ IDC passará a ter uma revista digital, pelo menos anual./ Próxima reunião da IDC será dia 23/11/2018 em Cabo Verde na Ilha do Sal./ Congresso do PPE -Partido Popular Europeu- será em 20/09/2018 na Croácia./ IDC já conta com 83 partidos membros e 11 observadores, em todos os continentes./ 29/07 irá comissão de observadores às eleições em Pnom Penh, no Camboja.

3. Rossi Coordenador da criação e da preparação dos estatutos da Juventude. Integrada a IDC e em apoio a ela. Realizamos reunião no PPE e no Parlamento Europeu. Proposta de Estatuto distribuída as nossas organizações de jovens.

4. Geymael, Líbano. Há que desenvolver cultura da tolerância e de luta contra os extremismos.

5. Pastrana, presidente da IDC. Novo governo colombiano, recém eleito, terá 50% de mulheres nos ministérios e terá como base geral menos de 40 anos. Venezuela cada vez mais uma narco-ditadura. Conflito na Nicarágua: repressão já assassinou mais de 250 jovens.

6. Harper, primeiro-ministro do Canadá e presidente da UDI. Pela primeira vez UDI e IDC participam de reunião conjunta. UDI tem usado a língua inglesa mas vai ampliar. Eleição dele é exemplo disso. Reunião do Congresso da UDI em setembro em Los Angeles. Reforçaremos nosso vinculo com a IDC. Imediatamente declarações conjuntas sobre Cuba, Venezuela, Nicarágua e Moldávia. UDI é de centro-direita e reúne conservadores e liberais. A secretaria geral da UDI está localizada em Munique. UDI já tem 50 anos. Vivemos uma conjuntura de riscos em relação ao Capitalismo de Estado. Partido Republicano-EUA não tem estado muito ativo na UDI desde Bush e não tem representante na comissão executiva. A reaproximação é fundamental pela importância dos EUA. Republicanos no Senado e na Câmara não pensam da mesma maneira. Opiniões de Trump refletem muito mais a opinião pública dos norte-americanos.

7. Ato formal de assinatura de Declaração conjunta da IDC-UDI pelos seus presidentes.

8. Bruk, do CDU-Alemanha. Impulsionar efetivamente as relações da IDC e UDI. Buscar as oportunidades. Posicionamento da Fundação Adenauer tem privilegiado a UDI.

9. Lópes. Canadá tem estado mais próximo da União Europeia o que estimula aproximação UDI-IDC. Por isso este é o momento. Não há que ter ciúmes mútuos. É oportunidade para todos brilharem mais. A presença de partidos nas duas organizações comprovam isso.

10. Juno. Apesar de nossa vitória essa foi por maioria simples. Negociação na Eslovênia tem sido difícil para formar o governo. Resolução sobre Moldávia serve para todos os países europeus do leste e do centro.

11. Departe presidente da Renovação Nacional do Chile, recém ingressado na IDC, desde a reunião em Budapeste, vem para fortalecer a IDC. Piñera lidera a criação do Foro de Santiago -de centro-direita- como alternativa e oposição ao Foro de Porto Alegre. Será formalizado em novembro.

12. Chahin, Presidente do PDC do Chile protesta quanto a forma de inclusão da RN na IDC sem consultar os partidos da IDC existentes no país. E passando por cima da ODCA -regional latino-americana da IDC. / Brok-CDU: Não há que estender mais a discussão sobre ODCA e PDC do Chile. Tudo foi feito estatutariamente.

13. Gemayel. Forte migração síria ao Líbano. Dos 4 milhões de habitantes 1,7 milhão são refugiados palestinos. Líbano está deixando de ser exemplo de democracia pois está sendo desintegrado. Acordo nuclear com Irã deve ser revisto. Hezbolah no Líbano é uma força paramilitar.

14. IDC-África. Problemas são similares aos da América Latina. É necessário que os partidos africanos da IDC tenham mais visibilidade./ Ferreire de Cabo Verde. Reunião de novembro da IDC na Ilha do Sal terá todo apoio. Estamos lutando pela democracia na África e contra os populismos, especialmente no parlamento africano.

15. Partido da Esperança da Guiné recentemente integrado a IDC lidera a luta pela democracia e pela lei que pouco existem no país. Nem a eleição presidencial próxima, está garantida. As últimas eleições ainda não tem resultados publicados. Governo deve intervir em certos temas: mercados não resolvem tudo. Apostar no Centro. Não podemos decidir entre liberdade e mercado.

16. Mário – Portugal alerta mais uma vez para a situação da Albânia como centro de drogas.

29 de junho de 2018

“UM NOVO CICLO DA POLÍTICA”!

(Murillo de Aragão, cientista Político – Estado de S.Paulo, 05) 1. Independentemente de quem venha a ganhar as eleições presidenciais deste ano, algumas questões já estão postas. A primeira é que o próximo governo manterá o presidencialismo de coalizão. Afinal, sem uma grande coalizão o presidente da República não conseguirá governar, já que o polo central da política se deslocou do Planalto para o gabinete do presidente da Câmara dos Deputados. Portanto, sem uma identificação política entre governo e presidência da Câmara a administração funcionará aos soluços e dependente de medidas provisórias que poderão ser rejeitadas in limine.

2. Outra questão posta e assegurada é que a Operação Lava Jato e seus sucedâneos continuarão a produzir efeitos e a emparedar o mundo político. Em consequência, a imprensa – que nunca nutriu simpatia pelo establishment político – continuará sua faina diária de desinstitucionalizar o universo político. Independentemente do tamanho e da gravidade da culpa de seus atores.  A terceira questão posta é que o mundo político, entre cético e acovardado, assiste à sua destruição institucional sem esboçar reação. Aceita a perda de terreno para o Judiciário, não se rebela contra o seu ativismo de forma consequente e não constrói uma narrativa minimamente coerente.

3. Políticos caminham em meio aos destroços como se as bombas atiradas pelo Ministério Público e pela Justiça não os atingissem. Engana-se o mundo político, pois vivemos tempos em que praticamente tudo na política foi criminalizado e a presunção da inocência deu lugar à certeza antecipada de culpa. Assim, as eleições de 2018 vão marcar apenas mais um passo rumo ao fim da política conforme estabelecida após o fim do regime militar.

4. Após os fracassos iniciais de Sarney e Collor, uma aliança rentista-burocrática promoveu o aumento da taxa de juros e da carga tributária para pagar a conta fiscal e controlar a inflação, em meio a uma alegoria democrática. Ao lado de certa disciplina fiscal, permitia-se uma bacanal partidária sustentada por três pilares: cargos públicos, verbas orçamentárias e intermediação de negócios. A estabilidade da aliança rentista-burocrática dependia, também, de bons salários para os cargos no Estado dos quais se executavam as políticas vigentes.  A equipe econômica era minimamente blindada para fazer política fiscal e monetária, e o mundo político era financiado para ajudar ou, ao menos, não atrapalhar. Sob a vista grossa de todos, políticos e empresários exploravam a intermediação de obras públicas e a venda às estatais. E a máquina pública impunha uma perversa política tributária, além de sufocar o federalismo.

5. Paradoxalmente, o ex-presidente Lula – o líder operário e esquerdista – foi o ápice do “novo-republicanismo”, ao conciliar a manutenção da aliança rentista-burocrática com a expansão da classe média baixa e o aprofundamento do capitalismo tupiniquim de vendas ao governo. E uma expressão perversa do conservadorismo retrógrado de nossas esquerdas. Rentismo e popularismo deram algum resultado. Os miseráveis viravam pobres. E os pobres viravam devedores das Casas Bahia! Por sua vez, a alta burocracia ganhou mais privilégios e aumentos salariais generosos, enquanto os ricos ficavam milionários.

6. O ocaso de Lula vem com o naufrágio da Nova República, cujo féretro está sendo conduzido por uma República que ainda não tem um nome, mas que arrisco chamar de República Judicialista. Estamos caminhando para uma República submetida ao poder burocrático dos atores do Judiciário, e não necessariamente aos ditames das leis e da Constituição. Algo que, tempos atrás, chamei de “novo tenentismo”.

7. Obviamente, o naufrágio da Nova República ocorre por contradições inerentes ao sistema, que, se por um lado permitiu a farra de verbas públicas, por outro aboliu a disciplina partidária, institucionalizou a corrupção e doações por dentro e por fora, fragilizou o federalismo e permitiu que o governo fosse capturado por corporações burocráticas. O episódio do mensalão iniciou um processo irreversível de mudanças. Pela primeira vez o sistema político foi incapaz de se proteger no Judiciário. Mas como nada vem sozinho, a cretinice do mundo político veio acompanhada de outras transformações que retroalimentaram o processo.

8. Por conta da dificuldade de chegar a consensos políticos importantes, recorreu-se à Justiça para arbitrá-los. Abrindo mão de decidir, o Legislativo estimulou o Supremo Tribunal Federal a assumir o papel de terceira câmara legislativa. Não só julgando, mas também legislando sobre temas relevantes. Isto posto, proponho que estamos vivendo o naufrágio da política conforme estabelecida no fim do regime militar, como já dito, e reconheço a emergência de uma nova política, exposta tanto pelos índices de rejeição aos políticos quanto pela evidente supremacia do Judiciário sobre os demais Poderes.

9. As eleições não devem mudar significativamente o universo da política em termos de renovação. O judicialismo prosseguirá emparedando o mundo político e, aqui e ali, pondo algum político importante na cadeia. A política continuará criminalizada. Já que nem políticos nem imprensa, muito menos o Judiciário, conseguem e/ou desejam separar o joio do trigo. Duas consequências estão claras: a ascensão do Judiciário como Poder e a dependência, cada vez maior, da validação do Judiciário às políticas públicas. Nada estará fora do escrutínio do judicialismo. Até mesmo o que não deveria ser judicializado. Novos tempos já estão em vigência e não poderão ser mudados nem sequer pelas eleições de 2018. Caberá ao Supremo Tribunal Federal conter excessos e, minimamente, tentar restabelecer o império da lei, ora ameaçado por um ativismo muitas vezes desenfreado. Caminhamos para uma República submetida ao poder burocrático dos atores do Judiciário.

28 de junho de 2018

TURQUIA HOJE: QUASE UM SULTANATO!

(Clovis Rossi – Folha de S.Paulo, 25) 1. Com a vitória neste domingo (53%), Erdogan já é o governante há mais tempo no poder no país. A iconografia turca tem, desde este domingo (24), um novo rosto a equiparar-se ao de Kemal Atatürk, fundador da Turquia moderna. É o rosto de Recep Tayyp Erdogan, a caminho de fazer a Turquia retroceder ao estágio de sultanato, o poder absolutista do sultão, como Erdogan tem sido frequentemente chamado.

2. Erdogan já é o governante há mais tempo no poder: 15 anos, inicialmente como primeiro-ministro (2003/14) e depois como presidente em um regime em tese parlamentarista mas que já era dominado por Erdogan.

3. Com a votação deste domingo, a Turquia passa a ser presidencialista, com poderes pouco menos que absolutos para o mandatário. É uma enorme frustração para os que chegaram a ver em Erdogan o espelho em que poderiam mirar-se os países muçulmanos em que ocorreram os levantes da chamada Primavera Árabe.

4. Até mais ou menos 2013, Erdogan era o único mandatário de um país de maioria muçulmana em que a democracia gozava de boa saúde. Tão boa que, em 2005, a Turquia iniciou negociações para entrar na União Europeia. Ser um país democrático é condição essencial para aderir à Europa unificada.

5. Além de comandar uma democracia, Erdogan liderou também um processo de estabilização política e econômica, que eliminou as frequentes intervenções militares e minimizou as crises econômicas igualmente recorrentes.

6. Por que o presidente turco desandou esse caminho é uma história ainda a ser escrita. O fato é que, nos últimos cinco anos, foi se tornando mais e mais autoritário. A hipótese de aderir à UE está, por enquanto, em completa hibernação, ainda mais que a OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) fez sérios reparos ao processo eleitoral concluído neste domingo.

7. Um relatório preliminar divulgado antes do pleito citava uma série de irregularidades, incluindo restrições às liberdades de reunião, de associação e de expressão. E criticava o fato de que o candidato do HDP (Partido Democrático do Povo, pró-curdos), Selahattin Demirtas, fez sua campanha de uma prisão. Uma eleição sob estado de exceção, como ocorreu na Turquia, não é obviamente uma característica que seja aceitável para um país que queira fazer parte da União Europeia.

8. O fato de a Turquia, geograficamente, ter um pé na Europa e outro na Ásia acaba servindo de metáfora para sua situação político-institucional: ao derivar para o autoritarismo, Erdogan dá as costas para a Europa e se instala entre os países muçulmanos autocráticos.

9. Não será fácil, no entanto, aprofundar o modelo autoritário, mesmo com os poderes agora referendados pelo eleitorado. Erdogan, afinal, é filho da democracia (ganhou 13 eleições, incluindo a deste domingo), a oposição tem razoável presença no Parlamento e parte significativa da sociedade turca olha muito mais para a Europa do que para a Ásia/Oriente Médio e suas ditaduras.

27 de junho de 2018

PESQUISA QUALITATIVA: DATAQUALY! JUNHO 2018!

Clima eleitoral: Interesse pela eleição para presidente

O clima ainda é “morno” no que se refere às eleições. A percepção geral é a que de a disputa irá esquentar após a Copa do Mundo e com o início dos programas do horário eleitoral gratuito na televisão/rádio.

O cenário vislumbrado é contaminado por estereótipos que marcam a imagem dos políticos e das campanhas políticas – “promessas não cumpridas”, “mais do mesmo”, e afins. É evidente a desmotivação do eleitor. Assim, os eleitores declaram estar “desencantados”, “desanimados” e “desestimulados” com a classe política e a “mesmice”.

Estes eleitores se mostram frustrados e desacreditados em relação às representações políticas, de forma generalizada. O ambiente é de grande desalento – e isso inclui o cenário que envolve as próprias eleições.

Os sentimentos estimulados pela perspectiva de escolha do próximo presidente são essencialmente negativos, refletindo a descrença de que este venha a ser um fator determinante de mudança no cenário atual.

Veem os atuais pré-candidatos como pouco qualificados (aquém da necessidade atual), pouco atraentes (sem carisma ou espírito de liderança, não conseguem convencer) e não representativos de mudanças essenciais (sobretudo aquelas ligadas ao próprio meio político, que consideram cruciais).

Motivação ao voto: mudança x continuidade

Há um forte desejo por mudança, entendendo-se por isto a melhoria do quadro atual em diversos âmbitos (ético, social, econômico) – mas com o social permanecendo como prioridade.

O desencanto com a classe política em sentido amplo e o cansaço em relação aos vícios e desmandos a ela associados (corrupção, superfaturamentos de obras, privilégios), fomentam o desejo de mudança e a expectativa pelo novo (“um novo jeito de fazer política”).

Acreditam que uma ferramenta que pode ajudar a população a mudar os políticos que estão no poder é a Ficha Limpa. Os brasileiros deixarem de votar em candidatos envolvidos em escândalos de corrupção.

Parcela dos pesquisados ressalta a importância e relevância do surgimento de novas lideranças (indivíduos, mais que grupos ou partidos) e a ampliação de alternativas para o eleitor. Entretanto, com o cenário eleitoral ainda indefinido e distante, têm dificuldade de vislumbrar opções que possam ocupar esse espaço de modo efetivo.

26 de junho de 2018

5 RAZÕES QUE DIFICULTAM MUDANÇAS NA POLÍTICA BRASILEIRA! 

A BBC News Brasil ouviu especialistas e jovens que dizem querer mudar a política para apontar as principais dificuldades de mudar a cara e as práticas do sistema político no país. Cinco foram as razões mais citadas para explicar por que isso é tão difícil:

1. Estrutura dos partidos políticos

Como candidaturas avulsas ou independentes não são permitidas no Brasil, para disputar uma eleição é obrigatório estar filiado a um partido político pelo menos seis meses antes do pleito.

Apesar de ser relativamente fácil se associar a um partido, as siglas tendem a dar mais oportunidades e a serem mais receptivas aos novatos que são potenciais puxadores de votos, como artistas ou atletas.

“É muito difícil você entrar num partido se não for para trabalhar dentro de uma lógica muito pré-determinada. Muitas vezes a lógica é perpetuar o partido e os mesmos poderes, as mesmas redes. Geralmente redes masculinas, com algumas exceções é claro, mas redes de homens brancos”, afirma Pinheiro-Machado.

A professora diz que ainda é muito raro que partidos invistam em candidaturas femininas, em especial de mulheres negras.

Por isso, Pedro Duarte, vice-presidente da juventude do PSDB, defende que mais jovens se filiem a partidos tradicionais e que participem de forma mais ativa da vida partidária na tentativa de abrir espaço para caras novas em organizações onde a estrutura de poder está consolidada e há pouca alternância no comando.

2. Financiamento de campanha

Além de não terem as portas abertas, diz Carlos Melo, os partidos se transformaram em importantes financiadores de campanha e tendem a patrocinar quem já está no poder.

Desde 2014, quando o Supremo Tribunal Federal proibiu a doação de empresas para partidos e candidatos, o financiamento eleitoral ficou restrito às contribuições de pessoas físicas – que podem doar até 10% da renda declarada no ano anterior à eleição – e ao fundo partidário, que é de R$ 888,7 milhões neste ano.

No ano passado, deputados e senadores aprovaram o fundão eleitoral no valor de R$ 1,7 bilhão. Tanto os recursos do fundo partidário quanto os do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, nome oficial do fundão eleitoral, têm seu destino decidido pelos partidos.

“Esses recursos tendem a ser distribuídos pela cúpula dos partidos e a fortalecer quem já está no poder”, afirma Melo, salientando que nem sempre os partidos são transparentes e democráticos.

Apesar de a minirreforma partidária aprovada no ano passado ter estabelecido um teto para os gastos de campanha, disputar uma eleição de forma competitiva ainda é considerado caro.

“Acho que os partidos são muito pouco dispostos a financiar novos candidatos”, completa Rosana Pinheiro-Machado.

3. Força dos que já têm mandatos

Tanto Pinheiro-Machado quanto Melo apontam que, na lógica de privilegiar quem já está no poder, o sistema político dá especial atenção aos donos de mandatos ou de cargos que conseguem usar a máquina pública.

“Imagina um jovem que vai disputar com alguém que já tem sede física, assessores e rede de relacionamento com prefeitos, vereadores”, diz o professor, salientando a condição de desvantagem dos que não têm “um aparelho” funcionando a seu favor.

Melo afirma ainda que são poucos os partidos que têm líderes carismáticos como Lula ou “chefões” como Valdemar da Costa Neto (PR) e Roberto Jefferson (PTB), que conseguem se manter fortes em suas respectivas legendas mesmo sem mandato.

Ainda assim, Pinheiro-Machado diz que, apesar de ser difícil, é possível romper com esse sistema.

“Sou otimista em relação às novas gerações e às novas formas de candidaturas que estão começando a se colocar na jogada; de pessoas que vieram dos novíssimos movimentos até de candidaturas ativistas, e mesmo de grupos mais ao centro e à direita”, diz.

“Há grupos que estão pensando também em amplas redes de renovação política e de formação de lideranças muito voltadas para questões técnicas.”

4. Tom do discurso político

Apesar das dificuldades impostas pelo sistema, os novatos também podem acabar criando dificuldades para si mesmos. Jovens ou neófitos na política nem sempre conseguem fugir do discurso tradicional e impor um tom realmente novo.

Os especialistas, no entanto, são otimistas sobre a nova geração. Para Carlos Melo, há pessoas propondo novos tipos de organização mais horizontal e coletiva. E, principalmente, com um discurso que não desqualifica seus opositores. “Um novo jeito de fazer política está germinando de alguma forma”, diz.

Pinheiro-Machado acha que os mais jovens com menos de 20 anos já conseguem fugir do discurso convencional porque fazem parte de “uma geração completamente avessa ao sistema político”.

Ela admite, no entanto, que esta turma ainda deve demorar a assumir o poder. Enquanto isso, muitos dos que dizem querer mudar a política a partir das eleições de 2018 “falam mais do mesmo”.

5. Disposição do eleitor

A aparente pequena disposição do eleitor em mudar o sistema também é citada pelos pesquisadores como um dos fatores que dificulta essa renovação. Tamanha insatisfação com a política tem refletido no índice significativo de eleitores que prefere votar em ninguém.

Votos brancos e nulos crescem a cada pesquisa de intenção de votos e, segundo o Datafolha, atingiram neste mês patamares recordes. A depender do cenário, o número de pessoas que declara votar branco ou nulo varia de 17% a 28% na pesquisa Datafolha de junho, feita com mais de 2 mil pessoas em 174 municípios.

“São votos de protesto, de negação da política. A fase em que a gente está é de um mau humor terrível”, avalia Carlos Melo.

25 de junho de 2018

DISCURSO DO VEREADOR CESAR MAIA NA VOTAÇÃO DA ABSURDA CONTRIBUIÇÃO DOS APOSENTADOS!

1. Primeiro, a questão política. Ninguém vai imaginar – a cidade do Rio de Janeiro, os seus servidores – que a votação aqui é uma votação municipal. Não é municipal. Em 2018, temos eleições em nível estadual. Não tenham dúvida. A manifestação contrária aos servidores, de partidos ou futuros candidatos, terá projeção em nível estadual. Se amanhã sair uma listagem dos que votaram a favor e dos que votaram contra, é importante levá-la para as eleições de 2018 – para governo de estado, senador, deputado federal.

2. Este é um projeto de lei triste, porque atinge a liga municipal, principalmente, aqueles que são o capital da Prefeitura, e não o custeio. Isso eu aprendi com o meu pai e venho dizendo há muitos anos. Qual é o ganho que o município vai ter? Eles dizem R$ 70 milhões; isso é troco, Presidente. Mas não são R$ 70 milhões, é muito menos que isso. Poxa, nós estamos votando coisas aqui de forma sistemática. Aumenta-se o IPTU, vendem-se imóveis. Agora mesmo vai ter o tal de puxadinho, ou seja, um desastre urbanístico para Cidade do Rio de Janeiro, que se votou em 1ª discussão ontem. Uma calamidade! Eu já vi governos e iniciativas que afetassem a nossa cidade e a administração pública, mas igual à atual gestão, francamente, eu nunca vi. E, mais ainda, Presidente: do ponto de vista econômico, não vou entrar em tecnicalidades, mas essa besteira de dizer que as reservas técnicas num fundo de pensão são de R$ 2 bilhões, R$ 3 bilhões, R$ 4 bilhões… “Ah, isso é um fundo público, portanto, a massa dos servidores contribui”. Há garantia de que o empregador contribui também. É um besteirol, mas, não vamos tratar disso. Vamos tratar de coisa mais grave. É verdade que a economia brasileira vive uma crise nos últimos anos. No Rio de Janeiro menos; no Estado mais, por uma gestão desastrada. Agora, isso, Presidente, é uma curva. Na medida em que as receitas diminuem, não diminui para o resto da vida. Diminui por quanto? Três anos? Quatro anos? Agora, o arrocho em cima dos servidores, em cima de aposentados, em cima de pensionistas, paridade, esse arrocho é definitivo.

3. Há uma crise econômica e há uma perda de receita e, por causa, disso se aplica um arrocho contra os servidores, contra aposentados, contra pensionistas para o resto da vida. Isso é um massacre! Eu não consigo imaginar que num ato de reflexão, cada um de nós possa olhar a repercussão disso tudo no serviço público, nas famílias e coonestar com seu voto.

4. O servidor público não é custo, é capital! Isso vem sendo dito há muitos anos! Há muitos anos, eu venho dizendo isso! aprendi com o meu pai, servidor desde 1937, e assim tenho afirmado a minha posição. Como prefeito por três vezes, diziam que eu tomava decisões a favor do servidor. Alguma vez a Prefeitura ficou encalacrada com as concessões que foram feitas? Nunca. Senhor Presidente, uma coisa eu sei fazer: conta. A conta deles é mentirosa, é arrocho. Eu disse aqui, no início da atual administração, quando, em Audiência Pública, apresentaram que o Previ-Rio tinha um rombo de R$ 2 bilhões, eu disse que não eram R$ 200 milhões. Quando começaram a ser apresentadas as contas, não eram R$ 200 milhões – isso tudo é uma farsa. Espero que a consciência e a reflexão de todos nós levem o Prefeito e os vereadores a darem a volta por cima nesse quadro que se tenta criar; nessa troca de voto por algum tipo de favor, alguma promessa. Segunda-feira, acabou a promessa. Acabou a promessa e acabou o voto também.

5. Quando eu era Secretário de Fazenda, logo no início da gestão do Governador Brizola, o Secretário de Administração, Bayard Boiteux, trouxe um projeto de lei que criaria a paridade dos servidores, pela primeira vez no Brasil. Eu disse: “Bayard, eu vou fazer as contas”. Fiz as contas, levei ao Governador Brizola, que, com aquele jeito dele, disse: “Vou aprovar esse projeto de lei”. Iniciativa do Professor Bayard Boiteux. Eu fiz as contas e o Governador Brizola liderou esse processo e, pela primeira vez no Brasil, a paridade ao servidor foi conquistada e conseguida por lei.

22 de junho de 2018

BBC NEWS BRASIL ENTREVISTA O DEPUTADO RODRIGO MAIA, PRESIDENTE DA CÂMARA! 

BBC News Brasil – A última pesquisa de intenção de voto do Datafolha mostra o senhor oscilando de 1% a 2% das intenções de voto. Seria natural abandonar a ideia de candidatura presidencial?

Rodrigo Maia – Qual a diferença de 2% para 4% e de 4% para 6%? Nenhuma. Essa não pode ser a base de uma decisão. A base de uma decisão é a construção política de uma candidatura que possa aglutinar uma parte do tempo de televisão, uma parte dos partidos, e que tenha clareza de qual é o projeto que vai defender no processo eleitoral. Acredito que no momento não tem nenhuma decisão a ser tomada, até porque a sociedade não está nesse momento ainda olhando eleição.

Para não ser candidato (e apoiar outro nome) tem que ter uma motivação, de um programa, de ideias que a gente vem defendendo e que possam estar incorporadas numa outra candidatura. Ninguém vai poder decidir por pesquisa quem é o melhor ou o pior candidato nesse momento.

BBC News Brasil – Por que resolveu entrar na campanha presidencial? Muita gente vê como uma tentativa de se cacifar para se manter na presidência da Câmara no ano que vem, ou para valorizar o DEM nas negociações eleitorais.

Maia – Isso é besteira, porque (manter) a presidência da Câmara é muito mais provável sem uma pré-candidatura presidencial do que com pré-candidatura.

A sociedade vai decidir o vitorioso quando enxergar quem é candidato que pode pacificar, que pode unir o Brasil. De certa forma eu faço isso com algum resultado positivo na presidência da Câmara, mas isso ainda não foi enxergado como um ativo no processo pré-eleitoral até porque a crise econômica é muito grande, a crise política. A sociedade por enquanto está olhando os extremos, mas quando você faz uma (pesquisa de opinião) qualitativa, você vê que o resultado majoritário no final é (o desejo por) um perfil que represente esse perfil mais conciliador, que eu com certeza tenho.

BBC News Brasil – Se uma conversa com Ciro Gomes andar, o senhor estaria disposto a moderar sua agenda ou fará exigências a ele?

Maia – Eu acho engraçado os candidatos que se dizem no campo de centro (…). Na hora que amplia um pouquinho o que é centro, aí não pode. O Ciro não pode ser centro porque o Ciro tem mais competitividade do que alguns que estão no nosso campo (como Alckmin, Meirelles, etc).

Por que o ponto de vista ideológico do Ciro não pode estar dentro do centro? Por que só os políticos liberais na economia estão dentro do centro? Então não é centro, aí é centro-direita, vamos repactuar isso.

Então, partidos que estão fora desse núcleo do poder nos últimos 30 anos, como o DEM está fora, apesar de ter a presidência da Câmara, como o Álvaro Dias (pré-candidato a presidente pelo Podemos) está fora, como o PDT está fora. Eles podem tentar representar o centro. Não significa que eu vou pensar igual ao Ciro, ou que eu vou pensar igual ao Fernando Haddad. Mas eu tenho capacidade de sentar com o PDT e PT nessa mesa e construir uma agenda na Câmara dos Deputados, mesmo que às vezes eles votem contra, que a gente tenha posições divergentes.

Então, a questão do Ciro Gomes, primeiro, não teve nenhuma conversa. Nós vamos conversar, eu vou conversar.

BBC News Brasil – Sabemos que sua ascensão à presidência da Câmara foi a partir do diálogo com os vários campos políticos, mas o senhor tem propostas muito diferentes das de Ciro.

Maia – Claro, eu não estou dizendo que eu vou apoiar o Ciro, estou dizendo que eu vou dialogar com o Ciro. Em 2000, quando nós estávamos isolados no Rio, foi o Ciro Gomes que levou o PPS (então partido de Ciro) para apoiar a candidatura do ex-prefeito Cesar Maia e foi fundamental na nossa vitória. Não é possível que agora eu não possa dialogar com o Ciro (…).

Eu tenho muita clareza que sem uma discussão de um novo Estado, de uma nova Previdência, não haverá espaço para a política se reconectar com a sociedade. O que aconteceu com a política nos últimos 30 anos? Grupos, lobbies de poder públicos e privados foram se apoderando do Estado brasileiro, segmentos do serviço público foram ganhando autonomia orçamentária, foram ganhando maiores salários. Por outro lado, setores da economia foram conseguindo benefícios, incentivos fiscais, conseguindo capturar parte do Orçamento da União. O que aconteceu hoje? O Estado brasileiro não tem mais condições de responder às demandas da sociedade.

BBC News Brasil – O senhor disse na semana passada que entre Bolsonaro e Ciro em um segundo turno, a princípio, hoje, apoiaria Ciro. Por quê?

Maia – Porque hoje eu conheço mais o que o Ciro pensa, a experiência dele como governador (de Ceará), como ministro (nos governos Lula e Itamar Franco), e no processo eleitoral eu vou conhecer melhor o que pensa o Bolsonaro. Pelo que o Bolsonaro falava no passado eu não tenho condição de votar, mas ele pode ter mudado.

BBC News Brasil – Mas o que ele disse que impediria seu apoio?

Maia – Ele historicamente tem votações aqui (na Câmara) mais nacionalistas, mais estatizantes, mas agora tem falado até de temas econômicos na linha mais liberal. Eu quero que o processo eleitoral me diga se ele de fato mudou.

BBC News Brasil – As declarações do Bolsonaro, muito violentas contra minorias, também seriam um fator para não apoiá-lo?

Maia – Eu acho que o Brasil precisa de conciliação. Não sei qual é a capacidade do Bolsonaro ou a vontade de compreender isso, eu acho que ele pode acreditar que essa polarização é o caminho dele. Ele tem feito assim e tem sido muito bem-sucedido para um político que não tem partido, não tem tantos aliados. (…) Claro, eu sou um político conservador, sou de um partido conservador nos valores, mas ele vai além disso (do conservadorismo) nas declarações dele ao longo dos últimos vinte anos.

BBC News Brasil – Por que o eleitor deveria esperar que um eventual governo Rodrigo Maia seja diferente do governo de Michel Temer, que é rejeitado pela população?

Maia – O governo do presidente Michel é um governo que paga um preço por outros motivos, fora da agenda econômica. Se o impeachment não tivesse ocorrido, onde estaria a economia brasileira hoje?

O que eu acho que falta ao governo (Temer) é uma articulação maior em outras políticas públicas. Por exemplo, quando o gás de cozinha subiu muito, e a base da sociedade passou a não ter mais condição de comprar gás de cozinha: faltou ao governo a capacidade de articulação para atender a essa parte da sociedade – especialmente as pessoas que estão no cadastro do Bolsa Família – e que perdeu a capacidade de cozinhar com gás.

Então acho que falta ao governo uma política mais articulada, onde a economia não fala por si só. A política econômica não vai resolver o problema da saúde, da educação.

BBC News Brasil – Mas o senhor é a favor da atual política de preços da Petrobras, certo? O que o senhor teria feito no caso do gás?

Maia – Não da política de aumento diário. O governo teve R$ 30 bilhões de excesso de arrecadação no Refis (de 2017). O governo poderia ter usado parte desse dinheiro para, no cadastro da Bolsa Família, no ano passado, ter colocado um recurso, como se fosse um vale gás. Como uma questão transitória, para amortizar os preços. É só isso. Não estou querendo interferência nos preços (da Petrobras).

Agora, o Brasil tem um problema hoje. O presidente Temer passou por duas denúncias (feitas pela PGR), com muito desgaste, que continua. E na cabeça da sociedade há o Lula e há o Michel. Não há a Dilma. O fundo do poço da Dilma, onde a economia caía muito, saiu da história. A cronologia da história hoje tem o Lula, e tem o Michel.

BBC News Brasil – Sem a reforma da Previdência, o Novo Regime Fiscal (criado pela “PEC do Teto de Gastos”) faz com que as aposentadorias consumam recursos de outras áreas – que começaram a ter problemas.

Maia – Vamos criar o conflito (por recursos). Porque se a gente não criar o conflito, todo ano é aumentar imposto para zerar o deficit do governo. Em todos os últimos 30 anos foi assim. Tirando a criação da PEC do Teto. Ela vai gerar restrições? Vai. Mas não são restrições graves. O Brasil não tem capacidade de investimento hoje.

BBC News Brasil – Quase metade do gasto com ciência e tecnologia evaporou em 2017, por exemplo.

Maia – Sim, mas o teto de gastos… só ele não explica o que você está falando. Nós temos uma relação entre a dívida (pública) e o PIB (a soma de tudo o que o país produz) crescente; nós temos um deficit público, um deficit primário muito alto (…). Olha o que se gastou do Estado. Onde foi parar esse dinheiro? Ninguém sabe.

Nós temos um deficit da Previdência que cresce todo ano, de forma líquida, mais de R$ 50 bilhões. Não é o teto de gastos que é o problema. Porque não adianta você liberar os gastos, que você vai ter que aumentar o endividamento (…).

Então o problema é muito mais grave do que falar que “a regra do teto de gastos reduziu o investimento com ciência e tecnologia”. Não é verdade. O que está reduzindo os investimentos no Brasil é a falta de capacidade do Orçamento de atender aos anseios da sociedade. Por quê? Porque ao longo dos últimos 30 anos, parte da sociedade foi atendida na questão tributária, na questão previdenciária, onde os maiores salários se aposentam mais cedo; nos incentivos (para setores econômicos); com salários altíssimos (do funcionalismo), onde piso e teto são muito próximos. Então vai ter que se rever tudo isso.

BBC News Brasil – É hora de taxar heranças, atualizar a tabela do Imposto de Renda e tornar o sistema tributário mais progressivo (penalizando menos os mais pobres)?

Maia – É claro que hoje, na tributação brasileira, você tem a renda que é pouco tributada, e o consumo que é muito tributado.

Isso (uma reforma tributária) tem que ser no contexto geral (feita de forma ampla), pois se você ficar olhando só uma parte, vai só aumentar alíquotas para aumentar a arrecadação. E essa (parte) não pode ser o foco da reforma. Por isso que eu acho que uma reforma do sistema (tributário) como um todo é o melhor.

Mas que esses temas estarão na ordem do dia de qualquer futuro governo, eles estarão. É só ver como vem crescendo o resultado dos dividendos nos últimos anos, para mostrar que tem alguma coisa errada. A pejotização, com todo mundo no Brasil virando pessoa jurídica para pagar menos tributo. Então isso tudo vai ter que ser rediscutido no Brasil.

Vamos ter que olhar, por exemplo, todos os benefícios fiscais que existem na aplicação de recursos dos rentistas, da renda fixa (…). Precisamos discutir também o incentivo (isenção de Imposto de Renda) que se tem à renda fixa na LCI (Letras de Crédito Imobiliário) e LCA (Letras de Crédito Agrário), aquilo ali também é um benefício que não tem nenhum sentido de continuar existindo.

BBC News Brasil – As pesquisas eleitorais mostram que a maior parte do público indeciso no momento é de mulheres. A bancada do DEM, por exemplo, tem 43 deputados e só quatro mulheres. São quase todos homens brancos. Como o senhor vai dialogar com esses grupos do Brasil que não estão representados atualmente?

Maia – Nós (DEM) governamos a cidade de Salvador, que tem participação enorme de negros (…). Sempre tivemos uma agenda de valorização das mulheres. Nossa primeira secretária de Fazenda na Prefeitura do Rio (na gestão de César Maia, de 1993 a 1996) foi a Maria Silvia (Bastos), nós tivemos a (ex-deputada federal) Solange Amaral como nossa candidata a prefeita (do Rio, em 2008). Então a gente sempre incentivou a participação de outros segmentos da sociedade, e não só os políticos brancos, como você está colocando.

É óbvio que há a desigualdade, e é uma desigualdade maior que aquela discutida pelas cotas raciais, é uma desigualdade socioeconômica. E ela tem que ter políticas afirmativas, não tenho a menor dúvida disso.

Alguns defendem cotas, eu defendo, desde que fui presidente do partido, tenho defendido políticas socioeconômicas para reduzir desigualdades. Quando a gente olha os números da pobreza no Brasil, a gente percebe que metade dos brasileiros que vivem na pobreza, com até meio salário mínimo, estão no Nordeste. Então tem que ter um foco regional, um foco na renda, e um foco na questão racial.

BBC News Brasil – Se for presidente, terá ministros negros e mulheres?

Maia – É óbvio que um governo que sai das urnas sai com uma conciliação com a maior parte dos segmentos da sociedade (do que um governo que é resultado de impeachment). Então, se você ganha uma eleição presidencial, precisa que a sociedade esteja representada no seu governo.

BBC News Brasil – O senhor tem essa preocupação (com a diversidade)?

Maia – Claro que um governo que sai das urnas sai com uma conciliação com a maior parte dos segmentos da sociedade (do que um que é resultado de impeachment). Então, se você ganha uma eleição presidencial, precisa que a sociedade esteja representada no seu governo.

BBC News Brasil – O que o senhor faria com os programas sociais que se tornaram marcas do país, como Minha Casa, Minha Vida, Mais Médicos, Bolsa Família?

Maia – Especificamente o Minha Casa, Minha Vida (MCMV) me parece que é um modelo que vai gerar muitos problemas para o Brasil. Porque não se pensou na possibilidade de ir aos poucos adensando os bairros constituídos, onde você tenha equipamentos públicos.

Onde eu conheço o MCMV, principalmente os maiores (conjuntos habitacionais), você está gerando transtornos para os moradores, falta de equipamentos públicos (escolas, postos de saúde, etc), muitas vezes falta de saneamento. A pessoa mora numa casa onde todo o esgoto é jogado em um valão ao lado. Não tem muitas vezes linha de ônibus, muito menos metrô e trem.

O Bolsa Família é uma política estritamente de gestão da pobreza. Não há uma política de mobilidade social. A política do Bolsa Família é importante. Mas não tem nenhum outro caráter que não o de administrar a pobreza.

Então o que temos que fazer é uma política pública focada nas crianças, a qual eu chamei de “Poupança da Criança”. A gente vai estimular fortemente os pais a fazer essa poupança, aumentando ano a ano. A cada ano de estudo, aumenta-se essa poupança. E quando terminar o ensino médio, ela vai ter a possibilidade de montar um pequeno negócio, ou de pagar sua própria faculdade. Uma política que estimule o foco na educação. Seria um programa além do Bolsa Família, para estimular a mobilidade social.

A questão dos Mais Médicos, dos cubanos, eu acho que a gente precisa repensar esse programa. Ele foi muito criticado pela área médica brasileira.

Claro que o debate sobre como vai se garantir médicos em regiões que não sejam as grandes cidades, tem que se pensar um programa para colocar mais médicos no interior do Brasil. Mas com outra qualidade. Não se pode cobrar dos médicos brasileiros uma qualidade no ensino, e trazer de fora médicos com qualidade duvidosa.

Foi importante, teve um papel (o programa). Onde não tinha ninguém chegaram (os médicos). Os prefeitos demandam. Mas é preciso repensar com o foco na medicina brasileira.

BBC News Brasil – O senhor acredita em uma terceira denúncia contra o presidente Michel Temer?

Maia – Este é um tema no qual não dá para trabalhar com hipóteses. A Procuradoria-Geral da República (PGR) tem a sua independência para trabalhar, o Judiciário para decidir, o Legislativo para legislar. Cada um no seu tempo. Se a decisão da PGR for essa (denunciar), é um direito dela. Não cabe à política ficar especulando, até porque essa especulação atrapalha muito a mínima estabilidade que a gente tem hoje no Brasil.

21 de junho de 2018

PROGRAMAÇÃO DE FORMAÇÃO POLÍTICA DE JOVENS DA FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER! 

Realizado no Panamá entre 9 e 13 de junho 2018. Relatório de Antônio Mariano, Presidente JDEM Rio de Janeiro.

9 de junho, sábado

“Estratégias de campanha: dificuldades e êxitos na mobilização política na Alemanha” – Johann Waschnewski (Prefeito de Burgel, Turingia)

–  Na cidade natal era responsável por organizar pequenos eventos para arrecadar fundos para atividade partidária.

–  Depois de um tempo, “quero fazer parte do Conselho Municipal e fazer mais”. Perdeu, mas foi eleito na segunda eleição, aos 23 anos. Na eleição seguinte, foi eleito vice prefeito. E prefeito aos 29 anos.

–  O principal é nunca prometer por prometer ou prometer demais, as pessoas tem expectativas e você não pode frustra-las

– Uma mensagem de campanha deve contar com 3 tópicos principais e 10 metas, não mais do que isso. E o melhor meio para transmitir isso é no porta a porta, olho no olho.

– O interesse político da juventude vem caindo. Nos jovens de 16 a 18 anos, quando já é permitido votar, a grande maioria diz “não vou votar, porque não gosto de política”. Solução: buscar fazer clubes dentro dos colégios para despertar o interesse, assim como existem clubes de esportes, por exemplo.

– “Nunca ocultei que era da CDU, mas tampouco foi a minha apresentação nos lugares, na verdade como estudei ciência política, aparecia no início mais como um acadêmico:  mas sempre digam a verdade.”

– O tempo é importante, mas é preciso ter perseverança, para alcançar os objetivos.

– Redes sociais: “aqui nós temos muito mais conhecimento que os mais velhos e temos de saber aproveitar isso”.

– Através dos canais digitais da Prefeitura, se aproximaram dos jovens, nem sempre falando apenas de política e sempre com uma linguagem informal.

– Se quiser estar presente sempre, em todos os eventos, caso falte, isso será notado. Então é preciso saber administrar o tempo e saber quais eventos deve ir e quais não seria vantajoso ir.

– Ser jovem não é motivo para ter medo dos desafios, pelo contrário.

– Formalidades afastam dos eleitores, “eu, por exemplo, sou Prefeito, mas nunca uso gravata, mesmo sabendo que Alemanha é um país muito formal”.

– Na Alemanha, se um jovem perde a eleição, o partido não vai pensar “agora perdeu sua oportunidade”, pelo contrário, continuam apostando, porque sabem que o candidato jovem é o futuro que vai levar a mensagem do partido. Os que se sentem mais ameaçados são os políticos na faixa dos 40-50 anos, mas depois dos 60, os políticos incentivam muito, porque sabem que já estão terminando a carreira. Além do mais, pensam “ele vai defender o que meu neto precisa, então preciso apoiá-lo.”

– Reuniões com multiplicadores não precisa ser sempre sobre política. Podem ser sobre outros temas, ou começar falando sobre futebol, por exemplo, para depois falar de política. E tome a liderança, se estiver em um churrasco, faça você a carne, para que os outros vejam que você tem pró atividade.

– Um grande erro cometido por políticos, quando são eleitos, é esquecer as bases do partido e perder o contato com elas.

– “Meus amigos de futebol detestam política, mas explico mostrando as ações e reações e as implicações no pequeno cotidiano, ajuda a criar consciência.”

– O jovem quando entra no partido, deve parar, escutar, aprender e pensar “é aqui que devo estar? Será que realmente combina comigo?” Caso sim, aí sim participar mais, falar e se posicionar.

– “Eu faço o que devo fazer, por isso não tenho medo da prestação de contas e da transparência, mas a comunicação deve ser sempre clara e fluída, caso contrário a população pode reclamar.”

– Ideal seria fazer uma pesquisa e descobrir quais áreas da cidade pensam o que o partido pensa, para ser mais eficiente na estratégia eleitoral.

– A presença em eventos pequenos é tão importante quanto nos grandes, ali o candidato tem maior interlocução e maior geração de empatia por quem o assiste.

“Partidos políticos e sociedade civil: a experiência da campanha de Sarre – Marc Speicher (Deputado da CDU no Parlamento de Sarre)

– Questão imigratória foi um problema em toda a Alemanha e causou sérias discussões entre CDU e a CSU, principal partido parceiro.

– De uma hora para a outra, a popularidade de Merkel caiu mais de 10%.

– As pesquisas mostravam a CDU muito atrás do SPD.

– No Sarre a maioria política é de esquerda, muito por conta da economia do estado, carvão e aço, que leva o SPD a ganhar popularidade entre os trabalhadores.

– Capacitação dos militantes por meio de um aplicativo de celular.

– Investimento em pesquisa para descobrir em quais regiões do estado a campanha deveria ser feita com mais força.

– Voto já pode ser eletrônico, e ainda por carta em alguns casos, como por exemplo, se a pessoa não puder ir votar no dia oficial da eleição. Pode fazer antecipadamente e durante um período de 6 semanas.

– A partir do ano de 2020, Sarre não pode mais endividar-se e irá cortar os gastos. Objetivo é garantir um crescimento saudável e constante.

– No início da campanha, investimento em eventos pequenos e de nicho. Maiores e públicos, apenas na reta final.

– Boas estratégias de campanha fizeram com que o resultado final fosse totalmente diferente do esperado no início, que era a derrota.

– CDU ganhou as eleições municipais em praticamente todos os municípios de Sarre, perdeu apenas em dois, para SPD.

– Cartas enviadas a nichos, com propostas voltadas para eles, como por exemplo, agências de turismo, dizendo que iriam fomentar mais o turismo no estado.

– Militantes do SPD votavam na CDU, porque queriam continuar no governo, mas liderados e não sendo protagonistas.

– Aplicativo utilizado na campanha serviu para mensurar o trabalho dos militantes, realizar cadastro e também compartilhar resultados.

– Importância de se manter um cadastro atualizado: ao enviar o pedido de voto para as casa das pessoas, centenas responderam “fulano morreu há muitos anos e vocês vem me pedir o voto dele?”

– Juventude da CDU tem mais de 120 mil membros, sendo a maior juventude partidária da Europa. Grande fator disso, é que você pode ser filiado na Juventude, mas não necessariamente ao partido.

– Apesar de Merkel ser a presidente da CDU há 18 anos, a participação feminina continua sendo de apenas 28%, número igual do ano 2000.

– Os partidos populistas nascem a partir da falha dos políticos tradicionais, dos governantes, em atender as demandas da população e isso tem sido um fenômeno mundial.

“Exemplos de mobilização nos países representados” – Soren Soika (KAS)

– Apresentação de situações políticas nos mais diversos países da América Latina.

– Conclusão de que o extremismo político não é exclusivo da nossa crise, mas está presente em todo o continente. Na Colômbia, por exemplo, há quem diga quem um candidato é a implantação do chavismo e o outro é ter apoio dos paramilitares.

– Fruto do descrédito contínuo das instituições.

– “Políticos dizem que é importante participar e renovar, mas na hora de permitir maior participação dentro das estruturas partidárias, impõe todas as barreiras possíveis. É óbvio que os movimentos sociais vão crescer e servir de opção ao partidarismo tradicional.”

– “Não adianta o discurso do político ser um, mas na prática ser outro. Com a velocidade e a capilaridade da informação, o cidadão deixou de acreditar no que o político diz.”

“Red Somos la KAS: propostas para o futuro” – Soren Soika (KAS)

– Mesa redonda com apresentação de propostas de trabalho e de integração para a Rede Somos la KAS, apresentadas pelos participantes.

10 de junho, domingo

“Mobilização através de uma comunicação moderna: a experiência da Província de Buenos Aires” – Federico Suárez (Ministro de Comunicação da Província de Buenos Aires)

– Mudança de paradigma, com o cidadão do século XX convivendo com o cidadão do século XXI e mudança na estrutura de representação (muito mais horizontal do que antes).

– Teoria do novo eleitor: cidadão protagonista, mudança na comunicação, saturação de informações.

– “Da velha política vertical para uma relação horizontal.”

– Comunicar, no século XX, era dar uma mensagem que deveria ser compartilhada. No século XXI é conversar, conversas estas que competem entre si por conta do excesso de informação.

– Atualmente a participação não gera institucionalidade (participação em partidos, por exemplo).

– O objetivo de gerar conversas é captar a atenção para as conversas sociais.

– Coisas da sua intimidade, esquemas disruptivos que chamem a atenção e apelar para mais emoção são construções de uma nova mensagem.

– Quando Macri perdeu o governo de Buenos Aires, foi feito um estudo para identificar potencializar suas qualidades e amenizar seus defeitos. Havia muita rejeição pelo seu passado no mundo empresarial, o que foi mitigado para as eleições de 2007, quando foi eleito.

– “O que fazemos e o que falamos é sempre planificado.”

– Estratégias: temas, conceitos, mensagens e canais de comunicação.

– O que se faz, se comunica e o que se comunica, se faz.

– Valores que nos definem: a sã rebeldia contra a velha política, a capacidade de liderança sem personalismo, dizer a verdade, escutar e humildade.

– Valores da Província de Buenos Aires: 1) Fazer, para a população recuperar a percepção de que o governo pode realizar e concluir as obras e; 2) Estar,

– Ao assumirem o governo da Província de Buenos Aires, a capacidade de investimento era de apenas 3% do orçamento, após mudanças, cortes e boa gestão, aumentou para 8%. Um recorde histórico.

– Se um governo tem mais de três eixos, não vai comunicar nenhum. Os escolhidos pela Província foram inclusão, obras e segurança. Depois incluem-se outros temas debaixo do guarda chuva destes três.

– Três eixos de trabalho da comunicação: a agenda da governadora, a imagem do governo como um todo e não setorizado (a população não diferencia os distintos órgão públicos) e a capilaridade (saber diferenciar a mensagem entre as mais diferentes regiões da Província).

– O banco de dados dos moradores da Província está tão bem tratado e atualizado, que o governo consegue mandar uma mensagem aos moradores de um único quarteirão por todos os meios possíveis (SMS, e-mail, redes sociais, etc.) para avisar, por exemplo, que o asfalto está sendo colocado nas ruas próximas.

– Foco das mensagens devem sempre ter três ideias principais: 1) o que?, 2) para quem? e 3) como?

– Etapas da campanha: direção, estratégia, tática, técnica/produção e resultado. Estratégia é da coordenação de campanha, tática do escalão abaixo e produção ainda mais baixo (base).

– Estamos no começo da mudança de paradigma, então não sabemos como a comunicação política vai evoluir nos próximos anos. O que demorava 70 anos para atingir milhões de pessoas, hoje demora menos de um ano. Então, se continuamos a fazer comunicação pensando no século XX, nunca vamos atingir o eleitor do século XXI.

– O centro da atividade política não é mais o político, mas o cidadão, ele é quem deve ser a sua principal mensagem.

“Estratégias digitais e territórios de comunicação” – Juan Manuel Ricciarelli (assessor de comunicação do PRO, Argentina)

– Tudo o que foi planejado em janeiro, precisa ser mudado.

– Uma equipe de 16 milhões de habitantes.

– As ligações aos cidadãos são estratégias que funcionaram com Macri e o PRO expandiu para outros mandatos.

– Comunicação capilar é atender a realidade local, contar o que está sendo feito em cada município da Província e segmentar a comunicação.

– Segmentação: geográfica (agenda, território, eventos, formadores de opinião) > demográfica (estudos qualitativos) > por interesses (conhecimento dos perfis, interesses, gostos) > um a um (base de dados) > hiper segmentação (individual).

– Os valores e as mensagens devem sempre ser positivos, alegres e transmitir confiança no futuro, no progresso e no esforço que vai ser realizado.

– Em um cenário de incertezas, sem dinheiro e com pouca recepção por parte da população, o ideal, a curto prazo, é investir em redes sociais – barato e massivo – mas além disso, fazer um trabalho de imagem de longo prazo.

– Decisões não são tomadas baseadas em emoções.