15 de agosto de 2018

“BENDITAS RESERVAS CAMBIAIS”!

(Claudio Adilson Gonçales – Estado de S.Paulo, 13) 1. As reservas cambiais brasileiras (US$379 bilhões, julho/18) têm sido o objeto de cobiça de alguns economistas e de muitos políticos. As principais críticas são de que o valor é exagerado, com enorme custo de carregamento, e que, se parte delas fosse aplicada em investimentos, o resultado seria a redução dos encargos financeiros da dívida e maior crescimento econômico. Alguns, menos afoitos, propõem o uso de parte dessas reservas para reduzir o estoque de dívida pública. Essa alternativa, menos lesiva do que a primeira, também apresenta problemas.

2. Comecemos com o tão falado custo de carregamento. Como se sabe, quando o Banco Central (BC) compra dólares ou outras divisas, ele liquida a operação em reais, aumentando a oferta de moeda. Essa liquidez adicional tem de ser enxugada pela venda no mercado doméstico de títulos públicos, cuja taxa de juro é bem superior à que será obtida pela aplicação, no exterior, das reservas. É com base nessa diferença de taxas que se estima, de forma grosseira, o custo de carregamento das reservas. Há alguns problemas sérios com esses cálculos. Vejamos.

3. O mais óbvio é de que o juro incidente sobre os recursos captados em contrapartida à acumulação de reservas é em reais, enquanto as reservas pagam o rendimento em dólar, mais a variação cambial. Se tomarmos o período 2009 a 2017, para o qual o BC disponibiliza dados comparáveis, veremos que o custo de captação dos reais que financiaram as reservas foi de R$ 689 bilhões. O erro é não deduzir, desse valor, o resultado em reais decorrente das variações (para baixo e para cima) da taxa de câmbio e os ganhos obtidos com as aplicações das divisas no exterior. Segundo a série do BC, esse resultado, no mesmo período, foi positivo em R$ 497 bilhões. Assim, o tão falado custo de carregamento das reservas, no período, foi de R$ 689 bilhões – R$ 497 bilhões = R$ 192 bilhões. É um valor relevante? Sim, mas muito menor do que se apregoa. Observe-se que esse custo se refere a um período de 9 anos, e corresponde aproximadamente a 0,3% do PIB, ao ano.

4. Até agora falamos apenas em custo (0,3% do PIB, ao ano). No entanto, apesar de ser difícil quantificar, há um enorme benefício decorrente da acumulação de reservas, qual seja, a redução do risco da dívida soberana, hoje em torno de 2% ao ano. Se levarmos em conta a precária situação fiscal do País, o baixo crescimento, as frequentes crises políticas e, atualmente, as incertezas eleitorais, é pertinente supor que tal risco seria muito mais alto, não fosse a sólida posição líquida em moeda forte do Brasil (a dívida pública em moeda estrangeira é de apenas US$ 70 bilhões). Como se sabe, o risco soberano incorpora-se à taxa de juro de equilíbrio que incide sobre todo o estoque da dívida pública mobiliária federal, hoje em quase R$ 5 trilhões.

5. Há muitas outras repercussões macroeconômicas decorrentes de vendas expressivas de reservas cambiais, cuja análise vai além do escopo desse artigo. Basta citar a provável valorização (não sustentável) do real, aumento da volatilidade cambial, efeitos sobre as exportações e importações, entre outros.

6. A proposta de utilizar os reais obtidos pela venda das reservas na capitalização do BNDES, para que o mesmo aumente o crédito direcionado subsidiado, mais do que equivocada, soa assustadora. Basta olhar o resultado que o incremento desse tipo de crédito causou ao País nos governos Lula/Dilma.

7. E vender reservas para reduzir a dívida bruta? Se a análise sobre as consequências da queda da liquidez do setor público em moeda forte exposta anteriormente estiver minimamente correta, é improvável que haveria qualquer ganho macroeconômico para o País. Então, fazer para quê?

8. Pelo bem do Brasil, deixem as benditas reservas cambiais em paz e foquem no ajuste fiscal, senhores candidatos.

14 de agosto de 2018

“A CRISE FINANCEIRA DOS ESTADOS”!

(Editorial – Estado de S.Paulo, 13) 1. É até surpreendente que 60% dos governadores pretendam renovar seus mandatos. Diante da dramática situação financeira dos Estados, agravada nos últimos anos pela queda da arrecadação em razão da crise econômica e pelo crescimento contínuo das despesas – especialmente com pessoal –, é até surpreendente que 60% dos governadores pretendam renovar seus mandatos na eleição de outubro. Estarão dispostos a enfrentar nos próximos quatro anos os graves problemas que não enfrentaram com a coragem necessária durante o mandato que se encerra no dia 31 de dezembro? Infelizmente, o acompanhamento da evolução recente das finanças estaduais sugere que não.

2. A recessão teve papel decisivo na redução das receitas nos últimos anos. Entre 2015 e 2017, como mostrou reportagem do Estado, a receita dos Estados poderia ter sido R$ 278 bilhões maior do que o valor efetivamente arrecadado caso se mantivessem as condições econômicas anteriores. Como disse o economista Raul Velloso, esse é o dinheiro adicional que teria entrado nos cofres estaduais caso o País não tivesse mergulhado na recessão.

3. Estados mais industrializados perderam mais receita, proporcionalmente e em valores, porque a crise afetou mais duramente, e por mais tempo, a produção de bens industriais. No Rio de Janeiro, a receita caiu até mesmo em valores nominais.

4. Os valores impressionam, especialmente se se lembrar que o dinheiro não arrecadado daria para cobrir os custos da construção de mais de mil hospitais do nível da unidade que o Hospital Sírio-Libanês está construindo em Brasília, com 144 leitos. Daria também, como lembrou Velloso, para pagar o aumento das despesas com o sistema previdenciário.

5. Em boa parte dos casos, porém, à gravidade do impacto da crise sobre a arrecadação não correspondeu a necessária austeridade que se espera de um gestor comprometido com o bom uso do dinheiro do contribuinte.

6. Em 2017, por exemplo, quase todos os Estados gastaram mais da metade de sua arrecadação líquida no pagamento dos servidores públicos, ativos e inativos, segundo dados informados pelos governos estaduais à Secretaria do Tesouro Nacional, como exigência da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Essa lei (Lei Complementar n.º 101, de 4/5/2000) estabelece em 60% da receita corrente líquida o gasto máximo com pessoal dos Estados. Quando os gastos com pessoal atingirem 95% desse limite (ou 57% da receita líquida), os Estados não poderão conceder vantagens, aumentos ou reajustes aos servidores, nem criar cargos ou funções.

7. No ano passado, uma parte dos Estados conseguiu reduzir os gastos com pessoal ativo, em razão da não substituição dos servidores que, por alguma razão, saíam da folha do pessoal em atividade. Mas, desde 2015, os gastos com inativos estão crescendo mais depressa e é praticamente nula a competência dos governos estaduais para conter esse crescimento.

8. A combinação de gastos em crescimento e arrecadação em queda (o aumento da receita real no ano passado não foi suficiente para compensar as perdas dos dois ou três anos anteriores) resultou no crescimento da dívida dos Estados, que no segundo semestre do ano passado somava R$ 781 bilhões. Renegociadas em 1997 com grande ônus para o Tesouro Nacional, mas com regras rigorosas para evitar seu crescimento, as dívidas estaduais voltaram a aumentar a partir de 2009, em razão de financiamentos concedidos por instituições federais e organismos multilaterais.

9. Cercadas de medidas de prudência no início, as operações com bancos federais tornaram-se mais fáceis para os Estados depois que o governo do PT autorizou empréstimos sem o aval do Tesouro Nacional. O risco da operação, antes bancado pelo Tesouro, passou a ser da própria instituição financiadora. Chegou-se à situação em que a Caixa Econômica Federal tem a receber R$ 21,4 bilhões de empréstimos concedidos a Estados e municípios sem aval do Tesouro, como mostrou o Estado. Foi um estímulo para os gastos estaduais e para a deterioração de sua já combalida situação financeira.

13 de agosto de 2018

AINDA SOBRE O DEBATE PRESIDENCIAL NA BAND!

1. As reações imediatas da mídia relativas ao debate entre os candidatos a presidente na BAND foi realçar o inusitado. Isso lembrou uma velha história de um professor aos alunos de jornalismo: “Cachorro morder alguém não é notícia. Notícia é alguém morder um cachorro”.

2. Nessa lógica, a participação do Cabo Daciolo foi exaltada. De outro lado, a participação pífia de Bolsonaro foi destacada como estratégia, quando o que estava claro era um certo desconcerto nas respostas.

3. Alckmin e Ciro – que se portaram como presidenciáveis e responderam as perguntas sem subterfúgios e fizeram perguntas dentro do que se espera de um presidenciável -, foram quase esquecidos. Exceção de Elio Gaspari, que destacou na sua coluna deste domingo: “Alckmin e Ciro se deram bem na BAND”.

4. Talvez o grande destaque do debate tenha sido a audiência de 6,2% na Grande SP,  chegando em certos momentos a 8%. Essa audiência, maior do que a da emissora nesse horário e similar ou maior que os talk-shows de prestígio na TV aberta e na TV por assinatura, deveria ser exaltada e comentada. Foi mais ou menos o dobro do Roda Viva e GloboNews com os presidenciáveis.

5. Tal audiência é uma prova de que o eleitor não está tão desligado da campanha presidencial como se avalia. Se as pesquisas mostram altos índices de “Não Voto” (abstenção, brancos e nulos), isto não quer dizer alienação ou ausência, mas posicionamento que em algum momento da campanha pode apontar preferências participativas por este ou aquele candidato.

6. E se estes altos índices forem mantidos, há que sublinhar que não se tratará de alienação, mas de posicionamento sublinhado por argumentos, e com forte multiplicador. As redes sociais servem como desaguadouro de reação às crises, e não devem ser tomadas como posicionamento definitivo até as eleições.

7. Com isso, as pesquisas eleitorais de até aqui, mostram apenas que as respostas de intenção de voto indicam ainda preferências superficiais ou espera pela campanha para se decidir. Nesses sentidos, a campanha 2018 está aberta. Ou seja, os que estão atrás nas pesquisas não têm por que desanimar. E os que estão na frente devem saber que suas porcentagens são, por enquanto, apenas provisórias.

8. Depois de 15 dias de TV, as pesquisas começarão a mostrar as efetivas tendências de voto…, ou não voto.

10 de agosto de 2018

AS RAZÕES DO PLANO MARSHALL! 

Artigo de Daniel Kurtz-Phelan sobre seu livro “The China Mission: George Marshall’s Unfinished War, 1945-1947”. Daniel Kurtz-Phelan é editor executivo da revista Foreign Affair e foi membro da Equipe de Planejamento de Políticas do Departamento de Estado no governo Obama.

1. Mais do que qualquer outro período da história americana, os anos imediatamente posteriores à Segunda Guerra Mundial representam a época de ouro da política externa. Eles marcam o início da era americana, um período de liderança ousada que nos deu as doutrinas e conquistas que invocamos hoje. Mais do que qualquer outra figura nessa narrativa, George C. Marshall incorpora a concepção do poder americano no seu melhor. Como general do Exército, ele liderou os EUA à vitória na Segunda Guerra Mundial; como secretário de Estado e depois Defesa, ele forjou um modelo de liderança global que fundia força e ambição com generosidade e sabedoria.

2. Entre o serviço heroico de Marshall na Segunda Guerra Mundial e sua diplomacia visionária no alvorecer da Guerra Fria, ele assumiu a missão mais difícil de sua vida. Por 13 meses, do final de 1945 até o início de 1947, ele foi o enviado especial à China, trabalhando para intermediar a paz na guerra civil entre os comunistas de Mao Tsé-Tung e os nacionalistas de Chiang Kai-shek e estabelecer as bases para uma democracia chinesa aliada aos EUA. Quando ele falhou, tanto as consequências quanto as lições moldaram o resto de sua aclamada carreira e décadas de política externa dos EUA.

3. Marshall não queria ir à China. Depois de um período esgotante de seis anos como chefe do Estado-Maior do Exército, que começou no dia em que Hitler invadiu a Polônia, em 1939, ele queria se aposentar. Mas uma guerra civil na China e o risco de uma vitória comunista ameaçaram demolir a visão dos EUA para a ordem mundial do pós-guerra. Então o presidente Harry Truman pediu a Marshall – a quem ele chamou de “o maior militar que este ou qualquer outro país já produziu” – para assumir o que deveria ser uma missão final. O senso de dever de Marshall não permitiria que ele dissesse não.

4. Em questão de semanas, Marshall conseguiu o que até os cínicos chamavam de milagre. Sob sua direção, os nacionalistas e os comunistas concordaram com um cessar-fogo numa guerra civil que durava duas décadas. Quando Marshall visitou a remota sede revolucionária dos comunistas, Mao declarou: “Todo o povo do nosso país deve sentir-se grato e em voz alta dizer ‘longa vida à cooperação entre a China e os Estados Unidos’.”

5. Mas, como sabemos agora, a base preparada por Marshall para uma aliança sino-americana pacífica e democrática não sobreviveria. As discussões passaram do acordo de alto escalão para os detalhes da implementação, e o aparente acordo deu lugar a diferenças irreconciliáveis sobre o futuro da China. Com o crescimento das tensões entre Washington e Moscou, Joseph Stalin passou de apoiar os esforços de Marshall para encorajar Mao a acelerar sua guerra de guerrilha.

6. Marshall lutou por mais 10 meses para evitar um colapso – e o consequente risco de vitória comunista e renovada guerra mundial. Autoridades em Washington o comparavam a Sísifo, tentando de novo e de novo restaurar o progresso. Somente no final de 1946 ele finalmente desistiu. “Agora, será necessário que os próprios chineses façam as coisas pelas quais me empenhei para liderá-los”, concluiu ele.

7.  Mas na fase seguinte de sua carreira – observando-o trabalhar na China, Truman decidiu torná-lo secretário de Estado – Marshall lutaria com uma escolha dolorosa: o que fazer enquanto a guerra se alastrava e a vitória de Mao aparecia cada vez mais certa. No entanto, sua missão na China o deixara com pouca esperança de que a ajuda americana pudesse fazer uma diferença decisiva ali e o convencera de que um grande esforço militar para impedir Mao traria enormes riscos, ao mesmo tempo em que utilizaria recursos americanos que eram desesperadamente necessários em outros lugares.

8. A implicação – de que os governantes norte-americanas haviam, a partir de uma combinação de passividade e traição, perdido a China para o Comunismo – desencadeou uma das transformações mais sombrias da vida cívica norte-americana. Para gerações de estrategistas e legisladores da Guerra Fria, a lição foi clara: eles não podiam se deixar vulneráveis às acusações de terem “perdido” um país para o comunismo. O presidente Lyndon Johnson e alguns de seus contemporâneos chamariam o Vietnã de uma oportunidade de buscar o rumo que deveria ter sido buscado na China uma década e meia antes. Mesmo nos anos 80, a analogia se manteria viva, com a “perda” da China invocada como um argumento para intervenção em outros lugares.

9. Mas o próprio Marshall tirou lições diferentes do fracasso, especialmente quando se tratou da luta global da Guerra Fria contra o comunismo apoiado pelos soviéticos que estava apenas começando quando ele assumiu o cargo de secretário de Estado. Embora reconhecesse a necessidade de liderança americana para enfrentar esse desafio, ele também reconheceu os limites do que o poder americano poderia alcançar sozinho. Como ele enfatizou, “A principal parte da solução dos problemas da China é em grande parte uma dos próprios chineses”.

10. Ao enfrentar a perspectiva de colapso na Europa quando a Guerra Fria começou, foram essas lições que Marshall aplicou. Ele viu a necessidade de abordar “fome, pobreza, desespero e caos” como pré-condição para evitar a propagação do comunismo, bem como a necessidade de os parceiros da América tomarem certas medidas antes que a ajuda americana pudesse ser eficaz. Ele enfatizou esses princípios básicos para uma nova unidade do Departamento de Estado, a Equipe de Planejamento de Políticas, tornando-a responsável por encontrar uma maneira de impedir que a devastação na Europa Ocidental abrisse caminho para a dominação soviética. O resultado foi o Plano Marshall – o maior esforço de ajuda externa na história americana e, sem dúvida, a maior conquista da história da política externa americana.

09 de agosto de 2018

PARTIDÁRIOS E ANTIPARTIDÁRIOS NO BRASIL!

(Cesar Zucco, PHD em Ciência Política – Blog do Ibre, 02/08) 1. A pergunta que fica é como e por que o PT foi o único partido no Brasil a criar uma ligação mais resiliente com eleitores. As explicações óbvias de “aparelhamento” ou “clientelismo” não dão conta do fenômeno, pois o PT cresceu quase que de forma contínua e já era o maior partido em termos de simpatizantes antes de chegar ao poder em 2002, e cresceu novamente depois que deixou o governo.

2. Nós encontramos evidência quantitativa para a tese, já bastante difundida na literatura qualitativa, de que o partido cresceu, ao menos até 2002, acoplando-se a organizações da sociedade civil. Essa estratégia de “mobilizar os organizados”, que não é diferente do que ocorreu na origem dos partidos de massa europeus, permitiu que o PT obtivesse não apenas eleitores, como os demais grandes partidos brasileiros, mas também simpatizantes.

3. É possível que essa estratégia tenha sido relegada para um segundo plano nos anos em que o partido governou o Brasil, seja por decisões estratégicas de seus dirigentes, seja pelas contradições inerentes a ser governo e tentar representar a sociedade civil ao mesmo tempo. É possível também que o arrefecimento da estratégia tenha sido simplesmente fruto da simples escassez de mão de obra, afinal recursos humanos antes dedicados a construir o partido foram dirigidos para a tarefa de governar.

4. Um aspecto importante  é que nem todos os não-partidários são iguais. Há, entre eles, um significativo grupo de eleitores que não simpatiza com nenhum partido, mas que antipatiza com alguma agremiação.

5. De forma análoga ao que encontramos sobre os partidários, os antipartidários de fato não votam em candidatos do partido com o qual antipatizam, e tendem a discordar de posições políticas quando atribuídas a este partido.

6. Uma implicação prática desse resultado é que não é verdade que metade (ou mais) da população brasileira não tem preferências partidárias. Partidários e antipartidários, somados, sempre alcançaram cerca de 60% do eleitorado.

08 de agosto de 2018

REDES SOCIAIS E DECISÃO DE VOTO E MOBILIZAÇÃO!

1. As Redes Sociais empoderam o indivíduo. Cada indivíduo tem a sensação de que decide individualmente e não como parte de uma organização.

2. Nesse sentido, o que as Redes Sociais multiplicam são as ideias. Quando um partido ou um líder político imagina que tem poder individual de arraste e que os eleitores o seguem independentemente do que possa escrever ou dizer, enfim, postar, se iludem.

3. Candidatos devem ficar atentos às ideias que circulam nas redes sociais. Na medida em que as ideias com maior circulação nas redes tenham convergência com as do candidato, este, ao prioriza-las nas redes sociais, conseguirá um forte multiplicador.

4. O equívoco é imaginar que foram as postagens do candidato que criaram e produziram o multiplicador. As postagens de sucesso dos candidatos são, na verdade, as opiniões espalhadas e convergentes dos indivíduos.

5. O nome do candidato junto às ideias postadas pode até atrapalhar o multiplicador, na medida em que sua rejeição é transportada nas redes.

6. Os movimentos que pensaram que eram os responsáveis por atrair tantas pessoas às ruas, quando passaram a se assumir como organizações nas redes sociais e imaginar que o poder de convocação e aglutinação era seu, fracassaram nas novas convocações.

7. Esse foi o erro ingênuo dos movimentos a partir de 2013 no Brasil. Se tivessem humildade e sublinhassem que estavam acompanhando ideias das pessoas e que naquelas mobilizações tinham um papel calendário, sugerindo dia e hora, teriam sustentado o sucesso inicial. A multiplicação dessas sugestões pelos indivíduos nas redes é que multiplicaram e aglomeraram.

8. Tanto que dali para frente, o efeito multiplicador das convocatórias desses movimentos fracassou.

07 de agosto de 2018

REPRESENTAÇÃO PROPORCIONAL NO BRASIL: “MAIORIA FEITA AOS PEDAÇOS”!

(Marcus André Melo, Professor da Universidade Federal de Pernambuco – Folha de S.Paulo, 06) 1. “Não conheço melhor sistema para a representação das minorias, nem pior para a constituição de maiorias”, escreveu Barbosa Lima Sobrinho em 1952. Seu pessimismo sobre a recém introduzida representação proporcional (RP) era também partilhado por muitos atores influentes.

2. Em “Lições da Crise” (1955), Hermes Lima, homem forte de Getúlio e ex-ministro do STF, atribuiu à representação proporcional “o espetáculo das maiorias feitas aos pedaços, instáveis, artificiais e onerosas que os presidentes e governadores são compelidos a arranjar nas Câmaras”. E apontou para “combinações oportunistas e esdrúxulas que exaurem a vida política num processo contínuo de reajustamentos, compromissos, imposições e cumplicidade. Maiorias débeis vizinhas da corrupção”.

3. Certas características da nossa RP —exemplo o fato que os distritos eleitorais são estados, alguns gigantescos– exacerbavam os problemas de formação de coalizões e produzia distorções: eleições caras. “Não é por outro motivo que as emendas ao orçamento na Câmara se apresentam aos milhares… Cada deputado necessita de votos no estado inteiro e julga-se no dever de distribuir, por intermédio da lei orçamentária, verbas e auxílios pelo estado inteiro.” Mas sabiamente, Lima também anteviu outro problema: o dinheiro corrompia a RP.

4. Sua conclusão mais contundente contra a RP era que “as condições criadas ou exasperadas pelo proporcionalismo se devem à tremenda influência do dinheiro em nossos derradeiros prélios eleitorais. Os gastos eleitorais são astronômicos, as despesas dos candidatos elevadíssimas. O dinheiro corrompeu definitivamente o proporcionalismo nos termos atuais de sua prática”.

5. Parte do diagnóstico feito por nosso ex-premiê, na década de 50, é repetido por muitos analistas atualmente como se novidade fosse. Sua acuidade estava em reconhecer endogeneidade na relação representação proporcional-corrupção. De fato, a RP em distritos com grande magnitude eleva brutalmente o custo de campanha, que se torna assim o foco das barganhas interpartidárias.

6. Mas há mais: a corrupção afeta a RP. O dinheiro corrompe as “maiorias débeis”. Mas isso apenas quando as instituições de controle são fracas, o que garante altas taxas de retorno para o investimento corrupto. A questão fundamental ao fim e ao cabo é assim a força das instituições.

7. Senão como explicar que os gastos em eleições majoritárias também sejam “astronomicamente” altos? Ou que o custo das eleições em Israel ou Holanda onde o distrito eleitoral é o próprio país seja baixo? Ou que a RP não produz distorções onde o estado de direito prevalece?

06 de agosto de 2018

TEMPO E FORMAÇÃO DA DECISÃO DE VOTO EM 2018!

1. Nos últimos anos, o processo de formação e decisão de voto tem mudado. Isso se tornou um desafio para os Institutos de Pesquisa Eleitoral. Ao abrir as urnas, em muitos países, o resultado não corresponde às pesquisas.

2. Esta dinâmica ainda vem acentuada pela antipolítica, pelos novos partidos e pela mudança nos tradicionais sistemas bipartidários nos países desenvolvidos.

3. No Brasil, neste ano, as pesquisas apontam para um novo crescimento do Não Voto (abstenção+brancos+nulos). Mas essa possibilidade ainda deve ser tomada com prudência, na media em que a rejeição aos políticos impulsiona o Não Voto, pelo menos por enquanto. Minas Gerais tem apresentado as maiores porcentagens de Não Voto.

4. Tradicionalmente, no Brasil, as pesquisas antes da entrada da TV ainda não dão segurança sobre o patamar de intenção de voto dos candidatos. Parte do eleitorado só sabe mesmo que haverá eleições com a TV. O TSE informou, semana passada, que 39% dos eleitores são analfabetos+só sabem ler e escrever+ não completaram o ensino fundamental. O mais prudente é ter paciência e aguardar 15 dias de TV. A partir daí, as pesquisas começarão a retratar com maior realismo as tendências efetivas de voto.

5. Neste ano, com apenas 35 dias de TV, esse processo se torna ainda mais complicado e o risco de flutuação das pesquisas, no final, é ainda maior.

6. Se campanha eleitoral apontar para uma forte polarização no primeiro turno, a tendência será que o Não Voto diminua. Nesse caso o eleitor terá a sensação que seu voto será decisivo. Havendo um espalhamento das intenções de voto, o Não Voto tende a confirmar a tendência de crescimento.

7. Sendo assim, só no segundo turno virá essa polarização. Então, as pesquisas de intenção de voto no primeiro turno, quando acompanhadas da pergunta em quem votaria no segundo turno, devem ser tomadas com muito cuidado. Melhor esperar o segundo turno.

8. As chapas estarão definitivamente inscritas no dia 15 de agosto, mas só um mês depois se poderá ter uma avaliação efetiva das tendências do eleitorado.

03 de agosto de 2018

“DO QUE FOGEM OS CENTRO-AMERICANOS?”

(Adriana Carranca – Globo, 22) 1. A violência que irrompeu na Nicarágua, deixando ao menos 280 mortos, nos serve de lembrança sobre o barril de pólvora prestes a explodir que é a América Central, uma das regiões mais negligenciadas do mundo. Ao norte da Nicarágua estão Honduras, El Salvador e Guatemala. A mais recente onda de violência nos três países — o Triângulo Norte, como é chamado este território — provocou o maior êxodo desde as guerras civis do século XX.

2. São estes migrantes que estão batendo à porta dos Estados Unidos em maior escala em busca de asilo e proteção, uma vez que migrar para o Sul através da Nicarágua ou refugiar-se no México não lhes ofereceria alívio. Entre as 50 cidades mais violentas do mundo, 43 estão na América Latina e no Caribe.

3. A taxa de homicídios no mundo aumentou pela primeira vez em uma década, de acordo com estudo do Small Arms Survey, publicado em dezembro com base em dados de 2016. A taxa foi puxada pelo aumento do número de mortes em Venezuela e Jamaica. À frente do ranking dos países com maiores taxas de homicídio no mundo, estava a Síria, seguida por El Salvador, Venezuela e Honduras. Dos 23 países com taxas de homicídio maiores do que 20 por 100.000 habitantes, 14 não estavam envolvidos em guerras — entre eles, Brasil, Jamaica e República Dominicana.

4. Segundo outro estudo, divulgado em janeiro pela fundação InSight Crime, dedicada ao estudo do crime organizado na América Latina e no Caribe, os dez países com maiores taxas de homicídio na região são, nesta ordem: Venezuela, El Salvador, Jamaica, Honduras, Brasil, Guatemala, Colômbia, México, Porto Rico e República Dominicana. Ou seja, de norte a sul, não há para onde fugir. A emigração dos países da América Latina e Caribe para os Estados Unidos não é nova, mas era historicamente motivada por condições econômicas. Homens, majoritariamente, deixavam suas casas em busca do “sonho americano,” que para a maioria limitou-se a enviar alguns dólares para as famílias que deixaram para trás.

5. Em El Salvador, Guatemala e Nicarágua, os motivos eram outros desde o primeiro grande êxodo da região, nos anos 1970 e 1980, quando mais de dois milhões de pessoas fugiram dos conflitos internos nos três países. Jovens de famílias dilaceradas que conseguiram escapar da violência e chegar aos EUA eram, como hoje, considerados ilegais e, como tal, acabaram jogados à clandestinidade nos bairros mais pobres e violentos de cidades como Los Angeles.

6. À margem da sociedade e sem proteção do governo, muitos desses jovens foram buscar proteção em gangues de ruas e dentro das prisões. E assim se formaram gangues como a Mara Salvatrucha, a temida MS-13, formada por imigrantes que haviam fugido de conflitos internos em El Salvador, Guatemala e Nicarágua (para onde milhões de dólares tinham sido canalizados na Guerra Fria em apoio a governos, militares e grupos armados anticomunistas), e a Gangue da Rua 18, também chamada de Barrio 18 e formada originalmente por imigrantes mexicanos e, mais tarde, por dissidentes da MS-13.

7. Quando o presidente Bill Clinton aprovou, em 1996, a Reforma da Imigração e Lei de Responsabilidade do Imigrante, o governo americano deportou dezenas de milhares de volta à América Central. Entre eles, integrantes da MS-13, da Barrio 18 e de outras gangues. Ao desembarcar, os integrantes dessas gangues encontraram governos instáveis e corruptos, e populações negligenciadas pelo Estado vivendo em extrema pobreza — ambiente favorável à expansão da criminalidade. Hoje, essas gangues controlam territórios da região, onde o governo não está presente ou não é confiável, e aterrorizam a população desprotegida com assassinatos, estupros, sequestros, recrutamento forçado e rede para o crime organizado.

8. Está aí a origem do novo êxodo, que provocou a maior crise migratória em décadas. A deportação de imigrantes não documentados sem histórico de envolvimento com o crime, como faz o atual governo de Donald Trump, só jogará mais civis inocentes nas mãos de criminosos, dando mais força às gangues e criando um círculo vicioso que levará a mais violência e expulsará mais gente de suas casas. Sem ter para aonde ir, mais e mais imigrantes tentarão rotas de fuga mais obscuras e perigosas nas mãos de outra rede de criminosos, os coiotes, cujo poder aumenta na mesma medida em que as fronteiras são fechadas. É um ciclo sem fim.

02 de agosto de 2018

ALIÁS/ESTADO DE S.PAULO (22/07) ENTREVISTA MANUEL CASTELLS! “HOJE, NO BRASIL, A QUESTÃO NÃO É ESQUERDA OU DIREITA, E SIM PARTIDOS DEMOCRÁTICOS CONTRA COALIZÃO NEOAUTORITÁRIA”!

ESP: O senhor crê na possibilidade de candidatos de partidos sem muita capilaridade venceram a eleição presidencial brasileira mesmo com o peso das máquinas partidárias? Muitos apostam em uma queda gradual de Jair Bolsonaro e Marina Silva no decorrer da campanha.

Castells: As máquinas regionais são decisivas por sua capilaridade e porque são a base do clientelismo e, portanto, da corrupção. Creio que tem razão quando diz que Bolsonaro irá cair – o poder econômico brasileiro não é aventureiro. No entanto, a política tem sua lógica própria e uma campanha demagógica em plena confusão e com crise econômica pode causar uma hecatombe institucional. O manifesto dos partidos de centro liderado por (Fernando Henrique) Cardoso é uma chamada de atenção ao perigo que representa Bolsonaro, e creio que pode ser um fator decisivo para deter a crise da institucionalidade. Hoje, no Brasil, a grande questão não é esquerda ou direita, e sim partidos democráticos (ainda que corruptos) contra uma coalizão neoautoritária apoiada por grupos de interesses ideológico extremistas internacionais.

ESP: Apesar de toda a inovação do Podemos, quem volta ao poder enquanto esquerda na Espanha é o tradicional PSOE. Quão influente é a existência do Podemos para o novo governo de Pedro Sánchez?

Castells: Há uma nova política na Espanha que surge do movimento 15-M. Não só o Podemos surge do 15-M, como Pedro Sánchez afirma se inspirar em muitos dos valores desse movimento. A aliança parlamentar entre PSOE e Podemos já é um feito e só mediante essa colaboração pode se desenrolar o novo projeto reformista e democrático espanhol. Tudo depende de que nos anos até as eleições essa aliança possa aprovar políticas sociais progressistas a fim de se consolidar no poder por meio das eleições. Há uma convergência explícita entre Sánchez e Iglesias (líder do Podemos), algo semelhante ao que ocorre em Portugal, o país europeu que melhor funciona política e economicamente no momento. O grande problema segue sendo a Catalunha, difícil de resolver por causa do radicalismo do presidente catalão e a utilização desse radicalismo por parte do nacionalismo espanhol representado pelo partido Ciudadanos, cuja base de apoio se alimenta da oposição a Catalunha. Sánchez está tentando dialogar e conciliar, mas os nacionalismos dificultam.

ESP: O sr. crê na possibilidade de Portugal e Espanha, que historicamente não têm muito peso na União Europeia, influenciarem a política de Bruxelas por meio da negação da austeridade? Quão simbólica é a posse de Mário Centeno, o ministro das finanças portuguesas, como presidente do Eurogrupo?

Castells: Portugal está demonstrando que uma política sem austeridade, mas com rigor fiscal, é mais adequada para o sul da Europa, e Centeno tem cada vez mais respeito entre seus colegas. Sánchez quer avançar nessa direção, mas agora precisa reformar as instituições, corroídas pela corrupção sistêmica do PP. Até agora, Sánchez conseguiu formar uma aliança estratégica com Merkel e Macron para dar uma resposta humanitária conjunta à gravíssima crise dos refugiados, agravada pelo fascismo italiano. Em menos de um mês de governo, Sánchez mudou o clima político na Espanha, que é a quarta economia da União Europeia, e na Europa. Prepara-se uma confrontação com os regimes neofascistas da Polônia, Hungria, República Checa, Áustria e Itália, os ‘bolsonaros’ europeus. Estamos em uma situação de emergência e Sánchez e António Costa (primeiro-ministro português), junto com Merkel e Macron, são a esperança da sobrevivência dos valores democráticos na Europa.

01 de agosto de 2018

AS ETAPAS NA FORMAÇÃO DA DECISÃO DO ELEITOR!

(Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 31) 1. Quando saí em férias, duas semanas atrás, a leitura do noticiário político passava a impressão de que a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) estava fadada a repetir o fiasco da de Ulysses Guimarães em 1989, que não obteve nem 5% dos votos, apesar de concorrer por um megapartido como era o PMDB.

2. Agora, no meu retorno, Alckmin aparece, se não como favorito, ao menos como alguém com grandes chances de chegar ao segundo turno. O problema não está nas inconstâncias da política, mas na afoiteza com que jornalistas, marqueteiros e o próprio eleitorado interpretam os eventos de campanha e as pesquisas, prestando muitas vezes mais atenção aos ruídos do que aos sinais.

3. Para os que não desistiram de escutar a ciência, sociólogos que trabalham com dados mostram que o comportamento do eleitor é muito mais regular do que se supõe, de modo que mapas de votação do último pleito e indicadores econômicos são um guia mais confiável para o “forecasting” (previsões) do que as impressões do momento.

4. Um segundo escrutínio entre um petista e um tucano sempre foi um cenário de alta probabilidade, especialmente depois que as denúncias de corrupção se generalizaram, atingindo todos os grandes partidos.

5. Não é que o resultado esteja escrito nas estrelas nem que o eleitor não procure novidades. A persistência de Jair Bolsonaro no alto nas pesquisas é um indicativo disso. Mas a forma pela qual o cidadão compõe sua decisão de voto é um processo com várias fases. Num dado momento ele dá vazão à sua indignação com todos os políticos, escolhendo figuras que se dizem antissistema.

6. À medida, porém, que o pleito se aproxima, a raiva tende a decantar e outros fatores ganham mais peso. Será que homens mais ricos vão mesmo votar num candidato que não revela com clareza seu programa econômico e ainda por cima teria enorme dificuldade para formar maioria parlamentar? Meu palpite é que Bolsonaro murcha.

31 de julho de 2018

LULA E A TRANSFERÊNCIA DE VOTOS!

1. As análises sobre a campanha presidencial de 2018 -neste momento- sinalizam dúvidas sobre o fôlego de Ciro Gomes, não garantem que Bolsonaro sustente-se no atual patamar, avaliam o impacto do Blocão no crescimento de Alckmin, e especulam sobre o patamar do candidato do PT -digamos Haddad- com apoio e transferência de votos de Lula.

2. A transferência de votos de um líder político a um candidato que apoie não é direta nem garantida. Depende da taxa de rejeição/aprovação do líder, do “efeito esponja” (capacidade de absorção do candidato), do campo de seus adversários, etc.

3. No auge de sua popularidade, Lula abraçou Dilma -sua ministra e portanto colada fisicamente a ele no Palácio do Planalto- e saiu pelo Brasil afora com ela no colo, apresentando-a como sua candidata. Entre fim de 2009 e início das convenções, Dilma cresceu 10 pontos -de um pouco menos de 30% a um pouco menos de 40%. No final do primeiro turno, Dilma teve 35% dos votos sobre o total do eleitorado -que é o que se pode comparar com dados das pesquisas de intenção de voto. No segundo turno, Dilma teve 41% sobre o total do eleitorado.

4. As pesquisas eleitorais atuais com o nome de Haddad dão a ele algo como uns 3% ou 4%. Quando se diz que ele é candidato de Lula, Haddad passa a uns 10% a 12%. Em campanha, com ampla exposição do apoio de Lula, Haddad deve ter este patamar de votos ampliado. A especulação é de quanto será esta agregação.

5. Pesquisas dizem que Lula teria 30% das intenções de voto, hoje. Mas dizem também que tem quase 50% de rejeição. Portanto, seu apoio aberto a Haddad carregará os dois impulsos: para cima e para baixo. O vetor resultante não é fácil de projetar, hoje. Se for impulsionado para perto dos 20%, a probabilidade de ir ao segundo turno é grande. Abaixo disso, ao contrário.

6. Em 30 de janeiro de 2018, o Ex-Blog postou uma nota a respeito dos estudos do professor David Samuel da Universidade de Minnesota com base a dados de uma série até 2002. Este trabalho foi publicado no Brasil pela revista Opinião Pública Vol. X, outubro de 2004 paginas 221 a 241 e procurava responder a pergunta “o que levaria um eleitor a votar no PT”.

7. (Ex-Blog, 31/01/2018)  “A partir das regressões sobre diversos temas que poderiam estar relacionados com o voto no PT, Samuels chega a conclusões, na época, surpreendentes. Hoje se pode afirmar que a precisão de suas conclusões é impressionante. Segue uma lista de situações que não levam ao petismo. “A classe socioeconômica não está diretamente relacionada ao petismo. Categorias sociais como – raça, gênero, religião e idade – não apresentam relação com o petismo. Não é verdade que os católicos sejam mais petistas e que os evangélicos menos. A variável raça também não mostra relação significativa.”

8. “O atrativo do PT de reduzir a desigualdade socioeconômica não se reflete nos resultados de regressão. O desejo de maior influência do governo na economia e maior regulamentação desta, bem como o apoio ao nacionalismo econômico não estão associados ao petismo. Brasileiros que se opõem às práticas clientelistas e ao rouba-mas-faz não apresentam maior probabilidade de serem petistas. Os brasileiros que apoiam a liberdade de expressão política e que têm ideias menos hierárquicas da sociedade também não mostram maior probabilidade de serem petistas.”

9. “A variável mais importante que surge em termos do impacto sobre ser petista é a opinião sobre Lula. O resultado aqui mostrado indica que a predição aumenta quase 65% para um brasileiro que dá nota 10 a Lula numa escala de 0 a 10, em comparação com quem dá nota 5 na mesma escala”. “A importância para o petismo da popularidade de Lula tem implicações substanciais para o futuro do PT. Ele continua a ser o único líder petista que pode atrair um número de adeptos bem maior do que o partido.”. “O partido não está inteiramente livre de sua conexão a um único líder político. Os resultados deste estudo têm implicações adicionais para o futuro do petismo.”

10. O quadro atual -com Lula preso- e o PT se amesquinhando partidariamente, ao concentrar sua política e especialmente sua política eleitoral, apenas não situação de Lula, comprova o estudo de David Samuel – 15 anos depois. Não há PT: há Lula. A campanha tenta criar a Ilusão de que Lula poderá ser solto e candidato. Isso ajuda muito a impulsão de Haddad ou qualquer outro candidato do PT.

11. Mas no momento em que ficar evidenciado que Lula não será candidato, o impacto sobre a candidatura do PT será inevitável. Em campanha, o eleitor não votará num fantasma. Portanto, a curva de crescimento de Haddad como candidato de Lula tenderá a ser estancada ou mesmo invertida no momento da decisão final do TSE/STF/STJ, estimado para início de setembro.

12. Esse cenário projetado deve ser levado em conta pelos demais candidatos -e seus assessores- que perderão tempo ao fazer -hoje- uma regra de três simples, projetando o potencial de votos de Haddad, ou outro. Quem viver, verá.

30 de julho de 2018

ESTADO DE S.PAULO ENTREVISTA  CHRISTOPHER GARMAN, DIRETOR PARA AS AMÉRICAS DA CONSULTORIA DE RISCO POLÍTICO “EURASIA”!

Estado de SP: O mercado reagiu bem à notícia de apoio do Centrão ao Alckmin. Esse apoio partidário e o consequente tempo de TV podem alavancar sua candidatura?

Eurasia: Conseguir o apoio foi importante para ele, mas foi menos no sentido de alavancar e mais no de evitar um passo para trás. A campanha do Alckmin corria sério perigo. Estávamos enxergando uma crise de confiança entre os partidos que tradicionalmente seriam parceiros de Alckmin, que viam ele patinando nas pesquisas. Eles também estavam olhando Jair Bolsonaro e reconhecendo que era uma candidatura que dificilmente dava para trabalhar, dado que há promessa de cortar ministérios e nomear generais para gabinetes. Aí os partidos flertaram com Ciro. Se o Centrão tivesse ido com o Ciro ou rachado, teria criado uma dinâmica muito perversa de que a classe política tinha uma falta de confiança na campanha dele (Alckmin). Na medida em que Alckmin reverteu o quadro, evitou uma deterioração da qual a campanha esteve muito próxima. Agora, o tempo de TV o mantém no jogo.

ESP: E quais serão os desafios?

Eurasia: São dois desafios: Jair Bolsonaro (PSL) e Álvaro Dias (Podemos). Bolsonaro está na frente do Alckmin no Estado de São Paulo e o Álvaro Dias tem apoio no Sul. A pergunta é: tempo de TV é suficiente para derrubar Bolsonaro? Achamos que não. O perfil do Alckmin é difícil nessa disputa. Há um desencanto com lideranças políticas. O tema de corrupção virou muito importante. Mesmo que Alckmin se saia bem no quesito de experiência administrativa, ele se sai mal por ser visto como político tradicional. Mais importante que tempo de TV é quais candidatos se encaixam com o perfil da demanda. Hoje, Bolsonaro parece se encaixar.

ESP: A Eurasia dava 25% de chance de um reformista vencer as eleições. Esse apoio do Centrão muda a probabilidade?

Eurasia: Acho que não. A gente até havia diminuído essa probabilidade de 25% para 20% na expectativa de que Alckmin não teria apoio do Centrão. Hoje estamos com 20%, mas viés de alta.

ESP: Como fica o panorama para os outros candidatos?

Eurasia: Quem mais perde é o Ciro. Ele está numa posição muito vulnerável, porque tem base de apoio no Nordeste e, quando a candidatura do PT entrar em jogo, é o que tem mais a perder, porque está surfando nos eleitores do Lula. A chance que ele tinha era compensar essa vulnerabilidade com tempo de TV dos partidos do Centrão. Ele perdeu essa oportunidade.

ESP: Há informações de que, na negociação com Alckmin, uma alternativa para o financiamento de sindicatos chegou a ser demandada pelo Centrão. A reforma trabalhista está ameaçada?

Eurasia: Alguns ajustes devem ser feitos, mas acho difícil ter uma maioria no Congresso para rever os principais pontos. Os
partidos de centro apoiaram a reforma. Se Alckmin for eleito, as principais vertentes da reforma devem ficar de pé.

ESP: A Eurasia aposta que as reformas vão continuar independentemente de quem ganhar. Isso vale também para o PT? O sr. já comentou que, se Lula indicar um nome, essa pessoa pode crescer rapidamente.

Eurasia: Mesmo com a candidatura do PT, se vingar, deve avançar alguma reforma. Lideranças do partido criticam a reforma desse governo, mas o custo de oportunidade de não fazer a reforma da Previdência é muito grande. No governo Dilma Rousseff, o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa já estava formando uma proposta de reforma. De lá para cá, a situação fiscal se deteriorou ainda mais. Na nossa visão, o PT, chegando ao poder, vai colocar uma reforma na mesa, não tão ambiciosa como seria uma do Alckmin. A dificuldade do PT é que entraria um ambiente mais polarizado. Então a capacidade de construir uma coalizão no Congresso fica difícil. O que achamos é que o que está em jogo não é se vamos ter
uma reforma, mas quão ampla ela será.

ESP: No caso de vitória do Bolsonaro, essa dificuldade no Congresso também pode ocorrer, não?

Eurasia: A diferença é se o PT entraria com uma reforma mais modesta de cara. O Bolsonaro talvez viesse com uma mais ambiciosa, mas a dificuldade é que ele entraria com uma reação mais conflituosa com o Congresso. O caminho seria mais tortuoso e polêmico, mas, mesmo assim, algum tipo de acordo acaba saindo.

ESP: Como deverão ser abordados temas como reforma previdenciária e ajuste fiscal na campanha?

Eurasia: O único candidato que detalhou a proposta da reforma da Previdência é o Ciro. Mas a narrativa política de conciliar uma reforma com a população contra a classe política é um ganho que o governo Temer está dando para os candidatos. Encontrou-se a narrativa da reforma, com um discurso de justiça social. Na campanha, talvez não haja detalhes de proposta, mas todos vão bater no combate aos privilégios.

27 de julho de 2018

FOLHA DE S.PAULO (26) ENTREVISTA RODRIGO MAIA, PRESIDENTE DA CÂMARA DE DEPUTADOS!

Folha de SP: O centrão ficou dividido entre Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). O que desequilibrou o jogo em favor do tucano?
Rodrigo Maia: Foi ficando claro que uma agenda convergente entre Ciro e o campo mais à direita era difícil e com pouca capacidade de compreensão por parte da nossa base. Com Geraldo, as questões ideológicas convergiam sem necessidade de explicação, somado ao fato de que Ciro poderia dividir o grupo.

FSP: O sr. defendia apoiar Ciro, mas precisou aceitar o acordo com Alckmin. Sente-se derrotado?
RM: Não, ao contrário. Sempre disse que, para mim, o natural era apoiar Geraldo, mas, na conversa com Ciro, me coloquei como ator desse novo processo político, do diálogo, da capacidade de construir uma agenda de conciliação em campos opostos. O que prevaleceu é que a aliança com Geraldo geraria mais conforto aos partidos. Foi a decisão correta. Não sou daqueles que considera que as construções políticas gerem vitoriosos ou derrotados.

FSP: O sr. fala de nova política, mas o centrão tem dirigentes investigados, é base de Michel Temer, foi da órbita do PT, e se uniu ao PSDB, que governa São Paulo há mais de 20 anos. Não é contraditório?
RM: Acho que Geraldo, mesmo sendo da velha geração, já compreendeu que vai ter que incorporar um novo momento. Ele precisa construir uma frente muito maior que qualquer um dos partidos que estão na coligação, uma frente na qual o PSDB não seja hegemônico, na qual saiba dividir os espaços de poder nas eleições estaduais. O primeiro grande desafio de Alckmin é liderar um processo no qual o PSDB vai precisar entender que outras forças hoje têm poder maior do que tinham quando o PSDB foi governo [1995 a 2002] e oposição [2003 a 2016].

FSP: Quais cargos na campanha e num eventual governo o centrão negociou para fechar com Alckmin?
RM: As demandas foram focadas no processo eleitoral, em nenhum momento tratamos de governo. Mas tem que entender que participar do governo não é problema, o problema são as escolhas. Tem que construir, claro, uma nova relação dos partidos com o governo. A disputa política na eleição é disputa de poder. Tem muito mito em relação aos partidos do centrão, mas a verdade é que as únicas negociações foram essas.

FSP: Não negociaram nem cargo de coordenação na campanha?
RM: Qual o problema de querer participar? Colocamos que achamos que podemos ajudar na campanha.

FSP: DEM, PP, PRB e Solidariedade não conseguiam chegar a um consenso e o bloco quase rachou. Qual o papel de Valdemar Costa Neto, do PR, para unificá-los?
RM: Valdemar tinha posição pró-Bolsonaro (PSL) e, depois que veio para o bloco, disse que a tendência do PR era preferir Geraldo. Como havia uma divisão, quase ao meio, entre Ciro e Alckmin, a aposta dele ajudou a consolidar o apoio ao PSDB.

FSP: O PR foi o último partido a aderir ao bloco e indicou Josué Alencar (PR-MG) como vice. Por que teve prioridade?
RM: Não teve prioridade. O Josué é o nome que traz consenso a todos os partidos.

FSP: Josué sinalizou que pode não aceitar o posto. Quem será o vice deAlckmin neste caso?
RM: Estou confiante e esperarei até o último minuto, que é 5 de agosto [data limite para o registro das chapas]. Acredito que Josué ajuda muito a chapa por ser mineiro e representar uma aliança importante com segmentos do setor produtivo. Se não for ele, Alckmin tem que sentar com os partidos e escolher um nome do PP, PR, Solidariedade ou PRB.

FSP: Por que o sr. não inclui o seu partido, o DEM?
RM: Porque o DEM hoje tem a presidência da Câmara. Para manter a gente unido, todos têm que ter a oportunidade de participar da chapa majoritária.

FSP: O DEM não indicará o vice se não for Josué?
RM: O DEM não está pleiteando a vice.

FSP: O sr. negociou para ter apoio do PSDB e do bloco numa possível reeleição à presidência da Câmara?
RM: A disputa para a presidência da Câmara só é revelada depois da eleição presidencial e da composição de forças no Parlamento. É óbvio que, se esse campo sair vitorioso —e eu for eleito deputado— meu nome será lembrado e é forte.

FSP: Se Alckmin perder a eleição, o sr. conseguirá se reeleger ao comando da Casa mesmo na oposição?
RM: Fui eleito presidente na primeira vez [em 2016] numa circunstância em que poucos acreditavam. Eu não era o candidato do governo. Na segunda vez, o governo tinha dois candidatos, um era eu. Tive apoio de partidos da base e da oposição. O que vai se construir no futuro passa pela eleição. Por isso é importante que se crie uma frente que deixe claro que não é uma eleição do Geraldo, do PSDB, é uma eleição do Geraldo em cima de um programa claro.

FSP: O sr. não desistiu oficialmente da pré-candidatura ao Planalto. Quer fazer isso agora?
RM: Não. Vou escrever uma carta [Maia está em Miami enquanto Temer estiver fora do país], para ser lida nesta quinta (26) pelo presidente do DEM, ACM Neto, agradecendo e colocando minha posição.

26 de julho de 2018

O QUE DIZEM AS QUATRO ÚLTIMAS PESQUISAS PRESIDENCIAIS DO DATAFOLHA!

1. Um ponto que é consensual em pesquisas é que as tendências nunca se medem em uma só pesquisa. Os institutos repetem sempre que uma pesquisa é apenas uma fotografia daquele momento.

2. Por isso, é fundamental que os partidos e os candidatos, a partir da pré-campanha, façam pesquisas em série e em prazos menores na medida em que se vai entrando em campanha. Na campanha -decisiva- propriamente, nos últimos 30 dias, é comum o uso do monitoramento diário, ou tracking. Nesse caso, as pesquisas diárias devem ser agregadas em médias móveis, de 3 ou 4 dias, de forma a ampliar o tamanho da amostra e, assim, reduzir a margem de erro e visualizar melhor as tendências.

3. O instituto Datafolha, que viu sua credibilidade crescer nos últimos anos, divulga com periodicidade suas pesquisas políticas e eleitorais, o que permite uma análise da série e suas tendências. O Datafolha faz pesquisas em pontos de fluxo, e assim se exige uma base amostral maior.

4. Destacamos aqui as 4 últimas pesquisas presidenciais, a começar por novembro de 2017, indo até junho de 2018. Para avaliar tendências, separamos em 2 blocos. Primeiro apenas com o deputado Jair Bolsonaro, que vem liderando as pesquisas desde o ano passado. Nesta série, se vê que a candidatura de Bolsonaro se encontra estacionada, com leve tendência declinante a partir de 2017. Não é uma boa notícia para ele, pois se esperava que os números de liderança produzissem um fator de agregação por seu “favoritismo”.

5. Estas 4 últimas pesquisas mostram um teto para Bolsonaro de 20%. Na campanha, com menor tempo de exposição, não se pode ainda projetar um crescimento para Bolsonaro. Vejamos os resultados para Bolsonaro destas últimas 4 pesquisas do Datafolha.

*Pesquisa de 29 e 30/11/2017*: Jair Bolsonaro 21% / *Pesquisa de 29 e 30/01/2018*: Jair Bolsonaro 18% / *Pesquisa de 11 a 13/04/2018*: Jair Bolsonaro 17% /  *Pesquisa de 06 e 07/06/2018*: Jair Bolsonaro 19.

6. No segundo bloco, destacamos nestas pesquisas Datafolha o resultado para o segundo turno contra Geraldo Alckmin e Ciro Gomes, candidatos de maior estrutura entre os demais. Os resultados confirmam que a liderança de Bolsonaro ainda é frágil, na medida em que sua ampla liderança no primeiro turno não se confirma no segundo turno, num sinal de tendência de rejeição.

7. Nos dois casos -Alckmin e Ciro- essas pesquisas mostram empate no segundo turno. As taxas de crescimento de Ciro e Alckmin, que no primeiro turno flutuavam em torno dos 10%, é de cerca de 3 vezes maior no segundo, e de Bolsonaro é de cerca de 50% maior. Vejamos os números.

2º Turno.

a) Com Alckmin. *Pesquisa de 29 e 30/01/2018*: Geraldo Alckmin 35% e Jair Bolsonaro 33% / *Pesquisa de 11 a 13/04/2018*: Geraldo Alckmin 33% e Jair Bolsonaro 32% / *Pesquisa de 06 e 07/06/2018*: Geraldo Alckmin 33% e Jair Bolsonaro 33%.

b) Com Ciro Gomes. *Pesquisa de 11 a 13/04/2018*: Ciro Gomes 35% e Jair Bolsonaro 35% / *Pesquisa de06 e 07/06/2018*: Ciro Gomes 36% e Jair Bolsonaro 34%.

8. Agora, com as convenções e conhecido o campo eleitoral, inclusive as coligações, deve-se ir completando esta tabela e acompanhando se mantém estas tendências ou se há alterações e quais, e em que direções.

25 de julho de 2018

CAMPANHA PRESIDENCIAL: TEMPO DE TV? OU TEMPO DE EXPOSIÇÃO? VANTAGENS E DESVANTAGENS!

1. A constituição do “Blocão” e em seguida o apoio à candidatura de Alckmin levou aos analistas, a imprensa e aos políticos deduzirem que a vantagem seria o tempo de TV que agregam.

2. Não deixa de ser. Mas é muito mais que isso. Os candidatos a deputado federal, estadual, senadores e governadores são obrigados a incluir nas suas propagandas o nome do candidato a presidente que será tanto maior quanto mais seu nome agregar aos demais candidatos de suas chapas.

3. Dessa forma, o nome do candidato a presidente aparecerá na TV nas suas inserções e nas dos candidatos a governador, senadores, deputados federais e estaduais. Na medida em que o Blocão de Alckmin tem muito mais candidatos, seu nome aparecerá muito mais vezes.

4. O tempo nas Rádios repete o tempo da TV dos candidatos a presidente. E, da mesma forma, embora com exposição menor, dos nomes dos candidatos a presidente. Supondo a maior capacidade financeira da candidatura de Alckmin, o espalhamento das inserções na TV (se a emissão não for centralizada) e muito mais ainda nas rádios pela entrega das “fitas”.

5. Mas vai muito além de tudo disso. Há a propaganda gráfica via panfletos e placas. O número de candidatos a governadores, senadores, deputados federais e estaduais na chapa Alckmin/Blocão é muito muito maior. É de interesse do candidato a presidente e dos candidatos a governador rodarem panfletos e placas destacando seus nomes além dos nomes dos demais.

6. Portanto, agregando ao tempo de TV e Rádio, a quantidade de panfletos e placas, a exposição do nome de Alckmin será muito, muito maior que as de seus adversários. Ao poder de espalhamento, deve-se imaginar que a estrutura de vereadores e prefeitos multiplica e foca muito melhor. Na candidatura Alckmin/Blocão há 1.222 prefeitos e 13.710 vereadores.

7. E a mídia espontânea, ou seja, o noticiário, os debates centralizados ou descentralizados, mais ou menos capilarizados, servem a todos os candidatos a presidente. Mas servem mais àqueles candidatos com maior destaque nas pesquisas e, por isso mesmo, mais visados pelo noticiário, mais citados nos noticiários e dentro dos debates.

8. Poder-se-ia dizer que há citações positivas e negativas de todos os lados. É verdade, mas os candidatos com uma base mais ampla de apoio e uma exposição maior, certamente levam vantagem.

9. Mas será a própria campanha e o impacto da comunicação e das mensagens dos candidatos que reduzirão, manterão ou ampliarão a vantagem ou desvantagem do tempo de exposição dos candidatos.

10. Resta, portanto, as Redes Sociais para compensar os tempos de exposição.

24 de julho de 2018

“GRUPO CONTROLE”, VOLATILIDADE DO VOTO, “NÃO VOTO”, “VOTO FIXO”, “VOTO ÚTIL” E “BLOCÃO”!

1. Em entrevista ao Valor, o professor estatístico (aposentado) da Unicamp, Paulo Guimarães, falou de um método aplicado nas pesquisas desde o GPP e pelo instituto Guimarães, que preside. Batizaram de “Grupo Controle”. Quando realizam pesquisas eleitorais, buscam destacar uns 2% da amostra pesquisada com a melhor proporcionalidade espacial e por gênero possível. Depois das entrevistas cara a cara, perguntam a alguns entrevistados se aceitariam dar seus telefones e responder a poucas perguntas em uns 7, 15 dias ou mais, conforme a distância para a eleição.

2. A proporção daqueles que no contato telefônico seguido à pesquisa mudam seu voto nunca foi desprezível. Mas agora tem sido muito maior que em outras eleições. Naquela entrevista, Guimarães citou alguns números e exemplificou dizendo que nos últimos -Grupo Controle- uns 20 eleitores do candidato X tinham mudado seu voto e que era uma tendência. Um assessor desse candidato reagiu ingenuamente. Com o Grupo Controle, alguns desistem de seu voto, mas eleitores de outros candidatos também mudaram seu voto.

3. Com isso, a % de intenções de voto na próxima pesquisa pode ser parecida com a pesquisa anterior. Esse método permite mensurar a taxa de volatilidade do voto, neste e naquele candidato. E com uma breve pergunta seguinte “Por quê?”, se pode inferir as razões. Dessa forma, o uso desse método permite o candidato ajustar sua comunicação.

4. Pesquisas pré-eleitorais em 2018 têm mostrado uma volatilidade muito maior que em outras eleições. E mais ainda, tem apontado para a imprevisibilidade do Não Voto (brancos, nulos, abstenção), confirmada nas eleições estaduais e municipais que ocorreram recentemente. Vários analistas afirmam que o Não Voto em 2018 estará na faixa dos 40% ou mais. Outros afirmam que o calor da eleição corrigirá esta tendência.

5. A volatilidade dos eleitores ideológicos e religiosos e corporativos é naturalmente, muito menor: é o Voto Fixo. Mas isto não quer dizer que o Voto seja Fixo num mesmo candidato. Ele pode variar entre candidatos de um mesmo perfil de valores. Ou seja, o Voto Útil do eleitor que decide seu voto no final pragmaticamente indo para o candidato de seu perfil de voto, com mais chances de vencer. As pesquisas procuram avaliar isto com a pergunta final: “Quem você acha que vencerá esta eleição?”. A comparação entre a pergunta inicial e a final ajudará a avaliar a tendência do Voto Útil.

6. Na pré-campanha e na primeira parte da campanha, os candidatos devem procurar ampliar a proporção de seus Votos Fixos, dar flexibilidade a seu discurso para captar o Voto Útil, e criar uma expectativa otimista de vitória.

7.  Nesta pré-campanha-2018, a volatilidade de Alckmin e Ciro era maior. O Voto Fixo em Alckmin era reduzido assim como em Ciro. Com isso, risco do eleitor sair do candidato que marcou na pesquisa em direção ao Não Voto é muito grande. E além disso o fator Lula colando a comunicação de Haddad nele faz este crescer de uns 2% para 10%. Isso reduz o Não Voto e a intenção de voto em seu candidato com um perfil assemelhado, digamos, mais a esquerda/corporativa.

8. Esses comentários permitem entender a importância nessa eleição do movimento do chamado “Blocão”. Transformar este movimento do “Blocão” em voto de clientela, é no mínimo ingenuidade. O primeiro impacto da decisão do Blocão apoiar Alckmin foi múltiplo. Aumentará seu Voto Fixo, reduzirá a volatilidade de seu eleitor em direção ao Não Voto ou a outro candidato como Bolsonaro, e vai gerar expectativa de vitória muito maior que antes.

9. Bem, começa a campanha e seguem as pesquisas e os estudos relativos, especialmente através do método do Grupo Controle. Acompanhemos.

23 de julho de 2018

MAIORIA NO PARLAMENTO PASSOU A SER FUNDAMENTAL PARA A DEMOCRACIA NA AMÉRICA LATINA! A IMPORTÂNCIA DO “BLOCÃO” EM 2018! 

1. Paradoxalmente, a iniciativa de FHC e Menem de aproveitarem uma maioria parlamentar eventual para mudar a regra eleitoral que os elegeu e, através de uma emenda constitucional, introduzir a reeleição em seu próprio período de governo afetou progressivamente a democracia em toda América Latina.

2. Após a primeira eleição de Chávez na Venezuela, sua enorme popularidade e em função de sua ansiedade e experiência golpista anterior, Fidel Castro o aconselhou a não liderar um golpe de estado. Muito melhor, e que geraria estabilidade e o legitimaria, seria um golpe constitucional, construindo uma ampla maioria parlamentar.

3. Assim fez Chávez, convocando eleições para uma Assembleia Constituinte. Com enorme maioria, alterou como quis a Constituição, o que permitiu a reeleição em seu próprio período de governo, a exemplo de FHC e Menem. E na linha de Menem, foi mais longe, mudando a composição da Corte Suprema.

4. Daí para frente vieram os demais, com exceção do Uruguai, da Colômbia e do México. A fórmula estava dada: com ampla maioria, mudar a Constituição e abrir a reeleição. Mais tarde a reeleição indefinida. Ortega, na Nicarágua, foi mais longe e questionou no STF de lá -em que tinha maioria- o princípio da liberdade para ser reeleito indefinidamente. Deu no que deu.

5. Brasil, Argentina, Bolívia, Equador, Venezuela, Honduras, Nicarágua… No Brasil, é importante lembrar, Lula e o PT se assanharam para aprovar uma emenda constitucional permitindo a reeleição indefinida. Lula tinha maioria parlamentar para muitas coisas, mas não para isso. Recebeu o recado que não valia a pena nem tentar.

6. Aberto o processo pré-eleitoral de 2018 no Brasil, aquela possibilidade de mudar a Constituição para reeleição indefinida foi assobiada nos ouvidos dos candidatos que lideravam as pesquisas eleitorais, ambos com perfil autoritário. Além, claro, de Lula, que diretamente -conseguindo maioria no STF- ou indiretamente elegendo um candidato seu.

7. Essa hipótese, somada à impopularidade do governo, passou a ser vista como uma hipótese e alertou as lideranças políticas com maior experiência e os analistas e economistas sêniores, aqui e alhures. A economia parou, a bolsa despencou, o dólar explodiu. A greve dos caminhoneiros estimulou essa visão autoritária. O governo se ajoelhou. Em seguida, foi tentada uma greve dos petroleiros com a CUT na frente. O custo político e econômico se fez sentir.

8. Com este cenário desenhado, os candidatos de perfil autoritário foram subindo a escada das declarações descontroladas. Rasgaram a fantasia. O chamado “blocão”, ainda sem unidade suficiente e com parte dele conversando com todos os candidatos, foi amadurecendo a necessidade de construir uma unidade de forma a garantir uma maioria parlamentar que bloqueasse aventuras como se vê na América Latina.

9. Alguns analistas, comentaristas, opinadores, acadêmicos e da imprensa -e até editoriais- avaliaram o “blocão” apenas na ótica clientelista, como se tudo fosse obter uma maioria para obter benefícios.

10. O “blocão” democrático construiu sua unidade e apontou para Alckmin, em função da responsabilidade de se criar, desde já, uma muralha à qualquer nova aventura constitucional.

11. Decisão tomada, o alívio foi geral. Aqueles que já estavam flertando com os líderes das pesquisas, para se aproximar do futuro governo, refluíram porque havia alternativa. A bolsa e o dólar despencaram. Já se podia olhar para frente com otimismo em relação à política, à economia e principalmente em relação à democracia.

20 de julho de 2018

RIO:  MILICIANOS E TRAFICANTES! CV E PCC! 

(Luis Adorno – UOL, 09) 1. O avanço de milícias em comunidades do Rio de Janeiro enfraqueceu o Comando Vermelho, a principal facção criminosa fluminense, e já faz com que esses grupos paramilitares compostos por ex-policiais e agentes do estado sejam considerados o maior problema de violência no estado, segundo investigações do Ministério Público fluminense.

2. O promotor de Justiça Luiz Antônio Ayres, que combate há 20 anos as milícias no Rio, pontua que os milicianos estão em franca expansão no estado. A estratégia é se aliar a facções menores de traficantes e atrair ex-integrantes do CV para seus grupos, apontam as investigações. “Aqui no Rio de Janeiro, nós temos um problema maior do que o tráfico de drogas que é a milícia. Mais sério, maior, com cada vez mais poder, bélico e político”, afirmou ao UOL o promotor Ayres.

3. “Hoje, o CV não tenta retomar áreas da milícia. Essa tomada da milícia, à frente do CV, é vista de forma latente este ano, mas isso vem ocorrendo desde 2016”, complementou. Nos últimos dez anos, segundo Ayres, a milícia tomou quase todas as comunidades que eram do Comando Vermelho na área de Santa Cruz, na zona oeste carioca. Ele avalia que “o CV está incrivelmente enfraquecido”.

4. “A [facção] TCP (Terceiro Comando Puro), por exemplo, está fazendo alianças com a milícia em troca de proteção. A milícia tem uma capacidade financeira maior do que o CV. Estão arregimentando pessoas que eram do CV”, afirmou.

5. Para Ayres, é possível que CV esteja tentando se reorganizar em outros estados, mas ele diz não acreditar que a facção fluminense esteja com influência efetiva em outros países. Além de arregimentar traficantes, os milicianos –que exploram atividades como transporte irregular de vans, grilagem de terrenos e contrabando de mercadorias– não abandonam a venda de entorpecentes.

6. “Estimativa recente é de que as milícias estariam movimentando R$ 240 milhões por ano com todas as suas atividades ilícitas”, diz o promotor. Na última quinta-feira (5), a Polícia Civil do Rio realizou uma operação contra a milícia Liga da Justiça, considerada a maior do estado, acusada de faturar R$ 1,5 milhão por mês somente com a venda de cigarros contrabandeados do Paraguai.

7. Em audiência pública na Câmara dos Deputados na última quarta-feira (4), o ministro da Defesa, General Joaquim Silva e Luna, relatou preocupação com as duas maiores facções criminosas do país –o CV e o PCC (Primeiro Comando da Capital), de São Paulo. “PCC e Comando Vermelho são facções internacionais. Estão se organizando de maneira muito forte. As fronteiras são motivos de preocupação e de ações das Forças Armadas e forças de segurança pública”, afirmou a deputados.

8. Um dia depois, o comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas, afirmou que as duas facções estão “cada vez mais fortes” e que teme, inclusive, que o Brasil se equipare ao México ou à Colômbia de 20 anos atrás, com cartéis de drogas bem estabelecidos.

9. A desembargadora Ivana David, que investiga o crime organizado em São Paulo há mais de 20 anos, diz acreditar que esse reconhecimento por parte do governo federal é um avanço. “Já tem prova de ligações internacionais. Nós temos líderes do PCC que moram na Bolívia, na Colômbia, no Paraguai, e que continuam praticando o tráfico, de lá. Com comandados aqui no Brasil e, inclusive, dentro do sistema prisional”, afirmou.

10. Segundo as promotorias de São Paulo e do Rio, no entanto, há diferenças entre as duas facções. O CV não tem histórico de organização internacional. O PCC, sim. “A atuação transnacional, a organização empresarial, o PCC já tem. É uma pré-máfia. O que eu acho para se estabelecer como máfia é que, ainda, o PCC não conseguiu realizar a lavagem de capitais. Ainda há apreensões de dinheiro enterrado e escondido”, afirmou o promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado) de Presidente Venceslau, onde está presa a cúpula da facção.

11. A socióloga Camila Nunes Dias, professora da UFABC (Universidade Federal do ABC) e colaboradora do NEV-USP (Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo), aponta outras diferenças entre as duas facções. Segundo ela, os grupos têm característica de atuação diferentes. “Tem uma confusão que geralmente envolve essas perspectivas da polícia. Uma coisa é ter membros do PCC que têm negócios próprios. O CV não aparece muito porque não atua como coletivo, isso desde o Fernandinho Beira-Mar. Ele tem o negócio dele e fornece drogas para morros do CV”, diz. “Não vejo como pré-máfia. Pertencer ao PCC ajuda esses indivíduos a tomar decisões mais importantes. Ter esses indivíduos também fortalece o PCC”, explica a pesquisadora.

19 de julho de 2018

VALOR (18) ENTREVISTA O ESTATÍSTICO PAULO GUIMARÃES, QUE FAZ PESQUISAS ELEITORAIS HÁ 29 ANOS! 

1. Com 29 anos de atuação em campanhas eleitorais de todos os partidos, do Psol e PT ao PSDB e DEM, o estatístico Paulo Guimarães afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem potencial para elevar para 20% a 22% as intenções de voto do candidato do PT, seja Fernando Haddad ou Jaques Wagner, e que isso pode colocar a sigla no segundo turno da eleição presidencial.

2. Mas a transferência de votos não superará esse percentual e dependerá das condições de Lula, que está preso, fazer campanha. Se conseguir, quem mais perderá votos será Ciro Gomes (PDT).

3. Guru do ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia (DEM), que ele ajudou a eleger numa eleição que muitos davam como perdida – aparecia em terceiro no dia anterior ao primeiro turno -, “Paulinho” é responsável pela pesquisa encomendada pelo DEM para orientar os partidos do “Centrão” na busca pelo presidenciável mais competitivo. Para ele, nesse cenário fragmentado, a ida ao segundo turno está aberta a todos os candidatos, até João Amoêdo (Novo), mas a união dessas siglas será decisiva.

4. O deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) já é dono do discurso anti-PT e está inflado pelo erro dos adversários em bater em Lula. O caminho para crescer, aponta, é ser reconhecido como o opositor do governo Temer. Hoje ninguém ocupa esse espaço, nem o PT. “Tem aí 42% dos votos voando a espera de alguém”, diz.

5. Bolsonaro, afirma o professor aposentado da Unicamp, que trabalhou na campanha de Aécio Neves (PSDB) em 2014, é vítima do mesmo movimento que derrubou Marina Silva (Rede) naquela eleição: a suposta estabilidade ou crescimento nas pesquisas esconde um percentual elevado de eleitores que pensaram em votar nele e desistiram. O brasileiro primeiro diz que vai votar em alguém para depois prestar atenção nas ideias. “Ele vê uma mulher bonita e diz: é essa. Mas depois percebe que tem mau hálito e vai atrás de outra. Esse movimento é constante na eleição”.

6. Mais conhecido no meio político pelas inúmeras campanhas que fez no GPP, no Rio, “Paulinho” fundou com o filho em 2017 uma empresa nova, o Instituto Guimarães. A sede é em Campinas, mas ele viaja o país para dar consultoria a candidatos e, numa parada em Brasília na quinta-feira passada, conversou com o Valor. Além de campanhas estaduais já acertadas, ele estuda os convites para fazer as pesquisas e estratégia de uma candidatura presidencial, mas ainda não fechou com ninguém. A exemplo dos partidos, está esperando o cenário clarear.

Valor: O cenário na esquerda está mais favorável para quem ir ao segundo turno: Ciro ou o PT?

Paulo Guimarães: É mais difícil para o Ciro. Não se trata de direita/esquerda. É que, dentro da imagem positiva do Lula, daqueles que simpatizam com ele, quem tem mais voto é o Ciro. Se o Lula participa ativamente da campanha, ele vai tirar de quem tem mais voto ali e transferir para o candidato dele. Temos milhares de pesquisas que comprovam isso. O apoio de uma pessoa transfere 50% dos votos dela para outra, se for para o mesmo cargo. O Lula empresta algo em torno de 20% a 22% para o candidato do PT, seja o Haddad ou Jaques Wagner. Isso com o Lula atuante. O difícil é saber qual o tamanho dessa atuação pela condição que ele se encontra hoje.

Valor: Vídeos e bilhetes não são suficientes para transferir os votos?

Paulo Guimarães: Teria que medir, não gosto de chutar. Mas o Lula participando de palanque é uma coisa, com pessoas de porta-voz é outra. Um bilhete do Lula, se eu ler, não terá efeito nenhum. Se for de parceiro dele já vão acreditar, mas terá outra conotação, outro tom de voz, e isso é importante na campanha.

Valor: A esquerda é quem mais se beneficia da rejeição ao governo?

Paulo Guimarães: Aí discordo um pouquinho de quase todo mundo. Na eleição em Brasília, pega o [governador Rodrigo] Rollemberg, que é tido como de esquerda, e o [senador] Reguffe, que também é. Ambos estão no mesmo campo, mas o Reguffe é oposição ao Rollemberg. A pesquisa define claramente qual é o campo vencedor de uma eleição, se a situação ou a oposição. Em 2018, o campo vencedor para ir ao segundo turno é a oposição.

Valor: Então é o Lula?

Guimarães: Posso garantir que nem o Lula, nem Bolsonaro, nem os outros 15 ou 16 pré-candidatos, são opositores ao Temer. Para ser opositor a sua intenção de voto, dentro dos que têm avaliação ruim ou péssima do governo, tem que ser maior que a sua média. E ninguém se posiciona aí. Hoje é espaço desocupado e é onde tem 42% do eleitorado sem candidato, voando. E isso coloca qualquer um no segundo turno.

Valor: O combate as reformas do governo Temer, como faz a oposição, não é suficiente para ser visto como opositor? Como se posicionar aí?

Guimarães: Os outros 40% do ruim/péssimo do Temer já tem algum candidato, mas é o campo com mais votos soltos. É fácil? Aí é com os marqueteiros. Eles têm um problema para resolver: o Temer não é candidato, e ele tem que ter candidato para ficar personificado o governo. Não posso ser opositor a uma pessoa que não é candidata, é muito frágil.

“Pesquisas mostram que Bolsonaro já perdeu pessoas que pensaram em votar nele e já não pensam mais”

Valor: Esse candidato é o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB), mas ele tenta se distanciar do Temer e se aproximar do Lula, de quem foi presidente do Banco Central. Pode dar certo?

Guimarães: Não, não é assim. O que tem força é o Lula falar “o Paulinho é meu candidato”. Com o [José] Serra para prefeito de São Paulo em 2004 já passamos por isso. Dentro da imagem positiva do Alckmin, que era governador, quem ganhava era a [então prefeita] Marta Suplicy. Quando o Alckmin falou “peraí, meu candidato é o Serra”, acabou com a Marta, destruiu a Marta. É assim que funciona. Não adianta eu falar “sou amigo do Lula também” porque na hora que o Lula disser “é mentira, ele não é meu amigo”, desmorona.

Valor: O voto anti-PT também não é capaz de levar ao 2º turno?

Guimarães: Esse é o outro campo desta eleição, o de oposição ao Lula. Mas que já tem dono. Se você é candidato e começar a falar mal do Lula, da Dilma e do PT, o eleitor vai falar: o Bolsonaro tem razão. E o Bolsonaro vai ultrapassar o teto pessoal dele, que é de 15%, 16%. Ele já aparece em algumas pesquisas públicas com 19%, 20%. Já está acima do teto. Os outros candidatos estão, indiretamente, ajudando ele.

Valor: Alckmin ou outros candidatos de direita não se beneficiam?

Guimarães: Depois que o [ex-presidente Fernando] Collor começa a caçar marajá, você não pode falar isso. Se fala, o eleitor pensa: então o Collor está certo. Aí eu dou gás para o Collor. Mas essa é uma eleição aberta. Uma eleição fechada é quando, como está ocorrendo com um Estado do Nordeste hoje, os cinco candidatos somados têm 138% de potencial de voto. Alguém só vai crescer em cima de alguém. Hoje, se pegar a eleição presidencial, mesmo com 17, 19 candidatos, o potencial de voto dá 62%. Não precisa ninguém roubar voto de ninguém, só fazer o trabalho direitinho, que é contra o Temer. A estratégia está montada, para quem quiser, de graça (risos).

Valor: Se o Bolsonaro já é dono desse eleitorado anti-PT, ele está, então, no segundo turno?

Guimarães: Se os 17%, 20%, que o Bolsonaro tem hoje serão suficientes só o tempo vai dizer porque está muito fragmentado. Em 2002 o Serra passou para o segundo turno com 18% [dos votos totais, 24% dos válidos]. Já na última eleição, a Marina, com 21% [dos votos válidos], não foi. Mas as pesquisas mostram que o Bolsonaro já perdeu muitas pessoas que pensaram em votar nele e já não pensam mais.

Valor: Como assim?

Guimarães: É o que se identifica com o grupo controle. Você pega três mil eleitores de um candidato e acompanha como se comportam durante a campanha. O Bolsonaro vem perdendo 20% dos eleitores a cada mês. Se tem 100 eleitores, perde 20 a cada mês. Mas não tem aparecido nas pesquisas quantitativas porque ele ganha outros 20%. É um movimento que ocorre com todos os candidatos, mas com mais intensidade com quem está na frente. Primeiro vem a onda de votar em alguém, vou votar no Bolsonaro, depois começo a prestar atenção no que ele fala. E aquilo pode não me atrair, desisto e não volto mais a pensar em votar naquele candidato.

Valor: Mas ele continua na frente, está ganhando outros eleitores.

Guimarães: A taxa de saída se mantém e pode acelerar com a campanha na TV – só dá para saber fazendo pesquisa quando de fato começar. O problema de quem está na frente é que o eleitorado que pode se interessar acaba primeiro para ele. Ele perde e ganha, perde e ganha, perde e ganha, aí acaba o eleitorado, não tem mais ninguém para entrar, e ele perde, perde, perde. Foi o que ocorreu com a Marina Silva em 2014, com o Celso Russomanno em 2012, com o Ciro em 2002 e com a Cidinha Campos em 1992. A Marina, nós trabalhamos na campanha do Aécio, perdia 30% dos eleitores a cada oito dias. Mas ganhava 40%, por isso parecia que ela crescia. O voto dela era 75% desejo de mudança, o eleitor não identificava nela outras competências pessoais que rendem voto. Diziam que ela era legal, simpática, evangélica, mas nada disso dá voto. Quando a campanha explorou na TV uma régua do tempo mostrando que, em grande parte da vida, ela estava com a Dilma, que não era mudança, intensificou esse movimento. Ela perdeu 30% em oito dias e ganhou 40%, perdeu 30% e ganhou 18% (porque não tinha mais eleitorado para ganhar). Aí perdeu 30% e não ganhou nada, perdeu 30% e ficou de fora do segundo turno. A dúvida é se isso atinge o Bolsonaro no meio da campanha ou às vésperas do fim.

Valor: O movimento dos partidos do “Centrão” para se unir em torno de um candidato é decisivo?

Guimarães: É decisivo. E eu ainda aposto que, se eles não fizerem campanha “pró-bolsonaro”, de bater no Lula, colocarão candidato no segundo turno. Provavelmente contra o candidato do Lula – ainda é cedo em função de como o Lula estará na eleição.

Valor: O Ciro também negocia com esses partidos. Ele ganha ou perde ao fazer um discurso de esquerda, mas compor com siglas com ideias conservadoras?

Guimarães: O Ciro perderá grande parte dos seus eleitores hoje desde que o Lula consiga fazer campanha. Mas o centro pode compensar isso, o Ciro fica com imagem muito maior. [A contradição] Aí é pro marketing resolver. Se o Ciro se une com conservadores e faz discurso completamente liberal, criará um choque. Quando você fala em unir partidos, tem que unir ideias também. As divergências quem tem que colocar é o adversário. O adversário vai falar dos meus problemas, eu vou falar das minhas virtudes, não posso me desculpar de nenhum pecado e entrar na agenda dos inimigos. Isso está provado há milhares de anos, desde a Grécia.

Valor: Mas dá para ignorar um problema e vencer a eleição?

Guimarães: Você tem que ignorar e destacar seus pontos fortes. Por exemplo: acabei com os alagamentos em Ribeirão Preto. Foi o grande tema que fez a [ex-prefeita] Dárcy Veras se reeleger. E na contramão tinha saúde, que era muito boa quando ela entrou e ficou muito ruim, os adversários batiam muito. Foi uma guerra: ela não falou de saúde e eles não falaram de alagamentos.

“Lula transfere de 20% a 22% para o candidato do PT, seja o Haddad ou Wagner, mas depende de conseguir fazer campanha”

Valor: Políticos comentam que, pelas pesquisas, o PSDB é o partido mais rejeitado, mais até que o MDB de Temer. Por que?

Guimarães: É mesmo o PSDB. O grande protagonista da última eleição foi o Aécio e o que aconteceu depois… contaminou. O Aécio é meu amigo. É muito pior você abraçar e depois alguém mostrar que [não é assim]. Depois que você se torna o arauto da moralidade, você não pode nem esquecer de pagar refil de refrigerante, fazer xixi fora do penico, que será execrado. O [Paulo] Maluf pode, o eleitor pensa “já sei que ele é bandido, mas fez um monte de coisa”. Agora o Aécio disse que roubar é pecado, não pode. Se não fosse aquela gravação [da JBS], ele ia ganhar hoje no primeiro turno. Um mês depois da eleição fizemos pesquisa, o Aécio tinha 15% a mais do que a Dilma.

Valor: Essa rejeição alta tira o Alckmin de fora do segundo turno?

Guimarães: O ódio não é tão grande a ponto de tirar do segundo turno numa eleição tão fragmentada. Ser uma pessoa de 20% vai para o segundo turno, todos, absolutamente todos, tem chance, até o Amoêdo. Claro que quem tem mais rejeição, evidente, tem mais dificuldade. Mas ninguém tem rejeição que inviabilize a ida ao segundo turno porque ninguém tem mais de 80% de rejeição. Aliás, só o Temer.

Valor: Mas aí, no segundo turno, quem tem 70% de rejeição perde.

Guimarães: Não se for contra outro com rejeição de 70%….

Valor: A dificuldade do Alckmin crescer nas pesquisas é essa?

Guimarães: Dentro da imagem positiva do Alckmin, daqueles que simpatizam com ele e onde ele tem potencial para obter 60% dos votos – esse é um percentual histórico, que vale em todas as eleições-, hoje tem outros candidatos com voto ali e que vão perder espaço durante a campanha. O Álvaro Dias (Pode) e o Ciro estão em campanha há mais tempo. Aquele que é candidato muito antes de mim estará ganhando dentro da minha imagem positiva, o que é absolutamente impossível na hora o voto. Isso aconteceu com o Alckmin em 2008, quando o [Gilberto] Kassab disputou a reeleição [para a Prefeitura de São Paulo]. O Alckmin tinha 40% de seus votos dentro dos que avaliavam a gestão do Kassab como ótima ou boa e 40% dentro da imagem positiva da Marta. Quando a campanha começou e o Kassab mostrou o que fez, o Alckmin perdeu esses 40% para ele. Ficou momentaneamente como candidato de oposição, mas a oposição era a Marta. Ele perdeu os outros 40% e saiu no 1º turno. O Ciro terá dificuldades porque ele é muito forte na imagem positiva dos outros candidatos. Terá que compensar isso crescendo sua própria imagem positiva, angariando apoios ou sendo o opositor do Temer.

Valor: O candidato do governo deve estar fora do segundo turno. Ser opositor ao Temer ainda será decisivo nessa etapa?

Guimarães: Aí será embate de atributos porque não terá mais o Temer. Quem quer que seja terá que mostrar que é o melhor para resolver os preditores, aqueles problemas que movem o voto.

Valor: Como assim?

Guimarães: Na eleição passada, a economia respondia por mais de 60% da decisão de voto. Um tema que vários candidatos abordaram, a segurança, respondia por menos de 1%. Os candidatos estavam perdendo tempo. Ninguém acredita que ele vai resolver esse problema.

Valor: Não é a segurança pública que tem dado votos ao Bolsonaro?

Guimarães: Não. O voto dele está no ódio ao Lula. Antigamente a gente ajudou a perder muita eleição. Chegava e perguntava: qual é o principal problema? A pessoa falava as estradas. Só que as estradas lá são problema há 50 anos, as pessoas não vão acreditar que você conseguirá resolver. Não dá voto. É como a segurança no Rio, nem o exército conseguiu, se você prometer resolver vai virar meme, chacota. O que move o voto é uma coisa que estava ruim e melhorou, como o Lula com o Bolsa Família, ou algo que estava bom e ficou ruim, como a economia com a Dilma.

Valor: E qual é o principal preditor desta eleição? A Lava-Jato?

Guimarães: É a mesma história da estrada: o que estava ruim e continua ruim não move o voto. A Lava-Jato não acabou com a corrupção. Um preditor de voto é quando alguém que atribui importância maior a esse tema vota diferente dos demais. E não encontramos essa diferença.

Valor: Nem se um dos procuradores da Lava-Jato ou o juiz Sergio Moro declararem apoio a alguém?

Guimarães: Nenhum cliente pediu para medir… não vou chutar. Mas o Moro e a Lava-Jato não são unanimidade.

Valor: E qual é então o preditor?

Guimarães: O principal ainda são os temas ligados a economia.

Valor: As pesquisas mostram o mais alto índice de votos em branco e nulos em anos nesta eleição. Tem reversão ou são votos perdidos?

Guimarães: Tem. Muita gente está se espelhando nas eleições de Tocantins e Amazonas, mas eu trabalhei nelas, não pode projetar para a eleição de agora. Era mandato tampão, não tinha deputado, senador, presidente, era descasada do cenário nacional. O índice ficará um pouquinho acima do histórico. A eleição da Dilma com o Aécio teve 26% de não voto, não será nada muito diferente disso. E as redes sociais têm chamado a atenção para que o maior número de nulos está sempre entre os que desaprovam o governo. Se essas pessoas não votarem, só estão ajudando governos ruins a se perpetuarem.

Valor: A Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) pediu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para proibir divulgação de pesquisas por telefone na eleição. Concorda que devem ser vetadas?

Guimarães: Pesquisa por telefone não funciona, é enquete. Quase 10% da população não tem telefone e parcela importante não atende. Se eu não conseguir fazer com que os não respondentes falem, parte significativa da amostra fica de fora, não tem validade estatística. A pessoa pode defender o quanto quiser a pesquisa por telefone e acho que tem mercado para todo mundo, não deve proibir, mas melhor pesquisa é a residencial, não adianta. Só que é a mais cara.