13 de setembro de 2018

EM POLÍTICA É POSSÍVEL TOMAR QUALQUER POSIÇÃO: MENOS A POSIÇÃO FETAL!

Artigo escrito por Cesar Maia em 28/03/2009.

1. DREW WESTEN, DW, é consultor de psicologia social. Sessenta dias antes das eleições escreveu longo artigo para o candidato Obama. O foco de DW é nunca baixar a guarda nem deixar o outro lado controlar a mensagem e as narrativas da campanha. Ele critica a estratégia usual do Partido Democrata (PD) de não ter posição firme. “Se Obama não pode dizer a verdade sobre o que há de errado com o adversário, não está falando honestamente ao eleitor, independentemente de sua motivação”, afirma.

2. Quando se tem uma escolha entre opções, diz DW, décadas de pesquisas em psicologia social mostram dois princípios da persuasão: chegar à frente para contar o seu lado da história e preparar-se para atacar o que o outro deve dizer. Lista as dez maneiras de evitar que o PD tenha mais um final triste.

2.1. Na política não há criacionismo: use o conhecimento acumulado em comunicação de massa. O PD acha que responder a um ataque é realçar o ataque. Deve atentar à psicologia social sobre o que funciona ou não.

2.2. Pare de jogar damas se o outro lado joga xadrez. Os republicanos pensam seis lances à frente. O PD, um de cada vez.

2.3. Não confundir mensagens positivas/negativas com éticas/antiéticas: “Eleitores votam com suas emoções, e se você se recusa a falar verdades negativas sobre o seu oponente, está enganando o eleitorado e pondo em risco sua eleição. Emoções positivas e negativas estão independentes dentro do cérebro. Se não bater logo, você cederá metade do cérebro. E não se ganha eleições com meio cérebro”.

2.4. Se os ataques de seu adversário refletem um problema de caráter, ataque o caráter dele.

2.5. Focalize em “nós” se o adversário quer falar sobre “eles”. Não deixe dividirem os valores entre “nós e eles”.

2.6. Conte três histórias sobre o adversário, nem mais, nem menos.

2.7. Fortaleça a mensagem de mudança com dois ou três assuntos de impacto. Acredite nas campanhas políticas emocionalmente evocativas, embasadas em valores.

2.8. Prepare-se. Seu publicitário pode não servir para os debates.

2.9. Dirija-se ao olho do furacão, ao centro da tempestade. Não fuja.

2.10. A equipe de Obama, e ele mesmo, precisam olhar para dentro.

3. Por anos, o PD fugiu da controvérsia, abandonou o conflito, preocupado com temas “radioativos”. Fale claramente sobre os valores que o levaram a tomar a posição que tomou. DW lembra que, de uma perspectiva psicológica, poucas ações são determinadas por um único motivo. O PD sempre ofereceu razões elevadas para não responder atacando. Suas razões vêm com evasivas: “Projetam covardia”. E finaliza dizendo que, na política, é possível tomar qualquer posição, exceto uma posição fetal.

12 de setembro de 2018

VOTO ESTRATÉGICO!

(Marcos André Melo, prof. UFPE e Yale, 02) 1.  Em “Os Partidos Políticos” (1951), Maurice Duverger apresentou a análise pioneira do voto estratégico ou sofisticado, que no léxico político brasileiro passou a ser conhecido como voto útil.

2. Sua principal preocupação era examinar o efeito das regras eleitorais sobre os sistemas partidários.

3. A chave analítica foi a distinção entre o que chamou efeito mecânico das regras eleitorais e seu efeito psicológico.

4. Duverger introduzia na análise os incentivos que as regras eleitorais criam para os eleitores. Em sistemas majoritários de distrito uninominal (“voto distrital”), só partidos que agreguem as primeiras preferências dos eleitores adquirem representação.

5. Este efeito mecânico se expressa na sub-representação de partidos minoritários. 6.  Contudo, ele é antecipado pelos eleitores que têm incentivos a votar estrategicamente de forma a obter um resultado mais próximo de suas preferências. O efeito conjunto de ambos os mecanismos produz uma redução do número de partidos, levando ao bipartidarismo.

6. Sob a representação proporcional (RP), o efeito é distinto: os eleitores têm incentivos ao chamado voto sincero na medida em que partidos não-majoritários adquirem representação e podem participar de coalizões governativas.

7. Em sistemas em que há segundo turno (independente de adotar-se a regra majoritária ou RP), a estrutura de incentivos muda: o chamado efeito psicológico será tanto maior quanto maior o número de partidos e dependerá do tipo de coalizão, se pré-eleitoral ou pós-eleitoral.

8. A seara aberta por Duverger levou a um programa vastíssimo de pesquisas com enorme grau de sofisticação formal.

9. Pesquisas experimentais mostram que a capacidade preditiva da hipótese duvergeriana é amplamente demonstrada em sistemas de único turno, mas menos robusta sob regras de dois turnos. O esforço mais rigoroso já realizado para avaliar o voto sofisticado estimou sua proporção em democracias avançadas em um quarto do eleitorado.

10. O voto sofisticado será tanto maior quanto mais competitivas as eleições. O que nos deveria servir de alerta no Brasil, todavia, é o que Gary Cox (Stanford University) chamou de falhas de coordenação. Ela será tanto maior quanto maior a incerteza sobre as chances dos contendores. E ela é muito elevada quanto a Alckmin, Marina e Ciro, e à transferência de votos para Haddad.

11. As elites partidárias falharam em coordenar em torno de uma única candidatura, nada assegura que com os eleitores será diferente. Neste contexto, há fortes incentivos para os institutos de pesquisa e não apenas o eleitorado atuarem estrategicamente. Eles serão decisivos para o equilíbrio final do jogo eleitoral.

11 de setembro de 2018

UMA NOVA CAPITALIDADE PARA NITERÓI!

1. Desde a expulsão dos franceses que a região de Niterói vem exercendo uma função periférica em relação ao Rio. Ver a tese de doutorado da professora Nancy Vieira de Oliveira – São Barnabé, lugar e memória em seu capítulo. Mesmo depois de agosto de 1834, com a transformação do Rio em município neutro da corte, esse processo teve continuidade pela proximidade com o Rio. Ver Império da Província: 1822-1889, de Maria de Fátima Silva Gouvêa, tratando da constituição dos municípios, das câmaras municipais e principalmente do cotidiano do legislativo provincial.

2. Importante sublinhar que Cabo Frio foi um município neutro ligado diretamente ao poder colonial por muito tempo e que o Norte (Campos…) pertenceu ao Espírito Santo até quase a Independência. E por quase todo o Império foi o município economicamente mais forte da Província. Interessante frisar que o básico dos debates na assembleia provincial eram o sistema de transportes e a questão da mão de obra (escravidão e imigração). O ciclo descendente do café completou esse processo.

3. Um período importante de apogeu político da Província foi o Tempo Saquarema (ler Ilmar Rohloff de Mattos), quando a política do Império era liderada pela Trindade Saquarema (do Partido Conservador), Visconde de Itaboraí (Joaquim Torres), Visconde do Uruguai (Paulino de Souza), e por Eusébio de Queiroz. O período getuliano, pela proximidade de Amaral Peixoto, trouxe decisões e benefícios ao Estado do Rio, como a Rio-Campos e a Reduc. Mas, mesmo assim, o foco central fica com o Rio e não com Niterói.

4. A constituição da Baixada Fluminense como região dormitório do Rio desconectou-a de Niterói. O perfil do voto nos anos 50 e 60 mostra isso. Durante o regime autoritário, o susto com o trabalhismo de Roberto da Silveira levou à escolha de governadores submissos e de segundo time. Como comparação, lembre-se que na Guanabara se tinha Lacerda, Negrão e Chagas. A fusão, feita de forma a misturar a representação política aderente do Estado do Rio com a oposição da Guanabara para dar uma maioria aderente ao regime, completou a perda de Capitalidade de Niterói. Enquanto município, Niterói teve seu relançamento com Jorge Roberto da Silveira. Porém, nunca mais recuperou sua capitalidade.

5. Agora, grandes projetos como o complexo siderúrgico-portuário-estaleiro de S.J. da Barra, a possível ligação ferroviária à malha ferroviária do leste, a Bacia de Campos e seus reflexos sobre Macaé e a região, o aeroporto de Cabo Frio, um dos mais importantes do Brasil para importações industriais, no caso direcionadas a Bacia de Campos (e a indução clara a uma ZPE), a criação de uma Universidade do Mar, o Comperj em Itaboraí, o maior investimento em terra da história da Petrobras e seu multiplicador, o Arco Rodoviário, a ligação sobre trilhos Itaboraí-São Gonçalo-Niterói…, abrem oportunidades.

6. Esse conjunto no leste-oceânico-fluminense chamamos de NOVA CAPITALIDADE DE NITERÓI, num ângulo obtuso, que relacionaria Niterói com todos os municípios alcançados direta e indiretamente por esses projetos. Para isso, a UFF constituiria uma comissão interdisciplinar com representação das faculdades de Economia, Arquitetura e Urbanismo, Engenharia, História, Serviços Sociais, Educação e Medicina, pelo menos. A Reitoria e a comissão proporiam ao governo do Estado, à Assembleia Legislativa, e aos municípios do leste-fluminense que a UFF, articulada à Universidade do Norte Fluminense (UENF), assumisse responsabilidades formais de planejamento e propostas de forma a ordenar a ocupação urbana consequente dos projetos, a maximização do multiplicador econômico dos projetos com investimentos nas próprias regiões, a qualificação de mão de obra e a oferta de quadros de nível superior para tais projetos, a revitalização da história da região preservando o patrimônio físico e fazendo memória do patrimônio intangível, a capitalização adequada dos  programas de inclusão social, outra ligação do Arco Rodoviário com eixo partindo do Niterói, a priorização do sistema sobre trilhos Itaboraí-São Gonçalo-Niterói, deixando o ramal para o Rio para outra etapa, etc.

7. Seria como se se estivesse criando um Estado Virtual, recortado nessas áreas do leste fluminense, e norte, para fins de potencialização desses projetos, racionalização e qualificação de seus efeitos. A UFF cumpriria esse papel apoiada pela UENF. As teses de mestrado e doutorado e cursos de pós-graduação, diversos, deveriam ter esta indução. O financiamento inicial do funcionamento da Comissão (CNCN) viria da Petrobras (como muito parcialmente já ocorre), do setor privado envolvido, do governo do Estado e dos municípios interessados. Simultaneamente seria apresentada esta proposta ao BNDES, BID e BIRD.

8. Toda a coordenação e centralidade seria da UFF apoiada pela UENF, em convênio com o governo do Estado, de forma a garantir o caráter técnico, a qualidade, e a continuidade no tempo.

10 de setembro de 2018

72% DOS MORADORES DO ESTADO DO RIO QUEREM PRORROGAR INTERVENÇÃO FEDERAL! 

(UOL, 07) 1. Segundo Datafolha, maioria apoia continuidade de ação na segurança, válida até dezembro.

2. A maioria da população do Rio de Janeiro defende prorrogar a intervenção federal na segurança pública, prevista para acabar em 31 de dezembro deste ano.
Segundo pesquisa do Datafolha, 72% dos moradores do estado são a favor da continuidade da medida para além de seu prazo final.

3. Dentre os entrevistados, 21% são contrários à prorrogação, 4% não sabiam e 4% eram indiferentes.

4. O levantamento foi realizado entre 4 e 6 de setembro, com 1.357 pessoas de 16 anos ou mais. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.​

5. A intervenção federal na segurança pública foi decretada em fevereiro deste ano pelo presidente Michel Temer (MDB) com a justificativa de combater a escalada da violência. O general do Exército Walter Braga Netto foi nomeado interventor e assumiu controle das polícias, bombeiros e setor penitenciário do Rio.

6. Antes disso, desde julho de 2017, já havia presença de homens do Exército nas ruas do estado. Em meio à grave crise financeira e de segurança pública no Rio, foi decretada na época a GLO (Garantia da Lei e da Ordem), que dava aval à participação dos militares, embora as polícias ainda estivessem sob comando do governo estadual.

7. Nesta semana, foi assinado um plano com medidas de transição para encerrar intervenção federal no Rio.

8. Em entrevista à Folha em agosto, Raul Jungmann, ministro da Segurança Pública, afirmou que a intervenção deveria acabar no prazo inicialmente previsto, porque os responsáveis pela medida já demonstraram não querer a sua renovação.

9. Em junho, Jungmann chegou a defender que a intervenção fosse renovada para, pelo menos, dezembro de 2019. Mas, vencido na discussão interna, optou pelo “meio-termo”, que seria a continuidade “da reestruturação das forças de segurança” no Rio e a manutenção da operação de Garantia da Lei e da Ordem no ano que vem.

10. O comandante do Exército, general Eduardo Villa Bôas, chegou a declarar em discurso no mês passado que “aparentemente” apenas os militares têm se dedicado a resolver os problemas do Rio.

11. O apoio à continuidade da intervenção na capital do Rio é um pouco menor do que no estado: 68% são favoráveis e 25%, contrários. Já no interior 75% querem prorrogar a medida, e apenas 18% são contra. Moradores de outros municípios da região metropolitana também consideram a intervenção mais positiva do que a capital: 74% são a favor da prorrogação.

12. As opiniões variam de acordo com a escolaridade, renda e idade do entrevistado. Entre os mais jovens, de 16 a 24 anos, há menor apoio à intervenção: 59% são favoráveis, enquanto 31% são contrários. A faixa etária que mais deseja prorrogar a medida é a de 45 a 59 anos, com 78% —apenas 16% deles querem que a intervenção acabe em dezembro.

13. Quanto mais escolarizado, menor a intenção de manter esse decreto na segurança do estado. Entre pessoas com nível superior, 63% desejam a prorrogação e 31% são contra. Já entre os entrevistados com ensino fundamental, 79% são favoráveis e 13%, contrários.

14. A renda também impacta a avaliação da intervenção. Os mais ricos, que ganham acima de dez salários mínimos, são os que menos apoiam: 57%. Desse grupo, 37% acham que a intervenção deve terminar em dezembro. Entre os mais pobres, que recebem até dois salários mínimos, 76% aprovam a prorrogação e 17% são contrários.

15. O endosso à medida na segurança tem pouca variação por gênero: a maioria tanto dos homens quanto das mulheres considera que ela deve continuar. Entre os brancos, 70% são a favor da continuidade e, entre os negros, 67%.

06 de setembro de 2018

TRANSIÇÕES!

(Luiz Werneck Vianna – Estado de S.Paulo, 02) 1. Marcas de formação nos indivíduos e nas nações, como nos ensinaram a psicanálise de Freud e a teoria social de Tocqueville no genial A Democracia na América, nos acompanham desde o nascimento e, se podem ser modificadas pela ação consciente dos homens ou por circunstâncias imprevistas em suas trajetórias, não são passíveis de erradicação e ficam conosco, para o bem ou para o mal, impressas como tatuagens irremovíveis.

2. Os estudos de História comparada, presentes nos grandes clássicos do pensamento social, de Montesquieu a Barrington Moore, passando por Tocqueville, Marx, Weber – que dedicou sua monumental obra a eles –, elenco que inclui Gramsci em suas explorações sobre quais tipos de sociedades ocidentais estariam mais propensas às revoluções – a Inglaterra, por exemplo, não estaria –, são fartos em demonstrar o papel das origens na formação dos Estados e das sociedades. Assim, compreender a Alemanha importaria em analisar o papel das elites junkers, agrárias, conservadoras e de formação militarizada, em seu protagonismo na hora decisiva da unificação e criação do seu Estado, e, no caso americano, do fato de sua sociedade ter sido obra de emigrados de adesão religiosa ao protestantismo, cujos ideais de República e de sociedade queriam implantar em terra nova.

3. A literatura sobre o tema é pródiga e avança sobre outros tantos casos, como os da Itália, do Japão e da Índia, não deixando de fora os casos da IberoAmérica. A relevância do tema não é apenas acadêmica, já que ela diz respeito à identificação do terreno em que estamos pisando. A crônica política destes tempos de sucessão presidencial insiste no tom do desencanto e das ilusões perdidas, especialmente dos setores que se autointitulam a esquerda do nosso espectro político, em razão da sua frustração com o desenlace da crise política que abalou o País após o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Com efeito, durante seu curso – tudo indica, encerrado – viveu-se aqui como que uma terra em transe, com manifestações de rua e passeatas de empalidecer as francesas, aparentando prometer, como essa esquerda desejava, a hora de ruptura catastrófica com nossas instituições.

4. Foi um tempo em que se coqueteava com o tema das revoluções, cuja porta de entrada seria a derrubada do governo constitucional de Michel Temer, com a imediata convocação de eleições gerais, provavelmente com poderes constituintes e demais assuntos de igual calibre. A sucessão presidencial, confirmando o papel taumatúrgico das eleições nas crises políticas brasileiras, no entanto, nos devolveu ao Brasil real, dissolvendo no ar as fabulações revolucionaristas. Mais uma vez passamos a conviver com o eterno retorno dos processos de transição, com o qual veio à luz nosso Estado-nação – não conhecemos, como se sabe, ao contrário da América hispânica, revoluções nacional-libertadoras. Mesmo registro político, aliás, com que interrompemos o regime do autoritarismo militar que nos dominou por duas décadas.

5. É ele, agora, apesar da pantomima ensaiada em torno da candidatura Lula ao tentar ameaçar nossa democracia com a cantilena contra o nosso sistema de Justiça, que se impõe atrás desse teatro de sombras em que se ocultam alguns protagonistas. Pois aquilo que se encoberta é o fato de já estarmos numa transição do longo ciclo da modernização autoritária de Vargas a Dilma para um novo tipo de relações entre o Estado e a sociedade, centrada na participação social e no aprofundamento da democracia, tanto por processos que revolvem os fundamentos materiais de nossas estruturas, em especial no mundo do trabalho e da produção, quanto pelas mudanças ideais que se manifestam em nossa capacidade de reflexão sobre nós mesmos.

6. Os debates presidenciais aclaram o ponto, mesmo que vindos de narrativas toscas e rústicas, contrapondo candidatos que se situam no campo favorável a essa transição aos contrários a ela, na pretensão de darem continuidade ao processo de modernização autoritária, jogando para baixo do tapete o fato de que ela foi levada à exaustão no governo Dilma. A força do tema se faz presente até mesmo em candidaturas avessas a ele, ora em Bolsonaro, que faz profissão de fé no liberalismo econômico em oposição ao capitalismo de Estado, ora de modo latente em Ciro Gomes, embora se apresente como herdeiro da experiência do lulismo.

7. Narrativas são apenas narrativas. Na vida real, fora os candidatos que parecem habitar em hospícios – pegando carona em divertida crônica de Fernando Gabeira – ou viver nas primeiras décadas do século 20 no seu culto a experimentos falidos, os demais, principalmente os de ofício na política, não ignoram que tanto o movimento das coisas quanto o dos homens e das mulheres apontam de modo inexorável para o fim da era Vargas, esticada até o limite pelo seu pastiche do lulismo. O patriarcalismo – uma das pedras de sustentação do autoritarismo em nossa sociedade, exemplar no São Bernardo de Graciliano Ramos – está com seus dias contados e aqui e alhures o gênio de Keynes não serve mais para guiar nossos passos na economia de hoje, como no íntimo um acadêmico como o candidato Fernando Haddad não pode desconhecer.

8. Paixões e interesses à parte, estaremos no tempo que se abre adiante no terreno áspero e difícil das transições em que não é mais noite e o dia ainda não chegou, cabendo à política bem compreendida acelerar sua festiva aparição. Contudo não poderemos fechar os olhos aos perigos que nos rondam, pondo em xeque a singular cultura que aqui criamos, nós brancos, índios e negros, tudo erraticamente misturado, sem identidade definida, porque somos, como sustentava o gênio de Euclides da Cunha, uma construção voltada para futuro em busca da realização de ideais civilizatórios. O Brasil não pode ser uma cabeça de ponte na nuestra América para o fascismo em qualquer dos disfarces com que se apresente.

05 de setembro de 2018

AINDA A REFORMA DO SISTEMA ELEITORAL!

(Editorial Folha de S.Paulo, 02) 1. A cinco semanas do primeiro turno de uma eleição presidencial tão imprevisível quanto decisiva para o soerguimento do país, a política nacional experimenta níveis insólitos de descrédito. Um terço do eleitorado expressa desinteresse pela disputa; os candidatos ostentam índices de rejeição maiores que os de intenção de voto. Com a economia estagnada e as marcas da desigualdade social evidentes nas ruas, parece ter ficado mais difícil acreditar na capacidade das instituições de solucionar problemas debatidos há décadas. O combate à corrupção e a contínua exposição de escândalos nos últimos anos contribuíram para aumentar ainda mais o fosso que separa os eleitores de seus representantes em Brasília.

2. O período inaugurado pela promulgação da Constituição de 1988 é o de maior estabilidade democrática em nossa história, mas dois presidentes eleitos desde então foram alvo de impeachment —sinal da dificuldade para formar e manter bases de apoio parlamentar. Há nada menos de 25 partidos com assento na Câmara dos Deputados, o que torna custosas as negociações para viabilizar iniciativas do governo que dependam do aval do Legislativo, multiplicando as frestas abertas para a fisiologia e o desvio de recursos.

3. O Congresso promoveu mudanças frequentes na organização das legendas e nas regras do jogo eleitoral nos últimos anos, mas a maioria dessas iniciativas foi desenhada para atender a interesses dos caciques partidários, e não para tornar o sistema mais eficiente. Tentativas do Supremo Tribunal Federal de corrigir distorções se revelaram desastradas com o tempo, em vez de contribuir para o aperfeiçoamento institucional. A suspensão de uma cláusula de desempenho que restringia o acesso de siglas menos representativas a recursos financeiros e tempo de propaganda na televisão, em 2007, provocou a pulverização do quadro partidário nos anos seguintes.

4. A proibição às doações eleitorais de empresas, imposta pelo STF na esteira das revelações da Operação Lava Jato, levou deputados e senadores a criarem um fundo bilionário para o financiamento de campanhas com verbas públicas. Como a divisão do dinheiro é proporcional ao tamanho das bancadas na Câmara e cada legenda pode distribuir seu quinhão como quiser, a mudança ampliou o controle dos dirigentes das maiores siglas sobre o processo eleitoral.

5. Duas alterações positivas introduzidas recentemente pelo Congresso na lei só poderão ter seus efeitos avaliados em alguns anos. Foi decidido que as eleições de 2018 serão as últimas em que partidos poderão se coligar para disputar cadeiras na Câmara. Ou seja, nas próximas disputas, os pequenos não poderão mais contar com puxadores de voto dos maiores para chegar ao Parlamento. Este também recriou a cláusula de desempenho abolida na década passada pelo Supremo, em versão que dá às agremiações menores mais tempo para se adaptarem e ganharem musculatura.

6. As que não alcançarem pelo menos 1,5% dos votos desta vez perderão acesso a recursos públicos e à propaganda na televisão. A exigência subirá gradativamente, até atingir 3% nas eleições de 2030. Na disputa de 2014, só 11 partidos somaram votos suficientes para superar essa barreira. Se as novas regras forem mantidas, o fim das coligações e a nova cláusula de barreira poderão levar a uma bem-vinda depuração do quadro. É preciso cuidado, no entanto, para que as inovações não produzam consequências indesejáveis. Elas podem impor obstáculos à oxigenação da política e até mesmo aprofundar a desconexão entre a sociedade e seus representantes.

7. Soluções adotadas em outros países decerto poderiam ser avaliadas para contornar os riscos, como o sistema distrital misto alemão, há muito defendido por esta Folha como opção para o Brasil. Nesse modelo, parte dos candidatos a deputado e vereador não competiriam mais em cidades ou estados como hoje, mas em distritos menores —o que aproximaria políticos e eleitores, além de reduzir os custos das campanhas. O financiamento privado das eleições deveria ser admitido novamente, com limites mais rígidos para as contribuições, em valores absolutos e não mais como percentuais da renda das pessoas físicas ou do faturamento das empresas.

8. Seria uma maneira de conter a influência de candidatos ricos e grupos com maior poder econômico, e ao mesmo tempo eliminar incentivos que a proibição em vigor cria para doações clandestinas, imunes a mecanismos de fiscalização. A experiência mundial mostra que não existe modelo político perfeito, mas ensina que é melhor buscar mudanças incrementais do que apostar em reformas drásticas.

9. O importante é assegurar que o interesse público prevaleça sobre a conveniência das elites partidárias. Somente um sistema que dê eficácia ao governo, garanta eleições competitivas e premie partidos representativos terá condições de resgatar a confiança dos eleitores.

04 de setembro de 2018

COLAPSO NA INDÚSTRIA NAVAL DO RIO DE JANEIRO! 

(W.Victer) 1. Uma matéria grande no jornal O Globo sobre a derrocada da indústria naval deve ser ponto importante nessa eleição.

2. Fui Secretário dessa área quando reabrimos todos os Estaleiros, cerca de 20 no Estado e que estavam fechados, aliás, muito antes de se falar em pré sal e ainda no segundo Governo FHC.

3. Além dos diversos problemas que aconteceram, em especial na Petrobras e o caso da Sete Brasil, o setor tem perdido foco na atenção do Estado numa indústria que tem muitas unidades significativas, especialmente em Angra (Fels- antigo Verolme), no Rio (em especial na Ilha o antigo Emaq – atual Eisa no Caju) e em Niterói com diversas unidades (especialmente Mauá), isso sem falar agora em Itaguaí com a construção de submarinos para Marinha.

4. Deste cenário acho que se tem que bater firme não só na redação de comendas que a Petrobras está fazendo colocando em países como a China e em especial na ANP, pois unilateralmente está “quebrando contrato de concessão de campos de petróleo” e permitindo que se reduzam as cláusulas de “conteúdo local” que estão nos contratos de concessão. Isto é quebra de contrato e ninguém fala nisso.

5. Isso não é jabuticaba e todos os países que produzem petróleo desenvolvidos tem cláusula de conteúdo local, haja visto Noruega e Reino Unido.

6. Parece que passou desapercebido, mas a ANP está reduzindo as cláusulas de conteúdo local do campo de Libra que é o maior campo do pré sal. É inexplicável, pois ninguém bate nisso.

7. Outro ponto a destacar é que pela legislação que inexplicavelmente o Estado adotou (e que não deixei adotar na minha época como secretário) as plataformas entram no Estado totalmente isentas de pagarem ICMS. Ou seja, uma exposição aos Estaleiros.

8. Brasileiros, especialmente do Rio de Janeiro, sem paralelo em outras indústrias, pois não pagam também os impostos federais como imposto de importação e IPI.

03 de setembro de 2018

“O EXERCÍCIO DA POLÍTICA”!

(André Gustavo Stumpf, jornalista – Jornal do Brasil, 01) 1. O exercício da política é arte manhosa, sinuosa, que ocorre dentro de objetivos definidos pelo seu responsável. O famoso pacto germano-soviético, assinado às vésperas do início da Segunda Guerra Mundial, é o retrato do pragmatismo elevado à máxima potência.

2. Nazistas precisavam de tempo para melhorar o arsenal bélico destinado a invadir a União Soviética. Stalin precisava de maior prazo para organizar sua defesa. O conflito naquele momento não interessava a nenhuma das partes. Assinaram o tratado e dois anos depois o rasgaram sem cerimônia.

3. O Brasil está vivendo os momentos imediatamente anteriores ao conflito em campo aberto entre os candidatos à Presidência da República. A campanha eleitoral que agora salta para os aparelhos de rádio e de televisão alcançará em todo o país os 147.302.357 de eleitores. É muita gente. A maior parte, segundo as pesquisas, ainda está indecisa.

4. A maioria não sabe em que direção deve se inclinar. Até o momento de acionar a urna eletrônica muita água e muita indecisão deverão passar por baixo da ponte das definições políticas. As entrevistas dos candidatos ajudaram pouco nas definições.

5. Os espetáculos midiáticos se transformaram numa espécie de inquirição raivosa de cada um dos candidatos. Eles se encolheram entre evasivas e não avançaram nada em matéria de projeto de governo. Perda de tempo. Até agora, portanto, as entrevistas desvendam pouco do que os candidatos podem oferecer.

6. Há um campeonato de frases de efeito e de jogo de palavras. Quem consegue expor o erro, o defeito ou incompreensão do adversário, supostamente, ganha pontos com o espectador. É difícil medir até que ponto este jogo de espertezas seduz o eleitor.

7. A campanha eleitoral, curtíssima, foi imaginada para reduzir custos e proporcionar a oportunidade de o candidato falar diretamente a seu eleitor. Mais espaço não significa vantagem. Ulysses Guimarães, na eleição de 1989, tinha um verdadeiro latifúndio nas emissoras de televisão e ainda assim não chegou ao segundo turno. E o intrépido candidato que criou o bordão ”meu nome é Enéas” para caber no exíguo tempo de que dispunha acabou sendo puxador de votos em São Paulo. Foi eleito deputado com mais de um milhão de sufrágios. E elegeu um bom número de colegas na sua coligação para a Câmara Federal.

8. A presença maior da internet faz deste pleito a primeira grande experiência política digital no Brasil. Os grupos que se criam de maneira informal e rápida no sistema de telefonia, além da presença das redes sociais agilíssimas na difusão de projetos e destruição de reputações constituem novidades. No cenário atual, sem a presença de Lula, Bolsonaro está na frente. Alckmin, Álvaro Dias, Marina Silva e Ciro Gomes estão mais ou menos em torno do que se convencionou chamar de empate técnico.

9. Só dois deles irão para o segundo turno. Haddad está atrás, agora. A capacidade de atrair votos, reduzir os de seu competidor e tentar se colocar no centro do debate político será fundamental. Não há favoritos, mesmo porque há razões de sobra para votar e não votar em cada um deles.

10. Este é o monumental desafio colocado diante dos candidatos a presidente do Brasil. É preciso lembrar que o país é um laboratório do chamado realismo fantástico praticado pela literatura latino-americana. Aqui, candidato preso solicita registro de candidatura, outro prega pena de morte, os problemas se repetem e a mesma pessoa que fez diversas revoluções e perdeu todas lança livro de memórias.

11. É condenado, mas está em liberdade por uma suposta plausibilidade de um hipotético futuro recurso judicial. As promessas são espantosas, capazes de fazer corar frade de pedra. Difícil diante do deserto de ideias e propostas escolher um nome para depositar a confiança. Mas isso é fazer política no Brasil.

31 de agosto de 2018

HOJE, COMEÇA A CAMPANHA NA TV E NO RÁDIO!

Hoje, começam as veiculações, pela televisão e rádio, das candidaturas. Hoje, há senador, governador e deputado estadual. 

Este será um teste importante porque as ruas estão silentes. A taxa daqueles que não apontam candidatos é muito alta, 50%, 60%. E a televisão, em geral, desperta o eleitor para a própria campanha eleitoral. É como se o eleitor só soubesse que haverá campanha eleitoral no momento em que a televisão entra. 

Mas, neste momento, há uma dúvida se a entrada da televisão produzirá, como produziu em eleições anteriores, o envolvimento do eleitor ou vai manter esse quadro desaquecido, como tem sido até agora e os institutos de pesquisa têm demonstrado. 

Para se ter ideia, na eleição para governador de MG, mais de 50% não marcam candidato nenhum. Branco, nulo, não sabe, não respondeu. Mesmo no caso na eleição presidencial, quando se apresenta a lista de nomes, parece que brancos, nulos, não sabe, não respondeu, diminui, mas não é assim. É que são muitos nomes para a pessoa optar e vai se marcando. 

Eu diria que a probabilidade, nesta eleição para presidente e governador, de os votos brancos, nulos, de a abstenção alcançar 40% ou mais é muito grande. No caso de senador, provavelmente. O que se vê, curiosamente, é que no primeiro voto e no segundo voto a porcentagem daqueles que não marcam candidato algum é semelhante. Como são dois votos, no final, se tem algo em torno de 50%. 

É uma situação que vai nos levar a acompanhar com muito cuidado. Os institutos que fizerem pesquisas a partir do final da semana que vem já poderão indicar de que maneira o leitor tende a se comportar. Se haverá uma tendência à participação, mobilização, ou se esse quadro de inércia se manterá até o final da eleição.

30 de agosto de 2018

“TEMPO DE TV TEM EFEITO INCERTO E ELEIÇÃO DE 2018 TEM PARADOXOS INÉDITOS”!

(ANTONIO BRITO – Drive – Poder 360, 29)  A tradição e um mínimo de cautela mandam que se espere pelo menos duas semanas (ou seis programas eleitorais dos candidatos a presidente) para que se possa começar a medir os efeitos dessas propagandas nas intenções de voto. Teremos de aguardar até 15 de setembro para saber se e como as intenções de voto começarão a se cristalizar ou a se modificar.

Entre tantos paradoxos desta eleição, um se destaca: nunca foi tão reduzido nem tão importante o tempo de propaganda no rádio e na TV. Por isso, é inevitável que desde o primeiro dia, 6ª feira (31.ago.2018), torne-se esporte nacional tentar adivinhar o que cada jingle, palavra ou imagem provocarão na decepcionada cabeça do eleitor brasileiro.

Um breve roteiro do que vem por aí:

1. O índice de audiência dos programas eleitorais será, em si, um fato com consequências eleitorais. Se baixo, perde o PT, que precisa fazer a transferência de votos para Haddad. Perdem Alckmin, Marina e Ciro. E só Bolsonaro ganha. Se os índices de audiência forem altos, inverte-se, em princípio, o quadro;

2. Grupos de discussão e avaliações qualitativas do impacto de cada comercial serão muito mais importantes do que análises sobre o efeito dos programas eleitorais;

3. Falar em comerciais é aguardar especialmente pelo que farão Alckmin e o PT, num primeiro momento. São deles, com diferença gigantesca em relação aos demais, os espaços para mensagens publicitárias. Ciro, Marina e, de certa forma, Bolsonaro vão depender do que Alckmin e o PT souberem ou não fazer com essa poderosa vantagem;

4. Alckmin tem latifúndios de tempo para falar para os que não o apoiam. Conseguirão os tucanos pela primeira vez desde o real utilizar um idioma compreensível para a maioria dos brasileiros? A jogada é arriscada. Não se constrói um perfil em dias, ainda mais de alguém resistente/conservador como Alckmin, para o bem e para o mal. Um surpreendente sucesso televisivo de Alckmin vai aproximá-lo do segundo turno. Uma monótona repetição das últimas semanas do tucano dará força a Ciro e Marina, além de impulsionar Bolsonaro;

5. O outro jogador destaque desse primeiro momento é o PT. A impotência do partido diante de seu criador levou-o a deixar-se encarcerar junto com Lula. Agora, pode acarretar punição adicional ao não conseguir colar em Haddad rapidamente a imagem do ex-presidente. Mas se o PT conseguir a façanha de transferir ao menos um terço das intenções de Lula para Haddad, o ex-prefeito de São Paulo se viabiliza para tentar um segundo turno;

6. Ciro e Marina, e, de outra forma, Bolsonaro começam o jogo esperando e dependendo do eventual insucesso de Alckmin e/ou do PT no uso do tempo na propaganda eleitoral;

7. Ciro e Marina estarão, é claro, sentados à mesa desde o primeiro momento do jogo eleitoral na TV. Mas a organização da disputa deu-lhes apenas as senhas de número 3 e 4. Antes, estarão juntos na torcida por tropeços de Alckmin ou do PT;

8. Parte do fascínio desta eleição vem daí. Ciro e Marina dependerão muito da evolução/involução do PT e de Alckmin;

9. Bolsonaro vive outra situação curiosa. A encrenca em que se meteram seus dois aparentes principais adversários –PT e Alckmin– deixa-o otimista para uma ida ao segundo turno, apesar de desconhecida ainda a eficácia do tiroteio que sofrerá. Mas, para Bolsonaro, qualquer risco no primeiro turno é nada diante do fato que de todos os nomes principais é o de pior perfil e piores chances no segundo turno, de acordo as pesquisas recentes.

Perto de 60 milhões de pessoas sem voto definido; dependendo de apenas cinco semanas de propaganda eleitoral e no meio desse período candidatos tendo de ajustar estratégias da noite para o dia. Vai ser ótimo de acompanhar e talvez difícil de esquecer.

29 de agosto de 2018

POLITÓLOGO JAIRO NICOLAU E A TRANSFERÊNCIA DE VOTOS NO NORDESTE!

(Coluna do Merval – Globo, 25) 1. A partir das eleições de 2006, o Nordeste passou a ser um reduto eleitoral petista. Foram seis turnos de vitórias avassaladoras. Em trabalho recente, o cientista político e professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Jairo Nicolau analisa fatores que podem afetar a intensidade da transferência de votos no principal reduto petista, sem a presença de Lula nas campanhas e, sobretudo, na urna eletrônica.

2. Em 2006, Lula obteve 60% dos votos dos eleitores nordestinos no primeiro turno, o maior percentual alcançado na história das eleições presidenciais por um candidato em uma determinada região, ressalta Nicolau. Ainda que Dilma Rousseff tenha obtido em 2010 e 2014 um percentual levemente menor do que Lula, a ideia de reduto se manteve.

3. No primeiro turno das eleições de 2014, 27% dos eleitores que compareceram para votar moravam no Nordeste. Desse modo, um candidato que receba 50% dos votos na região já garante cerca de 13,5% em âmbito nacional. Lula tem até 80% em certos estados nordestinos.

4. Jairo Nicolau diz que ninguém pode ter dúvida de que Fernando Haddad crescerá no Nordeste à medida que se torne conhecido dos eleitores da região. Existe uma versão corrente que sugere que essa transferência de votos de Lula será simples e automática, mas Nicolau lembra que, embora isso possa acontecer, há alguns obstáculos. O reduto petista no Nordeste foi consolidado quando o partido estava à frente da Presidência.

5. As eleições de 2006, 2010 e 2014 tiveram um caráter plebiscitário, a favor ou contra as políticas públicas do governo petista, fator que não estará presente este ano. Jairo Nicolau lembra que temas centrais da campanha ainda não estão postos. “Será a divisão entre os que apoiam e rejeitam Bolsonaro? Ou a crise econômica e as melhores propostas para superá-la? Ou até, quem sabe, uma mera ênfase nos atributos dos candidatos, sem grandes discussões sobre o país”, questiona o cientista político.

6. Para o PT, diz Nicolau, interessa recolocar o tema plebiscitário em outras bases, em torno de uma nova agenda: os que defendem a “volta do PT” versus os que são “contra a volta do PT”. A polarização pode ter um papel fundamental para impulsionar a transferência de votos no Nordeste.

7. Nas três últimas eleições, o PT praticamente não teve adversários no Nordeste. A dúvida, ressalta Jairo Nicolau, é até que ponto a candidatura de Ciro Gomes, político que fez sua carreira no Ceará, poderá ser uma barreira para o crescimento do PT. Nas duas eleições em que concorreu, Ciro teve o seu melhor desempenho no Nordeste — 12% dos votos dos que compareceram em 1998, e 15% em 2012 —, embora em patamares inferiores à votação do PT e do PSDB.

8. Jairo Nicolau acha que ainda é cedo para falar sobre o desempenho de Marina e Bolsonaro no Nordeste, já que a expectativa é que o crescimento do candidato petista “avance” sobre os votos que hoje esses candidatos obtêm na região. No primeiro turno de 2014 havia uma expectativa de que os votos nulos e em branco poderiam crescer. Como tradicionalmente os votos inválidos são mais altos nas cidades mais pobres e com menor escolaridade, esse crescimento poderia afetar a candidatura de Dilma Rousseff. Mas isso não aconteceu. O percentual de votos nulos e em branco foi praticamente o mesmo das eleições anteriores. A expectativa do cientista político Jairo Nicolau é que os votos nulos por protesto cresçam nas eleições de 2018, repetindo padrão já observado nas eleições municipais de 2016.

9. Mas, segundo ele, o que deve preocupar os dirigentes petistas é outro tipo de voto inválido, fruto da desinformação e do erro. Com uma campanha curta, sem dispor do mesmo tempo de televisão das eleições anteriores, sem a presença física de Lula nas atividades de rua e com muito menos dinheiro para gastar na campanha, o desafio do PT é fazer o nome do candidato Haddad chegar aos eleitores de baixa escolaridade, baixa renda e moradores das pequenas cidades do Nordeste. Para Jairo Nicolau, sem uma informação precisa sobre a existência de um “candidato do Lula”, o voto nulo e em branco tenderá a crescer na região.

10. A dúvida, ressalta Jairo Nicolau, é até que ponto Ciro Gomes, que fez sua carreira no Ceará, poderá ser barreira ao PT.

28 de agosto de 2018

ENTREVISTA COM O ARQUITETO E URBANISTA PAULO CASÉ, FALECIDO ONTEM, FALANDO DE SUA RELAÇÃO COM CESAR MAIA!

Revista Vitruvius

Opinião sobre arquitetos e políticos

AAB: César Maia, Ex-Prefeito do Rio.
PC: César Maia é uma das pessoas que mais me impressionou na minha vida, ele tem uma cabeça extraordinária. E agora ficou na moda meter o pau nele já que ele não está mais no poder. Ele é um homem que ficou 16 anos à frente da Prefeitura dessa cidade e ainda se encanta com a cidade. Agora, política é um suicídio, política é um suicídio, e quando você tem que confrontar a sua ideia com os outros pra se afirmar, não adianta, acaba. Eu por exemplo, eu tenho as minhas ideias, depois que eu recolhi as minhas críticas que achei mais importante eu peguei meu caminho e fui seguir o meu caminho. Eu não quero saber de discutir com ninguém. Mas o político ele tem que discutir com todo mundo e isso desgasta muito.

AAB: O senhor trabalhou muito para a Prefeitura durante as gestões dele. E então, qual a principal virtude que o senhor viu no César Maia com relação a essa questão da Cidade?
PC: O trabalho. Trabalha, trabalha, um homem interessante tem uma cabeça rica pra cacete, muito inteligente. A última vez que eu estive com ele, foi junto a um hoteleiro português que ia fazer um hotel aqui, e o projeto era meu. Então ele marcou um encontro e eu fui lá. Ele tava terminando o governo. Ele já estava há dezesseis anos, ele já deveria estar em outra, mas não, de tudo ele fazia. Eu já trabalhei muito com ele e eu sempre falava: “Cesar, vamos fazer uma coisa? Vamos terminar este seu governo e vamos abrir um gabinete de conversa”. Gênero, ele é gênero tá entendendo. Eu tenho vários amigos intelectuais, completamente diferentes dele, mas ele é um gênero diferente, um homem de uma sagacidade. Eu tenho por ele um apreço. Uma vez eu escrevi na minha coluna do Jornal do Brasil, uma das primeiras colunas foi sobre o pós modernismo. Foram dois números de pós modernismo. Então escrevi sobre a arquitetura, sobre o moderno, como é que nasceu a arquitetura moderna e etc. Aí, ouça só, eu estou em casa um dia e toca o telefone: “Alô, Paulo Casé? Aqui quem fala é o Deputado Cesar Maia”. E eu falei: “Pois não, Deputado”. E ele, que é economista, me falou: “Eu acho que a economia tem muito a ver com aquilo que você escreveu no Jornal do Brasil sobre arquitetura e pós-modernidade. Você pode vir conversar comigo?”

AAB: O senhor nunca tinha falado com ele antes?
PC: Nunca. Falar com Político? Aí fui lá depois que ele me ligou e esta conversa que tive com ele me marcou. Fui lá nove horas da noite e saí duas horas da manhã de lá. Quando saí, eu pensei, não é possível esse cara deve ser um maluco. É um cara fora do normal. Aí eu disse: “Ô Cesar, eu posso marcar outra conversa com uns amigos e você”. Então fiz um grupo, Geraldinho Carneiro, Silvio Tender, uma porrada de gente interessante, tinha também o Conde. O Conde então ele conheceu o Cesar Maia lá em minha casa. Aí eu disse, “Ô Cesar, aconteceu isso, isso e isso depois daquela nossa primeira conversa e eu reuni esses amigos aqui para você falar pra eles o que você disse para mim, porque eu estou impressionado com a sua visão da Cidade, do mundo e etc.”. E todo mundo saiu de lá também com boas impressões dele. Então é isso, pra mim o César Maia é essa história que te contei agora.

AAB: O senhor falou muito aqui do arquiteto Luiz Paulo Conde, ex-prefeito do Rio. Ele é mais ou menos um arquiteto da sua geração, não é? E vocês sempre estiveram em alguns momentos muito próximos. Como é que o senhor vê a passagem do Conde da arquitetura para a política e os caminhos que ele seguiu depois aqui na Cidade já como Prefeito e etc?
PC: Foi a primeira visão urbana de um prefeito sobre a cidade nos últimos anos. Ele pensou a Cidade, fez os Programas Rio Cidade o Favela Bairro e etc.

AAB: Foi o senhor que apresentou o Luiz Paulo Conde ao César Maia?
PC: Não apresentei exatamente, mas eu que trouxe o Conde para aquela reunião com o César Maia. Eu soube depois, que ele foi quem levou o César Maia para casa, pois o Cesar morava na Barra da Tijuca e eles foram conversando e o Conde já gostava de política. Ele foi Diretor da Escola de Arquitetura só fazendo política, fazendo política. Falando com funcionário aqui com outro funcionário ali. Eu não ia fazer isso nunca tem que ter essa tendência e esse talento. E o Conde é um cara inteligente e culto. Quando teve a chance dele de ser o Secretário de Urbanismo do César Maia ele foi embora e fez realmente o negócio andar e muito. Então ele tem essa virtude de ter trazido o debate urbano para a prática cotidiana do cidadão. Que muitos não tenham entendido o que ele queria fazer aí é diferente. Também a gente não está aqui para as pessoas sempre nos entenderem. Infelizmente.

27 de agosto de 2018

CARLOS LACERDA: PARTE FINAL DO ESTUDO DE OTÁVIO FRIAS FILHO NA REVISTA PIAUÍ! 

1. Restaram dele poucos registros em vídeo, mas diversos em áudio, preservados. É pena que tanto material tenha-se perdido, não apenas no sentido físico. Pois Lacerda era mestre numa arte que não pode mais ser apreciada na medida em que também desapareceu – a oratória pública, substituída pela padronização publicitária e pelos improvisos disparatados. Mas não se imagine que ele fosse um orador à antiga, com tremulações de voz e sentenças abstrusas. Ao contrário, contribuiu como poucos para introduzir a linguagem coloquial no jornalismo e na política.

2. E foi talvez o primeiro a adotar, no Brasil, em vez da peroração apoplética, o tom de conversa amena que se recomenda no rádio e mais ainda no veículo que se instalava na década de 50, a televisão. Embora somente 5% dos domicílios no país contassem, em 1960, com televisor (e não mais de um terço tivesse rádio), os poderes encantatórios do meio, que propiciava um laço aparentemente tão íntimo com o falante, eram evidentes. Segundo seu biógrafo, ele aprendeu com o popular programa de Fulton Sheen, arcebispo católico americano que recorria a um quadro-negro em cena (como Lacerda passou a fazer) para que os telespectadores fixassem melhor suas sorridentes mensagens anticomunistas.

3. A voz de Lacerda era grave, robusta e um pouco anasalada, mas percorria uma escala ampla de tons, chegando às vezes a um timbre algo andrógino pela blandícia. Sua entonação, no entanto, em geral era áspera, como quando, em certos momentos, ele parecia cuspir as palavras com desprezo ou asco, quase omitindo a sílaba final, conforme o costume carioca. Outras vezes, para obter um efeito comovente qualquer, sua voz se alongava e perdia volume até concluir a frase como a onda que alisa a praia. Teve aulas com a atriz Ester Leão, que se recusou, por motivo ideológico, a treinar a voz de Brizola.

4. Não tinha, aliás, o “s” português (como em festa, “feichta”) nem o “r” francês (como em porta, “pohta”) de seus conterrâneos, talvez por exigência dos primórdios do rádio, quando os fonemas deviam se distinguir nitidamente em meio à estática das transmissões precárias – talvez porque esse sotaque não fosse tão acentuado nas gerações mais antigas ou em sua família. A consagração do hábito fazia os cariocas pronunciarem seu nome, conforme ressaltou o poeta paulista Régis Bonvicino, como se fosse uma palavra só (“Cahlacehda”), pequena glória desfrutada por raras figuras públicas.

5. Seu melhor retrato pessoal foi traçado em menos de dez páginas pelo memorialista católico Antonio Carlos Villaça no capítulo “Júlio Tavares” de seu O Livro de Antonio (74). Villaça era um literato que viveu para descrever o que via. Seu olhar ávido e inquieto focaliza Lacerda com um interesse minucioso, quase erótico. Este era tomado por uma “sofreguidão alucinante”. Sabia “perfeitamente” inglês e francês. Tinha um “ar de rapaz, um tanto brejeiro, boêmio, leve, livre, sensual”. Gostava de cinema e viagens. Era um místico que se interessava por espiritismo, astrologia e tinha “tendência profunda à superstição”. Não sabia nadar, batia furiosamente à máquina com dois dedos, cozinhava um peixe “temperadíssimo” e gostava “muito de queijos”.

6. Não lhe escapa tampouco a ciclotimia de Lacerda, dado a trabalhar sem trégua durante dias e noites, para daí desabar, prostrado. Numa crônica sobre Winston Churchill, que chamava a própria depressão de “cão negro”, Lacerda admitiu ser vulnerável a suas investidas. Um de seus melhores contos (parodiado no livro do neto) explora essa metáfora e se chama “Aparição do Cão Negro”. Seu estado de espírito há de ter piorado no ostracismo, quando se esfalfava para preencher o ócio e suprir a vocação desperdiçada. A epígrafe de seu livro Crítica e Autocrítica são dois versos do escritor português Miguel Torga que costumava citar a próprio respeito: “Podia ser melhor o meu destino/Ter o sol mais aberto em cada mão.”

7. Revisadas a sua vida e a sombra que ela projetou nos livros, o que resta ou ressalta? Sua ambição, certamente. Como tantos estadistas, era escravizado pela necessidade narcísica de liderar a multidão a fim de realizar obras que lhe valessem a estima pública. Essa ambição talvez fosse, nele, apenas o mais poderoso aspecto volitivo de uma personalidade inteiramente consumida pela “sofreguidão” que Villaça identificou. “Sou dos que querem tudo”, Lacerda escreveu.

8. Escrevia, falava, trabalhava, lia, viajava, comia e comprava com voracidade (um parente refere a quantidade prodigiosa de presentes que ele trazia para familiares e amigos quando voltava de viagem). Essa índole se ambientava bem, por sua vez, numa geração impaciente como a sua – grosso modo, a dos “tenentes” e dos modernistas –, para a qual o Brasil já perdera tempo demais no Império e na República Velha, disposta a abrir seus próprios atalhos para apressar o advento de um futuro sempre adiado.

9. “Depois que se provou o poder, só o poder interessa”, disse certa vez. Os longos anos na oposição purificaram sua têmpera, fazendo dele o emissário de um ideal. Após experimentar o fruto tanto tempo proibido – depois de ser governador e ver sua viável candidatura a presidente esfarelar no maquinismo da ditadura de 64 –, sua ambição decai em oportunismo e se extravia no desespero.

10. Ele continua o voluntarista incorrigível e o adversário (e aliado) perigoso de sempre. Mas antes sua vontade de poder vinha embalada em princípios, bons ou maus, e sua escalada tinha uma galhardia romântica a que os anos de ostracismo deram um ar surrado, canastrão. É quando, por exemplo, ele se aproxima do ministro do Exército do presidente Ernesto Geisel (1974–79), um obtuso “linha-dura” candidato a suceder ou depor o chefe para reverter a abertura política, e se envolve com o general António de Spínola, ex-presidente português exilado no Rio, num plano amalucado para invadir Portugal (então em pleno desvario revolucionário) com apoio da ditadura brasileira.

11. Legou à linguagem corrente o termo “lacerdismo”, que resume um moralismo seletivo, praticado contra os adversários do momento, sobretudo na forma de campanhas jornalísticas devastadoras, baseadas em indícios frágeis e conclusões precipitadas. Não há como eximi-lo desse pecado, exceto recordando que quase todos o cometiam, embora com menos paixão e talento, além de outros pecados piores, dos quais Lacerda nunca foi acusado, como venalidade e até extorsão. Há quem considere o jornalismo dos nossos dias engajado, parcial, faccioso, mas a imprensa do século passado não somente incidia nesses atributos, como costumava ostentá-los com desenvoltura. As apurações eram mais levianas, as reportagens eram opinativas, os jornais tomavam partido acintosamente e admitiam pouca ou nenhuma divergência em suas páginas.

12. Jamais alguém levantou contra ele, a sério, alguma denúncia de corrupção. Nunca dependeu do governo, que atacava de maneira quase sistemática, mesmo quando correligionários seus o ocupavam. Foi provavelmente o primeiro político brasileiro a proclamar a educação pública como prioridade máxima. Foi um dos raríssimos a ter, mais que veleidade literária, um autêntico apetite intelectual. Seu nome se inscreveria, ainda que não sem controvérsia (como tudo nele), no panteão dos brasileiros que, sendo os mais capacitados de sua época, nunca chegaram a presidente: Rui Barbosa, Osvaldo Aranha, San Tiago Dantas.

13. A restauração do capitalismo na Rússia e na China e o ressurgimento da democracia liberal como fórmula adotada por toda parte reatualizaram a pregação de Carlos Lacerda, embora não exatamente seus métodos. O que melhor sobrevive dele foi haver encarnado, em tantos episódios de sua vida transbordante, um inconformismo essencial e uma altivez de espírito que percorrem também a crônica de seu avô e de seu pai, como a transmissão de um impulso intermitente, às vezes errôneo, às vezes inspirador, a empurrar as gerações e os países.

24 de agosto de 2018

23 DICAS PARA A CAMPANHA ELEITORAL!

1. O fracasso é certo quando se tenta agradar todo mundo. Escolha o seu lado, o seu discurso.
2. O seu adversário de votos é quem pensa como você ou se dirige ao mesmo perfil de eleitor.
3. O seu antagônico é atacado só para lhe dar nitidez.
4. Primeiro o eleitor decide em quem não se deve votar. Ajude.
5. Eleição é como lavoura. Os meios de comunicação irrigam. Mas só o contato direto semeia.
6. Candidato que se explica, perde.
7. Tenha sempre a iniciativa. Jogue com as peças “brancas”.
8. Discuta só o tema que você propôs. O tema proposto pelo adversário deve ser simples ponte para você chegar ao seu.
9. Candidato tem que se comprometer.
10. Em debates perguntar é sempre mais arriscado que responder. Na resposta você fala por último. A pergunta tem que imobilizar o adversário e impedi-lo de mudar de tema.
11. O tema honestidade é visto pelo eleitor de outra forma. O tema certo é CONFIANÇA.
12. A comunicação de campanha tem que mostrar que os valores do candidato são os mesmos do eleitor. Valores e crenças básicas são a base da campanha.
13. A linguagem do marketing político é a do marketing de valores e não do marketing comercial.
14. O eleitor vota racionalmente, embora com pouca informação. Ou seja: relaciona causa e efeito.
15. O centro é o alvo, não é o ponto de partida. Ou seja, se parte desde posições nítidas para se atingir espaços políticos de centro.
16. O voto mistura crenças e conjuntura. Esquecer quaisquer das duas é perder a eleição.
17. Não necessariamente divulgue a agenda. Só a que interessa.
18. As pesquisas mexem com o animus de campanha. E com o financiamento.
19. Não ataque diretamente. Use “ouvi falar”, “dizem”, “soube”, ou na TV locutor ou testemunhais.
20. Os ataques devem ser desconcertantes, surpreendentes. As agressões (gritos e palavras chulas) ofendem o eleitor.
21. Currículo não ganha eleição. O que ganha eleição é capacidade de desenvolver a campanha. É a campanha.
22. O eleitor vota pragmaticamente. Ele já sabe como usar as pesquisas. O voto útil é fundamental e já ocorre no primeiro turno.
23. Não ataque todas as candidaturas no primeiro turno. Você precisará de uma delas, pelo menos, no segundo turno.

23 de agosto de 2018

PROGRAMAS/COMERCIAIS ELEITORAIS NA TV, NO BRASIL, E AS LIMITAÇÕES PARA A COMUNICAÇÃO!

1. A professora e pesquisadora norte-americana Kathleen Jamieson, uma das mais importantes autoridades em comunicação política e autora de vários livros, realizou, no início dos anos 90, uma enorme pesquisa desde a Universidade da Pensilvânia sobre as eleições presidenciais norte-americanas de Kennedy a Clinton. Trabalhou com 5 mil pesquisadores.

2. No final, as conclusões da pesquisa foram publicadas em um livro com o nome “O que você pensa que sabe sobre política e por que você está errado”. Esse livro não foi ainda traduzido para o português.

3. Uma das conclusões mais importantes foi testar que tipo de comercial de trinta segundos é o mais efetivo sobre os eleitores. Jamieson agrupou os comerciais em três tipos: comerciais defensivos, comerciais negativos e comerciais de contraste.

4. Os comerciais defensivos são aqueles que os candidatos dizem o que fizeram, dizem o que pensam, enfim, falam bem de si mesmos e de seus governos ou de seus mandatos. Os comerciais negativos são aqueles que os candidatos atacam seus adversários, mostrando os erros em seus governos ou no exercício de seus mandatos.

5. Finalmente, os comerciais de contraste são aqueles que os candidatos, ao afirmarem suas posições, contrastam com as posições dos adversários sobre aquele tema. Os amplos testes feitos foram agrupados como conclusões. Os comerciais que menos efeito tem sobre a decisão de voto e a memória do que foi dito são os comerciais defensivos.

6. Os comerciais negativos criam certo desconforto no expectador quando são vistos. Mas depois disso, geram muito mais memória que os defensivos e têm muito maior efeito sobre o voto. Jamieson considera os comerciais defensivos fracos sobre o voto e a memória e os comerciais negativos regulares sobre voto e memória, mas de bem maior impacto que os defensivos.

7. Finalmente, os comerciais de contraste de longe são os que produzem maior impacto sobre a memória e a decisão de voto.

8. No Brasil, a legislação eleitoral proíbe os ataques de uns –em seus programas- sobre outros, especialmente com o uso da imagem dos adversários, coisa que é liminarmente proibida com perda de tempo de TV e direito de resposta. Dessa forma, proíbem, e por proibir, inibem os comerciais negativos e de contraste.

9. Sendo assim, abrem-se todas as portas e janelas para quem tem mais tempo de TV, pois pode falar a vontade de seus feitos –mesmo que ficcionais- e se sentem protegidos pela legislação. Com isso, com estas limitações, os eleitores ficam pouco informados diretamente pelos programas/comerciais eleitorais e ficam dependentes da imprensa.

10. Ou seja, a legislação termina estimulando a ficção eleitoral e a desinformação do eleitor –impedindo o debate publicitário entre candidatos. Para ativar a crítica ou o contraste, resta contar com a imprensa. Ou, agora, as redes sociais.

22 de agosto de 2018

OITO ESTRATÉGIAS ELEITORAIS!

Thomas Holbrook: Pensamentos selecionados de seu livro: “As campanhas são importantes?”

1. Como o valor da informação diminui com o aumento do volume de informações, os eventos que acontecem no início do período de campanha têm um potencial maior de influenciar os eleitores do que os eventos que ocorrem na parte final. “Lei” do rendimento decrescente das informações.

2. A opinião básica sobre os candidatos não vai mudar na fase final.

3. Os partidos na campanha não são fonte de informação. A campanha é centrada no candidato.

4. O eleitor conservador é mais constante que o de esquerda.

5. Os últimos a decidir (indecisos) não tendem a votar no candidato do governo.

6. Regra básica: nunca pise em sua própria história.

7. Debate só tem importância em disputa muito acirrada.

8. Expectativa de quem vai ganhar pode influenciar indecisos na reta final.

21 de agosto de 2018

“O DILEMA DO PORTO MARAVILHA”!

(Luiz Fernando Janot – Globo, 18) 1. No século passado, o Rio passou por grandes transformações urbanas. Arrasaram morros, criaram aterros, derrubaram casas, alargaram ruas, abriram avenidas, perfuraram túneis, construíram parques, praças e jardins; enfim, um conjunto de obras que fez do Rio a “Cidade Maravilhosa”. Após um período de marasmo, novas oportunidades surgiram com a realização dos Jogos Olímpicos. Havia grande expectativa quanto ao legado que esse evento deixaria para a cidade. A expansão do metrô, a criação das linhas do BRT, a implantação do VLT e a ampliação do Elevado do Joá fizeram da mobilidade urbana o principal legado.

2. Mas as obras que mais despertavam preocupação eram a derrubada do Elevado da Perimetral e a construção dos túneis subterrâneos para absorver o tráfego de veículos. Graças a tal iniciativa, foi possível reurbanizar a antiga região portuária e criar a Orla Conde, com sua bela paisagem litorânea desde a Praça Quinze até a Praça Mauá. Para viabilizar as obras do Porto Maravilha, a prefeitura elaborou uma sofisticada operação financeira destinada a captar recursos junto à iniciativa privada.

3. Criou os Certificados de Potencial Aditivo de Construção (Cepacs), que asseguravam aos seus adquirentes o direito de construir além dos parâmetros mínimos fixados para ocupação do solo. Ou seja, a possibilidade de edificar prédios com até 50 pavimentos. Apesar desse atrativo, ninguém se interessou em adquirir tais certificados nos leilões realizados. O fracasso dessa iniciativa obrigou a prefeitura a recorrer a políticos influentes para convencer a Caixa Econômica Federal a adquirir a totalidade dos certificados. Assim foi feito, e as obras puderam ser realizadas. Todavia, esses títulos permanecem até hoje encalhados, sem perspectiva de comercialização.

4. Equivocou-se a prefeitura ao privilegiar o viés econômico em detrimento dos conceitos de planejamento urbano utilizados para a ocupação gradativa de territórios com grandes dimensões. O imediatismo, mais uma vez, falou mais alto. Em consequência, os poucos prédios empresariais ali construídos permanecem desocupados, gerando um espaço inóspito no seu entorno.

5. Se não existia demanda para ocupar as salas vazias no Centro da cidade, como achar que aqueles imensos edifícios seriam ocupados simultaneamente? Na verdade, se tal ocupação ocorresse, estaríamos hoje assistindo ao esvaziamento irreversível do Centro Histórico da cidade. É preciso ficar claro que o desenvolvimento de uma localidade jamais pode ser feito à custa da decadência de outras.

6. Para superar essa encrenca, será preciso rever o quanto antes o plano de ocupação do Porto Maravilha à luz de critérios diferentes dos que foram utilizados. Uma das saídas seria privilegiar no novo projeto urbano a construção planejada de edificações residenciais tipologicamente diferenciadas e entremeadas por equipamentos comerciais com usos diversificados. Enquanto se planeja metodologicamente essa transformação, seria de bom tom retomar a construção do conjunto de edifícios de apartamentos e espaços comerciais que fazem parte do que foi chamado de Porto Olímpico, cuja obra se encontra paralisada desde que foi decidido transferir para a Barra da Tijuca todas as unidades residenciais relacionadas com a Olimpíada.

7. A recuperação desse interessante conjunto arquitetônico — resultante de um concurso de projeto organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil —ajudaria a resgatar a confiança dos investidores e proporcionar um novo alento para a ocupação progressiva da área. Não dá mais para insistir em soluções improvisadas ou invencionices de curto prazo, que não correspondem à realidade desse território.

8. Chega de pragmatismo de resultados imediatos. A cidade precisa voltar a ser pensada de maneira integrada, para evitar novas e desnecessárias decepções. O momento atual parece propício para incorporar ao planejamento urbano alguns projetos voltados para o desenvolvimento harmonioso dessa área privilegiada da cidade. Não há tempo a perder, é agora ou nunca.

9. Se não havia demanda para as salas vazias no Centro, como achar que aqueles imensos edifícios seriam ocupados ao mesmo tempo?

20 de agosto de 2018

30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO ESPANHOLA E 30 ANOS DA BRASILEIRA! 

(André Rufino do Vale, 11) 1. Neste ano de 2018, duas Constituições completam aniversário — 30 anos da Constituição do Brasil e 40 anos da Constituição da Espanha — enfrentando o desafio da sobrevivência em meio à circulação, na esfera pública, de vozes cada vez mais convictas no sentido de seu esgotamento como alicerce de unificação e pacificação social e de sua superação como documento normativo orientador da política.

2. É interessante rememorar que, em 1968, Brasil e Espanha viviam o auge de suas ditaduras. No Brasil, como se sabe, aquele ano ficaria marcado não apenas pela influência globalizante da revolução cultural em curso — como tão bem retratado no famoso livro de Zuenir Ventura—, mas sobretudo pelo acirramento da força do regime ditatorial — a “ditadura escancarada”, como qualificou Elio Gaspari—, cujo ápice está representado pelo Ato Institucional 5, do dia 13 de dezembro. Na Espanha, o regime autoritário do general Franco logo abafou as incipientes manifestações influenciadas pelos protestos estudantis da primavera francesa e deu continuidade ao seu plano desenvolvimentista (el plan de desarrollo). É curioso notar que, naquele ano, o grupo ETA produziu seus primeiros atentados, uma resposta terrorista ao excesso do regime.

3. A década posterior ao ano de 68 foi decisiva para os espanhóis. Após a morte de Franco, em 1975, o rei Juan Carlos assumiu a liderança do país com o difícil desafio de redemocratizar o Estado e pacificar uma sociedade que ainda sentia e vivia os reflexos da profunda divisão causada pela guerra civil de 1936-39. A Constituição da Espanha, de dezembro de 1978, nasceu como fruto de uma transição de regime em que, como qualificou seu maestro político, o então presidente de governo Adolfo Suárez, “fue posible la concordia” entre as radicalmente distintas forças e ideologias políticas (de esquerda e de direita), assim como entre as diversas culturas (inclusive suas distintas línguas) coexistentes no território espanhol. O objetivo primordial da denominada “Constitución de la concordia” foi assegurar “la indisoluble unidad de la Nación española, patria común e indivisible de todos los españoles”, garantindo ao mesmo tempo a autonomia dos povos das diversas regiões espanholas.

4. Após 40 anos, e muitos problemas superados — como o terrorismo do grupo ETA —, os recentes e crescentes movimentos políticos separatistas na região da Catalunha, intensificados em grande parte como reflexo da polêmica decisão Tribunal Constitucional espanhol de 2010, colocaram sérios desafios para a Constituição de 1978 como base política de unificação de um só povo espanhol, fazendo surgir no debate público as teses defensivas de sua completa superação. De fato, a Espanha passou a lidar nos últimos anos com o abrupto recrudescimento de um dos fatores que contribuem para a estabilidade da democracia, que é a manutenção de uma unidade política em meio ao pluralismo cultural, que no caso espanhol, como se sabe, é extremamente acentuado pelas nítidas diversidades regionais. Se a atual questão separatista levar a divisões profundas demais para serem superadas pelos mecanismos constitucionais previstos, a atual ordem constitucional espanhola estará em sério risco.

5. Os 30 anos da Constituição do Brasil de 1988 também têm servido de palco de controvérsias a respeito de sua capacidade para proporcionar o desenvolvimento de todo o potencial da democracia brasileira. A Constituição que permitiu a completa superação do anterior regime ditatorial e fundamentou, por três décadas, a convivência democrática das diversas forças políticas agora se vê fortemente criticada como uma das possíveis causas das graves crises políticas vivenciadas desde 88 — especialmente os impeachments de dois dos quatro presidentes eleitos no período —, sobretudo em razão de ter fornecido as bases para o desenvolvimento muito peculiar do sistema presidencialista (o denominado “presidencialismo de coalizão”).

6. A Constituição que é denominada de cidadã, por amplamente albergar as reivindicações por direitos fundamentais e inclusão de grupos e minorias, é alvo atual de contestações quanto ao possível excesso de promessas sociais que realizou e que, pelo tamanho das despesas obrigatórias que implica, a tornaria a principal responsável por uma dívida pública incontrolável e pela grave crise financeira que atinge União, estados, municípios e, portanto, afeta o seu próprio sistema federativo. A Constituição que alicerçou o funcionamento dos poderes estatais e possibilitou o desenvolvimento de modelos minimamente eficazes de checks and balances e de accountability horizontal entre eles, em especial pelo fortalecimento de instituições de fiscalização e de controle (Ministério Público, advocacia pública e Defensoria Pública, tribunais de contas), se encontra confrontada pelas teses que discutem sobre sua real (in)capacidade de conter (para muitos, ela seria a verdadeira influenciadora dos) os cada vez mais alegados fenômenos do “ativismo judicial”, dos “ímpetos autoritários” dos membros da polícia e do Ministério Público, do “excesso” dos órgãos de controle.

7. Em meio a todas essas vozes, cada vez mais eloquentes, é preciso relembrar que os problemas de um país, especialmente os possíveis déficits democráticos, dificilmente serão resolvidos com a confecção, no calor das circunstâncias, de novos arranjos constitucionais. Uma Constituição, assim como não é a única causa de crises políticas, econômicas e sociais, tampouco pode servir de projeto inovador para a solução dessas crises. Toda Constituição possui defeitos. Todos os arranjos constitucionais trazem alguma desvantagem política. Como lucidamente constatou Robert Dahl em um de seus principais estudos sobre as democracias contemporâneas: “De um ponto de vista democrático, não existe a Constituição perfeita”. Constituições possuem desenhos e modelos que, em algum momento histórico, poderão favorecer ou não o desenvolvimento das instituições e nortear o caminho para se sair das crises. De todo modo, manter os atuais desenhos institucionais ou modificá-los completamente pode não ter um efeito direto sobre crises se não for acompanhado de práticas políticas que criem condições para a democracia.

8. A tarefa primordial de uma Constituição democrática é oferecer o fundamento jurídico que estabeleça as balizas para o funcionamento regular dos poderes estatais e que permita o desenvolvimento, em todo o seu potencial, das instituições políticas e das condições favoráveis ao pleno florescimento da democracia: eleições livres, justas e frequentes, liberdade de expressão e amplo acesso à informação, liberdade e autonomia para as associações (partidos, sindicatos, grupos etc.), cidadania inclusiva, com adequada garantia de direitos e proteção das minorias, etc.

9. Uma breve visão retrospectiva das últimas décadas demonstra que, quanto ao cumprimento desses objetivos essenciais, as Constituições do Brasil e da Espanha foram exitosas. Todas as crises políticas e econômicas foram superadas dentro dos marcos constitucionais. A manutenção dos regimes democráticos nesses países, portanto, não está a depender de mudanças constitucionais totais ou radicais, mas do cultivo permanente de todas aquelas instituições políticas tidas como essenciais para a existência de uma verdadeira democracia. O fato é que ambos os países podem estar vivendo atualmente em um daqueles pontos de inflexão histórica, no qual devem enfrentar o sério desafio da preservação das democracias que conseguiram construir até o momento com fundamento nas Constituições de 1978 e de 1988. Ambas ainda oferecem as bases jurídicas suficientes para a continuidade do processo de consolidação de suas instituições políticas democráticas. Nos dois casos, requer-se mais prática política democrática do que novos projetos constitucionais.

10. A objeção a qualquer proposta de substituição completa da Constituição não significa, por outro lado, a inviabilidade de se levar a frente estudos sobre a sua capacidade normativa atual e análises sobre a real necessidade de reformas pontuais em seu texto, com vistas a revigorar periodicamente a sua força normativa. Esse, inclusive, é um conselho dado por Robert Dahl, quando assevera que “não seria má ideia se um país democrático reunisse mais ou menos uma vez a cada 20 anos um grupo de estudiosos, líderes políticos e cidadãos bem informados para avaliar sua Constituição não apenas à luz da experiência, mas também do corpo de conhecimentos em rápida expansão obtidos de outros países democráticos”.

11. No Brasil e na Espanha, 2018 é um ano propício ao desenvolvimento dessas reflexões e estudos aprofundados sobre as suas Constituições, inclusive para a proposição das reformas necessárias e pontuais, seguindo-se sempre os procedimentos previstos nos próprios textos. Enfim, democracias como Brasil e Espanha não precisam atualmente de novas Constituições, mas da persistência no contínuo processo de construção e consolidação das suas instituições democráticas, sobretudo por meio do cultivo das condições políticas, sociais e econômicas que favorecem o pleno desenvolvimento da democracia. Não há mais espaço para soluções radicais, de tudo ou nada, muito menos revolucionárias.

12. Nesse aspecto, Robert Dahl bem recorda que, “movido por seu otimismo em relação à Revolução Francesa e à norte-americana, Thomas Jefferson uma vez disse que seria bom haver uma revolução em cada geração”. Porém, como se sabe, “essa ideia romântica foi por terra durante o século XX pelas incontáveis revoluções que falharam trágica ou tristemente — ou, pior, produziram regimes despóticos”.

17 de agosto de 2018

A COMPETIÇÃO GEOPOLÍTICA ENTRE CHINA E ESTADOS UNIDOS NA AMÉRICA DO SUL!

(Matias Spektor, Professor de relações internacionais na FGV) 1. A competição geopolítica entre China e Estados Unidos chegou com tudo à América do Sul. O fenômeno não é novo, mas ganhou relevo com a visita do secretário de Defesa americano aos quatro grandes países da região —Brasil, Argentina, Chile e Colômbia.

2. A pergunta que importa é simples: como a disputa entre Washington e Pequim moldará o ordenamento regional sul-americano, e quem vem ganhando as primeiras rodadas?

3. A resposta passa pelos três mecanismos diplomáticos básicos que a China vem utilizando para comunicar suas intenções aos países da vizinhança. O primeiro diz respeito ao modo pelo qual a diplomacia chinesa demanda concessões dos governos sul-americanos.

4. O melhor exemplo recente foi a intricada operação da China em Brasília para abocanhar lotes do pré-sal e conseguir comprar um terço do setor elétrico brasileiro, além de boa parte da produção hidrelétrica nas fronteiras.  A negociação demandou dos chineses a capacidade de manter o fio da meada em meio à turbulência que derrubou Dilma e que levou Temer ao Palácio do Planalto.

5. O segundo mecanismo refere-se à forma como a diplomacia chinesa faz compromissos críveis capazes de levar seus parceiros sul-americanos à mesa. Aqui, o melhor exemplo é a costura elaborada pela embaixada chinesa em Buenos Aires para emplacar a construção de uma base de monitoramento de satélites e de segurança cibernética na Patagônia. A manobra demandou trabalho minucioso para evitar reação adversa da opinião pública e das Forças Armadas argentinas, que têm ojeriza à ideia de expor seu território ao radar dos Estados Unidos.

6. O terceiro mecanismo é composto pelos sinais que a China emite aos países da região quando sente seus interesses ameaçados pelos Estados Unidos. Ela avança e busca o conflito ou dá um passo atrás para evitá-lo?  A ilustração mais contundente é a decisão chinesa de reduzir seu apoio ao regime venezuelano depois que os desmandos do governo Maduro atiçaram a atenção do Congresso americano.

7. A explicação parece simplista, mas não é o caso. O futuro geopolítico da América do Sul será, em grande medida, uma função desses poucos mecanismos de sinalização adotados pela China (e da reação a eles dos países da vizinhança).

8. A verdadeira notícia da semana, portanto, não é fala do chefe do Pentágono na Escola Superior de Guerra, mas a dificuldade americana de responder à escolha chinesa de fazer demandas moderadas, entregar promessas e recuar de situações conflituosas.

9. A entrada de uma potência no quintal de outra é sempre conflitiva. Pelo menos até agora, a China tem uma estratégia ganhadora.

16 de agosto de 2018

RELATÓRIO DA APRESENTAÇÃO DO LIVRO DE CESAR ZUCCO E DAVID SAMUELS SOBRE PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL! 

Por Antônio Mariano presidente da juventude do DEM-RJ – 14 de agosto na Livraria Blooks.

Partidos importam minimamente para os políticos.

Nos últimos 30 anos, há uma parcela significativa da população que diz sentir simpatia por algum partido. A curva do PT foi crescente e do PSDB decrescente.
Os mesmos atributos encontrados em pessoas partidárias, são encontradas em pessoas não partidárias, mas ao contrário.

Se você é partidário e não tem opinião sobre algum tema, muito provavelmente terá a mesma opinião do partido.

A Argentina tem a maior média de antipartidários no mundo. A média mundial é de 46% da população.

Não existem diferenças claras entre petistas e anti-petistas quando observamos o perfil socioeconômico.

Todo petista é lulista, mas nem todo lulista é petista.

Petista geralmente é engajado politicamente e na sociedade civil organizada. Mas os lulistas não.

O partidarismo sobe e desce em função da economia.

Se um grupo quiser ganhar uma eleição e não estiver em um partido, terá de fazer um grande esforço para conseguir convencer a população a pagar esse preço. Apenas o PODEMOS, na Espanha, conseguiu fazer isso.

Antipartidário no Brasil não necessariamente anula o voto. Ele não foge da política.
Nada indica que Bolsonaro carrega seus votos e transforma como uma organização no longo prazo. Está mais para fenômeno eleitoral.

Há 20 anos que a média ideológica não muda no Brasil. De 0 e 10, sempre fica em torno de algo entre 5 e 6.

Se você não identificar atitudes como petistas ou tucanas, o nível de discordância entre petistas e não petistas cai muito.

Entre 2013 e 2016, PT perdeu filiados e simpatizantes. Mas desde que passou para a oposição, a curva volta a crescer.

Lula talvez só consiga transferir metade de seus votos.