17 de janeiro de 2019

INSTITUIÇÃO TOTAL! 

1. Jornal Nacional de 15/01/2019: O ministro da secretaria de governo general Carlos Alberto dos Santos Cruz disse que a incorporação de militares na gestão federal é um aumento de responsabilidade. O militar tem uma característica, ele faz parte de uma das instituições chamada “Instituição Total. Quando ele faz uma coisa errada, ele não faz só para ele, ele denigre toda a instituição. Então, nossa responsabilidade é muito grande. Só isso”, disse.

2. Frank D. McCann, em seu consagrado livro “SOLDADOS DA PÁTRIA: História do Exército Brasileiro 1889-1947”, desenvolve o conceito de Instituição Total aplicada ao Exército Brasileiro, a partir das páginas 16 e 17. Segue o texto transcrito:

3. “Por sua própria natureza, um Exército é diferente de outras instituições sociais. Como principal agente da violência do Estado, destaca-se e possui características especiais como organização social. Um Exército é uma INSTITUIÇÃO TOTAL, no sentido do termo empregado por Erving Goffman: seus membros distinguem-se de outros que seguem estilos de vida diferentes. Uma “característica central das instituições totais” é a ruptura das barreiras que separam as três esferas da vida – sono, lazer e trabalho – por meio do controle de onde, quando e como elas ocorrem.

As INSTITUIÇÕES TOTAIS tendem a separar seus membros da sociedade circundante e empurrá-los para uma rotina rigorosamente controlada segundo um “único plano racional pretensamente formulado para atender aos objetivos oficiais da instituição”. Instituições desse tipo compõem-se de pessoas divididas em um numeroso grupo de indivíduos dirigidos e um pequeno grupo de supervisores, com pouca mobilidade social entre eles e modos específicos de lidar uns com os outros.

As INSTITUIÇÕES TOTAIS socializam seus membros de maneiras específicas que moldam seu pensamento, autoimagem e comportamento. Obviamente seria de esperar que uma instituição total no Brasil reflita aspectos da cultura brasileira que a distinguem de instituições semelhantes em outros países.

16 de janeiro de 2019

OS JORNAIS COMO PLATAFORMA PARA AS REDES SOCIAIS!

Ex-Blog de 16 de março de 2017.

1. Décadas atrás, uma matéria num jornal ou revista que interessava a um político ou um grupo político, tinha que ser recortada e mostrada ou, na melhor hipótese, o interessado comprava vários jornais. Os políticos tinham seus jornais de forma a tratar uma matéria –críticas, denúncias, elogios…- multiplicando pela própria distribuição da edição de seu jornal ou comprando espaços nesse ou naquele jornal. Esse caminho –muito usado- era e é de baixa credibilidade.

2. Antes, os grandes jornais não precisavam se preocupar com o uso que seria feito das matérias publicadas. Afinal, o multiplicador era a própria edição e tiragem do jornal. O multiplicador –uso ou abuso- externo era de pequeno ou nenhum impacto. Depois, o multiplicador aumentou com o uso da xerox ou a transformação de uma certa matéria de jornal em panfleto. Aumentou, mas a edição original e a sua tiragem continuavam sendo, de longe, o principal multiplicador.

3. Antes, uma matéria de jornal ou revista lida ou vista pelos leitores era ampliada pelos leitores múltiplos. Quantas pessoas liam o que interessava dos jornais e revistas comprados por outros? Revistas na sala de espera dos escritórios e consultórios são outro exemplo. A leitura dos jornais pendurados nas bancas de jornais multiplicavam apenas o que saía na capa, e para um público localizado.

4. A internet e as redes sociais mudaram radicalmente essa proporção entre matérias publicadas em jornais ou revistas e a sua multiplicação. Uma matéria de interesse político, uma vez reproduzida nas redes sociais, passa a ter um alcance muito maior que a tiragem do jornal ou revista que lhe deu origem.

5. Uma pequena notícia em página interna sem destaque, desde que seja de interesse político, pode gerar uma quantidade de leitores maior que a tiragem da edição original, através do multiplicador das redes sociais. Nesse sentido, os multiplicadores das matérias nas redes sociais são editores –reeditores- dos próprios jornais.

6. Os blogs de jornalistas são exemplos disso. Multiplicam, fora da edição formal do jornal, notícias que podem circular mais que a tiragem de origem.

7. O famoso editor do Nouvel Observateur dizia, anos atrás, que os Editoriais dos jornais eram a consciência de culpa dos noticiários dos próprios jornais. Se antes era assim, hoje o multiplicador das notícias pelas redes sociais tiraram do controle dos editores o que, do conteúdo publicado, terá maior ou menor impacto de opinião pública.

8. Se é assim, o controle interno de conteúdo nos jornais tende a ser crescentemente maior. Quando se diz que os jornais devem cada vez mais ter matérias de opinião, na prática isso significa não pulverizar o noticiário com a independência dos repórteres, porque perderiam o controle do multiplicador e até antagonizando com a linha editorial.

9. Num seminário recente, um debatedor dizia que os jornais estão se transformando em plataformas para as redes sociais. Será?

15 de janeiro de 2019

“A EXTENSÃO DA CRISE”! E OS RISCOS!

(Editorial Estado de S.Paulo, 14) 1. Espera-se que a pequena melhora da arrecadação pelos governos estaduais não estimule nova onda de gastança. O fato de que nem neste ano a maioria dos Estados, em particular os mais desenvolvidos, terá conseguido recuperar o que perdeu com a crise iniciada em 2014 dá uma boa noção da gravidade dos problemas econômicos que o País enfrentou a partir do ano da reeleição da presidente cassada Dilma Rousseff.

2. A desorganização da economia causada pelas políticas implementadas no primeiro mandato de Dilma produziram seus efeitos mais danosos durante o início de seu segundo mandato, em boa hora interrompido pelo impeachment aprovado pelo Congresso Nacional em agosto de 2016. Mas o País ainda paga pelo desastre dilmista.

3. Como mostrou reportagem do Estado, apenas 6 das 27 unidades da Federação conseguirão alcançar no fim deste ano o nível de produção que tinham no fim de 2014. Só no ano que vem, ou no seguinte, São Paulo e outras unidades que concentram o maior número de indústrias superarão os efeitos da recessão provocada pela gestão lulopetista.

4. Com base em levantamento realizado pela Tendências Consultoria Integrada, a reportagem mostrou que, graças ao desempenho do setor privado, as economias do Pará, Roraima, Mato Grosso, Santa Catarina, Rondônia e Mato Grosso do Sul alcançarão ou superarão, no final deste ano, o nível de 2014. Com exceção de Santa Catarina, são Estados cujas economias são fortemente marcadas pela produção agropecuária ou pela mineração.

5.  A consultoria responsável pelo levantamento observa que, no caso de Roraima, a entrada de venezuelanos que fogem do colapso econômico de seu país terá efeito importante na atividade econômica estadual, a despeito dos imensos problemas sociais e humanitários que eles trazem consigo.

6. A recuperação dos níveis de produção de cinco anos atrás é um fato positivo para as populações desses Estados. Mas ainda é insuficiente para livrar a maioria dos governos dessas unidades federativas dos graves problemas fiscais que lhes tolhem as iniciativas e criam riscos reais de descumprimento de exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Nem o aumento da arrecadação decorrente do crescimento das economias estaduais permitirá, na maioria dos casos, que as despesas com a folha de pessoal se enquadrem nos limites da LRF.

7. Dos seis Estados com melhor desempenho econômico, quatro já gastam com o funcionalismo mais do que o teto de 60% da receita corrente líquida fixado pela LRF. Um deles, Roraima, deve terminar 2019 com o Produto Interno Bruto (PIB) 5% maior do que o de 2014, mas está sob intervenção federal por causa do descontrole das finanças estaduais e da crise na segurança pública.

8. Entre os governos das 21 unidades da Federação que nem neste ano conseguirão superar as perdas impostas pela recessão, também há vários com sérios problemas fiscais e com gastos com pessoal perto do limite fixado pela legislação ou acima dele. O Nordeste, por exemplo, abriga os Estados cuja recuperação tem sido mais lenta. Em geral, as economias desses Estados dependem mais pesadamente de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, que sofreram os efeitos da profunda crise financeira enfrentada pelo governo federal.

9. Segundo a Tendências, 26% da renda familiar do Nordeste vem do Bolsa Família e das aposentadorias pelo regime do INSS. “Com a crise do setor público, o que era impulso positivo virou negativo”, observou o economista da Tendências Adriano Pitoli.

10. Estados mais industrializados, com os da Região Sudeste, foram mais afetados pela recessão e estão se recuperando em ritmo mais lento. O levantamento da Tendências indica que a economia paulista, que responde por cerca de um terço do PIB nacional, só voltará ao nível de antes da crise em 2020 ou 2021. Os gastos do governo paulista com o funcionalismo estão abaixo do teto de 60% da receita líquida, mas já superaram o limite de alerta de 54%.

11. O que se espera é que a pequena melhora da arrecadação alcançada pelos governos estaduais não estimule nova onda de gastança.

14 de janeiro de 2019

PRÉ-SAL: O “SHALE” BRASILEIRO!

(Adriano Pires – Estado de S. Paulo, 12) 1. Estamos diante de um momento ímpar e inédito para o setor de óleo e gás (O&G) brasileiro. A consolidação da exploração e da produção no pré-sal pode colocar o País diante de uma oportunidade histórica para a redenção da economia brasileira.

2. Nos últimos anos os EUA, a partir da descoberta e da viabilização das reservas de shale, mudaram não só o cenário econômico do país, mas também a geopolítica global do mercado de óleo e gás. A disparada do preço do petróleo, em 2011, foi determinante para impulsionar o shale gas/oil americano, que tinha um alto custo para exploração. O resultado foi um aumento de mais de 60% na produção de petróleo dos EUA em apenas cinco anos, entre 2009 e 2014, quando o país superou Rússia e Arábia Saudita e passou a ser o maior produtor do mundo.

3. Com a queda brusca no preço do petróleo, entre 2014 e 2016, muitas empresas faliram por não conseguir reduzir os custos de exploração, levando a uma consolidação do mercado. Nesse período, investimentos em pesquisa e desenvolvimento foram feitos e a indústria americana precisou se adaptar para sobreviver, reduzindo o custo de exploração/produção do shale.

4. O protagonismo assumido pelos EUA influenciou todo o mercado, pois sua produção passou a ser capaz de compensar parcialmente as reduções acordadas entre os países-membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), muitas vezes com participação da Rússia, que visam ao aumento da cotação internacional do petróleo. Com isso, a influência da organização ficou limitada e os EUA passaram a ser uma ameaça ao já consolidado market share dos principais exportadores.

5. Além de mudar a dinâmica do mercado de petróleo, o shale americano transformou o país no maior produtor mundial de gás natural em 2011. Por ter uma malha de gasodutos altamente desenvolvida, com quase 5 milhões de km de extensão, o setor foi capaz de expandir o mercado nacional e dar vazão à crescente oferta.

6. O gás natural substituiu o carvão, na geração elétrica, no setor industrial e no setor de transportes, este sob forma de Gás Natural Liquefeito (GNL), como combustível para caminhões, ônibus, navios e trens. A maior disponibilidade de gás natural também trouxe de volta o crescimento do setor petroquímico americano, que passou a ter competitividade e segurança no abastecimento. O crescimento do setor de O&G atraiu grandes investimentos, como os US$ 20 bilhões divulgados pela Exxon em 2018, destinados a instalações no Golfo do México.

7. O montante, que será distribuído pelos próximos dez anos, envolve a expansão de diversas indústrias, desde refinarias até fábricas de lubrificantes e plantas de GNL. A empresa estima mais de 45 mil novos postos de emprego. Se aprendermos com a experiência americana, o pré-sal no Brasil pode ser uma grande oportunidade para a sociedade brasileira sair da crise econômica e social enfrentada nos últimos anos e entrar num ciclo virtuoso.

8. Para isso, é preciso ter senso de urgência e acelerar mudanças regulatórias e jurídicas que incentivem investimentos na exploração, produção e infraestrutura de óleo e gás. Ao mesmo tempo, criar mercados capazes de absorver o aumento da produção, como investimentos em refino e novos mercados consumidores de gás natural. Os investimentos privados vão mudar o perfil das refinarias brasileiras. Isso porque o óleo do pré-sal e as exigências ambientais levarão a uma maior produção de nafta, trazendo maior competitividade para a indústria petroquímica.

9. Por sua vez, o gás natural vai ser mais consumido na geração de eletricidade; na indústria, no comércio e nas residências; e como combustível para o setor de transportes. Estima-se que a produção brasileira possa atingir um patamar superior a 5 milhões de barris/dia nos próximos dez anos, quase o dobro do registrado em 2018. Deste total, o pré-sal poderá representar mais de 80%. Não vejo no horizonte dos próximos 20 anos nenhum setor da economia que possa aumentar arrecadação, gerar empregos e atrair investimentos como o de óleo e gás. Não podemos nem devemos perder essa oportunidade.

11 de janeiro de 2019

OS GRANDES ECONOMISTAS! 

(BBC, 06) 1. No livro The Great Economists (Os grandes economistas, em tradução livre para português) a economista e jornalista britânica-americana Linda Yueh explica os pensamentos-chave que distinguiram esses e outros nove economistas, e o que eles podem nos ensinar sobre o mundo atual.

2. Em entrevista para a revista BBC History, Yueh destacou que, ainda que os 12 especialistas tenham pensamentos muito distintos – e em alguns casos opostos – todos têm algo em comum. “Todos eles observaram os desafios econômicos mais importantes de sua época, os examinaram, analisaram e encontraram formas de nos ajudar a entender melhor o que estava ocorrendo. E o mais importante ainda, nos explicaram o que podia ser feito a esse respeito”, afirma a autora.

3. Assim, por exemplo, Adam Smith se preocupou como a Revolução Industrial afetava a motivação das pessoas e seu sustento econômico. John Maynard Keynes focou a busca pelo fim da Grande Depressão.

4. A obra também cita contribuições de David Ricardo, Alfred Marshall, Irving Fisher, Joseph Schumpeter, Friedrich Hayek, Joan Robinson, Milton Friedman, Douglass North e Robert Solow.

5. Todos esses economistas também abordaram certos temas em comum, principalmente o crescimento econômico. “Não apenas como crescer economicamente mas também a qualidade do crescimento econômico, a fim de que melhore a vida de todos”, diz a autora da obra.

6. O livro de Yueh surpreende ao revelar como alguns problemas econômicos que parecem modernos são, na realidade, históricos. Por exemplo, a desigualdade. Em finais do século 19, esse era um tema que despertava o britânico Alfred Marshall, professor da Universidade de Cambridge, que se dedicou a refletir sobre como eliminar a disparidade salarial sem afetar a prosperidade econômica.

7. Em sua grande obra, Princípios de Economia, de 1890, Marshall enfatizou que as diferenças de renda são um fator-chave que condicionam o desenvolvimento econômico. E para entender como melhorar a distribuição da riqueza, tentou transformar a economia em uma ciência prática, buscando formas de influir nos movimentos do mercado para que melhorasse o rendimento do capital e o bem-estar social geral concomitantemente.

8. O problema dos baixos salários também vem sendo abordado há quase um século. Uma das primeiras pessoas que analisou o fenômeno foi a economista britânica Joan Robinson, a única mulher que faz parte da lista de Linda Yueh. “Mulheres são apenas um quinto dos economistas do mundo “, diz Yueh. Analisando o que ocorreu depois da Grande Depressão, Robinson criou o modelo de “competência imperfeita”, que ajuda a explicar por que o mercado de trabalho funciona de forma defeituosa, gerando baixos salários e desemprego.

9. Afastando-se das teorias de economia clássica, que sustentam que os mercados funcionam perfeitamente, baseados na oferta e demanda, Robinson mostrou que quando há monopólios, as empresas podem explorar seus trabalhadores, reduzindo seus salários. Como solução, propôs introduzir concorrência, para que qualquer empresa que explore um trabalhador corra o risco de perdê-lo para outra empresa.

10. O primeiro economista citado no livro é Adam Smith, considerado o “pai do capitalismo”. “O que fez Adam Smith com sua obra seminal A Riqueza das Nações (1776) foi melhorar o entendimento de como funciona uma economia industrial”, algo que estava recém surgindo à época. O escocês foi o primeiro a explicar conceitos econômicos como preço, produção, distribuição, finanças públicas, comércio internacional e crescimento econômico. “Por isso, se converteu na base da economia desde então”, afirma a pesquisadora Yueh. Smith não apenas explicou como funcionava a nova economia industrial mas também como ela afetava os trabalhadores. Assim como outros economistas incluídos no seu livro, seus pensamentos seguem sendo relevantes ainda hoje. “Suas teorias continuam servindo para entender como funciona o mercado e o papel do Estado. E nos ajuda a entender quando devemos estar preocupados e como devemos entender a balança comercial e os déficits comerciais, coisas que ainda são debatidas hoje”, defende a autora de The Great Economists.

11. O livro também aborda outro economista muito famoso: o alemão Karl Marx, que completou 200 anos de nascimento em 2018. A BBC History questionou Yueh sobre o que pensaria o ideólogo do comunismo sobre a China, o país comunista que mais teve êxito na história. “Não tenha certeza de que Marx reconheceria que a economia chinesa de hoje adere a seus princípios”, responde. O Partido Comunista chinês seguiu o marxismo por um tempo, antes da ruptura com a União Soviética, depois da Segunda Guerra Mundial, mas tudo mudou com “a introdução das reformas de mercado em 1978”, afirma Yueh.

12. A autora avalia que Marx poderia ter considerado “curioso” o que ocorre quando se introduz o capitalismo em um país com um sistema político comunista, “mas, segundo seus conceitos, não podia coexistir o capitalismo com o comunismo”.

13. Segundo a autora de The Great Economists, o último economista em sua lista, o americano Robert Solow, poderia nos ajudar a resolver um dos principais problemas econômicos atuais, que afeta nosso futuro próximo: a estagnação econômica.

14. O crescimento econômico diminuiu desde a crise financeira de 2008 e, nesse contexto, explicou, muitos temem converter-se em um Japão – um país rico que pode nunca se recuperar por completa de sua própria crise financeira, nos anos 1990.

15. O “modelo de crescimento” de Solow, que analisa a relação entre a produtividade, a capacitação do trabalhador e o investimento, “poderia nos dar as respostas para sair do problema”, defende Yueh.

10 de janeiro de 2019

PREGAÇÃO, SERMÃO, DISCURSO! PADRE ANTÔNIO VIEIRA! A SEXAGÉSIMA!

Ex-Blog de 10/04/2012.

1. O Islã afirma que a maior virtude de um mulçumano é ensinar o Alcorão aos demais. Os apóstolos de Cristo só pregavam aos Judeus, até que Paulo questionou e Pedro ouviu uma voz que lhe dizia o mesmo: pregue a todos. São Paulo e Santo Agostinho diziam que a salvação vem da fé, mais que da doutrina ou dos livros.

2. Só crescem as organizações que pregam, que saem de si para fora, para outros. Essa é a razão do crescimento do Islamismo e foi a do Cristianismo por séculos. Hoje, dentro do Cristianismo, crescem mais as Igrejas de pregação externa, como os Evangélicos, e menos as de pregação interna como -em geral- os Protestantes e Católicos.

3. O mais importante pregador da Igreja Católica em língua portuguesa foi Padre Antônio Vieira, com seus Sermões, ouvidos, dentro e no entorno das Igrejas. Em seu famoso Sermão – SEXAGÉSIMA – Padre Antônio Vieira dá uma aula de como Pregar. Diz ele:

4. ‘Um Sermão é constituído pela Pessoa (o pregador), a Ciência (doutrina), a Matéria (sobre o que se vai pregar), o Estilo de quem prega e a Voz (suas nuances). O fundamental num pregador é sua vida, seu exemplo. O que realmente semeia ao pregar é a ação. Para falar ao coração, são necessárias Obras.

5. As palavras entram pelos ouvidos e as obras entram pelos olhos. Devemos pregar aos olhos com obras. O estilo há de ser muito fácil e natural. Por isto, Cristo comparou o pregar ao semear. Que diferente é o estilo violento e tirânico que hoje se usa ao falar.

6. A queda é para as coisas, a cadência é para as palavras. As palavras são as estrelas; os sermões são a composição, a ordem, a harmonia e o curso delas. O estilo da pregação deve se mostrar distinto, e muito claro.

7. O sermão há de ter um só assunto e uma só matéria.  Se se semeia muita variedade não se pode colher coisa certa. No sermão a variedade nos discursos deve nascer da mesma matéria. Como uma árvore que tem tronco, ramos, folhas, frutos, mas a matéria é uma só. Se tudo são troncos não é sermão, é madeira, se tudo são flores não é sermão, são ramalhetes…

8. O pregador há de pregar o seu e não o alheio. O alheio é bom para comer, mas não para semear.  Com armas alheias ninguém pode vencer. Não servem todas as línguas a todos, senão cada um a sua.

9. As palavras de Deus pregadas no sentido que Deus lhas deu, são palavras de Deus. Mas pregadas no sentido que queremos dar, não são.

10. Há sermões que são comédia e há os que são farsa (voz muito afetada, muito polida, requintar finezas, lisonjear precipícios…).

11. Sermões para gostarem ou não gostarem os ouvintes. Que médico repara no gosto do cliente?’

09 de janeiro de 2019

“GUIA PARA ENTENDER CRISTÃOS ORTODOXOS, COOPTAS, ARMÊNIOS, SIRÍACOS E ETÍOPES”! 

(Guga Chacra – Globo-On, 07) Não é comum se falar no Brasil do cristianismo oriental. Muitos brasileiros não sabem que existem igrejas cristãs antigas e pensam que há apenas o catolicismo e as denominações protestantes e evangélicas. Mas centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo seguem o cristianismo ortodoxo, igrejas autocéfalas orientais e algumas igrejas em comunhão com o catolicismo, mas de rito distinto. Neste dia 7, algumas destas vertentes antigas do cristianismo celebram o Natal.

Primeiro, no entanto, vale dividir as igrejas orientais em três blocos. Primeiro, há as autocéfalas, sem comunhão com outras. São os coptas, os armênios, os siríacos e os etíopes. Todas igrejas antigas. Os primeiros se concentram no Egito, onde representam 10% da população. Os armênios, por sua vez, historicamente são da região onde se localiza hoje a Turquia e o país Armênia, mas com diáspora por países áreas do Oriente Médio como a Síria, Líbano, Israel e Palestina, além de países como EUA, Argentina, França e Brasil. Os siríacos se concentram na Síria e no Iraque, embora sejam minoritários mesmo entre os cristãos em ambos países. E os etíopes, claro, são da Etiópia e de algumas nações limítrofes. Eles ficaram independentes da Igreja Copta.

O segundo grupo seria o cristianismo Ortodoxo, que muitas vezes chamamos de grego-ortodoxo. Há diferentes patriarcados ortodoxos que são independentes entre si, mas estão em comunhão e consideram o patriarca de Constantinopla (Istambul) o primeiro entre os iguais. Alguns dos patriarcados ortodoxos ficam no Oriente Médio, como o de Alexandria (Egito), Jerusalém e o Antioquino, atualmente com sede em Damasco, na Síria. A Igreja Russa Ortodoxa, que é a maior de todas em número de fiéis, não sente mais que o patriarca de Constantinopla seria o primeiro entre os iguais e coloca o de Moscou em um patamar superior. A relação entre os dois se deteriorou ainda mais nesta semana quando Constantinopla reconheceu a Igreja Ortodoxa Ucraniana como um patriarcado independente em Kiev. Os russos não aceitaram a decisão e consideram a Igreja Ucraniana como parte da russa.

O terceiro grupo é composto por igrejas do Oriente em comunhão com o catolicismo, como a Caldeia (Iraque), Maronita (Líbano), além daquelas que seguiam as religiões do primeiro grupo, mas passaram a respeitar a autoridade papal, como os coptas e os armênios católicos, assim como os que mantém o rito ortodoxo, mas seguem o Vaticano, como os grego-católicos, também conhecidos como melquitas.

As Igrejas Armênia, Siríaca, Copta, Etíope e algumas ortodoxas, como a Russa e a de Jerusalém, celebram o Natal pelo calendário Juliano, em 7 de janeiro. Há algumas ortodoxas como a Antioquina, a de Alexandria e a de Constantinopla que adotaram o calendário Gregoriano para o Natal e celebram em 25 de dezembro. As em comunhão com o Vaticano seguem obviamente marcam a data no mesmo dia. Na Páscoa, porém, as Igrejas Ortodoxas de Constantinopla, Alexandria e Antioquina seguem o calendário juliano.

Em Jerusalém, onde há múltiplas igrejas, embora os grego-ortodoxos e os armênios oficialmente marquem o Natal no 7 de janeiro, eles concordaram em celebrar com os católicas e denominações em comunhão com o catolicismo no 25 de dezembro em Belém, uma cidade palestina cristã. Já os católicos cedem na Páscoa e esta é celebrada no calendário Juliano, seguindo a tradição armênia e a grego-ortodoxa e evitam assim que haja o risco de a data cair na mesma época da Páscoa judaica. Em Beirute, onde há o maior número de cristãos de diferentes denominações antigas, todos os Natais e Páscoa são feriados nacionais, inclusive para os muçulmanos – muitos sunitas e xiitas celebram de forma laica o Natal com ceia, árvores e até Papai Noel.

No Brasil, há muitos armênios e grego-ortodoxos. Os primeiros oficialmente têm o Natal no 7 de janeiro. Já os ortodoxos, por serem majoritariamente da Síria e do Líbano e portanto de rito antioquino, celebram no 25 de dezembro. Na cidade de São Paulo, há igrejas ortodoxas, armênias, armênia-católicas, siríacas e melquitas. Por ser neto de libanês cristãos grego-ortodoxo com uma cristã grego-católica (melquita), no meu direito à cidadania libanesa estou registrado como grego-ortodoxo, porque pela lei do Líbano deve sempre ser seguida a linhagem paternal – o país, por dividir o poder entre as diferentes religiões, coloca no documento à qual pertence o cidadão, ainda que este não seja religioso.

08 de janeiro de 2019

ARGENTINA, URUGUAI E BOLÍVIA: PRINCIPAIS ELEIÇÕES NA AMÉRICA LATINA EM 2019!

(Sylvia Colombo – Buenos Aires – Folha de S.Paulo, 06) As três principais eleições da América Latina no ano de 2019 colocam em xeque projetos de continuidade, alguns mais, outros menos exitosos em países importantes da região.

A segunda maior economia da América do Sul, a Argentina, tem seu primeiro turno em 27 de outubro, e é o pleito mais incerto dos três, uma vez que o país acaba de cair num processo de recessão, começa o ano com uma inflação beirando os 50%, um pacotaço de aumentos de tarifas e de ajustes em orçamentos públicos programados para os primeiros três meses e uma dívida de US$ 57 bilhões com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

Caso consiga manter ilesa ou não tão dilapidada sua aprovação popular (por ora de 30%) até o meio do ano, o candidato governista deve ser o atual mandatário, Mauricio Macri, que já anunciou que quer a reeleição.

No caso da tensão social se elevar, segundo fontes da Casa Rosada, o governo pode optar por escolher um sucessor mais afastado da área econômica e com maior carisma, como a governadora da província de Buenos Aires, María Eugenia Vidal, ou o chefe de governo da capital, Horacio Rodríguez Larreta, que é bem avaliado pelos portenhos.

Pelo menos dois candidatos enfrentarão Macri, atacando justamente pelo flanco da crise econômica e da recessão, que devem afetar principalmente os mais pobres.

São aqueles que, na tradição argentina, mais se identificam com as causas populares e a justiça social: os peronistas. Como já ficou demonstrado em outras eleições, porém, há muitas divisões internas e dificilmente eles jogarão com uma só candidatura.

Neste momento, é possível afirmar que haverá ao menos duas. Um nome sairá do chamado “peronismo moderado ou alternativo”, mais de direita, que tem muita força nas províncias, já que o grupo governa muitas delas.

Disputam estar à frente dessa candidatura Sergio Massa; o líder do Senado, Miguel Ángel Pichetto; e o governador de Salta, Juan Manuel Urtubey. Os três disputarão as primárias, em agosto.

A segunda força de oposição será o kirchnerismo e aliados, liderados pela senadora, ex-presidente e pré-candidata Cristina Kirchner. Se ela confirmar seu interesse, e se nenhuma das ações que enfrenta na Justiça a impedir, não haverá primárias dentro da força, porque as organizações sociais e os integrantes de seu partido, o também peronista Unidade Cidadã, defendem a sua candidatura.

Com os pré-candidatos que já se apresentaram, estão sendo feitas pesquisas. A do Instituto Isonomía, um dos mais confiáveis do país, aponta que a disputa de um segundo turno entre Macri e Cristina é o que a maioria dos argentinos quer ver, uma espécie de Boca x River que nunca aconteceu.

Os números do Isonomía mostram que Mauricio Macri e Cristina Kirchner passariam a um segundo turno, mas que, por ora, o atual presidente ganharia por sete pontos percentuais de vantagem.

Outro cenário, de que Macri não gosta muito, é o de um segundo turno entre María Eugenia Vidal e Cristina. Neste, os números da pesquisa dão vitória mais folgada, de Vidal ante Cristina, com 14 pontos percentuais de diferença.

Do outro lado do rio da Prata, e no mesmo 27 de outubro, disputa-se o primeiro turno da eleição uruguaia, país governado pela centro-esquerdista Frente Ampla nos últimos 15 anos e um dos únicos da região a ter mantido crescimento econômico constante no período.

Neste cenário, não seria difícil imaginar uma fácil reeleição da Frente Ampla, que está no poder desde 2005. No entanto, o partido se encontra numa encruzilhada.

Trata-se de uma coalizão de forças de esquerda e de centro-esquerda em que os jovens têm pouca projeção. As figuras mais conhecidas estão em idade avançada, como ambos os presidentes do período e o homem-chave do bom desempenho na economia, Danilo Astori, 78. Ele tem ainda aspirações de ser presidente, mas a idade avançada pode complicar sua escolha.

As opções mais mencionadas por ora são o atual prefeito de Montevidéu, Daniel Martínez, 61, que já se anunciou pré-candidato e é de centro-esquerda, e a preferida de Mujica, Carolina Cosse, 57, da ala “tupamara” —guerrilha urbana a que pertenceu o ex-presidente— da Frente Ampla.

Pelo lado do Partido Nacional, deve voltar a concorrer o liberal Luis Lacalle Pou, 45, filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle. Já o Partido Colorado, que se posicionava mais à esquerda no passado, passou por uma fase direitista e agora está se renovando completamente.

Por ora, com tantas peças faltando, não há pesquisas de intenção de voto no Uruguai.

O terceiro país importante a ir às urnas é a Bolívia, outro caso de sucesso na área econômica da região. Há mais de uma década, este que sempre esteve entre os países mais pobres das Américas vê seu PIB (Produto Interno Bruto) crescer a uma média anual de 5%.

Mesmo com o fim do boom das commodities registrado na década passada, a Bolívia conseguiu se manter como provedor de gás natural a distintos países, diversificou sua produção e abriu-se para investimentos estrangeiros, principalmente da China e dos EUA, com grande ênfase na mineração.

“Tínhamos sempre essa ideia de que na economia íamos ser pragmáticos, e na política, ideológicos. Para garantir que o boliviano soubesse que sua ascensão social é para valer e que não havia possibilidade de retorno a uma situação de pobreza”, disse o atual vice-presidente Álvaro García Linera.

O sucesso econômico é elogiado pela comunidade internacional. Por outro lado, o país vem sendo alvo de críticas internas e externas com relação à manobra que tenta fazer o presidente Evo Morales, no poder desde 2006.
Morales quis mudar o artigo da Constituição para permitir que se candidatasse a um quarto mandato. A proposta foi derrotada em referendo, em fevereiro de 2016.

Como última cartada, o presidente evocou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, segundo a qual não se pode impedir um cidadão de se candidatar.

O Tribunal Constitucional da Bolívia aceitou o argumento, e a chapa Evo Morales-García Linera voltará a se apresentar, também em outubro de 2019 —a data exata da votação não está definida.

07 de janeiro de 2019

2019!

(Fernando Henrique Cardoso – Estado de S.Paulo, 06) 1. Ao iniciar o ano, as pessoas estão cheias de esperança, querendo o melhor para si e para o País. É também o que eu desejo para os leitores e para todos os brasileiros. Contudo os desejos não substituem os fatos, e estes podem impedir que aqueles se realizem em 2019. Certamente torço para que o Brasil encontre um rumo melhor. Mas um olhar realista se impõe.

2. Comecemos olhando para o mundo. Desde o fim da guerra fria e, especificamente, desde que, no início da década de 1970, Henry Kissinger convenceu o então presidente Richard Nixon a visitar a China e a normalizar as relações com aquele país, vivemos um período de relativa tranquilidade no sistema internacional. O entendimento sino-americano visou de início a isolar a União Soviética, rival da China no mundo comunista. À medida que aquela foi declinando, dissolvendo-se em 1991, o mundo assistiu à crescente complementaridade econômica entre a maior potência mundial, os Estados Unidos, e a potência em ascensão, a China.

3. Com a Pax americana, coadjuvada pela China, os conflitos se tornaram localizados. A ambição que motivou a formação das Nações Unidas, a de pôr um ponto final nas grandes guerras mundiais, ficou ainda mais próxima da realidade com o colapso do mundo soviético, iniciado com a simbólica queda do Muro de Berlim, em 1989.

4. Sob a liderança de Deng Xiaoping, ao final dos anos 1970, os chineses compreenderam que seu país precisaria reformar-se e abrir-se ao mundo para prosperar. De Deng Xiaoping até o atual líder chinês, Xi Jinping, todos sustentaram uma política externa orientada para evitar a chamada “armadilha de Tucídides”: a colisão e ao final a guerra entre a potência hegemônica e a emergente. As lideranças chinesas falavam de uma ascensão pacífica e de um “socialismo harmonioso”, juntando o regime de partido único e o Estado socialista com a integração financeira e produtiva ao mundo capitalista. A China abriu-se às multinacionais que quisessem disputar seu mercado ou exportar, desde que aceitassem as regras do poder. E mais: tornouse a maior detentora de papéis do Tesouro americano.

5. Há sinais, contudo, de que a Pax global começa a ser ameaçada não propriamente pela guerra convencional ou atômica, permanecendo um cenário remoto, mas por uma crescente disputa pela liderança tecnológica, da qual a guerra comercial ora em fase de escaramuças é o aspecto mais visível. A disposição de Trump de desmantelar a ordem liberal vigente visa a impedir que a China assuma a dianteira na corrida tecnológica nas áreas de inteligência artificial e computação quântica. Sob Xi Jinping os chineses já não escondem suas ambições na corrida tecnológica, mesmo no campo militar disputam o controle de parte do Pacífico.

6. Mais do que na interferência online nos processos políticos dos Estados Unidos e da Europa, como os russos, a China aposta na sua capacidade no terreno tecnológico para o sucesso econômico e bélico. Ainda não conhecemos os desdobramentos dessa disputa, mas parece que a ordem liberal pós-guerra fria está ficando para trás, com riscos para a paz mundial.

7. O Brasil tem um novo governo. Fala-se muito que o País, na esteira da onda conservadora no mundo, virou à direita. Será esse o sinal enviado pelo eleitorado, que em sua maioria votou por repúdio ao PT, à falta de segurança pública e à podridão política, sem, entretanto, algum conteúdo ideológico definido? Se o novo governo deslizar para a direita, será menos porque o eleitorado assim decidiu e mais porque os vencedores assim pensam.

8. Pensam? Depende: na economia o governo é liberal, nos costumes, reacionário e, quanto à visão do mundo, basicamente anacrônico, a julgar pelo que disseram alguns de seus membros. Dos militares pouco ou nada se ouviu a respeito. Subscreverão as teses do futuro chanceler? Ou a norma de que sem objetivos e sem preparação não há guerra a ser ganha?

9. Para concluir, diante do quadro internacional, quais devem ser os objetivos básicos de um país como o Brasil, grande, populoso, diverso e excêntrico, isto é, distante dos polos do conflito? Acelerar o crescimento da economia, em bases socioambientais sustentáveis, para dar melhores condições de vida ao povo, preservar o acervo de boas relações que o País construiu ao longo do tempo, afirmar (e praticar internamente) valores que nos são caros, a começar pela democracia.

10. Para isso, por que tomar partido diante de um eventual choque de interesses entre a China e os Estados Unidos ou de quem quer que seja? Por que tomar partido nas disputas que dividem os Estados Unidos e a Europa? Melhor será, penso, cuidar de manter nossa influência na América do Sul, região a que pertencemos, e, sem entrar em briga graúda, participar mais amplamente dos fluxos globais de comércio, informação, criatividade e desenvolvimento, para obter a melhor inserção possível no mundo.

11. É, no mínimo, anacrônico pensar que a disputa por poder e influência no sistema internacional se dê entre gladiadores comunistas e capitalistas, cruzados da fé cristã contra cosmopolitas sem fé e sem pátria. A luta real é por mais ciência e tecnologia, para melhorar a qualidade dos empregos e da vida em sociedades que não devem nem podem mais se encerrar em si mesmas nem se agarrar dogmaticamente a identidades étnicas, religiosas, etc., fechadas e excludentes. A ideologia que se insinua é tão distante dos interesses permanentes de um país como o Brasil quanto o foi a que ela pretende substituir.

12. Por isso espero que o novo governo encontre rumos melhores do que os que, com estridência, apontam alguns de seus membros. À oposição cabe criticar impulsos ideológicos, alertar para os riscos de alinhamentos automáticos e contribuir para que os interesses reais do Brasil e de sua gente prevaleçam na definição e implementação das políticas, externa e interna.

04 de janeiro de 2019

BRASIL NO IMPÉRIO!

(M. Braga) Para quem gosta de história do Brasil.

Quando D. Pedro II do Brasil subiu ao trono, em 1840, 92% da população brasileira era analfabeta.

Em seu último ano de reinado, em 1889, essa porcentagem era de 56%, devido ao seu grande incentivo à educação, à construção de faculdades e, principalmente, de inúmeras escolas, que tinham como modelo o excelente Colégio Pedro II.

A Imperatriz Teresa Cristina cozinhava as próprias refeições diárias da família imperial apenas com a ajuda de uma empregada (paga com o salário de Pedro II).

(1880) O Brasil era a 4º economia do Mundo e o 9º maior Império da história.

(1860-1889) A média do crescimento econômico foi de 8,81% ao ano.

(1880) Eram 14 impostos, atualmente são 98.

(1850-1889) A média da inflação foi de 1,08% ao ano.

(1880) A moeda brasileira tinha o mesmo valor do dólar e da libra esterlina.

(1880) O Brasil tinha a segunda maior e melhor marinha do Mundo, perdendo apenas para a da Inglaterra.

(1860-1889) O Brasil foi o primeiro país da América Latina e o segundo no Mundo a ter ensino especial para deficientes auditivos e deficientes visuais.

(1880) O Brasil foi o maior construtor de estradas de ferro do Mundo, com mais de 26 mil km.

A imprensa era livre tanto para pregar o ideal republicano, quanto para falar mal do nosso Imperador.

“Diplomatas europeus e outros observadores estranhavam a liberdade dos jornais brasileiros”, conta o historiador José Murilo de Carvalho.

Mesmo diante desses ataques, D. Pedro II se colocava contra a censura. “Imprensa se combate com imprensa”, dizia.

O Maestro e Compositor Carlos Gomes, de “O Guarani” foi sustentado por Pedro II até atingir grande sucesso mundial.

Pedro II mandou acabar com a guarda chamada Dragões da Independência por achar desperdício de dinheiro público. Com a república a guarda voltou a existir.

Em 1887, Pedro II recebeu os diplomas honorários de Botânica e Astronomia pela Universidade de Cambridge.

D. Pedro II falava 23 idiomas, sendo que 17 era fluente.

A primeira tradução do clássico árabe “Mil e uma noites” foi feita por D. Pedro II, do árabe arcaico para o português do Brasil.

D. Pedro II doava 50% de sua dotação anual para instituições de caridade e incentivos para educação com ênfase nas ciências e artes.

Pedro II fez um empréstimo pessoal a um banco europeu para comprar a fazenda que abrange hoje o Parque Nacional da Tijuca. Em uma época que ninguém pensava em ecologia ou desmatamento, Pedro II mandou reflorestar toda a grande fazenda de café com mata atlântica nativa.

A mídia ridicularizava a figura de Pedro II por usar roupas extremamente simples, e o descaso no cuidado e manutenção dos palácios da Quinta da Boa Vista e Petrópolis. Pedro II não admitia tirar dinheiro do governo para tais futilidades. Alvo de charges quase diárias nos jornais, mantinha a total liberdade de expressão e nenhuma censura.

D. Pedro II era um Grande Templário amigo pessoal de Don Antonio de Sousa Fontes 50º Grão Mestre da OSMTH Magnum Magisterium.

D. Pedro II andava pelas ruas de Paris em seu exílio sempre com um saco de veludo ao bolso com um pouco de areia da praia de Copacabana. Foi enterrado com ele. Foi o que “roubou” do Brasil!

Fonte: Biblioteca Nacional RJ, IMS RJ, Diário de Pedro II, Acervo Museu Imperial de Petrópolis RJ, IHGB, FGV, Museu Nacional RJ, Bibliografia de José Murilo de Carvalho

03 de janeiro de 2019

“ESQUERDA TRADICIONAL EUROPEIA PERDE ESPAÇO PARA DIREITA E POPULISTAS”!

(Lucas Neves – Paris – Folha de S.Paulo, 02) Depois de um 2017 hostil, com perdas de governo em França, Áustria e República Tcheca, a esquerda tradicional europeia, encarnada em legendas socialistas e social-democratas, terminou o ano de 2018 mais uma vez com pouco a celebrar.

Na Itália, o Partido Democrático foi apeado do poder por uma associação excêntrica e oportunista entre uma agremiação que diz contestar o sistema político tradicional  (o Movimento 5 Estrelas) e a Liga (direita radical), de retórica xenófoba e anti-integração europeia.

Na Alemanha, o Partido Social-Democrata (SPD), que já vinha de um duro revés na eleição nacional de 2017, amargou maus resultados em dois importantes pleitos regionais (nos estados de Hesse e Baviera), especialmente no segundo, em que chegou apenas na quinta colocação.

Internamente, a sigla é palco de um conflito geracional entre a ala jovem, que acha que o SPD se desnaturou depois de anos de coalizão governamental com a CDU (União Democrata-Cristã) de Angela Merkel, e os baluartes, apegados aos cargos e benesses do poder.

Conforme escreve para a revista New Statesman o professor de Cambridge Chris Bickerton (em artigo intitulado “O Colapso da Centro-Esquerda Europeia Tradicional”), a legenda alemã tinha uma “tempestade perfeita” a seu favor.

A precarização do mercado de trabalho (com contratos temporários e/ou de meio período, além de salários baixos) e um sentimento de descompasso entre uma economia com indicadores macroeconômicos saudáveis e o cotidiano áspero do cidadão comum, deveriam em teoria oferecer um trampolim à social-democracia germânica.

Na prática, porém, o que o SPD fez foi sangrar eleitores para o partido A Esquerda (Die Linke) e para o Alternativa para a Alemanha (AfD, de direita radical).

Já na Suécia, onde os sociais-democratas eram até há pouco força quase hegemônica, não há governo formado passados quase quatro meses das eleições legislativas.

Os progressistas, sem maioria no Parlamento, precisariam compor com o bloco conservador, mas hesitam.

Se não houver definição até 23 de janeiro, uma nova votação será convocada.

Enquanto isso, o impasse vai aumentando a simpatia pela formação de direita populista Democratas Suecos, segundo pesquisas de popularidade recentes.

Mesmo na Espanha, onde os socialistas conseguiram desalojar o Partido Popular (centro-direita) do Palácio da Moncloa, o ano passado terminou com um sobressalto local: a não recondução do PSOE ao governo regional da Andaluzia, depois de 36 anos de supremacia.

Alguns analistas atribuem a retração do establishment progressista à forma como, na esteira da crise mundial de 2008 (e, dois anos depois, da crise da dívida grega, que por pouco não contagiou toda a zona do euro), os socialistas e sociais-democratas em postos de comando se curvaram aos imperativos de austeridade fiscal, abandonando a agenda de proteção social tradicionalmente associada à esquerda.

Mas o professor Jan Rovny, da Sciences Po (Instituto de Estudos Políticos de Paris), vê raízes mais profundas no fenômeno, segundo expõe em artigo para o site da London School of Economics (“O Que Aconteceu com a Esquerda da Europa?”). Para ele, mudanças estruturais e tecnológicas profundas no continente reconfiguraram a sociedade europeia —e, por extensão, o eleitorado esquerdista.

O traço comum dos grandes partidos de esquerda do continente no pós-guerra, escreve Rovny, era a defesa dos direitos dos trabalhadores, grupo relativamente homogêneo dotado de forte consciência de classe (transmitida de geração em geração).

Por meio de políticas que impulsionavam o acesso à educação superior e incentivavam a expansão dos direitos civis, ajudaram a fazer do proletariado uma nova classe média.

Por outro lado, destaca o professor, o novo proletariado (ou “precariado”, como ele e outros autores têm chamado) se viu acossado pela automação maciça da cadeia produtiva e pela atomização do trabalho, quase sempre de baixa qualificação. Com isso, perdeu a sensação de pertencer a uma comunidade e a capacidade e a vontade de se articular em grupo.

O (res)sentimento se acentuou com a circulação de grandes contingentes de trabalhadores “baratos” decorrente da integração europeia.

São esses “perdedores da globalização” que desertaram a esquerda e seu elogio do cosmopolitismo multiculturalista, ao qual preferem um nacionalismo tradicionalista.

É na fenda aberta por essa decomposição da base eleitoral da esquerda que o populismo tem se insinuado —basta pensar na Itália de Matteo Salvini—, com um receituário que alia promessas de proteção econômica e conservadorismo nos costumes.

A prova dos nove dessa mudança sísmica virá em maio de 2019, quando acontecem as eleições para o Parlamento Europeu, em que os sociais-democratas devem assistir como coadjuvantes ao embate entre o front globalista encabeçado pelos combalidos Emmanuel Macron e Angela Merkel e a confraria eurocética puxada por Salvini, Marine Le Pen (França) e Viktor Orbán (Hungria).

Esquerda tradicional em crise na Europa

Alemanha
O Partido Social-Democrata (SPD) vive uma crise interna entre a ala mais jovem e a geração mais antiga e amargou resultados ruins em eleições locais em 2018

Itália
No comando do país desde 2013, o Partido Democrático acabou derrotado nas últimas eleições, em março de 2018, e cedeu o poder para uma coalizão entre a Liga (direita radical) e o Movimento 5 Estrelas (antissistema)

Suécia
Principal força política do país, os sociais-democratas terminaram a última eleição sem maioria no Parlamento, colocando o país em um impasse que pode levar a uma nova votação e beneficiar a direita radical

Espanha
Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) perdeu para a direita radical o governo regional da Andaluzia após 36 anos de hegemonia.

02 de janeiro de 2019

QUEM SÃO OS JOVENS “NEM-NEM” NA AMÉRICA LATINA E NO BRASIL?

(Editorial – Estado de S.Paulo, 28/12) 1. Jovens que não trabalham nem estudam, eles não estão ociosos por opção, mas sim por despreparo. A expressão “nemnem” serve para classificar jovens que não trabalham nem estudam. Resultante das significativas mudanças no mercado de trabalho operadas nos últimos anos, esse contingente representa a parcela da população que expressa apatia justamente no momento em que deveria estar fazendo planos para o futuro. Num primeiro momento, associou-se esse comportamento a um certo desencanto da juventude de classe média com a educação formal, que seria inútil para melhorar suas possibilidades de encontrar o trabalho que combinasse seus ideais de vida com boa remuneração.

2. A opção pelo ócio seria então uma resposta deliberada para essa perspectiva desanimadora. Mas uma pesquisa recente mostrou que no Brasil, bem como na América Latina em geral, a maioria absoluta dos “nem-nem” não está ociosa por opção, mas sim por despreparo, o que torna o problema muito mais complexo.

3. Estudo coordenado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e que no Brasil foi realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entrevistou 15 mil jovens entre 15 e 24 anos – que os pesquisadores chamaram de “millennials” – em nove países da América Latina e do Caribe. A ideia era ir além dos tradicionais levantamentos do gênero, que se limitavam a observar a renda e o nível educacional dos investigados, e procurar conhecer variáveis como a informação dos jovens a respeito do mercado de trabalho, além de suas habilidades cognitivas e socioemocionais. Com isso, emerge um quadro bem menos simplista a respeito do fenômeno dos “nem-nem”, ajudando a reduzir preconceitos sobre esses 20 milhões de jovens latino-americanos.

4. O estudo mostrou que 21% dos jovens pesquisados no continente não estudam nem trabalham. No Brasil, esse número chega a 23%, inferior somente a El Salvador (24%) e muito distante do Chile (14%), o país com menor índice. O levantamento constatou, contudo, que grande parte desses jovens não está ociosa. No Brasil, 36% deles estão procurando trabalho, 44% se dedicam a cuidados familiares e 79% desempenham tarefas domésticas. Apenas 12% não fazem nada disso. Ou seja, os jovens “nem-nem” desempenham atividades importantes para a economia familiar e não deixam de procurar emprego no mercado de trabalho, ainda que lhes seja muito difícil encontrar vagas, já que sua educação é falha.

5. Ademais, a pesquisa, em seu aspecto qualitativo, mostrou que os “nem-nem” são o grupo social que expressou maior preocupação com a violência urbana, além de identificar o tráfico de drogas como uma tentação para afastá-lo do caminho do trabalho e da educação, já que oferece a chance de obter dinheiro fácil. “Nesse sentido, ser ‘nem-nem’ também pode ser entendido como uma tentativa de evitar os riscos das ruas”, observou o relatório. Assim, a probabilidade de ser “nem-nem” é maior nas famílias de baixa renda.

6.  A pesquisa mostra também que, a despeito dos avanços na área educacional, a qualidade do ensino oferecido aos jovens está longe do que vem sendo exigido no novo mercado de trabalho, que premia habilidades que se adaptem a diferentes circunstâncias, e não a rígida especialização profissional que caracteriza a maioria das carreiras tradicionais.

7.  Além disso, está claro que os jovens latino-americanos ficam muito pouco tempo na escola. No Brasil, a média é de menos de 10 anos completos de estudo, ante mais de 11 anos no Chile e na Colômbia. E mesmo os que passam mais tempo na escola demonstram graves deficiências na resolução de problemas simples. E os empregos disponíveis para essa faixa da população são precários, com escasso incentivo para um maior engajamento.

8. Sem ter a perspectiva de retorno profissional do esforço educacional, os jovens acabam empurrados para fora da escola e do mercado de trabalho. Mesmo assim, a pesquisa constatou que 77% dos jovens brasileiros esperam alcançar o ensino superior e 83% acreditam ser capazes de conseguir o trabalho que desejam. É nesse otimismo que o poder público precisa apostar.

28 de dezembro de 2018

“UM RETRATO DE ADOLESCENTES QUE CRESCERAM EM UMA REGIÃO ESQUECIDA E SEM ESPERANÇA DA FRANÇA”. PREVENDO OS COLETES AMARELOS!

(Alex Marshall -The New York Times/Aliás – Estado de S.Paulo, 23) 1. Nicolas Mathieu ganhou o maior prêmio literário da França, o Prêmio Goncourt, por Leurs Enfants Après Eux, um retrato de adolescentes que cresceram em uma região esquecida e sem esperança da França nos anos 90. O romance surpreendeu ao ser anunciado como vencedor, mas já foi comprado pela Other Press para publicação nos Estados Unidos no final de 2019.

2. “Nicolas entende os destituídos, a classe trabalhadora, de uma maneira que a maioria dos escritores não faz”, disse Judith Gurewich, editora da Other Press, em uma entrevista por telefone. O livro teria ressonância com os leitores não franceses, disse ela, porque cada país tem áreas deixadas para trás pela desindustrialização, onde as pessoas estão com raiva. “É também uma das obras mais poderosas que li em anos”, acrescentou.

3. O vencedor – escolhido por 10 membros da Academia Goncourt, uma sociedade literária francesa – recebe um prêmio simbólico de 10 euros, ou cerca de US $ 11, mas o prêmio geralmente resulta em um enorme aumento nas vendas. O prêmio foi concedido desde 1903 no restaurante Drouant, em Paris, com os vencedores anteriores, incluindo Marcel Proust, Michel Houellebecq e, em 2017, Éric Vuillard. Mathieu ganhou o prêmio por uma votação de 6 a 4. “É um momento de vertigem”, disse Mathieu, de 40 anos, em entrevista por telefone. “A escrita é uma atividade solitária e, de repente, estou no centro das atenções.”

4. “É muito perturbador, mas é bom para o livro”, acrescentou. “Estou feliz que encontre seu público”. Their Children After Them, como será chamado em inglês, é o segundo romance de Mathieu, focado em um grupo de adolescentes que vivem em um vale no leste da França que já viu dias melhores. Os altos-fornos locais acabam de fechar; os adolescentes agora atiram pedras nos prédios vazios, em vez de esperar que trabalhem lá dentro.

5. O romance acompanha os adolescentes em quatro verões, com os seus altos – como um primeiro amor – e seus muitos contratempos, enquanto eles tentam escapar da área. O livro de Mathieu foi aclamado na França por esclarecer uma parte esquecida do país. “Ao se concentrar nas margens da sociedade, Nicolas Mathieu vê o que os pensadores da literatura reconfortante não percebem”, disse o diário francês Le Figaro.

6. “Esse é um livro muito importante. Os personagens de Mathieu ficam conosco durante muito tempo depois que já viramos as últimas páginas”, escreveu a jornalista Alexandra Schwartzbrod, no Libération, um jornal diário com tendências à esquerda, acrescentando que o livro “nos dá as chaves para compreender melhor a extensão da atual rejeição de nossas elites políticas e econômicas.”

7. A premiação vem em uma época de crescente frustração na França, com os esforços empreendidos pelo presidente Emmanuel Macron para alavancar a economia, o que parece estar favorecendo as camadas mais ricas da sociedade francesa. Diversas decisões políticas equivocadas vêm reforçando essa visão. Macron foi recentemente flagrado em um vídeo dizendo a um jardineiro desempregado em Paris que ele deveria se esforçar mais para encontrar trabalho. “Emmanuel Macron deveria ler esse livro”, afirmou Paule Constant, um dos jurados do prêmio Goncourt, afirmou o jornal Le Figaro.

8. “Eu queria dizer o que é crescer em um mundo que está acabado, com uma herança que você não quer, em um lugar onde você está muito longe da cidade grande”, disse Mathieu. “Eu queria falar por essas pessoas, não para julgar, mas para entender.” Ele não é o único autor francês que recebeu aclamação nacional e atenção internacional por escrever sobre a juventude da classe trabalhadora.

9. Escritores como Didier Eribon e Édouard Louis também foram elogiados por seu trabalho. Louis, que passou a ter sucesso global, chamou a atenção para O Fim de Eddy, sobre crescer gay em uma região pós-industrial do norte da França. É um livro cheio de violência e desespero. Mathieu cresceu em uma pequena cidade no leste da França. Ele também testemunhou os impactos da desindustrialização.

10. O romance não é baseado em sua própria infância, ele disse: “Mas eu conheço esse lugar”. Ele foi influenciado por autores americanos como John Steinbeck e Larry Brown, acrescentou, e esperava que isso fosse óbvio para qualquer leitor. “Seus Filhos Depois Deles” não está tentando fornecer uma solução para os problemas da região, acrescentou Mathieu. “Não é pessimista ou otimista. Eu acho que é realista”, disse ele. “Minha parte é escrever com precisão sobre este mundo e as pessoas que crescem naquele lugar”, acrescentou. “Eles têm muitos problemas, mas têm um pouco de liberdade e podem continuar tentando ter sucesso.”

11. Vencedor da mais recente edição do prêmio Goncourt, o francês Nicolas Mathieu previu os ‘coletes amarelos’ ao retratar o lado oculto do país.

27 de dezembro de 2018

“RUMOS DA ARRECADAÇÃO DE ROYALTIES DO PRÉ-SAL NO RIO DE JANEIRO”!

(Jornal dos Economistas – Corecon – novembro, 2018) 1. Diante da importância dos royalties do petróleo para a arrecadação do Rio de Janeiro – 11% em média nos últimos 5 anos, procuramos apontar como as atuais modificações na cotação do barril de petróleo e na política comercial do setor podem representar uma mudança de perspectiva para o orçamento do ERJ, em 2019. Todos os valores apresentados foram de acionados segundo o IPCA-E de Agosto de 2018.

2. No período de 2012 a 2016, a receita oriunda da exploração de petróleo no Rio teve uma queda de 68%, muito devido à queda do preço do barril do petróleo e às incertezas relacionadas à Petrobrás. Por outro lado, com o retorno da tendência de alta no preço, que saltou de US$ 30/barril em 2016 para US$ 77/barril em 2018, foi possível observar sinais de melhora no setor de petróleo. Em 2017, por exemplo, as receitas de royalties tiveram uma expansão de, aproximadamente, 98% em relação ao exercício anterior, o que trouxe de volta o otimismo para a economia fluminense.

3. A expansão dessa receita também se deve ao aumento da exploração do pré-sal. Após quatro anos de paralisação, em 2017, o Brasil voltou a realizar leilões de partilha das áreas de exploração, que, apesar de aumentarem a quantidade de barris produzidos no país, direcionam parte do lucro e salários para fora do país. Segundo a Agência Nacional de Petróleo, duas rodadas de partilhas ocorreram em 2018 e outras duas estão previstas para 2019, o que sustenta a Rumos da arrecadação de Royalties do pré-sal no Rio de Janeiro estimativa de um aumento ainda maior da produção de pré-sal nos próximos anos.

4. As consequências do aumento do preço do barril de petróleo e da intensificação da produção podem ser vistas.  Observa-se que, em 2018, apesar da previsão na Lei Orçamentária Anual (LOA) ter sido R$ 7,8 bilhões, a receita alcançou a marca de R$ 9,3 bilhões já ao final de setembro. Tal trajetória ascendente terá continuidade de acordo com o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2019, que indica um total de R$ 14 bilhões para o ano que vem.

5. Ainda assim, a previsão[1] pode estar subestimada, visto que a taxa de câmbio é incerta e há indícios que riscos de oferta na Venezuela e no Irã podem fazer o preço do barril subir ainda mais[2]. Somando somente os royalties e participações especiais[3] do pré-sal, são previstos R$ 8,4 bilhões provenientes exclusivamente desses campos, enquanto no exercício atual arrecadou-se R$ 1,9 bilhão até o momento desta análise.

6. O avanço no desenvolvimento dos campos de produção beneficia significativamente cidades como Maricá e Niterói e impulsiona de forma mais moderada a receita nas cidades do Rio de Janeiro, Saquarema e Angra dos Reis. Apesar do movimento positivo para as contas estaduais, não se deve esquecer a natureza volátil da receita do petróleo, que torna seu impacto na economia fluminense incerto.

7. O Rio ainda segue regras de aplicação que priorizam a despesa com o Rioprevidência, como tentativa de aliviar o déficit do fundo. Segundo a PLOA 2019, dos R$ 14,1 bilhões previstos, R$ 11,8 serão destinados ao Rioprevidência, ou seja, 84% da arrecadação. Do pouco que sobra, cerca de R$ 700 milhões serão destinados ao pagamento de dívidas com a União, deixando uma pequena parcela para o Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano (FECAM), que atende a necessidade financeira de programas ambientais e de desenvolvimento urbano.

8. Sustenta-se, assim, uma relação de dependência arriscada e dificulta-se o investimento desta receita em infraestrutura e setores produtivos.

[1] PLOA 2019 – “A receita dos royalties e participação
especial foi estimada em função da produção prevista pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP, da taxa de câmbio média e do preço internacional do barril previsto para 2019, valores abaixo do que estão sendo negociados atualmente no mercado internacional”.
[2] https://oglobo.globo.com/economia/petroleo-pode-voltar-us-100-barril-em2019-diz-bank-of-america-22671062 – Visitado em 10/10/2018
[3] Participações especiais são compensações financeiras, com alíquotas progressivas, devidas pelos concessionários de exploração e produção de petróleo ou gás natural para campos de grande volume de produção.

26 de dezembro de 2018

CRESCE O POPULISMO, MAS TAMBÉM A REAÇÃO AO POPULISMO NA EUROPA E NOS EUA!

(Fareed Zakaria – The Washington Post/Estado de S.Paulo, 24) 1. Emmanuel Macron tem sido a grande esperança para quem teme que a política global seja dominada pelo populismo, pelo nacionalismo e pelo racismo. Na campanha presidencial no ano passado, Macron conseguiu mobilizar a França em torno de uma mensagem de reforma e multilateralismo, permanecendo firmemente devotado à União Europeia e a outras alianças e instituições internacionais. No mês passado, ele reuniu 65 líderes mundiais para um grande encontro dedicado à governança global.

2. Macron aguentou as humilhações causadas pelos protestos dos “coletes amarelos”. Foi forçado a recuar em algumas de suas reformas e adotar novos subsídios para reduzir o orçamento, numa tentativa de apaziguar as multidões. Há a confusão no Reino Unido, que continua tentando (e fracassando) concluir o Brexit. A Itália enfrenta problemas orçamentais. Hungria e Polônia tentam adotar uma democracia não liberal. Tudo isso contribui para uma imagem deprimente da Europa e do Ocidente.

3. Mas as coisas estão realmente tão sombrias? Como aponta Matthew Karnitschnig, do Politico, o apoio à UE está em seu auge em décadas. E em um exame mais detalhado, enquanto as forças do populismo continuam a crescer em alguns lugares, a história dos últimos meses tem sido principalmente de retrocesso. Considerem a Polônia e a Hungria, os exemplos perfeitos do movimento populista-nacionalista. Na Polônia, os esforços para reformar a Suprema Corte do país provocaram imensos protestos nacionais, e o supremo tribunal da Europa ordenou que a medida fosse revertida. Na segunda-feira, Varsóvia acatou às disposições.

4. Na Hungria, os últimos passos autoritários do primeiro-ministro Viktor Orbán – mudando a lei trabalhista e a autoridade judicial – também desencadearam protestos generalizados, unindo como nunca antes as forças de oposição. A rebelião de rua representa uma oposição generalizada ao partido no poder, que previsivelmente usou gás lacrimogêneo contra os mais pacíficos manifestantes, condenou-os como anticristãos e acusou George Soros de organizar todo o caso.

5. Na França, falar em uma saída de Macron é prematuro. Sim, as pesquisas mostram que sua popularidade está diminuindo, mas os eleitores ainda o preferem à extrema direita, representada por Marine Le Pen, por ampla margem. Ele tem um mandato de cinco anos, seu partido controla a legislatura e a maioria dos analistas concorda que suas reformas são inevitáveis se a França quiser competir por investimentos e gerar crescimento. Ele pode ficar restrito a um único mandato, mas ainda terá liderado as mudanças mais importantes na França em uma geração.

6. Na Itália, o novo governo de coalizão introduziu um orçamento populista que prometia uma renda básica universal e aposentadoria antecipada, ideia que enfrentou a firme oposição da União Europeia. E foram os populistas que recuaram. Nesta semana, Roma abandonou essas medidas e anunciou um orçamento em conformidade com as diretrizes estabelecidas por Bruxelas. Parece um flashback de 2015, quando os populistas gregos foram obrigados a promulgar um programa contra o qual fizeram campanha.

7. O Reino Unido continua a ser mais complicado, mas a história básica é que, toda vez que o país chega perto do Brexit real, ele se afasta, ante o choque pelos custos. A primeira-ministra Theresa May tentou fazer um Brexit suave e, embora o acordo tenha lhe rendido o desprezo dos defensores de uma saída linha-dura, eles não podem derrubá-la. Talvez eles não queiram, porque então teriam que concretizar a tarefa impossível de May. Os defensores do Brexit venderam ao país uma fantasia de que se poderia obter os benefícios do acesso ao mercado da União Europeia sem os custos de ter de obedecer a suas regras. Com o passar do tempo, mais e mais britânicos estão percebendo que não podem manter seu bolo e comê-lo ao mesmo tempo.

8. E, finalmente, olhe para os Estados Unidos, onde reina um presidente que orgulhosamente abraça o populismo e o nacionalismo. Em novembro, o Partido Democrata teve seus ganhos mais fortes na Câmara desde a onda Watergate de 1974. O presidente Donald Trump enfrentou renúncias adicionais de importantes membros de sua administração – alguns por razões éticas, outros cansados do caos. Existem agora 17 investigações separadas sobre Trump e seus associados, algumas das quais já resultaram em indiciamentos. E isso não inclui a série de investigações do Congresso que certamente começarão quando os democratas assumirem o controle dos principais comitês da Câmara. Durante dois anos, os republicanos governaram Washington, o que lhes deu o controle sobre todas as informações governamentais. Isso acaba no dia 3 de janeiro de 2019.

9. Não pretendo minimizar a onda populista que ainda percorre o Ocidente e outras partes do mundo. Mas a preocupação não deve dar lugar ao desespero. Há muitas pessoas em todos os países que se opõem à política de raiva e identidade. Elas também são fortes. Precisam correr rápido, mas não correr com medo.

21 de dezembro de 2018

RELATÓRIO – VISITA DA DELEGAÇÃO JOVEM DO DEMOCRATAS A BERLIM E DRESDEN (ALEMANHA) EM PARCERIA COM FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER, CDU E JUVENTUDE DA CDU (10 A 14 DE DEZEMBRO DE 2018)! PARTE 1!

Bruno Kazuhiro, presidente da J-DEM do Brasil e membro da executiva da Young-IDU

1. Abertura com Sr. Peter Fischer Bollin (Chefe de Cooperação Internacional da KAS) e Karsten Grabow (Analista Sênior de Sistemas Partidários da KAS)

Peter Fisher Bollin – Pela primeira vez na história da CDU o partido teve congresso com 3 nomes viáveis para vencer e presidir o partido. Essa situação negou a crítica de que a CDU não preparou líderes pós-Merkel. A disputa se centrou entre defensores de Merkel e aqueles mais conservadores que a criticam por ter se movido muito à esquerda. – Merz era mais liberal. Spahn era mais conservador. Venceu Annegret Kramp-Karrenbauer, conhecida como AKK, que é mais centrista e tinha apoio de Merkel.- Por outro lado, AKK teve que mostrar que não era apenas uma cópia de Merkel, pois do contrário perderia.- Ocorreram debates entre os 3 em 8 cidades alemãs que são pólos regionais.- Agora AKK tem que unir o partido.- Novo Secretário-Geral do partido, antiga função de AKK, será o presidente nacional da Juventude CDU. Uma vitória dos jovens.

Karsten Grabow:- Eleições 2017 fragmentaram ainda mais o parlamento alemão, que agora conta com 6 partidos (7, caso se conte CDU e CSU como partidos distintos, lembrando que a CSU representa a aliança na Baviera e a CDU atua no resto do país). CDU/CSU caiu 8,6%. SPD caiu 5,2%. AFD subiu 7,9% e entrou no parlamento. FDP subiu 6% e retornou ao parlamento. LINKE subiu 0,6%. Verdes subiram 0,5%. – Pesquisas atuais mostram crescimento dos Verdes e da AFD se o novo pleito fosse hoje. O tema principal nesse momento é a imigração. Verdes são a favor e AFD contra. Atualmente CDU e SPD perdem apoio.- A queda de apoio da CDU, embora ainda o partido mais forte, explicam em parte a saída de Merkel. Da mesma forma sairá em breve o presidente da CSU, Seehofer.- Curiosamente, hoje Merkel é mais popular entre os eleitores dos Verdes do que os da CDU. Demonstra os problemas internos do partido.- Na Holanda a centro-direita se uniu à direita mais radical e depois desapareceu. Os eleitores igualam e passam a preferir o original. CDU tem receio, por esse motivo, de coalizões locais com AFD. – É importante sempre citar que os que são contra tudo e nunca governaram sempre poderão dizer coisas que quem já governou não diz.- É importante, por outro lado, sair na frente nas pautas, tomando o controle da agenda que seria do outro partido.
– Eleitores alemães não são mais leais a um partido por toda a vida como algumas décadas atrás.- AFD tentará ampliar suas pautas e se estabelecer como força de direita no país.

2. Visita ao PopUp Lab da Fundação Konrad Adenauer, coordenado por Eva Majewski

Eva Majewski:

– PopUp Lab é o nome de um local que fica em bairro residencial, que permita atrair o interesse dos cidadãos, principalmente jovens, para a Fundação. Bem informal, com livros, decoração estilizada, bebidas grátis, palestras, eventos, discussões, etc. Uma espécie de comitê moderno e informal.- Só dá certo quando é de fácil acesso, com metrô, trens, ônibus próximos e dentro de área com circulação de pedestres, mas onde as pessoas também vivam. Ideal uma loja de rua com vitrine chamativa que dê visibilidade. Localização é fundamental.- A Juventude CDU tem um representante entre os que trabalham na Liderança da CDU no parlamento para cuidar de temas relacionados à juventude que possam estar na pauta. Atuei nessa função e agora estou coordenando o PopUp Lab.- Esse ano o nosso pólo tratou dos seguintes temas: Futuro da democracia. Estado de Direito. Educação. Inovação. Coesão Social. As reuniões tinham palestrantes que introduziam o tema e sentavam no meio de um círculo, com participantes em volta. Os eventos tinham pizza e ambiente informal. O público-alvo são universitários e ensino médio e filiados ao partido de todas as idades.- Diversos eventos em um mesmo dia. Para isso o pólo conta com 4 funcionários e alguns voluntários.
– Convites para os debates são distribuídos impressos nas caixas de correio da vizinhança. Contato mais direto. Mas também divulgação nas redes sociais.- Não usamos o pólo para fazer campanha eleitoral. São coisas distintas. A Adenauer tem status de utilidade pública justamente por essa separação.- Usamos o espaço também para incentivar o voto, já que é facultativo. Um exemplo: nas eleições para o parlamento europeu apenas 45% da população vota. Mas entre os jovens apenas 30%.- É importante debater um marketing próprio para jovens. Eles reclamam mas não participam o quanto poderiam. Temos que estimular a participação. Panfletar nas portas de faculdade, não só virtualmente.- Para estimular a participação é preciso separar os participantes em grupos, incentivar dinâmica, sugerir que os grupos tenham relatores que apresentem soluções encontradas.

3 . Conversa com Deputado Federal jovem, Philipp Amthor, no edifício anexo ao parlamento alemão

Philipp Amthor:

– Comecei na JU com 16 anos. Depois fui presidente na minha região. Apoiado por deputados anteriores, consegui vencer a eleição direta distrital em minha região. – O primeiro desafio é ser o candidato do partido. Depois é que se enfrenta a disputa no distrito.
– O trabalho de base foi fundamental para a vitória. Ir de porta em porta. Conversar. Fazíamos uma proposta: Faça um café na sua casa que levaremos o bolo.- Tivemos muitos jovens voluntários.- Campanha eleitoral durou 9 meses. Mas os cartazes e televisão são permitidos nos últimos 2 meses. – As sessões plenárias são 2 semanas por mês, de segunda a sexta. Sempre com muitas reuniões partidárias sobre os projetos. Nas outras semanas são reuniões das comissões ou visitas às bases eleitorais.- Temos uma soma global de gastos do gabinete e dividimos como achamos melhor para contratar assessores. São 200 mil euros anuais.- Ter trabalho de base, formação de jovens, desenvolver os valores do partido, participar de movimentos, ter contato com lideranças do partido, seriam meus conselhos para os jovens candidatos.- CDU apóia as candidaturas de suas lideranças jovens. Incentiva que sejam candidatos. Mas há desafios também como entrar em boa posição na lista de candidatos ou ser o candidato em um certo distrito.- Nosso sistema eleitoral ajuda a renovação caso os partidos queiram ajudar.

4- Dresden, capital da Saxônia, estado ao sul de Berlim e Brandemburgo

Almoço com diretor da Fundação Konrad Adenauer na Saxônia, Joachim Klose, mestre em filosofia em Harvard

Joachim Klose:

– Saxônia sofreu muito com o comunismo. Área mais rica da Alemanha antes da guerra perdeu seu status e seu desenvolvimento. Rússia levou fábricas inteiras para seu território. Até mesmo equipamentos de transporte. O centro histórico passou a ter pastos e plantações. Só foi recuperado após a queda do muro de Berlim e a reunificação das Alemanhas.- A Alemanha Oriental era uma prisão, afinal, só saía quem era autorizado.- A população da Saxônia reduziu em 1/5 após a reunificação. Migraram ao Oeste para buscar vida melhor. Grande migração foi das áreas rurais. Hoje Leipzig e Dresden crescem, mas as áreas rurais se esvaziam.- A migração é maior entre as mulheres. As áreas passam a ter 30% a mais de homens. E os imigrantes árabes que chegam também são majoritariamente homens.- Alemanha Oriental recebia também imigração, mas de países comunistas como Angola, Cuba e Vietnã, além do Leste Europeu. – Após reunificação, os exércitos da duas Alemanhas se fusionaram sem qualquer preparação. Apenas 2 semanas antes havia ocorrido conflito entre um soldado de cada lado. Até hoje há problemas. – Os atuais estados alemães que antes eram da Alemanha Oriental são mais estratificados e é mais difícil ascensão social. Maior desigualdade.- Existia na Alemanha Oriental a criação de narrativas a favor da promiscuidade sexual, do adultério, etc. Havia uma tentativa de enfraquecer a família tradicional. O governo, por exemplo, subordinou as igrejas ao estado e destruiu mais de 60 templos.- Os atuais habitantes da área que foi Alemanha Oriental são mais conservadores que os dos outros estados. Parece contraditório. Mas ocorre que essas pessoas já viveram o “modernismo” em algumas pautas. Talvez seja um dos fatores de votação da AFD. – Os habitantes da Saxônia se sentem injustiçados ao serem chamados de xenófobos. Eles aceitam imigração, apenas querem controles.- A fratura que ainda existe entre Europa Ocidental e Oriental se coloca de forma clara na Alemanha.- KAS na Saxônia realiza em torno de 120 eventos por ano. Debates, palestras e seminários divulgando a perspectiva da CDU. Trabalhamos também com bolsas de estudo, educação e cooperação internacional.- Nos modernizamos com atividades mais interativas como concurso de fotos, humor, cinema, sempre gratuitos. – O público é cada vez mais idoso. Precisamos nos mexer para atrair os jovens. Não faremos eventos sobre coisas que se pode aprender na internet. Jovens querem novidade.- Eleições locais da Saxônia ocorrem em 2019. AFD pode vencer. Temos que trabalhar para a CDU não permitir.- Uma organização jovem deve poder receber doações. Se a JDEM legalmente não pode no Brasil, deveria constituir uma associação civil que possa. Aqui o partido, a juventude e a fundação recebem, separadamente.- Redes sociais são muito importantes mas são superficiais. Não aprofundam. Mas só a elite intelectual quer aprofundar. É um dilema. Como comunicar com os demais de forma embasada?- Política não se faz só com mandato. Se faz no debate público.- O populismo quer dar respostas fáceis para problemas complexos. Temos que questionar essa superficialidade, mas não será possível sem confiança. Precisamos renovar para ter capacidade de retomar a confiança nos políticos. – A Saxônia teve governo nazista entre 1933 e 1945. Depois comunista entre 1945 e 1989. A CDU governa desde 1990. A crítica pela esquerda à CDU na Saxônia não funciona pelo passado comunista. Então ela vem pela direita com AFD. – É natural que a população sempre pense que a política tradicional não traz mudanças. A população quer protagonismo. CDU está buscando ir aos bairros e gerar proximidade.

5- Reunião com Gerente da CDU na Saxônia e ex-gerente da JU nacional, Conrad Clemens

Conrad Clemens:

– Juventude CDU tem níveis municipal, estadual e federal e trabalha muito nos bairros continuamente e nas campanhas eleitorais.
– Cargos de diretoria são políticos, não há pagamento, são voluntários. Os funcionários que se dedicam exclusivamente são pagos, como o gerente.- Facebook envelheceu, estamos focando no Instagram.- Importante debater os temas das cidades com os núcleos jovens, não apenas os grandes temas. São mais próximos a eles.- Cargos da diretoria da JU são: Políticos – Presidente, Vices, Secretário, Tesoureiro, Auditor Financeiro e Secretário Internacional. Profissionais – Gerente, Chefe de Comunicação, Chefe de Eventos, Coordenador de Cursos de Formação, Coordenador de Atendimento aos Membros e Coordenador de Recepção aos Novos Membros. Gerente cobra os demais.- A diretoria tem muitos cargos mas a relação entre as pessoas precisa ser a mais horizontal possível. – JU tem orçamento de 1,3 milhão de euros anual. 700 mil vêm do dinheiro público pela lei de incentivo à formação política, 500 mil da CDU e 100 mil de doações. Prestação de contas rígida.- Redes Sociais da CDU são coordenadas por profissionais junto com membros da JU.- Membros da JU pagam 1 euro por ano para participar. 0,50 fica para nacional e 0,50 para o estado. Simbólico, mas gera arrecadação.- Empresas patrocinam eventos da JU e em troca colocam estandes onde apresentam seus produtos.- Para arregimentar novos membros é preciso que, virtualmente, seja um clique só, sem formulários, sem demora. A nível presencial, reuniões semanais sempre no mesmo lugar e mesmo horário, criar rotina. Incentivo para novos jovens como música, bebidas, decoração jovem, futebol, etc.- JU começa com 14 anos. Também há problemas de conscientização política e falta de conhecimento em nossa sociedade. Buscamos informar.- Jovens normalmente asseguram posições intermediárias nas listas eleitorais da CDU.

20 de dezembro de 2018

“BRASIL ENTRE SCYLLA E CHARYBDIS”!

(Francisco Ferraz, Professor de Ciência Politica, ex-reitor da UFRGS – Estado de Saulo, 19)

Geograficamente situadas no Estreito de Messina, entre a Sicília e a costa da Itália, Scylla e Charybdis eram dois monstros marinhos da mitologia grega. Scylla era um monstro de seis cabeças que assumia a forma de uma extensa rocha submersa situada do lado italiano do estreito. Charybdis era um enorme redemoinho próximo da costa da Sicília. Para tornar mais grave a situação, ambos os riscos estavam perigosamente próximos um do outro. A expressão significava ter de escolher entre duas alternativas, ambas muito perigosas e provavelmente fatais.

Vou usar a expressão para tipificar dois modelos de governo e dois tipos de riscos políticos a que nos temos submetido nas eleições presidenciais. Para esse propósito vou redefinir Scylla por um governo de líderes moralistas, afirmativos, reformistas, com graus diferentes de autoritarismo e que não temem a impopularidade; e Charybdis, por lideranças populistas, negociadoras, transigentes, corruptas ou incompetentes, reféns da popularidade e predatórias.

As principais relações entre os dois riscos seriam: 1) os dois tipos de governo/lideranças estão sempre presentes na dinâmica política do País; 2) a relação que existe entre ambas as “alternativas” tende a assumir a forma de correção dos excessos da outra; 3) na perspectiva da disputa pelo poder, os excessos de uma alternativa tendem a favorecer e até tornar viável a vitória do seu oposto; e 4) há, contudo, uma lógica contraditória que opõe os principais atributos de cada uma no conteúdo e na prática desta disputa: populismo x sem medo de impopularidade; transigentes x intransigentes; negociadores e eticamente flexíveis x moralistas, autoritários; incompetentes, corruptos x tecnocratas, reformistas.

O período de 68 anos de 1950 a 2018 corresponde a 17 mandatos de quatro anos, dos quais 11 (65%) tiveram a orientação Charybdis- Scylla, isto é, de governos populistas em crise para governos reformistas, eleitos no argumento de resolver as crises criadas por seu antecessor.

Governo Vargas (1950) e Juscelino (1956) para governo Jânio (dois mandatos);

Governo João Goulart para Castello Branco e presidentes militares (cinco mandatos);

Governo José Sarney para Fernando Collor (um mandato);

Governo Collor-Itamar para FHC (dois mandatos);

Governos Lula e Dilma para Jair Bolsonaro (um mandato).

Os dois mandatos de FHC constituem formas menos afirmativas e autoritárias de Scylla, embora dentro dessa orientação, sobretudo em razão da condição crítica em que Collor deixou a Presidência, da disputa contra Lula (tipicamente de orientação Charybdis), do Plano Real e das privatizações.

O fato estatístico de que a cada três mandatos dois seguem a orientação Charybdis-Scylla constitui importante regularidade política, a exigir uma explicação. Essa estatística atribuiu ao governo Bolsonaro apenas um mandato – o que foi obtido na eleição de 2018.

A explicação que desde logo se impõe é que a expressiva regularidade da sucessão do tipo Charybdis-Scylla supõe a presença de uma mesma estrutura de conflito ao longo de um período de sete décadas, não obstante as mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais. É plausível, pois, supor que a estrutura desse conflito subjaz às naturais variações da conjuntura política.

Tal regularidade é também compatível com as deficiências típicas da nossa democracia instável, em estado de cronificação: legitimidade, autenticidade, eficiência e permanência baixas – como descrevi em Brasil: a Cultura Política de uma Democracia Mal Resolvida. (O tema central do livro é que há 50 anos o Brasil continuava prisioneiro de sua instabilidade democrática e sem uma mudança que dividisse os Poderes do Estado com a sociedade e o mercado assim continuaria nos próximos 50 anos.)

Nossa dinâmica política combina mudança conjuntural com permanência estrutural. Não há avanço continuado. Nunca se chega a cruzar o point of no return.

Os poucos momentos de mudança e progresso são logo contidos pelo eterno retorno de seu oposto, a impedir a necessária continuidade.

Na realidade, uma análise histórico-política desse período pode ser reduzida a uma mesma narrativa que repete personagens e temáticas, diferentes em suas peculiaridades individuais, embora com papéis muito assemelhados, não obstante a passagem do tempo.

As semelhanças dos papéis políticos desempenhados por presidentes individualmente tão diferentes entre si como Getúlio Vargas 1950-54, JK, Jango, Sarney, Lula e Dilma (Charybdis) é equivalente e complementar à semelhança de papéis de seus respectivos opostos: Lacerda, Jânio, Castello e presidentes do ciclo 1964, Collor e Bolsonaro.

As diferenças sociais e tecnológicas ao longo daquele período de 68 anos são enormes; mas o mesmo não ocorre com as diferenças no ambiente político. Nos anos 50 e 60 não havia internet, redes sociais, máquinas de votar, celulares… Mas se examinarmos a temática política vamos encontrar mais semelhanças que diferenças.

Questões como compadrio, corrupção, populismo, despesas públicas, estatismo, aparelhamento, rejeição ao mercado, previdência, insuficiência da infraestrutura, precariedade da educação, saúde, segurança são problemas igualmente crônicos, que não só continuam conosco, como se agravaram de forma assustadora.

Com a vitória de Bolsonaro, Scylla mais uma vez assumiu o comando. A correção dos excessos dos governos Lula e Dilma (Charybdis) tende a buscar no passado o modelo para a correção do rumo. Em grande parte esse foi o recado das urnas.

A outra parte, entretanto, é preparar o País e seu povo para conquistar o direito de viver num país que prospera, progride e rompeu com seu atraso centenário. Esse o desafio que precisamos superar e se interpôs entre nós e um futuro sempre postergado.

Não há avanço continuado. Nunca se chega a cruzar o ponto sem retorno.

19 de dezembro de 2018

COMO FUNCIONAM PROGRAMAS NOS MOLDES DO “BOLSA FAMÍLIA” NAS 10 MAIORES ECONOMIAS DO MUNDO! PARTE 2!

(Daniela Fernandes – BBC News, 08/12)

Japão: ajuda para gastos médicos e material escolar.

O Japão possui um programa de auxílio de subsistência, o Seikatsu Hogo. O valor do benefício resulta de um cálculo complexo em função do custo de vida básico necessário da família, conforme a idade e o número de membros do lar e também da região. Um lar em Tóquio com um adulto e uma criança em idade escolar, por exemplo, recebe por mês cerca de 125 mil ienes – US$ 1,1 mil (R$ 4,2 mil) e tem direito a auxílio moradia de 64 mil ienes (US$ 565 – R$ 2,2 mil).

O governo japonês prevê ainda ajuda financeira para gastos médicos, serviços para idosos e compra de material escolar, entre outros.

No Japão, as despesas sociais representam cerca de 23% do PIB, abaixo de países como a França e a Alemanha, mas acima dos Estados Unidos.

Alemanha: apoio até para o aluguel.

A assistência social na Alemanha cobre despesas básicas, com garantia de recursos mínimos para pessoas de baixa renda ou incapacitadas de trabalhar.

Neste ano, o montante “da assistência para necessidades básicas” é de 416 euros mensais (cerca de R$ 1,7 mil) para uma pessoa solteira e de 748 euros para um casal (R$ 3,1 mil).

Há um suplemento para crianças em função da idade, que vai de 240 a 316 euros (de R$ 1 mil a R$ 1,3 mil). Há ainda ajudas financeiras para necessidades suplementares, como mães ou pais solteiros, situações especiais como roupas de gravidez e de bebê, ou ainda para a educação de crianças e adolescentes, que incluem, por exemplo, recursos para material didático e excursões escolares.

Também há auxílio para pagar o aluguel, se ele for considerado “razoável”. Isso significa um montante de cerca de 450 euros (quase R$ 2 mil) no caso de um apartamento para duas pessoas em Berlim, uma das cidades mais baratas da Europa ocidental.

Reino Unido: apoio será ampliado

O país está implementando o sistema do Crédito Universal, um pagamento mensal para famílias de baixa renda.

Ele deverá ser ampliado para todo o país até 2019 e substituirá outros benefícios, como o complemento de renda (Income Support) e auxílio-moradia.

O Crédito Universal pode ser solicitado por trabalhadores, autônomos e desempregados. O montante depende da situação (ganhos, filhos, eventual deficiência, ajuda para pagar aluguel) e do local onde a pessoa vive. Ele não é válido para quem não é cidadão britânico ou irlandês. Um casal acima de 25 anos recebe 499 libras (US$ 640) por mês. Outros fatores podem ser acrescentados à ajuda básica, como 277 libras (US$ 355) por mês no caso do primeiro filho e 232 libras para o segundo filho e subsequentes.

França: ajuda nas contas de luz e gás

O sistema de proteção social francês é um dos mais generosos do mundo.

O país garante, por exemplo, uma renda mínima para pessoas com mais de 25 anos sem atividade profissional e que não tenham mais direito ao seguro-desemprego (que pode durar até dois anos). Jovens a partir de 18 também têm direito ao chamado Revenu de solidarité Active (RSA) caso tenham filhos.

O valor do RSA para uma pessoa que não receba auxílio-moradia complementar é de 550 euros (R$ 2,3 mil) mensais. Um casal com um filho recebe quase 1 mil euros (R$ 4,3 mil).

Além de uma ajuda financeira para o aluguel, há inúmeras outras alocações, como a destinada a despesas com crianças de menos de três anos, para a compra de material escolar ou ainda o “cheque energia” para pessoas de baixa renda, soma anual que varia de 28 a 247 euros (R$ 120 a pouco mais de R$ 1 mil) para ajudar a pagar contas de luz ou gás.

Índia: queda grande na taxa de pobreza.

A Índia lançou em 2013 um plano experimental de pagamento em dinheiro aos mais pobres, nos moldes do Bolsa Família brasileiro. O governo estuda atualmente modalidades para estender o programa, batizado de “seu dinheiro em suas mãos”. Há dois anos, técnicos da Índia visitaram o Brasil para aprofundar conhecimentos em relação ao Bolsa Família.

Há diversos programas de bem-estar social no país, relacionados principalmente a bolsas de estudo. O país fornece auxílio para a compra de alimentos (5kg de grãos por pessoa por mês), subsídio para o gás de cozinha e alocações financeiras para atender às necessidades básicas de famílias.

A taxa de pobreza na Índia caiu de 55% para 28% no período de dez anos (até 2016), segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

Itália: complemento aos baixos salários.

A Itália ainda não possui um regime nacional de apoio financeiro à população de baixa renda.

Até o momento, o único benefício social nacional, o Assegno Social, é pago àqueles com mais de 66 anos em situação de vulnerabilidade.

Em seu projeto de orçamento para 2019 – fortemente criticado pela União Europeia por prever o agravamento do déficit público, que se situaria em 2,4% do PIB -, o governo italiano prevê o aumento dos gastos públicos para permitir a criação da chamada “renda de cidadania”, medida defendida pelo Movimento 5 Estrelas e que garantiria a qualquer pessoa maior de idade uma renda mínima de 780 euros (R$ 3,3 mil).

Na prática, se a pessoa trabalhar e tiver um salário de 400 euros, ela receberá o complemento, 380 euros.

Também existem na Itália programas administrados por regiões e cidades que concedem recursos em função da renda e que variam de acordo com a localidade.

Canadá: governo limita iniciativas

No Canadá, os programas de assistência social são administrados pelas províncias e territórios, que fixam suas próprias regras e montantes dos pagamentos.

Em Ontário, uma pessoa sem filhos pode receber, entre a ajuda financeira de subsistência e o auxílio moradia máximo, até cerca de R$ 2 mil. No caso de um casal com dois filhos, a soma pode atingir R$ 3,3 mil.

A província de Ontário havia lançado no ano passado um projeto piloto de renda básica universal (uma verba mensal garantida tanto para desempregados quanto para trabalhadores), com 4 mil pessoas inscritas. Ele deveria durar três anos, mas em julho o governo da província anunciou o encerramento progressivo do projeto, alegando que a iniciativa custa caro e não é viável a longo prazo. Uma pessoa solteira poderia receber até 17 mil dólares canadenses (R$ 50 mil) por ano.

Coreia do Sul: programas ‘sob medida’

Após a crise de 1997, o governo sul-coreano ampliou, em 2000, as condições para ter acesso ao chamado programa de proteção nacional de subsistência básica, permitindo que pessoas na faixa de renda baixa pudessem receber os recursos.

Antes, eles eram destinados apenas a pessoas incapacitadas de trabalhar por motivo de deficiência ou idade. O programa foi reforçado em 2015, com ajudas “sob medida” relacionadas ao custo de vida, serviços médicos, moradia e educação, baseada nas necessidades dos beneficiários.

O benefício corresponde a 30% da renda média, fixada anualmente pelo ministério da Saúde e do Bem-Estar Social. A renda média é de 2,8 milhões de wons (US$ 2,5 mil) para um lar com duas pessoas e a alocação de subsistência é de US$ 740. A ajuda escolar (inscrições, compra de material, entre outros) para estudantes do ensino fundamental e médio vai de US$ 37 a US$ 48.

18 de dezembro de 2018

COMO FUNCIONAM PROGRAMAS NOS MOLDES DO “BOLSA FAMÍLIA” NAS 10 MAIORES ECONOMIAS DO MUNDO! PARTE 1!

(Daniela Fernandes – BBC News, 08/12) No Brasil, as despesas com o Bolsa Família, programa que beneficiou 14 milhões de famílias em novembro, representam cerca de 0,5% do PIB. Neste ano, os pagamentos do Bolsa Família devem atingir R$ 30 bilhões.

A pobreza não é uma questão que preocupa apenas os países menos desenvolvidos.

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), as nações ricas que integram o grupo gastam, em média, 1,6% do PIB em prestações de assistência social condicionadas a um limite de renda dos beneficiários, como é o caso do Bolsa Família. São recursos transferidos em dinheiro para ajudar na subsistência e lutar contra a pobreza. O número exclui gastos sociais com Previdência, saúde e seguro-desemprego.

Entre as 10 maiores economias do mundo – que incluem desde países com elevados níveis de bem-estar social, como a França e a Alemanha, aos com altos índices de pobreza, como a Índia -, os programas de transferência de renda estão presentes, ainda que com diferentes formulações.

Na França – que vive uma onda de violentos protestos motivados pelos efeitos da alta carga tributária e do baixo poder de compra de boa parte da população -, os programas de transferência de renda são ainda mais amplos do que a média dos países ricos e atingem 2,1% do PIB, totalizando mais de 45 bilhões de euros (cerca de R$ 200 bilhões).

Além de garantir recursos para despesas do dia-a-dia, a França, que possui uma ampla rede de proteção social, tem também programas de ajuda para pagar o aluguel e contas de luz ou gás e para a compra de material escolar, entre outros.

O benefício médio recebido pelo programa é de R$ 187 (quase US$ 50), após reajuste de 5,7% que entrou em vigor em julho. O valor recebido pelos beneficiários varia conforme o número de membros da família, a idade de cada um e a renda.

De acordo com Maxime Ladaique, diretor de recursos estatísticos da divisão de políticas sociais da OCDE, os gastos dos países ricos com programas de transferência de renda se mantém, em geral, estáveis nos últimos anos.

“Logo após a crise financeira de 2008, as prestações sociais aumentaram, enquanto o PIB caiu. Os países pagaram mais para amortecer os efeitos da deterioração da economia”, diz o especialista.

“Desde então, elas vêm sendo levemente reduzidas, mas o PIB dos países cresceu”, afirma Ladaique, acrescentando que, na prática, a relação desses gastos em relação ao PIB tem se mantido estável.

Pode mudar no Brasil?

O presidente eleito Jair Bolsonaro, antes crítico do Bolsa Família, declarou que vai ampliar o programa e aperfeiçoar o combate a fraudes.

Além de um 13° ‘salário’ para os beneficiários, o programa de governo de Bolsonaro prevê instituir um sistema de “renda mínima para todas as famílias”, ou seja, não apenas as mais pobres, com valor igual ou superior ao que é atualmente pago. O programa do presidente eleito não detalha, no entanto, como seriam obtidos os recursos para financiar a medida e se, de fato, ela será adotada.

Pedaço pequeno dos gastos sociais

Na avaliação de Ladaique, os programas de transferência de renda dos países ricos têm algo em comum: eles representam apenas uma pequena parte do total de gastos sociais, que incluem despesas bem mais elevadas como as da Previdência e saúde. “As despesas com pessoas de baixa renda são pouco significativas em relação a todos os gastos sociais”, diz ele.

Basta olhar para os números gerais: os países ricos da OCDE gastam, em média, 21% do PIB (Produto Interno Bruto) na área social.

O percentual engloba os recursos usados na Previdência, na saúde pública, com seguro-desemprego e assistência social às famílias, que em vários casos inclui programas de distribuição de renda. Na França, os gastos na área são ainda maiores: 31% do PIB.

No Brasil, os gastos sociais do governo federal atingem cerca de 17,5% do PIB, incluindo despesas com Previdência, saúde, assistência social, educação, trabalho, saneamento básico e habitação. O percentual é mais elevado do que em outros países da América Latina e da Ásia.

Em boa parte dos países ricos, no entanto, os programas de transferência de renda não permitem que os beneficiários vivam acima da linha da pobreza (que leva em conta o nível de vida no país), ressalta Ladaique, da Ocde.

Conheça detalhes sobre cada um deles (com exceção do Brasil, que ocupa a nona posição no ranking do FMI) a seguir:

Estados Unidos: auxílio para alimentação.

O principal programa social dos Estados Unidos é o SNAP (Programa de Assistência Nutricional Suplementar), que ajuda pessoas de baixa renda a comprarem comida. É um programa federal, executado por agências locais, que beneficia mais de 20 milhões de lares. O valor médio pago por mês em 2018 para cada beneficiário é US$ 125 e, para cada lar, US$ 252. Os valores se mantiveram estáveis nos últimos quatro anos. O benefício custará quase US$ 56 bilhões neste ano. O SNAP é concedido aos lares com recursos e ativos de até U$ 2,2 mil.

O governo do presidente Donald Trump propôs mudanças na legislação, passando a exigir que pessoas com até 60 anos trabalhem para ter direito ao benefício, comumente chamado de “selos de comida”. No caso de desempregados, também há programas de seguro-desemprego, operados por cada um dos Estados.

Por conta do impasse político criado com a proposta de mudança do SNAP, o Congresso americano ainda não aprovou a nova lei agrícola (Farm Bill), que financia o setor e o programa de nutrição. Parte da lei expirou no final de setembro e o restante irá expirar em 31 de dezembro.

A imprensa americana estima que pelo menos 2 milhões de pessoas poderão ter o benefício do SNAP cortado ou reduzido caso a proposta de Trump seja aprovada.

O programa Renda de Segurança Suplementar – Supplemental Security Income (SSI) – paga benefícios a adultos e crianças com deficiência ou pessoas acima de 65 anos com poucos recursos (ativos de até US$ 2 mil para um solteiro ou US$ 3 mil para um casal, considerando conta bancária, poupança, carro etc). No ano passado, o valor da ajuda mensal era de US$ 735 para um solteiro e de US$ 1,1 mil para um casal.

Há outros programas nos Estados Unidos, como a assistência temporária em dinheiro para famílias pobres e sem emprego (Temporary Assistance for Needy Families – TANF), com critérios e benefícios definidos pelos Estados. Alguns Estados exigem, para conceder o benefício, renda equivalente a menos de 50% da linha da pobreza, enquanto outros aceitam valores acima disso. Há uma contrapartida de horas de trabalho mensais, que podem ser serviços à comunidade, formações, ou empregos subsidiados no setor público e privado.

China: mudanças desde 1990

O país implementou 12 programas de assistência social. Alguns foram criados há várias décadas, mas eles ganharam força após uma reforma da assistência social no início dos anos 90, que passou a incluir nos programas de transferência de renda pessoas aptas ao trabalho.

Um deles, com versões urbana (“Urban Dibao”), e rural (“Rural Dibao”), garante recursos mínimos de subsistência às famílias de baixa renda, independentemente da capacidade para trabalhar. O sistema beneficia todos os lares do país que vivem abaixo da linha da pobreza. Shangai, a cidade mais desenvolvida do país, foi a primeira a implementar, em 1993, o Dibao urbano nos novos moldes que beneficiam a todos.

O programa Dibao é nacional, mas em razão das disparidades entre áreas urbanas e rurais e entre províncias do país, os governos locais definem os padrões de ajuda, ou seja, os benefícios variam de uma região para outra, mas são normalmente calculados em função da linha da pobreza na localidade.

Em Pequim, por exemplo, a linha da pobreza é de 900 yuans por mês (R$ 500). Se uma pessoa ganhar apenas 700 yuans (R$ 385), o governo completa os 200 yuans que faltam para atingir a renda mínima de subsistência.

Na média, o “Urban Dibao” equivale a um quinto ou um sexto da renda per capita das cidades. Em Pequim, a renda média per capita é de 5,3 mil yuans (R$ 2,9 mil).

Nas áreas rurais, a linha de pobreza média do Dibao é de 312 yuans (R$ 172), mais do que o dobro do valor em 2010, segundo a ONU.

Há um outro programa nas áreas rurais, o “Wubao”, que fornece alimentação, roupas e cuidados médicos, além de ajuda financeira para moradia e até para enterros.

A partir dos anos 2000, a China reforçou novamente seus programas sociais, com assistência educacional para beneficiários do Dibao, além de subsídios para moradia.

17 de dezembro de 2018

AS 3 ECONOMIAS DA AMÉRICA LATINA PRÓXIMAS DE SE TORNAREM AS MAIORES DECEPÇÕES DE 2018! 

(CNN, 08) No início do ano, poucos imaginavam que haveria uma revolta popular nicaraguense e que ela provocaria centenas de mortes.

Enquanto a crise se agrava na Venezuela, país com o pior desempenho econômico na América Latina, três outras economias da região correm o risco de fechar o ano sob fortes quedas.

É o caso da Nicarágua, da Argentina e do Equador, que têm dado sinais de que terminarão 2018 numa situação complicada.

Na Argentina, o bom desempenho econômico no primeiro trimestre não indicava que meses depois haveria uma corrida contra a moeda local, o peso, e que a taxa básica de juros chegaria a 60% (no Brasil, ela é de 6,5%).

Quanto ao Equador, os analistas se preocupam com o alto nível de endividamento público.

Já o Brasil, que nos últimos anos se habituou a figurar nos rankings das economias com pior desempenho do continente, escapou desta vez. Segundo a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), o país deve crescer 1,6% em 2018 – 0,1 ponto percentual acima da média de crescimento de toda a América Latina, segundo a comissão.

Nicarágua: o impacto da crise social e política

A crise social e política na Nicarágua resultou em mais de 300 mortes e quase 2.000 pessoas feridas, segundo o Escritório do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos.

A organização denunciou execuções extrajudiciais, desaparecimentos forçados e barreiras ao acesso à assistência médica num país que enfrenta protestos massivos contra o presidente Daniel Ortega.

Em meio à crise, a Cepal projeta uma busca queda no crescimento econômico, que deve passar de 4,9%, em 2017, para 0,5% neste ano.

O conflito teve um impacto profundo no turismo, no comércio e na agricultura, além de afetar exportações e investimentos.

“Se o baixo crescimento persistir e as tensões sociais não se resolverem, deve-se esperar que os indicadores sociais comecem a deteriorar”, disse à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, Daniel Titelman, diretor da Divisão de Desenvolvimento Econômico da Cepal.

Mas há um elemento importante na economia local, que são as remessas de nicaraguenses no exterior – o economista estima que não haverá redução desse volume, ao menos um fator positivo num país tão convulsionado.

A Nicarágua representa 0,3% do PIB da América Latina e registrou no ano passado um PIB per capita de US$ 2.217 (cerca de R$ 8.600). O país tem 6,2 milhões de habitantes.

Argentina em situação de emergência

A Argentina, com 44,5 milhões de habitantes, tem vivido dias sombrios. O presidente Mauricio Macri declarou que o país está em uma “situação de emergência” e anunciou um plano de ajuste que inclui uma redução no número de ministérios a menos da metade e volte a impor impostos sobre as exportações agrícolas.

O peso argentino perdeu 50% de seu valor ante o dólar no último ano, e espera-se que a depreciação acelere ainda mais a inflação, que já superou os 30%.

Além disso, a taxa de juros chegou a 60%, algo difícil de imaginar no primeiro trimestre, quando as coisas caminhavam dentro do previsto.

Macri busca diminuir o déficit orçamentário para convencer investidores de que o país pagará sua dívida, uma das condições acordadas como parte de um empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI) de US$ 50 bilhões (o equivalente a quase R$ 195 bilhões).

O governo esperava atingir um equilíbrio fiscal até 2020 e o adiantou para 2019, impondo-se uma meta difícil de alcançar.

“A Argentina tem problemas de baixo crescimento, alta inflação e baixa credibilidade por parte dos mercados. Não é fácil manejar essa situação”, afirma Titelman, da Cepal.

A Cepal projeta que a economia argentina, que cresceu 2,9% em 2017, tenha uma queda de 0,3% neste ano.

Terceira maior economia da região, a Argentina representa 11,7% do PIB regional e registrou no ano passado um PIB per capita de US$ 14.305 (cerca de R$ 56 mil).

O Equador e o ajuste do gasto público

O Equador cresceu 3% em 2017, principalmente graças ao aumento do consumo privado e do gasto público, financiado por meio de endividamentos.

É justamente o tamanho da dívida uma das pressões econômicas que inquietam os analistas estrangeiros.

Outro aspecto preocupante é que no ano passado o investimento caiu 0,5%, um dos fatores que fizeram a Cepal projetar um crescimento de 1,5% na economia do país neste ano.

Como essa queda ocorreu em apenas 12 meses? “Os motores que empurravam a economia em 2017 se debilitaram”, diz Titelman, da Cepal.

No Equador, o petróleo tem um papel muito importante na economia, e a produção total do óleo teve uma queda de quase 3,4% em 2017.

Isso, somado a outras incertezas, como o ajuste de gastos promovido pelo governo de Lenín Moreno, influenciaram na redução das projeções.

A Cepal estima que haverá queda no consumo em meio a uma política monetária mais restritiva.

O Equador é uma economia dolarizada altamente sujeita aos vaivéns externos. “Quando o dólar se valoriza, isso não convém ao Equador, porque ele perde competitividade”, disse Titelman.

E já que os EUA estão subindo as taxas de juros, novas nuvens podem surgir no horizonte. Frente a esses desafios, o governo equatoriano apostou em medidas de austeridade para reduzir o déficit e a dívida pública, com o intuito de aumentar a arrecadação.

O plano foi anunciado em abril deste ano e deixou organismos internacionais e investidores esperançosos. O Equador representa 1,9% da economia latino-americana e registrou no ano passado um PIB per capita de US$ 6.199 (cerca de R$ 24 mil). O país tem 16,8 milhões de pessoas.