04 de setembro de 2019

O CAPITALISMO NÃO ANDA BEM!

(The Economist – O Estado de S. Paulo) O capitalismo não está funcionando como deveria. Empregos existem, mas o crescimento se arrasta, a desigualdade é alta e o meio ambiente está sofrendo. Seria de se esperar que os governos fizessem reformas para enfrentar esses problemas, mas a política anda travada ou é instável. Quem, então, vai se encarregar do resgate?

Um número grande de pessoas acredita que a resposta é confiar nas corporações. Mesmo os executivos americanos, conhecidos por ignorar limites, concordam. Na semana passada, mais de 180 deles, incluindo os chefes do Walmart e do JPMorgan Chase, derrubaram três décadas de ortodoxia para anunciar que o propósito básico de suas empresas não é mais beneficiar apenas os donos, mas clientes, funcionários, fornecedores e comunidade.

A motivação deles é tática e parte de uma mudança de atitude contra os negócios. Funcionários jovens querem trabalhar para firmas que adotem padrões morais e políticos em relação a questões atuais.

Por melhores que sejam as intenções, porém, essa nova forma de capitalismo coletivo terminará provocando mais males que benefícios. Há riscos de se formar uma classe de executivos inexperientes e sem legitimidade. Há também uma ameaça à prosperidade de longo prazo, condição básica ao sucesso do capitalismo.

Desde que os negócios ganharam confiança limitada na Grã-Bretanha e na França, no século 19, discute-se o que a sociedade pode esperar em retorno. No anos 1950 e 1960, Estados Unidos e Europa experimentaram o capitalismo gerencial, no qual empresas gigantes trabalhavam com governo e sindicatos e ofereciam aos trabalhadores segurança no emprego e benefícios. Mas, após a estagnação dos anos 1970, o enriquecimento dos acionistas passou a dominar, no processo de maximizar os lucros. Sindicatos entraram em declínio e o sucesso dos acionistas conquistou os Estados Unidos e em seguida a Europa e o Japão.

É esse modelo que está sob ataque. Como parte da investida, há um perceptível declínio na ética dos negócios. Empresas listadas em bolsas são acusadas de uma série de pecados, como obsessão por ganhos de curto prazo, investimentos irresponsáveis, exploração de funcionários, achatamento de salários e recusa em pagar por danos ambientais que criaram.

Algumas das advertências são verdadeiras. Consumidores frequentemente saem perdendo e a mobilidade social afundou. De qualquer modo, a reação popular e intelectual ao lucro a qualquer preço já está alterando a tomada de decisões. Líderes empresariais passaram a apoiar causas sociais populares entre clientes e funcionários. Empresas investem levando em conta não apenas eficiência. A Microsoft está financiando um projeto habitacional de US$ 500 milhões em Seattle.

Parece ótimo, mas o capitalismo coletivo enfrenta dois grandes problemas: ausência de responsabilidade ética e de dinamismo. Em relação à ética, não está claro como os executivos ficarão sabendo o que a “sociedade” espera de suas empresas. As probabilidades são de que políticos, lobistas e os próprios executivos venham a decidir, não dando voz às pessoas comuns.

O segundo problema é o dinamismo. As empresas têm de abandonar pelo menos alguns participantes – um número necessário para enxugar uma empresa obsoleta e realocar capital.

O meio de fazer o capitalismo funcionar melhor não é limitar a responsabilidade ética e o dinamismo, mas aperfeiçoar ambos. Isso requer que os propósitos das empresas sejam estabelecidos pelos donos e não por executivos ou políticos. A maioria deles vai optar por maximizar valores de longo prazo.

Um bom modo de fazer empresas com mais responsabilidade ética é ampliar o número de proprietários. A proporção de famílias americanas ligadas ao mercado de ações é de apenas 50%. O sistema tributário deveria encorajar mais o compartilhamento da propriedade. Os beneficiários finais de planos de pensão e fundos de investimento deveriam poder votar em eleições de diretoria. Esse poder não deveria ser terceirizado para poucos barões da indústria de gestão de ativos.

Responsabilidade ética só funciona se houver competição. Isso faz baixar preços, impulsiona a produtividade e garante que empresas não consigam ter por muito tempo lucros fora do normal. Mais ainda: estimula as empresas a se anteciparem às mudanças – por medo de que um concorrente faça isso primeiro.

Infelizmente, desde os anos 90 a consolidação deixou dois terços das indústrias dos Estados Unidos mais concentradas. Ao mesmo tempo, a economia digital parece tender ao monopólio. Se os lucros das empresas estivessem em níveis historicamente normais, e os trabalhadores do setor privado usufruíssem os benefícios, os salários seriam 6% mais altos. Na lista dos 180 empresários americanos que se reuniram na semana passada, muitos estão em indústrias que são oligopólios – incluindo cartões de crédito, TV a cabo, farmacêuticas e empresas aéreas –, que cobram demais dos consumidores. Sem surpresa, ninguém estava ansioso para reduzir as barreiras para ingresso no clube.

Obviamente, uma economia competitiva e saudável requer um governo efetivo – para aplicar leis antitruste, reprimir lobismo e nepotismo excessivos, lidar com as mudanças climáticas. Essa política ideal não existe, mas dar poder a executivos de grandes empresas para atuar como substitutos não é a resposta. O mundo precisa de inovação, de um maior número de proprietários e de empresas que se adaptem às necessidades da sociedade. É esse realmente o tipo mais esclarecido de capitalismo.

03 de setembro de 2019

TIM BELL, O FUNDADOR DAS FAKE NEWS!

(O Estado de S. Paulo – The Economist, 02) Tim Bell abominava regras. Em seu escritório de Mayfair, bairro chique de Londres, o homem que fez a indústria de relações públicas britânica famosa (e desacreditada) zombava da proibição de fumar. Mesmo no inverno, a fumaça de seus dois maços diários de Dunhills escapava pelas janelas abertas. Na rua embaixo, seu motorista o esperava para levá-lo para almoçar num restaurante a apenas 200 metros. Justificando sua opção por uma vistosa Ferrari vermelha, ele dizia: “Gosto de ser admirado”. No escritório a TV estava sempre ligada, ou na fala da premiê ou num jogo de críquete. Numa mesa, Bell mantinha fotos da família e da cliente, amiga e ídolo, cuja descomplicada devoção à liberdade combinava com a dele.

Na vida e na morte, o papel de Bell nas três eleições de Thatcher tem sido exagerado. Seu trabalho – primeiro na agência de publicidade Saatchi & Saatchi e depois em sua própria empresa – era conquistar clientes, não criar slogans. Thatcher acreditava em sua magia e o trouxe para a eleição de 1987, mesmo depois de a Saatchi o proibir de trabalhar na campanha após um desentendimento interno. Bell era o homem de Thatcher “no ônibus de Clapham”, aquele que conseguia captar a opinião das pessoas comuns.

Ele se tornou um cortesão, distribuindo elogios em tom solene em reuniões familiares e no almoço do dia de Natal. “O 26 de dezembro (‘Boxing Day’, feriado comemorado em países de língua inglesa) é só para o gabinete e para pessoas que dão dinheiro ao partido”, dizia ele. Quando Thatcher gravava peças de propaganda na TV, Bell sentava-se por perto e cuidava para que ela relaxasse e falasse como se se dirigisse a uma só pessoa, não a uma multidão.

Thatcher, apesar de seu puritanismo, perdoava a vida irregular de Bell. Ela riu muito quando ele, despertando de uma noite regada a champanhe, atendeu seu telefonema percebeu subitamente que havia sido assaltado. Foi lorde Bell quem anunciou a morte da ex-primeira-ministra, em 2013.

Seu legado mais significativo é fazer de Londres um polo do que ele chamava de “trabalho geopolítico”, mas outros chamavam de “centro de lavagem de reputações”. No auge da fama, Bell passou de publicidade para relações públicas. “Sua proximidade com a premiê não atrapalhava os negócios”, diz Bernard Ingham, ex-secretário de imprensa de Thatcher. Bell conseguiu um de seus primeiros clientes, F. W. de Klerk, então presidente da África do Sul, com um telefonema em nome de Thatcher. Mais tarde, ele diria que o telefonema fora “pelo menos 10% verdadeiro”.

Colegas diziam que ele era amigo só nos bons momentos e tinha uma inclinação para a esperteza. Bell, alegando que “moral é função de padre, não de homem”, ajudou o ditador chileno Augusto Pinochet a escapar da extradição para a Espanha por acusações de tortura, e melhorou as reputações de Alexander Lukashenko, homem forte da Bielorússia, e Asma al-Assad, mulher do presidente da sírio.

Num mesmo ano, ele participou de campanhas contra e a favor do tabagismo. Sua agência, Bell Pottinger, que ele fundou em 1998, criou blogs falsos e contas falsas na mídia social. Ele não levava muito a sério os fatos, dizendo que “as pessoas não levam”. E explicava que, “uma vez que o diabo está no detalhe, não precisamos da p… do detalhe”. Até onde suas campanhas funcionaram ainda está em aberto. Ele assessorou o ministro das Finanças de Pinochet e o francês Jacques Chirac em eleições que ambos perderam, e criou a estratégia de comunicação para a “transição para a democracia” do Iraque, em 2004.

Bell tinha um talento especial para jogar nos outros a culpa de seus erros. Ele insistiu para que David Mellor, um parlamentar adúltero inglês, fizesse uma desastrosa foto com a família. A ideia impopular de servir sanduíches de presuntada nas comemorações do 50º aniversário do Dia D foi sugerida, segundo ele, “pelos fuzileiros navais ingleses, não por mim”.

Felizmente para Bell, os resultados contavam menos que seu charme, o que lhe valeu contratos com o metrô de Londres, com o Sindicato Nacional de Professores, cuja política ele atacava, e com a BBC, meses depois de propor que a emissora fosse vendida.

No fim, a exemplo de seu ídolo, ele foi longe demais. Resistiu a sugestões para melhorar a imagem da Bell Pottinger. A agência entrou em colapso em 2017 após a revelação de uma campanha secreta feita por ela para manipular a opinião pública da África do Sul contra o “monopólio branco do capital”. Nessa altura, Bell havia renunciado à direção da agência, como sempre, jogando em outros executivos a culpa pelos problemas da empresa.

Ele não se aposentou e fundou outra agência. Também não abriu mão dos prazeres. Uma amiga que o visitou dias antes de ele morrer o encontrou grudado na TV, vendo um jogo de seu adorado críquete. Aí ele pediu a ela que lhe acendesse um cigarro.

O estrategista Tim Bell tinha um talento especial para jogar nos outros a culpa de seus erros.

02 de setembro de 2019

USURPAÇÃO DO PODER!

(O Estado de S. Paulo, 01) A democracia não distribui indistintamente o poder aos órgãos estatais. Se assim fosse, o poder já não emanaria do povo, e sim do Estado.

O ex-presidente Michel Temer alertou, em entrevista ao jornal Valor, para a ocorrência cada vez mais habitual da quebra da ordem constitucional. “O que mais temos no Brasil é a violação de natureza institucional”, disse, referindo-se aos excessos de órgãos subordinados aos Três Poderes. A denúncia é de extrema gravidade, já que significa que, por vias ocultas, o poder estaria sendo exercido fora dos cânones institucionais. Em outras palavras, haveria um exercício não democrático do poder.

“Quando a Constituição diz que ‘todo poder emana do povo’ não é regra de palanque, é regra jurídica”, lembrou Michel Temer. Sendo o Brasil um Estado Democrático de Direito, “em vez de haver um único poder no Estado, como no absolutismo (…), há três órgãos para exercer o poder. A partir deles é que há os órgãos inferiores. E esses órgãos inferiores não podem estar em busca de poder. Eles têm que acompanhar o que a estrutura do poder constitucional estabelece, por meio do Legislativo, Executivo e Judiciário. É neste sentido que digo que há equívocos institucionais muito acentuados”, afirmou o ex-presidente.

Eis o ponto central da questão e que tem sido motivo de muita confusão. Precisamente porque todo o poder emana do povo, no Estado Democrático de Direito, os órgãos subordinados aos Três Poderes não exercem poder e, portanto, não devem estar em busca de poder. O poder, por delegação do povo, é exercido pelas três instituições superiores – Legislativo, Executivo e Judiciário – na exata medida de suas competências constitucionais.

O Ministério Público, por exemplo, não exerce o poder. O que lhe cabe é a defesa da ordem jurídica e do regime democrático. Ou seja, ele é o guardião da ordem jurídica, mas não o artífice e tampouco o modulador dessa ordem. Assim, o Ministério Público é plenamente democrático no exercício de suas atribuições, respeitando de fato e de direito que todo o poder emana do povo, quando ele não busca poder para si mesmo. Um membro do Ministério Público sairia do traçado democrático se, no cumprimento de sua atividade profissional, almejasse algum tipo de influência política. O mesmo se pode dizer de todos os órgãos subordinados aos Três Poderes, como, por exemplo, os Tribunais de Contas e os órgãos públicos de fiscalização e controle.

No entanto, tem-se visto no Brasil não apenas a frequente busca de poder por órgãos que não detêm poder, como alertou o ex-presidente Michel Temer. O que é mais surpreendente é que, nessa tentativa de usurpar o poder, membros desses órgãos apelam ao princípio democrático ou à Constituição de 1988, como se a democracia significasse distribuição indistinta do poder a todos os órgãos públicos. Em alguns casos, chegam a alegar que, sem o exercício desse poder, não teriam condições de cumprir as atribuições que a Carta Magna lhes atribuiu.

Nos últimos anos, por exemplo, membros do Ministério Público afirmaram explicitamente que sua tarefa institucional de combater a corrupção incluía promover alterações no sistema político e no ordenamento jurídico. Além disso, toda tentativa voltada a promover uma atuação desses órgãos dentro dos cânones institucionais – isto é, dentro dos limites que a ordem democrática lhes conferiu – foi classificada como mordaça, censura ou diminuição da autonomia funcional. Tal reação pode ser vista, por exemplo, em relação ao projeto de lei que criminaliza o abuso de autoridade.

Diante dessas alegações que, sob a aparência de consciência democrática, buscam usurpar o exercício do poder, é preciso relembrar que a democracia não distribui indistintamente o poder aos órgãos estatais. Se assim fosse, o poder já não emanaria do povo, e sim do Estado. Por isso, a Constituição assegura que o poder seja exercido, de fato e de direito, por quem, de fato e de direito, representa o povo. Nesse sentido, é característico da democracia o cuidado – extremo respeito – com o Legislativo e suas prerrogativas. Os órgãos estatais não caminham bem quando, de alguma forma, buscam desqualificar o trabalho do Congresso perante a opinião pública. O respeito pelos Três Poderes é parte essencial da consciência democrática – e isso vale para todos, também para quem exerce temporariamente, seja porque foi aprovado em concurso, seja porque foi eleito, a função pública.

30 de agosto de 2019

MANOBRA DE BASTIDOR REVELA LADO IMPLACÁVEL DE BORIS JOHNSON!

(NYT/O Estado de S. Paulo, 29) Boris Johnson foi projetado ao topo da política britânica com um ar de charme e caótica perplexidade. Ele entrou entre grupos distintos, mudou de lado quando isso se adequava às suas ambições e verteu uma provocativa bravata, como quando colocou o pé sobre uma mesa no Palácio do Eliseu, em Paris, na semana passada.

Mas a decisão de Johnson de interromper a sessão do Parlamento revelou outro lado: o do tático impiedoso que assumiu o cargo de premiê. Com o Brexit em suspenso, Johnson reuniu todo o poder para cortar as pernas de uma oposição vacilante, arriscando criar uma crise constitucional para conseguir o que prometeu.

Os oponentes de Johnson argumentam que suas políticas podem resultar em um Brexit desastroso, sem acordo, com o potencial de devastar o Reino Unido, levar a economia a uma recessão, além de provocar a escassez de alimentos e de medicamentos.

“É muito mais intencional, mais organizado, em muitos aspectos, mais agressivo do que o Boris Johnson que as pessoas achavam que conheciam”, disse Tony Travers, professor de administração da London School of Economics. Com sua “decisão tirar um coelho da cartola” para suspender o Parlamento, Johnson demoliu seus oponentes e “transmitiu a sensação de um governo que está no controle”, disse Travers. Ao limitar o tempo disponível para que o Parlamento bloqueie um Brexit sem acordo, Johnson buscou minar uma estratégia da oposição anunciada na terça-feira, disseram analistas.

Após semanas discutindo sobre quem deveria assumir o comando, caso se derrotasse Johnson, os parlamentares da oposição mudaram o discurso. Eles disseram que adiariam a ideia de tentar tirar Johnson do cargo e, em vez disso, agiriam mais premeditadamente, concentrando-se na aprovação de legislação que impediria um Brexit sem acordo. Para uma oposição fragmentada, era uma estratégia dolorosamente considerada de se unir e confrontar Johnson em seus planos. Também foi uma admissão de que eles ainda não tinham números para substituir Johnson por um premiê provisório, em grande parte porque a oposição está dividida sobre se Jeremy Corbyn, o líder esquerdista e eurocético do Partido Trabalhista, é um substituto adequado. Mas Johnson tinha outras ideias.

Ao interromper a sessão do Parlamento, ele abriu um buraco no plano da oposição para resolver os problemas lentamente e evitar uma decisão sobre tentar substituí-lo. De fato, dizem os analistas, ele chamou seu blefe, dando aos legisladores contra o Brexit apenas uma questão de dias para decidir se se sentiam fortes o suficiente para impedir o Brexit a fim de expulsá-lo do cargo.

Eles estão “chamando Corbyn para a briga e outros para pedir um voto de confiança na próxima semana”, disse Matthew Goodwin, professor de política da Universidade de Kent. “Johnson e sua equipe estão explorando as divisões no outro lado.” Segundo as regras parlamentares, Johnson provavelmente precisará do apoio de Corbyn se desejar convocar uma eleição geral antecipada – o que não é uma coisa certa, já que os números das pesquisas do líder trabalhista estão em queda. E Johnson ainda está lidando com uma ameaça de insurgência da direita na forma do Partido Brexit, que pode desviar votos cruciais.

E enquanto Johnson reduziu drasticamente o tempo do Parlamento para debater o Brexit, ele não conseguirá impedir que a instituição se una em grupo. Os legisladores voltarão do recesso na próxima semana, e analistas acreditam que ainda há tempo para os líderes da oposição aprovarem uma lei que bloqueie um Brexit sem acordo.

29 de agosto de 2019

EGÍPCIOS SENTEM FALTA DE MUBARAK!

(The Economist – O Estado de S. Paulo, 28) Hosni Mubarak uma vez desconectou a internet para desestimular protestos. Então, o que aconteceu com um de seus maiores apoiadores online é irônico. Karim Hussein compartilha fotos e vídeos do ex-ditador com os 3 milhões de seguidores na página “Sinto muito, Senhor Presidente” do Facebook. Muitos de seus posts são sutilmente políticos, como uma lista explícita das razões pelas quais os egípcios queriam derrubar Mubarak em 2011: uma moeda estável; dívida externa administrável; turismo próspero. Todos itens da lista pioraram desde a revolução.

Hussein também escreveu que o ex-presidente permitiu uma imprensa livre. Isso foi um exagero. Mas o atual presidente, Abdel Fattah al-Sissi, não tolera nem mesmo as limitadas liberdades políticas de seu antecessor. Em 9 de julho, a polícia prendeu Hussein por suspeita de “espalhar notícias falsas”.

Em 2011, quando a revolta popular acabou com o regime de 30 anos de Mubarak, seria difícil imaginar tal nostalgia. Muitos egípcios achavam que seu país estava à deriva, liderado por um velho que não estava à altura do trabalho. Eles zombaram de seu comportamento trêmulo, chamando-o de “la vache qui rit”, a vaca que ri, uma marca francesa de queijo processado com um bovino radiante na caixa.

Oito anos depois, poucos egípcios veem o passado através de lentes corde-rosa. As pessoas comuns se lembram de um presidente que apoiava um esquema de subsídios que mantinha os preços baixos. Os desalentados remanescentes da sociedade civil do Egito sentem falta da relativa abertura.

Mubarak deu um pouco de espaço à oposição, como uma válvula de segurança e algo para aplacar o Ocidente. Sissi aumentou as execuções e persegue até aos próprios seguidores que saem da linha. “Eles eram profissionais. Agora, são amadores”, disse um ativista sobre os que estão no poder.

As reações exageradas do atual governo do Egito contra dissidentes são sinais de sua fraqueza

Mubarak e seus filhos alimentaram a nostalgia ao retornar aos olhos do público. Em maio, o ex-presidente deu uma rara entrevista a um jornalista do Kuwait. A discussão foi predominantemente sobre assuntos estrangeiros. Ele defendeu a invasão do Kuwait pelo Iraque, em 1990, e os esforços de Donald Trump pela paz entre israelenses e palestinos. No entanto, isso o colocou de volta em seu papel preferido de o mais bem viajado estadista idoso.

Seu filho mais velho, Alaa, também se tornou mais visível. Ele aparece em fotos nas mídias sociais, jogando gamão em humildes cafés e jantando em El Prince, um local popular no distrito Imbaba, da classe operária, famoso por amontoar porções de fígado frito e outras generosas refeições.

Perseguição. Tudo isso parece irritar Sissi. No dia 26 de junho, Alaa foi fotografado torcendo pelo Egito em uma partida de futebol da Copa da África, no Cairo. As autoridades revogaram seu cartão de identificação de fã logo depois, impedindo-o de assistir a futuras partidas. No mês passado, ele tuitou críticas a um ministro que brincou dizendo que aqueles que falam mal do Egito deveriam ter suas gargantas cortadas.

Um jornal subserviente logo acusou o filho de Mubarak de ligações com a banida Irmandade Muçulmana. Samir Sabri, um hiperativo advogado pró-governo, processou Alaa por “solidariedade com um grupo terrorista”.

Isso parece irracional. Ninguém realmente espera que Alaa desafie Sissi. Seu patrimônio não o protegeria – mesmo um ex-chefe do Exército, que ocupou a presidência no ano passado, foi preso. Mas o público ressentiu-se com Sissi, que carece de um partido político e de aliados de confiança (ironicamente, seus próprios filhos são assessores cada vez mais poderosos).

“Mubarak tinha um regime. Sissi tem a si mesmo”, disse um ativista. As reações exageradas do governo são sinais de sua fraqueza, não da força de Mubarak. Por coincidência, desde o mês passado, a EgyptAir não serve mais queijo processado em suas refeições a bordo.

28 de agosto de 2019

CONSTRUÇÃO ACUMULA 20 TRIMESTRES DE QUEDA!

(O Estado de S. Paulo, 27) Apesar dos esforços para tentar reativar o mercado imobiliário no País, a atividade da construção permanece em recessão. Já são 20 trimestres consecutivos de perdas, que devem ser sucedidos por nova queda no segundo trimestre deste ano, segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) obtidos pelo ‘Estadão/Broadcast’.

A expectativa é que a construção tenha encolhido 1,8% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com dados desagregados do Monitor do PIB (Produto Interno Bruto) da FGV. O resultado oficial das Contas Nacionais será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na próxima quinta-feira.

Considerando as nove recessões registradas pelo País, esta é a primeira vez que a construção encolhe já no período de expansão da economia (pós-recessão).

“Como a construção é uma atividade que emprega muita gente também, isso acaba tendo reflexo no mercado de trabalho”, observou a economista Juliana Trece, pesquisadora do Ibre/FGV.

Desde o primeiro trimestre de 2014, a construção já encolheu 31%, retornando ao patamar de dez anos atrás. No atual período de expansão da economia – iniciado no primeiro trimestre de 2017 até o primeiro trimestre de 2019 –, a atividade de construção acumulou uma perda de 6,7%. O setor, que corresponde a praticamente metade dos investimentos na economia, teria de avançar 46,7% para retornar ao nível pré-crise.

Para o coordenador do Monitor do PIB-FGV, Claudio Considera, o esforço recente feito pela equipe econômica do governo para aumentar as transações imobiliárias – via crédito ao consumidor com taxas de juros mais baixas e correção do saldo devedor pela inflação oficial, o IPCA – não deve ter a eficácia esperada para alavancar o setor de construção.

“Acho pouco provável, porque com a taxa de desemprego muito elevada e com o endividamento crescendo, as famílias não vão se endividar no longo prazo. Ainda mais do jeito que estão fazendo, baixando juros, mas com risco de assumir o peso de uma inflação mais adiante”, avaliou Considera. A retomada de obras federais que estão paralisadas é o caminho mais rápido para tirar a economia brasileira da paralisia em que se encontra, defendeu Considera.

“Isso (o gasto público com obras) não bate no primário, não bate na regra de ouro, porque investimento não conta. Bate no teto de gastos. Fure o teto de gastos! Faça o que tem de fazer, porque há uma urgência de cuidar de 13 milhões de desempregados, quatro milhões de desalentados, mais quatro milhões de subempregados”, opinou Claudio Considera.

Segundo o coordenador do Monitor do PIB, a elevada capacidade ociosa em diversos segmentos da economia – como indústria, comércio e serviços – deve inibir um salto significativo nos investimentos em máquinas e equipamentos, restando a construção como via alternativa para fazer a atividade econômica voltar a girar.

Obras paradas. O Brasil tem 14.403 obras paralisadas ou inacabadas, financiadas com recursos federais, segundo levantamento feito pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em 2018 e levado a plenário em maio deste ano. “Mais de um terço das obras que deveriam estar em andamento pelo País, cerca de 37%, não tiveram avanço ou apresentaram baixíssima execução nos últimos três meses analisados em cada caso. Juntas, elas alcançam um investimento previsto de R$ 144 bilhões, dos quais R$ 10 bilhões já foram aplicados”, apontou o TCU na síntese da auditoria operacional sobre obras paralisadas.

Para o TCU, as consequências da paralisação das obras vão muito além dos recursos desperdiçados e são “extremamente nocivas” para o País.

“Entre outros efeitos negativos, podem ser citados os serviços que deixam de ser prestados à população, os prejuízos ao crescimento econômico do País e os empregos que não são gerados. São mais de R$ 132 bilhões que deixaram de ser injetados na economia. Apenas no tocante aos recursos destinados às creches do Programa Proinfância, 75 mil vagas deixaram de ser criadas e oferecidas à população”, diagnosticou o TCU, na síntese da auditoria.

Potencial de recuperação. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) calcula que os investimentos em construção civil tenham crescido 0,6% no segundo trimestre de 2019 em relação ao primeiro trimestre do ano, ainda bastante aquém do necessário para que volte ao patamar pré-crise. O potencial para alavancar o setor deve vir do segmento de infraestrutura, corroborou Leonardo Melo de Carvalho, técnico de planejamento e pesquisa da diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea.

“Faça o que tem de fazer, porque há uma urgência de cuidar de 13 milhões de desempregados, quatro milhões de desalentados, mais quatro milhões de subempregados.”

27 de agosto de 2019

CPMF OU DESEMPREGO. SERÁ?

(Claudio Adilson Gonçalez, economista, diretor-presidente da MCM Consultores – O Estado de S. Paulo, 26) O ministro Paulo Guedes tem afirmado que a escolha política é entre a volta da CPMF, agora batizada de Contribuição Social sobre Transações e Pagamentos (CSTP), com alíquota baixinha, ou a manutenção de altos níveis de desemprego e informalidade. Há alguns problemas empíricos e conceituais com a afirmação do ministro. Vejamos.

Em primeiro lugar, a experiência internacional demonstra que, na quase totalidade dos países que desoneraram a folha de pagamento, houve aumento de salário, não de emprego. A intuição ajuda a compreender a constatação empírica. É ilusão achar que o ônus da contribuição patronal é do empregador. Este é apenas o agente encarregado do recolhimento aos cofres públicos. Tal despesa é arcada pelo empregado, na forma de um salário contratual menor. Se o empregador está disposto a gastar R$ 1,2 mil mensais para contratar um trabalhador, desprezando-se, para simplificar o raciocínio, outros encargos, ele aceitará pagar apenas R$ 1 mil, já que 20% terão que ser recolhidos como contribuição sobre a folha de pagamento. Portanto, zerando essa contribuição, o empregador estaria disposto a pagar um salário contratual maior, sem qualquer aumento no seu custo.

Pode, sim, haver algum aumento da formalidade, mas creio que será modesto, pela enorme gama de outros encargos e passivos contingentes que se assume ao contratar um empregado. Contudo, provavelmente não haverá redução do desemprego. É importante lembrar que o que causa o aumento sustentado da demanda por trabalhadores são novos investimentos, e estes dependem de muitos outros fatores, não só do custo do trabalho. Por outro lado, se a desoneração da folha provocar só realocação no uso dos fatores capital e trabalho, graças à transferência do ônus do financiamento da Previdência Social para outras atividades, então poderá haver distorção na alocação eficiente dos recursos produtivos, graças a uma espécie de subsídio concedido ao fator trabalho.

Outro problema está nos números. A contribuição patronal sobre a folha deverá arrecadar cerca de R$ 280 bilhões em 2019. Tomando, em uma hipótese otimista, que a capacidade arrecadatória da CPMF seja a mesma do período em que vigorou no Brasil (1997-2007), para repor tamanha perda de receita, seria necessário que a alíquota da nova CPMF fosse da ordem de 1,2% ou, o que dá no mesmo, de 0,6% em cada ponta (pagador e recebedor). Tratando-se de um imposto cumulativo, que acaba se integrando ao preço do bem ou serviço em cada fase do processo produtivo, tal alíquota está longe de ser pequena.

E talvez tenha de ser maior ainda. Mesmo quando vigorava a alíquota de 0,38% e antes da revolução da tecnologia digital, foram desenvolvidos vários serviços de compensação de dívidas, uma espécie de clearing entre devedores e credores, para fugir à transação financeira tributável. É razoável esperar que nos tempos atuais e com alíquota três vezes maior, essa forma de evasão cresça mais ainda.

E as distorções alocativas dessa contribuição não devem ser subestimadas. Integra-se de forma não dissociável aos preços dos bens e serviços, não pode ser desonerada das exportações e investimentos, estimula a verticalização das atividades produtivas, na contramão da tendência atual, e leva à desintermediação financeira, com aumento na utilização do papel-moeda. Tudo isso tende a reduzir a produtividade e o crescimento potencial da economia. Essas distorções podem anular ou mesmo superar os eventuais estímulos para a contratação de trabalhadores formais decorrentes da desoneração da folha de salários.

Nota: Quando este artigo estava sendo escrito, a imprensa divulgou que o governo pretendia iniciar a CSTP com alíquota de 0,22% e com isso reduzir a contribuição patronal de 20% para 11% ou 12%. Nos meus cálculos, essa conta não fecha. Tal redução de encargos exigiria uma CSTP da ordem de 0,46%.

As distorções da contribuição podem superar estímulos para contratação decorrentes da desoneração da folha.

26 de agosto de 2019

AS NOVIDADES NO TRÂNSITO NÃO PARAM DE CHEGAR!

(Celso Ming – O Estado de S. Paulo, 25) Na época das carruagens e dos bondes puxados por burros, ninguém se importava com mobilidade urbana. Mas chegou o tempo em que o automóvel mudou tudo e os especialistas em urbanismo e em engenharia de trânsito tiveram de começar a tratar do assunto.

A mobilidade urbana passa por nova revolução nos últimos anos. Deixa de ser apenas matéria que trata da circulação de metrôs, trens urbanos, ônibus, táxis e automóveis – e, por suposto, sem se esquecer especialmente dos pedestres. Hoje, ciclovias e ciclofaixas tornaram-se paisagem comum e, não raro, se encontram figurões de terno e gravata desfilando com patinetes e até mesmo com esquisitos monociclos nas grandes avenidas. Nada disso chegou ao fim. A tecnologia continua surpreendendo. Ainda promete novidades incríveis nos tempos vindouros.

A maneira de circular pela cidade, antes tão rígida, exige cada vez mais flexibilidade. Para o especialista da Universidade Presbiteriana Mackenzie Vladimir Maciel, a novidade está na enorme eficiência proporcionada pelos softwares de aplicativos, como a 99, o Uber e a Yellow. Eles garantem o encontro, em larga escala, da oferta com a demanda por locomoção: o motorista do Uber está à espera do passageiro e a bicicleta na rua espera pelo interessado. “Do ponto de vista da mobilidade urbana, essa tecnologia que identifica origem e destino é uma revolução”, observa.

Mas a revolução não para por aí. Ao menos não para ainda. Transformações apontam para mais transformações, algumas no horizonte ou já em uso experimental, com os carros elétricos sem motorista do Uber ou os drones-entregadores de encomendas da Amazon, sem falar nos veículos de uso compartilhado (co-sharing) já à disposição de qualquer um em grandes cidades. E, aqui no Brasil, a Embraer avança no projeto do automóvel voador, símbolo das histórias de ficção científica para o século 21. Imagine o que será pensar e administrar esse trânsito paralelo ao chão, para impedir que, janela adentro, um bólido desses não despenque de repente na sala de jantar.

A melhor maneira de preparar a sociedade brasileira para a automação intensiva cada vez mais próxima e de se antecipar a solução de novos problemas é levar os dirigentes do País a investir maciçamente em transporte público, deixando de dar prioridade ao automóvel (individual) para focar em transportes de massa. É o que recomenda o coordenador da FGV Transportes, Marcus Quintella. Se isso não for feito,

os congestionamentos aumentarão, adverte ele: “Há alguns anos, o trânsito nas grandes cidades apresentava picos em certos horários. Hoje, a frota está permanentemente nas ruas”.

Para ele, esse cenário distópico cada vez mais próximo tende a aumentar o consumo de combustíveis, a poluir ainda mais o meio ambiente com as emissões de CO2 e a aumentar a frequência de acidentes. Como a infraestrutura em transportes nas grandes metrópoles brasileiras é cara e desconfortável, as pessoas tendem a migrar para os aplicativos por razões econômicas, diz. “Mas o Uber (e congêneres) não pode substituir o transporte público”.

Por isso, vêm sendo testadas opções flexíveis também por aplicativos. A capital Goiânia e a cidade de São Bernardo do Campo, em São Paulo, testam ônibus com rotas variáveis, em modelo similar ao do car-sharing. Essa é apenas uma das possibilidades que podem se popularizar nos próximos anos.

A verdadeira mudança está na multifuncionalidade das viagens. O cidadão pode escolher qual modal de transporte utilizar: ir a pé até a estação do metrô ou aproveitar a patinete; voltar para casa de ônibus ou chamar um carro com aplicativo; ir ao trabalho de bicicleta ou tirar o automóvel da garagem.

Ainda há quem pretenda eliminar o uso dessas novidades ou porque ferem os interesses de quem já estava lá (como o dos taxistas) ou porque tornam impraticável uma política consistente de mobilidade urbana. O urbanista e coordenador da pós-graduação de Mobilidade e Cidade Contemporânea da Escola da Cidade, Pablo Hereñu, avisa que essas novidades, principalmente as da micromobilidade (dos trajetos de curtas distâncias, como querem as empresas de aluguel de patinetes e bicicletas), conquistaram definitivamente seu espaço após os grandes investimentos públicos feitos em ciclovias ao longo desta década. “É difícil acabar com isso, porque já existe uma demanda firme por parte da população”, afirma. “Não se trata mais de projeto de um governante; é projeto da cidade.”

Mas, atenção, a revolução continua e os projetos das cidades a têm de levar em conta.

23 de agosto de 2019

FERNÁNDEZ, A CRIA DOS KIRCHNERS, SEM PERFIL PARA ‘POSTE’!

(O Estado de S. Paulo, 18) Candidato à presidência tem capacidade de negociar com as várias frentes políticas dissidentes e já indicou que não será marionete de Cristina.

Na quarta-feira, a sala 7 da Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires foi palco de uma aula de Teoria Geral do Delito lecionada pelo homem mais cotado para ser o próximo presidente da Argentina. A maioria obtida nas urnas nas eleições primárias do domingo passado não afastou o advogado Alberto Fernández de algumas de suas atividades cotidianas. Entre estas, estão dirigir o próprio carro da faculdade até seu escritório em San Telmo e levar para passear seu cachorro Dylan – o animal, cujo nome homenageia o cantor Bob Dylan, tem 61 mil seguidores no Instagram.

Fernández foi chefe de gabinete de Néstor e Cristina Kirchner entre 2003 e 2008, mas deixou o cargo por divergências com a presidente. A partir daí, Fernández se transformou em um crítico ferrenho do segundo mandato de Cristina. “Não vou me calar diante da má administração da economia que levou a Argentina novamente a ter déficit fiscal”, declarou Fernández em uma entrevista na TV em 2012. No mesmo ano, disse a uma rádio argentina: “O que era perverso em outros tempos se transforma em valioso agora. Era perversa a nova reeleição de (Carlos) Menem e é boa a nova reeleição da Cristina. Por quê? Era perversa a corrupção menemista, mas não é perversa esta corrupção revolucionária”, provocou.

Ele dava sinais de seu perfil político, que, segundo os analistas argentinos, está longe de ser o de marionete de Cristina: “Eu estou disposto a debater qualquer coisa, o que não estou disposto é a obedecer porque eu faço política, não estou em um quartel. Sou muito condescendente, o que não sou é um estúpido”, exclamou Fernández em um popular programa de TV, também em 2012.

Em 2017, o deputado nacional, neto de desaparecidos na ditadura militar e grande amigo dos Kirchners, Juan Cabandié, resolveu promover o reencontro entre Cristina e Fernández. A reconciliação ocorreu no mesmo ano das eleições legislativas nas quais a aliança de Mauricio Macri, Cambiemos, obteve um êxito. Começou ali a Frente de Todos, coligação que hoje reúne a ala peronista mais conservadora com os kirchneristas mais radicais.

Quando em maio a Argentina ainda tentava entender a recém-anunciada fórmula Fernández-Cristina, a ex-presidente apontava uma qualidade do que poderá ser o próximo presidente: “O país não precisa de alguém como eu, que divido, mas alguém como você, que soma”, teria dito Cristina a Fernández em telefonema para convidá-lo a integrar sua fórmula. A ex-presidente responde a 12 processos na Justiça. Se for eleita vice, ela conquistará automaticamente uma cadeira no Senado e manterá a imunidade parlamentar.

“Fiquei sabendo (da formação da chapa) minutos antes de entrar na prisão de Ezeiza para visitar o ex-vice-presidente Amado Boudou (vice de Cristina)”, lembra Juan Mutti, militante da juventude kirchnerista conhecida como La Cámpora. “Muitos companheiros ficaram surpresos, a maioria queria que ela encabeçasse a fórmula e outros diziam que ela tinha de sair de cena completamente. Para mim, foi uma jogada excelente para não polarizar Macri-Cristina!”, avalia.

Estilo. Torcedor do Argentino Juniors, Fernández faz uma campanha muito similar a sua personalidade. Sem grandes comitivas, aviões privados ou gurus de marketing, o advogado de 6o anos se vale mais de sua influência entre os políticos tradicionais do peronismo e do fato de ter sido homem de confiança de Néstor Kirchner.

No punho esquerdo, leva uma fitinha vermelha, das que os mais supersticiosos costumam amarrar no braço fazendo pedidos. Fã de Lula, em julho viajou até Curitiba para visitar o ex-presidente. Disse que a visita era uma forma de “chamar a atenção para a injustiça com relação à detenção dele”. Na biblioteca de seu escritório, há livros sobre o ex-presidente.

Ainda que Fernández seja considerado uma figura mais amável do que Cristina, não pode ser considerado um líder popular e carismático. Algo que o tem aproximado do público é a relação que mantém com o filho único, Estanislao. O jovem de 24 anos possui quase 70 mil seguidores no Instagram, onde está identificado pelo pseudônimo Dyhzy e se reconhece como drag queen e cosplayer. Em entrevista a uma rádio argentina em junho, Fernández foi questionado sobre o tema, até então evitado pelos jornalistas. Ele ressaltou o papel do filho na comunidade LGBTI. “Tenho orgulho do meu filho. Como não vou ter? Ele é militante dos direitos dessa comunidade. Ficaria preocupado se fosse um delinquente.”

Fernández filiou-se ao Partido Justicialista em 1983. Sua primeira candidatura ocorreu em 1999 à vice-prefeitura de Buenos Aires. Perdeu. Em 2000, elegeuse legislador com o partido Nuevo Encuentro. Mas abandonou o cargo em 2003 para assumir como braço direito de Néstor. A capacidade de negociar e dialogar com várias frentes políticas dissidentes talvez tenha sido o principal fator na decisão de Cristina de indicá-lo como candidato. “A grande estrategista é ela”, afirma o analista político Rosendo Fraga. “Fernández é o conector efetivo do kirchnerismo que atraiu e fez aceitável uma coalizão, pois representa uma figura moderada da qual o peronismo do interior do país aceita ser parte com uma aliança explícita ou por meio de uma cumplicidade passiva”, diz o pesquisador e especialista em comportamento eleitoral Patricio Tavalera.

“Acredito que Fernández não é um candidato poste, mas o candidato real, eleito por Cristina para ser o responsável por uma gestão que será muito complicada. Além disso, deve-se a ele a unidade do peronismo”, disse Julio Burdman, pesquisador do Instituto Argentino de Sociologia Política.

Segundo Rosendo Fraga, “na Argentina, quando o peronismo se une, ganha” – em parte uma boa explicação para o sucesso obtido nas primárias há uma semana. A vantagem de 15 pontos sobre a coligação de Macri fez com que Fernández se transformasse “em uma figura aceitável para a liga de governadores peronistas que tem uma malha de eleitores que não são parte do grupo de kirchneristas tradicionais. E a sua candidatura está regida por dirigentes políticos e governadores que representam esse eleitor peronista tradicional de direita”, explica Tavalera.

Resta saber até quando vai a trégua Fernández-Cristina. E, principalmente, se vai ser suficiente para superar os meses de recessão que o país tem pela frente, caso a dupla seja eleita.

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22 de agosto de 2019

PRESIDENTE DA CÂMARA DE DEPUTADOS RECEBE O PRÊMIO WOODROW WILSON!

Caro Presidente Maia,

Em nome do Wilson Center, temos o prazer de convidá-lo a receber o Prêmio Woodrow Wilson de Serviço Público em um jantar de gala em 15 de novembro de 2019, em Nova York. Significaria muito para mim, pessoalmente, se o senhor aceitasse este prêmio e se juntasse à estimada liga de beneficiários anteriores, que incluem os presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva; o biólogo Dr. Thomas Lovejoy; e os ex-secretários de Estado dos EUA Henry Kissinger e Hillary Clinton.

Como chefe de um dos Poderes da República Federativa do Brasil, o senhor incorpora as qualidades dos líderes eleitos que compreendem e aceitam que sua principal responsabilidade é servir suas comunidades e sociedade como um todo. O senhor dedicou sua carreira ao serviço público, desde trabalhar para melhores serviços de educação e saúde em seu estado natal do Rio de Janeiro, até lutar agora pelo futuro econômico do Brasil. Ao aprovar a reforma previdenciária na Câmara dos Deputados, e pelo seu compromisso contínuo com a reforma fiscal e estrutural e uma governança democrática estável, o senhor emergiu como uma voz de razão e confiança para seus concidadãos em seu país e para a comunidade internacional em geral. O senhor mostrou a uma nação cética em relação a seus políticos que Brasília, sob a liderança certa, continua sendo capaz de governar pelo bem do país.

Como o senhor deve saber, o Congresso dos EUA estabeleceu o Wilson Center como um memorial vivo ao nosso 28º Presidente. Hoje, o Centro fornece uma plataforma confiável em que diversos pontos de vista podem ser expressos civilmente e produz ideias acionáveis que preenchem a lacuna entre conhecimento e política. Este ano, fomos nomeados como o melhor think tank do mundo para estudos regionais pelo segundo ano consecutivo, bem como o think tank número 1 para colaboração institucional. Estamos incrivelmente orgulhosos dessas realizações.

É minha sincera esperança que o senhor aceite este prêmio. Durante esses tempos em constante mudança, é vital que um programa como o Instituto Brasil do Wilson Center continue sua missão de fornecer um fórum para refletir e discutir os laços de respeito mútuo e cooperação entre as duas nações.

Atenciosamente,

A honorável Jane Harman
Diretora, Presidente e CEO
The Wilson Center

21 de agosto de 2019

RELATÓRIO: LIDERAZGO POLÍTICO EN AMÉRICA LATINA REALIZADO PELA FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER, DE MONTEVIDÉU, NA GUATEMALA, NO PERÍODO ENTRE 11 E 17 DE AGOSTO.

Jefferson Figueiredo- Presidente JDEM Carioca.

1. Panorama Político 2020 – 2024 na Guatemala – José Carlos Sanabria –   (ASIES) Associação de Investigação e Estudos Sociais da Guatemala

– A Guatemala é um sistema presidencialista. Nas eleições o vencedor precisa ter mais de 50% ou haverá o segundo turno;

– Em geral, cada eleição presidencial tem em torno de 15 candidatos participantes, mas o eleitor em geral concentra os seus votos. 80% dos votos se concentraram em 3 forças políticas;

– Antes da reforma eleitoral o partido poderia comprar quanto tempo na mídia poderia pagar. O resultado é que tinham 60% dos espaços nos meios de comunicação concentrados em um candidato;

– Com a reforma mudou-se para financiamento público.  20% do tempo comprado é dividido entre todos os partidos e os demais por deputados eleitos;

– Alejandro Giammattei foi eleito pelo voto anti Sandra Torres (ex-primeira dama do país) por 58% da população. Ela era a mais conhecida, mas tinha muita rejeição. Durante a gestão do marido, participava das reuniões ministeriais e decidia políticas públicas.

2. A imigração na América Central como fenômeno econômico e social – Jahir Dabroy – Especialista em Migração – (ASIES) Associação de Investigação e Estudos Sociais da Guatemala

– 700 pessoas migram de maneira ilegal por semana da Guatemala. 94% desses migrantes vão para os EUA;

–  Obama foi o presidente que mais deportou imigrantes até a chegada de Trump;

– Na Guatemala a migração por causa da segurança é interna. Já a migração externa é em direção aos EUA;

– A deportação dos EUA só é realizada após uma entrevista do consulado. A maior parte dessas entrevistas são telefônicas e tem duração de um 1 minuto em média;

– A questão psicológica dos deportados é muito grave. Em geral vivem em famílias onde alguns já viajaram e tem que viver com a sensação de fracasso entre a comunidade e a família;

– Eles preferem ser chamados de retornados e não deportados e sofrem preconceito junto a companhia aéreas: imigrante sempre será imigrante. Vai seguir tentando;

– A maioria das pessoas que voltam para o país deportados pensam em tentar novamente.

3. Comunicação Política no século 21 – Hector Muñoz – Consultor de campanhas políticas, México

– O século 20 se encerrou com uma grande utopia, já o século 21 se iniciou com uma grande distopia;

– A política no século 21 começou no dia 11 de setembro de 2001. No pós 11 de setembro nasceu uma consciência de fragilidade no mundo e uma consciência do global;

–  No século 21 a marca ideológica já não separa os cidadãos. O que marca são as bandeiras que as pessoas defendem, como animais e meio ambiente. Não mais partido ou ideologia;

– Os políticos que tem mente do século 20, tem resultados do século 20. Os políticos que tem mente e se comunicam como o século 21, tem melhores resultados;

– Se é candidato e as pessoas não te conhecem e não conhecem sua história, as pessoas sempre vão pensar que você vai roubar. Sua história tem que ter valores que vão corroborar com suas ideias e suas propostas;

– Os valores são a pedra angular que sustentam os políticos no século 21;

– Os jovens do século 21 nasceram para ser “Glocais”. O termo se refere a ações locais com a resultados globais, como exemplo meio ambiente;

– A população procura novas soluções para antigos problemas. Isso vale para os políticos e a comunicação política;

– Inovação é uma mudança que gera valor.

4. O centro político no cenário mundial – Carlos Castillo – Diretor Editorial e de Cooperação Institucional  – Fundação Rafael Preciado Hernández, México

– Deixemos de olhar o que funcionou no século 20 porque não funciona mais hoje.

– Quando o populismo nos obriga a dizer sim ou não sobre problemas complexos, caímos na sua estratégia;

– Todos os sistemas que herdamos estão em crise. Nos últimos 10 anos, em todo ano ocorreu uma crise diferente;

– Não ganhamos quando estamos tentando lutar nos extremos porque nossos valores são democráticos;

– Como reconstruir o centro: no centro cabe a pluralidade e a diversidade, o centro foge dos extremos, não é papel do centro responder aos extremos com radicalismo, o centro cabe o diálogo, dissenso e o comum. O centro tem que ser aberto, propositivo e crítico;

– O político precisa recuperar sua humanidade, só a humanidade gera dor e é vista pela população;

– A política tem que resolver 3 problemas: pobreza, saúde e segurança;

– Os partidos tem que responder aos desafios do século 21. Tem que enfrentar os desafios da pluralidade: feminismo, jovens, pobreza e comunidade;

– Gerações dos partidos: Fundadores, Consolidadores, Empoderadores e Regeneradores. Hoje precisamos dos regeneradores;

– As gerações duram 15 anos, portanto as mudanças políticas nos países ocorrem em média a cada 15 anos;

5 – Novas Ferramentas de Comunicação Digital – Cesar Navarrete – Profissionais de Campanha e Comunicação – ProCam – México

– A comunicação política não é diferente da comunicação interpessoal;

– A comunicação é feita por todos os atores políticos: governo, partidos, instituições e pessoas;

– O primeiro é preciso definir o que precisamos comunicar, depois repetir essa mensagem em todas as manifestações políticas;

– Mensagem política é o que preciso dizer para que as pessoas votem pelo candidato. Esta deve ser a razão pela qual o eleitor vota ou deveria reconhecer como a melhor gestão;

– Quando se faz uma pesquisa de opinião, o mais importante é descobrir o que a população está pensando e não quantos pontos tem na pesquisa. Com isso é possível fazer ajustes e melhorar a posição;

– O político não pode falar de muitas coisas. Tem que ser poucas e as que importam para a população;

– É preciso falar a linguagem do seu eleitor. O programa de rádio que aborda a política no México que possui maior audiência tem seu slogan da seguinte forma: “Aqui falamos do que as pessoas falam, como as pessoas falam.”;

– As pessoas não falam dos temas dos políticos ou das votações. Falam do que impacta;

– Não estamos vendo a realidade como os eleitores. É preciso estudar e pesquisar para que estes possam ser alcançados;

– A única coisa que não se pode na comunicação política é a mentira. A verdade sempre vem aparece;

– É muito importe o que diz, porém é mais importante de como lembram de você;

– Todos os caminhos devem conduzir a mensagem principal. Para isso deve sempre repeti-la;

– Menos é mais. Fale como a população e use o storytelling. Toda a cultura, civilização foi transmitida por histórias;

– É preciso ser criativo, mas isso não pode custar o resultado da mensagem. A criatividade mata a mensagem se não for bem aproveitada;

– O mal dos políticos é a generalização. Na ansiedade de comunicar para mais, acabamos dizendo muitas vezes: Nunca, sempre, ninguém…;

– A atual geração está muito propícia a assistir vídeos;

6- Jovens líderes na América Latina e Alemanha. Intercâmbio de experiências –  Dommink Martin  – Presidente da Junge Union (Juventude da CDU) do distrito de Nordwürttemberg e vereador pelo município de Lauda Königshofen

– A Junge Union é a maior rede de jovens da Europa. Tem mais de 110 mil membros. No mundo só perde pra Juventude Comunista na China e da Juventude Russa;

– A rede da Junge Union é maior do que os verdes ou os liberais;

– Na Junge Union temos o lema 50% política / 50% recreação;

– É mais difícil ter mulheres candidatas quando não tem nenhuma mulher no grupo. As mulheres na JU querem ser eleitas por seus feitos, não por cota.

7- Liderança jovem a nível Internacional – O exemplo da União Democrata Internacional de Jovens (YIDU) e do Partido Popular Europeu – Yannink Bury – Presidente da Comissão de Relações Internacionais da Junge Union (Juventude da CDU)

– India, China e Turquia impõe seus valores e querem transformar o nosso sistema político;

– A IYDU quer incluir mais os partidos da América Latina no seu grupo;

– A Europa foi muito negligente sobre as ações da China nos últimos anos. Principalmente na África. Agora a China atua muito na economia europeia;

– Os  EUA seguem sendo o país mais importante, pelo tamanho do país e pelas instituições que ele representa;

– É preciso gerar consciência sobre o que a China faz, seus, valores e objetivos no mundo;

– Trump tenta enfraquecer as instituições internacionais para poder negociar separadamente com os países e obter mais benefícios;

– A atividade econômica alemã está diminuindo pela guerra comercial entre EUA e China;

– A União Europeia está negociando unida e focada em realizar um comércio livre onde todos tenham benefícios. O acordo Mercosul – UE é o primeiro passo nesse sentido;

– Existe na Alemanha um consórcio chinês de comunicação que ganhou uma licitação e hoje tem acesso a diversos dados do país;

– Os venezuelanos são a segunda maior nacionalidade de migrantes para Europa depois dos Sírios;

– “Se não fizermos um acordo intra blocos com o Mercosul, com qual outro bloco vamos fazer? Se não fizermos um acordo com o Mercosul, não vamos estar preparados para a nova situação geopolítica mundial.”

8 – Negociação Política – Liderança pela estratégia –  Humberto Aguilar Coronado – Ex- Senador e Deputado – Diretor da Fundação Rafael Preciado Hernández, México

– Não há nada mais valorizado pelo adversário político que a palavra. Quando se chega um acordo, tem que mantê-lo até o final. Os políticos só querem negociar com aqueles que tem palavra;

– Os extremos impossibilitam o entendimento entre os atores políticos, assim como entre governantes e governados;

– A legitimidade, a autenticidade e a legalidade são fundamentais para a política;

– A negociação é para a política o que a lógica é para a administração pública;

– A lei precisa ser entendível para todos;

– Os políticos precisam se respeitar, para que sejam respeitados. A negociação tem que ser, descente, transparente e necessária para alcançar o bem da sociedade;

– O político respeitável, é aquele que possui uma sólida formação, uma sólida criatividade e palavra. Isso vale muito mais do que o político que sai aos meios de comunicação sobre qualquer coisa;

– A negociação política só funciona na democracia. Quando se trata de um sistema autoritário, não há possível negociação;

– Se você ofendeu alguém em uma posição de poder, no futuro, esta pessoa com toda a certeza não terá a mesma consideração por você. É preciso pensar e medir as palavras, as ações e as atitudes;

– O rumo da política nunca é linear. É preciso buscar sempre alternativas para quando necessário, recuar, avançar e mudar a direção.

9- A rota do Spot de televisão – Cesar Navarrete – Profissionais de Campanha e Comunicação – ProCam – México

– Não há receitas para um bom spot, ele não é para você. É para o seu público;

– A televisão não é mais uma referência de divulgação para os jovens;

– Etapas da campanha: Posicionamento: Biografia do candidato –  Proposta: Tenho que mostrar que fiz, que sou capaz – Contraste: Mostrar o que não sou – Pedido de voto

– “Se você não consome campanha, não fará uma boa campanha. É preciso pesquisar sobre outras campanhas, inclusive de outros países;”

– “É preciso escrever. A estratégia precisa estar escrita. Sempre faça um guia;”

– O cenário tem que ser parte da narrativa. Tudo tem que ajudar  a comunicar;

– O rádio deve ser comunicado de maneira diferente. Não pode ser o mesmo modelo com a televisão;

– Tenha muito cuidado com a iluminação. Ao meio dia para gravar é péssimo. O melhor é sempre de manhã ou tarde. A melhor luz é a natural; Um áudio e um vídeo mal gravado não se recuperam;

– Um spot mal feito, em geral, custa o mesmo de um bem feito. É preciso planejar;

– O efeitos visuais não pode ser abusados. Efeitos são apenas para reforçar a imagem;

– A luta de um líder é pela confiança. A melhor maneira de chegar a isso é pela autenticidade;

– Porque personagens outsiders se transformam em pessoas que as pessoas confiam? Porque projetam autenticidade. É humano;

– O político tem que ser fotografado fazendo o que faz.  Não se pode vender o que o político não é.

– “Se é político, sua vida privada já não existe mais.”

–  Quando líderes autênticos comunicam, eles são vitoriosos. Sua vida é sua principal plataforma;

10 – Cooperação Internaciona dos Partidos Políticos – Exemplo da ODCA – Juan Carlos Latorre – Presidente da ODCA

– Realizou uma palestra abordando a estrutura da ODCA, seus congressos e publicações.

11- Conferência – Transferência de liderança política para as redes. Yannink Bury – Presidente da Comissão de Relações Internacionais da Junge Union (Juventude da CDU) e Dommink Martin  – Presidente da Junge Union (Juventude da CDU) do distrito de Nordwürttemberg e vereador pelo município de Lauda Königshofen

– Não temos nenhum município na JU que não tenha seu próprio Facebook;

– Já não fazemos mais as coisas pelo correio, só pela internet. Tudo se faz pelo Whatsapp hoje em dia;

– Já não é mais suficiente darmos nossas posições 3 dias depois do fato. Ninguém mais lê jornal como antes;

– Cada cidade e cada município tem o seu diretório que tem a obrigação de ouvir a população;

– Realizamos lives e eventos digitais onde podemos conversar com a população;

– É importante que o partido tenha representante em todas as cidades. Ele se torna um porta-voz das ideias e sempre está vendo o tema;

–  Para as pessoas hoje não é mais suficiente dizer onde está o órgão que vai resolver e esperar dois meses para tal. Hoje a população quer ter acesso direto ao político que vai realmente e rapidamente ao problema;

– Antes o prefeito era respeitado na Alemanha. Hoje tem 80 milhões de treinadores a prefeito. Todos acham que podem fazer melhor do que o mesmo;

20 de agosto de 2019

ANOMIA BOBA: ESTARIA O BRASIL SE ARGENTINIZANDO?

(Marcus André Melo – Folha de S.Paulo, 19) “Há quatro tipos de países:  os desenvolvidos, os subdesenvolvidos, o Japão e a Argentina”, afirmou Simon Kusznets (1901-1985), ganhador do prêmio Nobel de economia de 1971. O excepcionalismo da Argentina é lendário entre cientistas sociais, e o enigma é decadência do país.

Para alguns analistas, a chave são as instituições. A explicação clássica foi apresentada pelo jurista e teórico social Carlos Nino em seu notável “Un País al Margen de la Ley” (1992). Seu diagnóstico é brutal: a institucionalidade escassa do país deve-se a uma patologia que denominou “anomia boba”, e define como “inobservância normativa generalizada”. Essa modalidade de anomia é tola por ser ineficiente: todos estariam em situação melhor se observassem as leis.

A Argentina de Nino é um gigantesco dilema do prisioneiro. Após a ascensão dos liberais radicais em 1916, o país parecia seguir a trajetória de países como Austrália ou Nova Zelândia, mas saiu dos trilhos com o golpe do general Uriburu em 1930. A “década infame” que se seguiu caracterizou-se por fraude eleitoral massiva, que desmoralizou a democracia representativa e levou à ascensão do iliberalismo peronista. “Atentados à consciência de juridicidade” (Nino, p. 64) passam a ser perpetrados em série: Suprema Corte destituída, Constituição reformada sem que se cumprissem os requisitos para emendamento etc.

A estrutura do conflito a partir de então foi analisada por Guillermo O’Donnel (1936-2011), o maior cientista político argentino, em clássico de 1973, como um “juego imposible”.

Seus contendores são os militares, o justicialismo (peronismo) e os partidos de oposição. O quadro analítico também é o da teoria dos jogos. O cálculo dos demais atores é que, se os peronistas ganharem as eleições, não respeitarão a institucionalidade democrática. E que, se a oposição tiver sucesso, os peronistas não deixarão governar.

Esses atores esperam também que os militares atuem como árbitro e intervenham temporariamente no jogo se um dos dois cenários se materialize. Essa estrutura de incentivos —na qual ninguém podia ganhar— alimentava a polarização, fazia com que a democracia se convertesse em um jogo impossível. E desaparecesse.

A transição por colapso ocorrida após a Guerra das Malvinas e a saída dos militares da cena política alteraram o jogo, mas o país permanece ingovernável e muito polarizado.

Intensa polarização marca a linguagem política argentina desde os anos 40, quando surgem as expressões gorilas e cabecitas negras / gordura, cujos correlatos entre nós —coxinhas e mortadelas— só apareceram recentemente.

O que essa argentinização da nossa linguagem política prenuncia?

19 de agosto de 2019

ESQUERDA POSITIVA E FRENTE POLÍTICA!

(Luiz Sérgio Henriques – O Estado de S. Paulo, 18) Em situações críticas, quando tradicionais correntes constatam a presença disruptiva de um novo adversário percebido como ameaça a si próprias e às instituições, o tema das frentes reaparece mais ou menos ritualmente, e é natural que assim seja. Não é certo que triunfem ou sequer alcancem seus fins imediatos, assim como não escapam da incompreensão de parte dos contemporâneos, por vezes atônitos com o exercício de uma das dimensões essenciais da política, que, afinal, não vive só de conflitos nem constrói muralhas da China. Adversários leais, sem minimizar o que os divide nem renunciar à própria identidade, conversam, estabelecem pactos, delimitam o terreno de luta, pondo a salvo o que lhes parece patrimônio comum e que permitirá mais adiante a continuação civilizada do conflito.

A moderna história política brasileira conheceu movimentos dessa natureza. Relembrálos pode servir como alento para os democratas convictos e, ao mesmo tempo, antídoto contra a ação de quem deliberadamente quer repetir indefinidamente os choques mais óbvios que assinalaram os 21 anos do regime de exceção, ceifando vidas e turvando o horizonte do País. Valorizar aqueles movimentos pode ser um guia para a ação em ambiente distinto, como este no qual nascem, ou dão sinais de querer nascer, as inéditas antidemocracias do século 21.

Não teve êxito algum, para dar um exemplo que, apesar do malogro, merece reverência, a frente imaginada por um homem de raro talento, o petebista San Tiago Dantas, às vésperas de março de 1964. A frente que propôs, numa corrida inglória contra o golpe iminente e a própria doença que o mataria, deveria reunir a maior parte do seu PTB, mas também políticos do PSD e até os udenistas “bossa nova”, em defesa da legalidade do mandato do presidente Goulart e de reformas consensuais, que levariam o País até as eleições de 1965 sem quebra da normalidade constitucional – esse bem precioso que nos obriga a cuidar permanentemente da saúde das instituições, dos partidos e do Parlamento.

A frente costurada por Dantas fracassou depois de alguns meses de frenéticas negociações, sem conseguir conter o radicalismo generalizado que atropelaria a democracia de 1946. É que quase todos os atores esperavam ganhar alguma coisa com o acirramento da crise, apostando no “dia D” da explosão revolucionária ou, como seria previsivelmente o caso, contrarrevolucionária. Mas Dantas, como contou recentemente o estudo de Gabriel da Fonseca Onofre Em Busca da Esquerda Esquecida (Prismas, 2015), legou-nos, junto com sua derrota política, o conceito de “esquerda positiva”: uma esquerda que, sem renegar a si mesma nem às razões da luta por justiça social, conduz seu combate no campo das instituições e, por isso, admite plenamente a dialética da democracia, estabelecendo alianças e se comportando com lealdade com aliados e adversários.

Há algo desse movimento aliancista na “frente ampla” que, um ou dois anos mais tarde, animaria as conversas e os acordos de grandes líderes civis de então. Esmagada em abril de 1964, como em todo regime de força, a política faria sua reentrada em cena com Juscelino, Goulart e Lacerda, surpreendendo os que, congelados doutrinariamente, não podem compreender as implicações que decorrem naturalmente do extraordinário fato de adversários históricos, mesmo encarniçados, passarem a reconhecer mutuamente a legitimidade uns dos outros. A vida civil, nesse ponto, transforma-se de um modo que não é dado aos dogmáticos de todas as tendências prever e acompanhar.

Se a frente ampla terminou entre os destroços de 1968, um partido-frente marcaria os anos a seguir, firmando-se dessa vez com perseverança e heroísmo – os homens da mal chamada “velha política”, como Ulysses e Tancredo, sabem ser heróis a seu modo, cultivando com mãos de jardineiro a planta tenra da democracia e disseminando com coragem cívica “ódio e nojo” às ditaduras. Estiveram ao lado deles outros expoentes da esquerda positiva, recusando a insensata autodissolução do partido oposicionista, rejeitando o voto nulo e apontando as eleições, não as armas, como a forma verdadeiramente superior de luta. A esquerda positiva foi ao centro, não só no sentido de deixar-se “contaminar” pelos valores do liberalismo político, mas também no de apreender o centro da política, que passava muito longe da atualização do mito da revolução armada – impossível e, sobretudo, indesejável – e consistia na defesa da anistia e da Constituinte, com a participação de todas as forças. A reconciliação dos brasileiros, em suma.

Antidemocratas de novo tipo, aproveitando-se de erros cometidos nestes últimos 30 anos, especialmente pelo principal partido de esquerda, agora dão as cartas, ainda que constrangidos pelos freios e contrapesos do sistema constitucional. O presidente Bolsonaro não esconde a filiação à família dos populismos contemporâneos: uma mistura de nativismo histriônico, subalterno ao trumpismo, instrumentalização de valores religiosos redefinidos anacronicamente e, não em último lugar, submissão a uma agenda radical de mercantilização. Em âmbitos que definem o padrão civilizatório, como ambiente ou direitos humanos, o que se quer afirmar é um individualismo agressivo e, no fundo, niilista, que está longe de ser mera cobertura para a agenda econômica fundamentalista, mas sua necessária projeção num cotidiano tomado pela barbárie.

Dispersa em vários partidos e fora deles, a esquerda positiva tem nova e decisiva oportunidade. A “ida ao centro”, como no passado, servirá para revalidar suas credenciais, influenciando liberais e conservadores fiéis à Constituição e deixandose por eles influenciar. Não se pode excluir uma frente, ainda que informal, para isolar e derrotar os extremistas. Há de ser possível relegá-los às margens e minimizar seu impacto na vida de todos.

16 de agosto de 2019

O RIO ACIMA DE DIVISÕES!

(Roberto Medina – O Globo, 10) Chega desse jogo cruel de perde-perde! Vamos reconstruir o Rio somando o ideário da esquerda, fundado na justiça social, na solidariedade e na redução das desigualdades, com a eficiência de gestão dos liberais e competência para gerar emprego e renda. Passou a hora de um contra o outro. Por trás das taxas de desemprego estão famílias perdendo a esperança de viver no que poderia ser uma cidade e um estado com mais justiça e segurança. Vamos nos unir e trazer esta terra de todos para as oportunidades do século XXI.

No caso do Rio, a maior dessas oportunidades é a valorização da sua vocação. Turismo é escola digna, é remédio no hospital, é contenção de encostas, é saneamento, é carteira assinada. Vejamos: o impacto econômico do setor no estado é de R$ 27 bilhões. Se aumentarmos minimamente o nosso poder de atração, o turismo poderá ser o caminho mais curto para vencer a crise e recuperar o orgulho de ser carioca. No exterior, brasileiros gastam cerca de US$ 17 bilhões. Se apenas 10% disso vierem para cá, serão mais R$1,7 bilhão de impacto imediato na economia do Rio. Isso é fácil fazer numa operação conjunta entre esferas do governo e a sociedade. Temos que incentivar um calendário de eventos que aumente a variedade das atrações, melhore as que já existem e estimulem os grandes, médios e pequenos empresários que estão dispostos a arregaçar as mangas e embarcar nesta viagem.

Entre meus muitos defeitos, de um não peço desculpas: sou mais carioca do que brasileiro.

Aqui nasci, criei meus filhos, construí minha carreira. Subia o morro do Túnel Velho em Copacabana para jogar botão, encontrava amigos para um chope depois da praia no bar da esquina e discutíamos, entre outas coisas, como íamos construir um país melhor. Recarregava a energia aplaudindo o pôr-do-sol no Arpoador. Claro que nada disso substituía o Flamengo no Maracanã. Tudo isso ainda está aí. Nós é que não prestamos mais atenção nos privilégios que estão nos roubando. Vamos buscar, lado a lado, o que é de todos nós. Como na música do meu amigo Ivan Lins: começar de novo vai valer a pena.

15 de agosto de 2019

O FANTASMA DO POPULISMO!

(Editorial – O Estado de S. Paulo, 14) Argentina mostra que, sem governos responsáveis, o populismo continuará a pairar como fantasma na América Latina.

Em junho do ano passado, participando de reunião do G-7 (grupo das maiores economias capitalistas) como convidado, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, foi muito duro a respeito das perspectivas econômicas de seu país e das saídas para a crise. “Discutamos com a verdade sobre a mesa. Não queiramos mais enganar as pessoas dizendo que há soluções mágicas”, discursou Macri, pouco depois de ter negociado um pacote de ajuda de US$ 50 bilhões do Fundo Monetário Internacional para socorrer a Argentina. A julgar pelo andamento do processo eleitoral argentino, contudo, Macri está sendo incapaz de convencer seus compatriotas a aceitar sacrifícios para ajustar a economia.

Pior: a força política agora favorita para arrebatar a presidência argentina no pleito de outubro, como mostraram as prévias eleitorais realizadas no domingo passado, é liderada por Cristina Kirchner, cuja passagem pelo governo, entre 2007 e 2015, foi marcada justamente pelas “soluções mágicas” às quais Macri se referiu. A perspectiva do retorno de Kirchner ao poder, ainda que por interposta pessoa – ela é vice na chapa de Alberto Fernández –, é manifestação da resiliência do populismo irresponsável na América Latina.

O legado da ex-presidente é impressionante, e sob qualquer aspecto deveria representar o fim de sua carreira política. Além de ser processada por corrupção e de ter escapado da prisão em razão de sua imunidade parlamentar como senadora, Cristina arruinou os fundamentos econômicos da Argentina – obra que começou no governo do antecessor de Cristina, seu marido Néstor Kirchner.

Eleito em 2003, Néstor Kirchner herdou um país em profunda crise e que passava por forte ajuste. As perspectivas melhoraram quando o apetite chinês por commodities elevou os preços internacionais e favoreceu as exportações argentinas. Como resultado, o país tornou a crescer de forma vigorosa, e Néstor Kirchner investiu pesadamente em seu projeto nacional-desenvolvimentista, em que o Estado era o motor do desenvolvimento. O crescimento alimentou as promessas populistas do casal Kirchner – as políticas de redistribuição forçada de renda deram sensação de prosperidade às camadas mais pobres, garantindo a base eleitoral ao kirchnerismo.

Mas as circunstâncias internacionais mudaram, degradando de forma brutal e acelerada a economia argentina, fortemente dependente de um Estado que estava em franco processo de depauperação graças à ausência de medidas de ajuste.

Cristina dobrou a aposta, mantendo subsídios de apelo popular e comprando, com a concessão de privilégios, o apoio político de sindicatos e outras corporações. Ante o desastre econômico, com inflação galopante, desemprego em massa, perda acentuada de renda das classes mais baixas e clara deterioração social, Cristina optou por impedir a divulgação dos números que demonstravam o caos, como se a ignorância fizesse o país acreditar que tudo estava bem.

Nesse contexto, a vitória de Mauricio Macri nas eleições de 2015 era esperada, em razão de seu discurso de mudança, de realismo e de reformas. Muito se discutirá sobre as razões de sua imensa dificuldade para superar a crise econômica, situação que ameaça seriamente sua reeleição, mas o fato é que Macri está pagando pela hesitação em atacar o vírus do peronismo e conduzir a Argentina à modernização de fato. A persistência do desequilíbrio fiscal e da inflação, com o consequente estrangulamento da classe média, indica que os principais problemas estruturais do país não foram sequer arranhados.

Seja qual for o resultado da eleição de outubro, a lição argentina parece clara: o populismo – que promete, sem esforço, “dar esperança ao povo, trazer dias melhores e cuidar de quem mais precisa”, como disse o petista Lula da Silva ao cumprimentar Cristina Kirchner por sua vitória nas prévias – continuará a pairar como um fantasma sobre a América Latina se não houver governos responsáveis, com programas de ação claros e com disposição para o duro trabalho de unir a sociedade em torno de bons propósitos.

13 de agosto de 2019

SETOR DE SERVIÇOS DERRUBA ECONOMIA!

(O Estado de S. Paulo, 11) O volume de serviços prestados na economia brasileira caiu em junho e foi inferior em 2,3% ao patamar observado em dezembro de 2018. Com o recuo de 1% entre maio e junho apontado na Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais os resultados pouco expressivos do comércio varejista e ruins da indústria, a retomada da economia está prejudicada.

O quadro foi negativo mesmo descontando o efeito calendário: entre junho de 2018 e junho de 2019, o volume de serviços caiu 3,6%. O recuo é maior do que se justificaria pelo fato de que junho de 2018 teve dois dias úteis a mais. Este fator, isoladamente, seria compatível com um recuo de 2,9% no mês, avaliou o gerente da PMS, Rodrigo Lobo.

A fraqueza do segmento de serviços aparece tanto no curto como no longo prazo. A receita nominal caiu 1,1% entre maio e junho e cresceu apenas 0,4% entre os meses de junho de 2018 e de 2019, bem inferior à taxa oficial de inflação de 3,37% em igual período.

A retração do volume entre maio e junho foi registrada nas cinco atividades pesquisadas, sendo mais intensa nos serviços de informação e comunicação (-2,6%).

Na comparação entre junho de 2018 e junho de 2019, o melhor resultado apareceu nos serviços prestados às famílias (+5,7%), mas, em igual período, o item transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio caiu 10,9%. Este indicador foi pressionado, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços, pelos maus resultados do transporte rodoviário de carga, aéreo de passageiros, operação de aeroportos, gestão de portos e terminais e transporte rodoviário coletivo de passageiros.

Os resultados regionais também foram ruins, inclusive em São Paulo. Entre maio e junho deste ano, houve queda de serviços em 19 das 27 unidades da Federação pesquisadas. Entre os meses de junho de 2018 e de 2019, a queda foi observada em 20 unidades da Federação.

O setor de serviços representa cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) e tem, portanto, grande influência na atividade econômica. Em junho, segundo os economistas do Banco Itaú, o PIB caiu 0,7%, influenciado por serviços e indústria. A recuperação da economia brasileira tende a ser fraca e expectativas melhores ficam transferidas para o futuro.

12 de agosto de 2019

SEM DINHEIRO E SEM INFLAÇÃO!   

(Editorial – O Estado de S. Paulo, 11) As famílias, com dinheiro curto e péssimas condições de emprego, continuam comprando com muita moderação. Esse cuidado se reflete na inflação contida.

Com dinheiro curto e péssimas condições de emprego, as famílias continuam comprando com muita moderação e esse cuidado se reflete na inflação contida: ficou em 0,19% a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no mês passado. Em junho a taxa havia sido quase nula, de 0,01%, mas, apesar da aceleração, a de julho foi a menor para esse mês em cinco anos. Diante do consumo fraco e dos preços bem comportados, é fácil manter a aposta em novo corte dos juros básicos na próxima reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC), programada para setembro. No dia 31 de julho o comitê baixou a taxa básica, a Selic, de 6,50% para 6%, em mais um lance para facilitar a recuperação da atividade econômica e, adiante, a criação de empregos.

Por enquanto, as estimativas convergem para uma expansão econômica igual ou pouco superior a 0,80%, neste ano, com inflação oficial em torno de 3,80%, bem abaixo da meta oficial de 4,25%, e juros básicos de 5,25%. Números como esses têm aparecido na pesquisa Focus, consulta realizada semanalmente pelo BC a economistas de instituições financeiras e consultorias.

De janeiro a julho o IPCA, principal medida oficial de inflação, subiu 2,42%. Em 12 meses a alta ficou em 3,22%. Pelo mesmo critério o aumento acumulado até junho havia sido pouco maior, 3,37%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Se dependesse da procura de bens e serviços no mercado, a inflação teria sido nula em julho. Quase toda alta de preços foi independente do comportamento dos consumidores. O aumento mais importante, de 1,20%, ocorreu nos componentes do item habitação. O custo da energia elétrica foi afetado pela incidência da bandeira tarifária amarela, com as contas de luz subindo em média 4,48%. Além disso, a conta de água ficou 0,73% mais cara, por causa das mudanças de preços em Salvador, Goiânia, Porto Alegre e Recife.

As elevações de preços no grupo habitação tiveram impacto de 0,19 ponto porcentual na formação do resultado. As variações positivas e negativas dos demais itens, muito pequenas, anularam-se mutuamente. O efeito geral foi a alta de 0,19% do IPCA.

Esse dado é muito significativo: a inflação registrada em julho refletiu os aumentos de preços monitorados, dependentes do poder público e determinados exclusivamente no lado da oferta, sem depender do comportamento dos consumidores.

A inflação mais intensa nos primeiros meses do ano foi consequência de um verão muito desfavorável à produção de vários alimentos. Normalizada a oferta desses produtos, os preços se acomodaram e a inflação recuou. Em junho, os preços do item alimentação e bebidas diminuíram em média 0,25%. Em julho, aumentaram apenas 0,01%, ficando, portanto, praticamente estáveis.

Esse item corresponde a cerca de um quarto das despesas mensais, no orçamento usado como referência para o cálculo do IPCA. Este indicador resume a variação geral dos preços de consumo pagos pelas famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos por mês. O IBGE calcula também a inflação das famílias mais pobres, com ganho mensal entre um e cinco salários mínimos, medido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Esse indicador subiu 0,10% em julho, 2,55% no ano e 3,16% em 12 meses. Para esse grupo, os alimentos ficaram 0,05% mais baratos no mês passado. Os demais itens subiram 0,17%.

As famílias de baixa renda são certamente as mais sacrificadas pelas condições muito ruins de emprego. Mas todas, ou quase todas, vivem certamente dificuldades enormes, quando a soma dos desempregados, subempregados e desalentados chega a 25,1 milhões de pessoas, um fato até agora tratado quase com menosprezo pelo atual governo. Se a cada um desses indivíduos corresponderem dois familiares, a conta mostrará mais de 75 milhões de pessoas em condições muito difíceis – um grupo superior a um terço da população do Brasil. Dificilmente se chegará a um crescimento econômico mais veloz e duradouro sem reconduzir essa multidão, quase uma Alemanha, ao mercado de consumo.

 

09 de agosto de 2019

MAIS CIDADE, MENOS VIOLÊNCIA!

(Sergio Magalhães, urbanista – O Globo, 03) Uma das mais impressionantes realizações do povo brasileiro é a produção de moradia urbana. Se o crescimento demográfico do país foi gigantesco, o crescimento do número de moradias foi ainda maior.

A partir de meados do século XX, o Brasil multiplicou sua população urbana em 15 vezes, único no mundo segundo importantes estudiosos. Já o número de moradias multiplicou-se 30 vezes. Mas, dos 70 milhões de unidades, quatro quintos foram produzidos sem financiamento.

Sem financiamento, o povo constrói suas casas com muito sacrifício e parcos recursos. (Você já imaginou o que implica erguer a casa sem financiamento, sem herança e sem acertar na loteria?) Por óbvio, a família não pode produzir as infraestruturas sanitárias, elétricas, de mobilidade e os serviços públicos, ação que é própria do coletivo e dos governos — que tampouco os produziram. Logo, em grandes parcelas urbanas, tem-se moradia, mas não se tem cidade.

Ainda assim, consolidou-se no país um extraordinário sistema urbano onde se incluem 20 metrópoles e duas megacidades.

Porém, ainda que a população não venha a crescer, como se prevê, o Brasil construirá mais 40 milhões de moradias nesta geração. Na regularidade, se houver financiamento; na precariedade se ele não existir.

É neste contexto que manter recursos do FGTS dedicados à moradia, como anunciou o governo, é muito importante. O Fundo é fonte essencial de financiamento — ainda que não deva ser o único. Mas como? Insistindo na construção de conjuntos residenciais do tipo Minha Casa Minha Vida (MCMV)? Insistindo em modelo falido desde os tempos do BNH? É hora de rever este caminho.

Nos últimos dez anos, em que foi priorizada a construção de moradias via grandes conjuntos residenciais, tipo MCMV, o déficit habitacional se manteve, e as famílias continuaram construindo somente às suas custas. Porque pouco se investiu em urbanização, bairros populares continuam sem infraestrutura e sem serviço —e sem Estado.

Como habitação é casa + cidade, uma política habitacional que reconheça a realidade brasileira precisa contemplar um tripé programático:

1) produzir moradias;

2) urbanizar as áreas onde o povo construiu e não tem redes e serviços;

3) melhorar as moradias existentes, tirando-as da insalubridade e da precariedade.

A urbanização é tarefa em que o país já teve boa experiência. Os resultados são imediatos em saúde pública, em qualidade de vida e em redução da violência.

Já o crédito para a família melhorar a casa e deixar a insalubridade exige um choque na burocracia financeira. Mas temos bons exemplos com excelentes resultados e lei que dá base para um trabalho conjunto de assistência técnica.

Estas duas últimas modalidades que compõem o tripé são enorme estímulo à indústria de materiais de construção e à mão de obra, reduzindo o desemprego.

Ademais, se as famílias dispuserem de crédito fácil e barato, como as empreiteiras dos grandes conjuntos residenciais do MCMV dispuseram, imaginem!, poderão construir ou comprar moradia na regularidade, onde lhes for mais conveniente. Teremos cidades mais equilibradas, investimentos distribuídos — mais emprego, desenvolvimento econômico e social. Urbanizar bairros populares e financiar a moradia é mais cidade, mais Estado, menos violência.

08 de agosto de 2019

DEIXEM O LIBERALISMO FORA DISSO!

(Elena Landau – Estado de S. Paulo, 03) Por mais absurdo que pareça, a polarização que marcou as eleições do ano passado fez de Bolsonaro símbolo da candidatura liberal em oposição a Fernando Haddad, que reafirmava o modelo estatizante. Era a opção para encerrar o ciclo PT.

Muitos, em total autoengano, optaram por ignorar seu passado intervencionista e embarcaram nessa fantasia. Os 200 dias de governo não trouxeram nenhuma surpresa. Bolsonaro tem sido fiel aos seus princípios. A toda hora desdenha dos que sofreram na ditadura, como revelam os comentários sobre a jornalista Miriam Leitão e agora em relação ao pai do presidente da OAB. Seu apreço por torturadores e ditadores é notório. É um governo marcado pela intolerância. A tentativa de deslegitimar dados do Inpe sobre desmatamento reflete a dominância do achismo sobre a ciência, que, infelizmente, rege boa parte das ações públicas dele e de seus mais próximos colaboradores.

A insistência em nomear o filho, sem nenhuma capacitação para o cargo, embaixador nos EUA é mais uma mostra do viés autoritário. Ele nem enrubesceu ao dizer: “Quero beneficiar meu filho”. Ameaçou “privatizar” a Ancine, uma agência reguladora, porque ela não impede a produção de filmes, segundo ele, impróprios. É o início de uma política cultural de Estado, típica de ditaduras. A negação de evidências empíricas na formulação de políticas públicas, que interferem desde a segurança no trânsito até a preservação ambiental, revela um retrocesso assustador e um Estado que parece pré-iluminista. Isso nada tem que ver com uma postura conservadora, é só obscurantismo mesmo.

Não adianta apelar para a agenda econômica para descobrir um presidente liberal, como queriam alguns eleitores, que ainda hoje se agarram nessa esperança para manter seu apoio a este governo. Bolsonaro sempre votou contra reformas que buscavam diminuir o peso do Estado, do Plano Real à privatização. O confronto com o Congresso e a intervenção de última hora a favor dos policiais puseram a reforma da Previdência em risco. Foram necessárias a habilidade e a persistência de Rodrigo Maia para salvar o governo de si próprio.

A frustração na economia é grande. Na campanha era como se existissem dois candidatos. Bolsonaro nunca teve aptidão nem gosto pelas questões econômicas. Delegou o assunto a Paulo Guedes. O apelido Posto Ipiranga não vingou por acaso. Hoje as previsíveis dificuldades de levar adiante mudanças profundas sem o envolvimento direto do presidente da República são evidentes. Além da interferência atrapalhada na reforma da Previdência, Bolsonaro desidratou o programa de privatização, que se resume à venda de subsidiárias e ao avanço no campo das concessões. Nenhuma grande estatal está na agenda, além da Eletrobrás.

Há uma promessa de que após a aprovação em segundo turno da reforma na seguridade, um amplo programa econômico seja anunciado. Mas por enquanto só se anunciaram a volta da CPMF e os incentivos para a atividade econômica no curto prazo, com a liberação do FGTS, que não configuram um plano de reformas modernizantes. O fim do monopólio da Petrobrás, imposto pelo Cade, é uma excelente notícia, mas seus efeitos para a atividade econômica não serão percebidos no curto prazo.

Esse quadro não significa que o liberalismo fracassou, já que ele nem sequer foi tentado. No governo FHC foi implementada uma agenda econômica liberal para dar sustentabilidade ao Real. Não havia preocupação com a classificação ideológica, como hoje. A oposição apelidou o grupo de economistas de “neoliberais”, de forma depreciativa, para caracterizar as mudanças expressivas que ocorreram na economia: nova contabilidade fiscal, amplo programa de privatização, abertura comercial, tripé macroeconômico, inovação nas políticas assistenciais e financiamento da educação – medidas que permitiram a comemoração de 25 anos de estabilidade monetária em 1.º de julho.

O ciclo do PT no governo provocou uma guinada no modelo econômico, com grande viés estatizante. O sucesso do partido em experiências sociais, como o Bolsa Família, criou um discurso de que os partidos de esquerda são progressistas e os de direita, liberais na economia, separando a pauta de direitos da pauta econômica. O liberalismo não é nem um nem outro, mas os dois. A definição de Vargas Llosa é primorosa: “O liberalismo não é uma receita econômica, mas uma atitude fundada na tolerância, na vontade de coexistir com o outro e numa firme defesa da liberdade”.

Natural que diante do fracasso do modelo intervencionista, e da herança negativa deixada se enfatize a importância do funcionamento livre do mercado. Mas a saída para o Estado obeso e ineficiente não é a sua negação.

Num país onde metade da população não tem acesso ao saneamento e crianças saem da escola sem aprender o básico de Português e Matemática, a agenda da liberdade precisa ser mais abrangente do que o mantra “o mercado resolve tudo”. É fundamental incorporar iniciativas que criem igualdade de oportunidades e ajudem a mobilidade social.

Acredito que a indignação da maior parte da sociedade com os retrocessos da agenda Bolsonaro – a negação da ciência, o conservadorismo absurdo nos costumes, o obscurantismo das ideias de seus auxiliares mais próximos, o desrespeito ao meio ambiente e a tendência a querer governar por decretos inconstitucionais – esteja abrindo os olhos dos brasileiros para a importância das ideias liberais. Neste século, o liberalismo é o contraponto perfeito à tendência mundial de crescimento do populismo nacionalista. Esta nova forma de autoritarismo se reflete na tentativa de imposição de ideias homogêneas, sem abertura para debate e controvérsias. Mas a intolerância é o avesso do liberalismo. Bolsonaro nunca foi nem nunca será um liberal. Seu governo também não. Melhor deixar o liberalismo fora disso.

07 de agosto de 2019

DICK MORRIS: “RECOMENDEI A ESPERT UMA ARMA SECRETA PARA A MUDANÇA: OS JOVENS”!

(Brenda Struminger – La Nacion, 25/07) O assessor político norte americano Dick Morris, que se juntou à campanha presidencial de José Luis Espert nos últimos dias, está trabalhando em uma estratégia para “penetrar na polarização”. Ele acredita que o economista liberal, que nunca ocupou um cargo ou foi candidato, pode entrar na política de maneira surpreendente. Ele diz que na Argentina, como no Reino Unido e nos Estados Unidos, há também um “voto oculto”.

Ex-assessor de Bill Clinton e do líder pró-Brexit Nigel Farage, ele trabalhou com Fernando de la Rúa em 1999, com Aníbal Ibarra em 2000 – ambos venceram – e com Mauricio Macri em 2003, quando foi derrotado. Hoje, Morris descreve o sistema político argentino como uma “anomalia”, porque “a maioria vota em um candidato que não gosta”. “Eu nunca vi uma coisa dessas”, diz ele.

– Você chegou na campanha de Espert na semana passada. Qual foi o seu conselho?

Na Argentina, 70% vota em Kirchner ou Macri. Mas 65% das pessoas não gostam de Macri. E 70% não gostam de Kirchner. Em outras palavras, a maioria dos argentinos não gosta das pessoas em que votam. É a primeira vez que vejo algo assim. É uma anomalia. Para penetrar nesse sistema, recomendei a Espert uma arma secreta, que traz uma mudança incrível: os jovens.

– Você acha que os jovens apoiariam Espert?

Vá para um campus universitário ou passe algum tempo na rua com jovens e fale com eles sobre isso. Eles dirão que todos os políticos são cheios de merda, exceto Espert. Porque, na verdade, ele é o cara que te conta como é a coisa. Trump tinha um voto que ninguém prestou atenção, ninguém sabia que eles estavam vivos. E então eles saíram e votaram. O mesmo aconteceu com Jair Bolsonaro.

-Qual o índice de jovens que os apoiam, de acordo com suas medições?

Os jovens até 25 anos são um terço do número total de eleitores e Espert tem 15% do voto jovem. Kirchner está apenas um ou dois pontos acima. Macri está abaixo e Lavagna também. Espert vai ter uma maioria de pessoas muito jovens, o que lhe dará a capacidade de obter apoio fora do sistema, para entrar no sistema, que é artificialmente polarizado.

-Qual a sua projeção para superar essa polarização?

Nas primárias, Espert não precisa conseguir mais votos do que Kirchner ou Macri. Ele só tem que conseguir mais votos do que Lavagna. E Macri tem que terminar em segundo por 7 pontos. Assim, todos dirão: “Uau, olhe para Espert, se fortalecendo, de onde vieram os seus eleitores?”

-Todas as pesquisas apontam para um segundo turno entre Macri e Fernández.

Nosso voto jovem vai ser uma revolução, como Bolsonaro no Brasil, Trump nos Estados Unidos ou o Brexit na Grã-Bretanha. As pessoas vão dizer: “Macri não pode derrotar Kirchner. Se mantivermos Macri, vamos conseguir Kirchner. Temos que nos livrar de Macri e colocar o candidato que pode vencer”. E aí surge Espert.

-Espert tem 8 pontos de intenção de voto, Macri tem cerca de 30.

Macri tem 65% de desaprovação. As pessoas não vão votar nele. E a chave é que temos essa nova lei na Argentina, as PASO (Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias), que é uma pesquisa com uma amostra 100% obrigatória, à qual todos prestam atenção. Ninguém pode ignorá-las. E são elas que nos permitirão vencer. Todos votam pelo que querem e depois há outra escolha.

-Como conseguirão o apoio dos jovens para ganhar as PASO (Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias)?

Nós temos uma maneira secreta de fazer isso: as redes sociais. Os partidos políticos prepararam um acordo para controlar a eleição, eles garantiram que ninguém tem dinheiro para pagar o tempo na televisão, exceto as duas grandes forças, porque esse tempo é alcançado de acordo com o desempenho da última eleição. O caminho para escapar dessa lógica são as redes sociais.

– Em que outros aspectos você compara Espert com Trump e Bolsonaro?

Apenas na questão do voto oculto. Quanto ao resto dos tópicos, eles são muito diferentes, não há comparação. Espert acredita em democracia e ordem em uma eleição, Trump considera que não é importante. Eu trabalhei muito duro na campanha do Brexit com meu cliente Nigel Ferage. Todo o estabelecimento da Grã-Bretanha disse: “Oh, o Brexit é terrível, miserável”. Mas pessoas que não eram ricas e não tinham poder, inclusive os liberais e trabalhadores, de repente saíram e nos fizeram ganhar. Todos ficaram surpresos. Eles se perguntaram: “Como isso pôde acontecer aqui?”

– É possível em três semanas superar Lavagna e ficar em terceiro lugar nas PASO (Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias)?

Lavagna tem cerca de 12%. Subir quatro pontos em três semanas é possível.

– Você assessorava Macri nas eleições de 2003, em que ele foi derrotado. Ficou surpreso quando ele chegou à Presidência?

Não, acho que ele é bem-sucedido porque sempre há um Kirchner em algum lugar. Se não, ninguém apoiaria. É incompetente, não pode dirigir um submarino, não pode administrar o comércio, não pode tornar o sistema previdenciário solvente ou controlar a inflação, nem promover a reforma tributária que a maioria dos países fez. Ele é um garoto rico que nunca faz sua lição de casa e nunca presta atenção aos seus estudos. Ele nunca teve que sujar as mãos e trabalhar duro. Ele tem hábitos terríveis de estudo, de trabalho. Sempre triunfou por conta de seu pai, por dinheiro ou pela reputação dos Kirchners.

-Por que você acha que Macri tem o apoio de Trump?

Trump está ansioso para vencer Kirchner por causa de seu papel contra os Estados Unidos. Ela é antiamericana, ele apoiaria qualquer um que pudesse derrota-la.

-Você acredita que Espert poderia conseguir seu apoio depois do PASO?

Sim, ele apoiaria qualquer um que vencesse Kirchner.