18 de novembro de 2020

A INDIFERENÇA E A POLÍTICA!

1. O Papa Francisco, em seu discurso conceitual no Theatro Municipal, construiu uma dialética pouco usual: violência e indiferença. Sublinhou que o outro lado da violência não pode ser a Indiferença –que adjetivou de egoísta. E como construtor de pontes (pontífice), ofereceu a alternativa do diálogo, a ‘cultura do encontro’, nas palavras dele.

2. Essa ênfase na crítica à Indiferença como um sentimento não cristão (anticristão), já havia sido destacada pelo Papa Bento XVI em sua trilogia sobre a vida de Jesus Cristo. Papa Francisco reforça-a, colando-a à política e à conjuntura.

3. O ex-presidente francês François Mitterand, em seu segundo governo (já com um câncer em progresso), aceitou a proposta de um documentário onde 3 vezes por semana gravaria respostas a quaisquer perguntas sobre a conjuntura, sobre ele e sobre a França. O compromisso era que só depois de sua morte, seria editado para a TV. Assim foi e se tornou um importante documento politico.

4. Numa reflexão, Mitterrand afirma com sua voz escandida: “A política desenvolveu em mim o sentimento da Indiferença”. Para quem viu e reviu o documentário, leu Bento XVI e ouviu Francisco, é inevitável correlacionar os três conceitos como um só. A política nos tempos de hoje desenvolve em seus atores o sentimento da Indiferença.

5. E esse é o maior de todos os pecados na política dos últimos anos. O que é o comportamento de Berlusconi senão a Indiferença? Ou de Dominique Strauss-Kahn? O que são esses fatos mostrados na política brasileira, em restaurantes luxuosos de Paris, em programas cercados de luxo e companhias endinheiradas, em jatinhos públicos ou privados, etc.?  Corrupção? Pode ser. Mas pode não ser, quando se a entende como enriquecimento pessoal.

6. Mas é inevitável concluir, depois de ouvir Mitterand e Francisco e ler Bento XVI, que a cultura da Indiferença –indiferença com a vida das pessoas, com a opinião pública- que o ponto fulcral do comportamento político nos dias de hoje, que provoca tanta revolta, é a certeza da Indiferença dos políticos com a realidade que os cerca.

7. Indiferença com amplitude e alcance bem maiores que a corrupção (que pode não atingir pessoalmente a alguns atores), pois atinge a quase todos, quase generalizadamente. Mesmo que sem a experiência de Mitterand ou a sabedoria de Bento e Francisco, é o que passa na cabeça de todos e o que os faz rejeitar a política e os políticos e leva tantos à indignação nas ruas ou não, pelo mundo todo.

16 de novembro de 2020

RISCOS POLÍTICOS E REDES SOCIAIS NA INTERNET!

Trechos do artigo de Malcolm Gladwell (A Revolução não será twitada) que foi traduzido na Ilustríssima da Folha de SP.

1. A luta pelos direitos civis que engolfou o sul dos Estados Unidos nos anos 60 -aconteceu sem e-mail, mensagens de texto, Facebook ou Twitter. Dizem que o mundo passa por uma revolução. As novas ferramentas de redes sociais reinventaram o ativismo social. Com Facebook, Twitter e que tais, a relação tradicional entre autoridade política e vontade popular foi invertida, o que facilita a colaboração mútua e a organização dos desprovidos de poder e dá voz às suas preocupações.   Se antes os ativistas eram definidos por suas causas, agora são definidos pelas ferramentas que empregam e esses inovadores tendem ao solipsismo.

2. Como escreveu Robert Darnton, “as maravilhas da tecnologia de comunicação no presente produziram uma falsa consciência sobre o passado -e até mesmo a percepção de que a comunicação não tem história, ou nada teve de importante a considerar antes dos dias da televisão e da internet”. Mas há mais um fator em jogo nesse desproporcional entusiasmo em relação às redes sociais. Parece que esquecemos o que é ativismo. Ativismo que desafia o status quo -e ataca problemas profundamente enraizados- não é para bundas-moles.

3. O que leva uma pessoa a esse tipo de ativismo?  O fator decisivo é o grau de conexão pessoal entre a pessoa e o movimento que participa. O ativismo de alto risco, é um fenômeno de “VÍNCULOS FORTES”.

4. VÍNCULOS FRACOS.  O ativismo associado às redes sociais nada tem em comum com isso. As plataformas dessas redes são construídas em torno de vínculos fracos. O Twitter é uma forma de seguir (ou ser seguido por) pessoas que talvez nunca tenha encontrado cara a cara. O Facebook é uma ferramenta para administrar o seu elenco de conhecidos, para manter contato com pessoas das quais de outra forma você teria poucas notícias. É por isso que se pode ter mil “amigos” no Facebook, coisa impossível na vida real.  Sob muitos aspectos, isso é maravilhoso. Há força nos vínculos fracos, como observou o sociólogo Mark Granovetter. Nossos conhecidos -e não nossos amigos- são a nossa maior fonte de novas ideias e informações. A internet nos permite explorar a potência dessas formas de conexão distante com eficiência maravilhosa.

5. É sensacional para a difusão de inovações, para a colaboração interdisciplinar, para integrar compradores e vendedores e para as funções logísticas das conquistas amorosas. Mas vínculos fracos raramente conduzem a ativismo de alto risco.  “As redes sociais são especialmente eficazes para reforçar a motivação”, escreveram Aaker e Smith. Mas NÃO é verdade. As redes sociais são eficazes para ampliar a participação -mas reduzindo o nível de motivação que a participação exige.  Em outras palavras, o ativismo no Facebook dá certo não ao motivar pessoas para que façam sacrifícios reais, mas sim ao motivá-las a fazer o que alguém faz quando não está motivado o bastante para um sacrifício real.

6. ALTO RISCO. O movimento dos direitos civis (anos 60), era ativismo de alto risco. Era também, e isso é importante, ativismo estratégico: um desafio ao establishment, montado com precisão e disciplina. “Cada grupo tinha uma missão definida e coordenava suas atividades por meio de estruturas de autoridade”, escreve Morris. “Os indivíduos eram responsáveis pelas tarefas que lhes eram designadas e conflitos importantes eram resolvidos pelo pastor, que em geral exercia a autoridade final sobre a congregação.”

7. HIERARQUIA. Essa é a segunda distinção crucial entre o ativismo tradicional e sua variante on-line: as redes sociais não se prestam a esse tipo de organização hierárquica.  O Facebook e sites semelhantes são ferramentas para a construção de redes e, em termos de estrutura e caráter, são o oposto das hierarquias. Ao contrário das hierarquias, com suas regras e procedimentos, as redes não são controladas por uma autoridade central e única. As decisões são tomadas por consenso, e os vínculos que unem as pessoas ao grupo são frouxos.  Essa estrutura torna as redes imensamente flexíveis e adaptáveis a situações de baixo risco.

8. Carecendo de uma estrutura centralizada de liderança e de linhas de autoridade claras, as redes encontram dificuldades reais para chegar a consensos e estabelecer metas. Como fazer escolhas difíceis sobre táticas, estratégias ou orientação filosófica quando todo mundo tem o mesmo poder?   De forma semelhante, a Al Qaeda era mais perigosa quando mantinha uma hierarquia unificada. Agora que se dissipou em rede, vem se mostrando bem menos eficaz. As desvantagens das redes pouco importam, quando não estão interessadas em mudança sistêmica -caso desejem apenas assustar, humilhar ou fazer barulho-, ou quando não precisam pensar estrategicamente. Mas, se o objetivo é combater um sistema poderoso e organizado, é preciso uma hierarquia.

9. PODER DE ORGANIZAÇÃO. Clay Shirky, professor na Universidade de Nova York, procura demonstrar o poder de organização da internet. Na opinião de Shirky, ilustra “a facilidade e rapidez com que um grupo pode ser mobilizado para o tipo certo de causa” na era da internet. Na opinião de Shirky, esse modelo de ativismo é superior. Mas, na verdade, NÃO passa de uma forma de organização que favorece as conexões de vínculo fraco que nos dão acesso a informações, em detrimento das conexões de vínculo forte que nos ajudam a perseverar diante do perigo.

10. Transfere nossas energias das entidades que promovem atividades estratégicas e disciplinadas para aquelas que promovem flexibilidade e adaptabilidade. Torna mais fácil aos ativistas se expressarem e, mais difícil, que essa expressão tenha algum impacto.  Os instrumentos de redes sociais estão aptos a tornar a ordem social existente mais eficiente. Não são inimigos naturais do status quo. Se, na sua opinião, o mundo só precisa de um ligeiro polimento, isso não deve lhe causar preocupação. Mas se você acredita em mudança essa tendência deveria incomodá-lo.

13 de novembro de 2020

EX-BLOG ENTREVISTA CESAR MAIA!

O ex-prefeito Cesar Maia é candidato a vereador pelo Democratas (número 25.500)

Ex-Blog: Como você vê a situação do Rio de Janeiro?

Cesar Maia: A cidade do Rio de Janeiro vive uma crise profunda, fundamentalmente política. Vivemos uma situação parecida há 30 anos, com o prefeito Saturnino Braga, um homem de bem, mas que não soube gerir a prefeitura. Mas sou otimista. Vamos nos recuperar. É preciso gestão. O eleitor precisa aproveitar as eleições para escolher bem e formar uma Câmara de Vereadores com independência, altivez e conhecimento. Vereadores que possam cobrar e auxiliar a gestão da prefeitura.

EB: Quais são seus temas prioritários como vereador?

CM: A próxima legislatura da Câmara de Vereadores discutirá o novo Plano Diretor da cidade, que é um plano orientador das políticas gerais da cidade. Trata-se de algo muito importante para o futuro da cidade.

Os temas que eu defendo como vereador são os temas que sempre defendi quando era prefeito.

Defendo o fortalecimento do serviço público, prestigiando enormemente e sempre os servidores públicos. Quando investimos nos servidores, investimos na população. Defendo e cobro também a retomada dos programas de urbanização da cidade, tanto das áreas de classe média, quanto, principalmente, das áreas comunitárias, no caso, o Favela Bairro, que foi um programa de grande sucesso, elogiado internacionalmente e premiado na ONU.

Defendo também programas que consegui incluir na LDO. Neste ano foram aprovadas emendas minhas com recursos para projetos como a retomada do programa Gari Comunitário, expansão do programa Ônibus da Liberdade, retomada do programa Remédio em Casa, retomada do Favela-Bairro, implementação de novo Plano de Cargos e Salários da Saúde e a retomada da Carta de Crédito aos servidores.

EB: Para você, quais são as funções mais importantes do vereador?

CM: As funções do vereador são legislar e fiscalizar. Essas são as obrigações. As funções, na prática, dependem muito da sua qualificação e do conhecimento que tem da cidade, do executivo e do legislativo. Um vereador, para representar bem uma cidade complexa como o Rio, precisa ter uma capacidade de articulação política dentro e fora da cidade. É assim sempre, mas, em uma situação de crise, isso passa a ser fundamental. Para superarmos este momento, o Rio precisa de vereadores que tenham essa capacidade, essa experiência e esse conhecimento.

12 de novembro de 2020

FUSÃO DA GUANABARA E ESTADO DO RIO! O QUE TERIA SIDO MELHOR?

1 O  artigo “Fusão veio 15 anos depois”, do economista Mauro Osório e dos historiadores Paulo Cesar Reis e Maria Helena Versiani, discute a tese de que a ideia da fusão surgiu ainda no calor dos debates da fase final da transferência da capital para Brasilia, mas teria sido interrompida por interveniência do deputado Nelson Carneiro. Se tivesse ocorrido naquele momento –segundo eles- a fusão teria sido muito mais orgânica e produtiva, porque o Brasil vivia num regime democrático.

2. Pode ser. Porém, o mais provável é que a própria ebulição democrática tenha impedido a ideia de fusão. O principal líder da oposição a JK –Carlos Lacerda- tinha sua base política no Rio/Guanabara. Essa também era a principal base política do PTB (Sergio Magalhães), que praticamente empatou com a UDN na eleição de Lacerda em 1960.  E no Estado do Rio, nesse período, florecia a liderança de Roberto Silveira que, eleito governador, surgia como presidencável do PTB. A resistência à fusão, portanto, tinha fortes lideranças políticas.

3. Olhando de hoje para trás, a melhor decisão teria sido aquela adotada por Nova York no final do século 19. Nova York era apenas a Ilha de Manhattan.  Mas seu entorno (Queens, Brooklyn…) conformava um todo com Nova York, compartilhando problemas de saúde, educação, segurança, água, lixo e transportes. A decisão foi realizar a fusão de Nova York com esse seu entorno, tornando as políticas públicas muito mais eficientes por incorporarem as áreas sócio-urbanamente associadas, por serem dormitório de Manhattan, muito mais rica, que atraía cultural e comercialmente e tinha serviços públicos mais desenvolvidos que serviam também ao entorno.

4. A cidade do Rio de Janeiro –Rio- tinha situação semelhante com a Baixada Fluminense, que cresceu como “bairros” dormitórios do Rio. O emprego estava no Rio. Os hospitais estavam no Rio. O Maracanã estava no Rio. As escolas de Samba, os cinemas, as praias… Tenório Cavalcanti, deputado de Caxias, mudou o título eleitoral e em 1960 obteve 20% dos votos, contra uns 30% de Lacerda e Sergio Magalhães.

5. Portanto, a decisão correta seria fundir o Rio com a Baixada. Decisão que não podia ser tomada em 1960 por razões políticas, mas podia e devia ser tomada depois, pelas mesmas razões. Toda a discussão posterior –até hoje- sobre os sistemas de transporte, segurança, água, energia, e saúde- que se arrastam até hoje, passariam a ser decisões incorporadas a um Estado conurbado e rico, e não hoje com sub-regiões distintas.

6. Assim pensava Amaral Peixoto, com a localização da Refinaria Duque de Caxias. Com a chegada posterior da economia do petróleo e depois com os royalties, o Estado do Rio seria um estado financeiramente poderoso.  O sul industrial, a região serrana, e a região dos lagos e norte que se integraram à economia do petróleo. E o noroeste que buscaria novas associações sub-regionais.

7. Os problemas de infraestrutura e sociais da Baixada Fluminense seriam enfrentados por um estado rico como o foi o Estado da Guanabara. Ao par com Nova York, 70 anos antes, essa teria sido a decisão adequada para o Rio pós-capital.

11 de novembro de 2020

RECADOS AOS POLÍTICOS!

Do livro “A Arte da Entrevista”, organização de Fábio Altman. Entrevistas com importantes personagens dos séculos 19 e 20.

1. Mussolini em entrevista a Emil Ludwig em 1933 (com 11 anos no poder) e no auge: “Hoje em dia a oposição é representada pelos problemas que tem que ser resolvidos, pelos problemas econômicos e morais, que sempre pedem uma solução. Isso é o suficiente para não permitir que um governante durma. Além disso, criei uma oposição dentro de mim mesmo.”

2. Emil Ludwig, durante a entrevista, citando Goethe: “O caráter é moldado pelos revezes do destino.”

3. Mussolini: “Devo o que sou às crises que tive que superar e às dificuldades que tive que vencer. Portanto todos devem correr riscos.”

4. Mahatma Gandhi  em entrevista a H.N. Brailsford em14/04/1946, um ano e 4 meses antes da Independência da Índia: “Precisamos manter a mente aberta. Alguém que busque a verdade nunca começará qualificando as declarações de seu opositor como indignas de confiança. As dificuldades fazem o homem.”

10 de novembro de 2020

DESGASTE DOS POLÍTICOS: PROXIMIDADE E INTIMIDADE!

1. A aproximação dos políticos da população passa por etapas, sendo todas cumulativas. A proximidade pessoal; a proximidade em comícios; a proximidade por acompanhar nas ruas a movimentação eventual deles; a proximidade através de desenhos em cartazes; a proximidade através das fotografias; a proximidade por panfletos, textos e livros; a proximidade pela voz através do rádio; a proximidade nos cinemas via cinejornais; a proximidade pela TV em tele noticiário e entrevistas; a proximidade pela TV em tempo real; e a proximidade diversificada através da internet.

2. Nas primeiras etapas, a “distância” mitificava os políticos e atraía por curiosidade e não apenas pelas ideias e opiniões. A proximidade crescente vai produzindo intimidade em graus diversos. Se pode avaliá-los por um leque de razões, que passam pelo comportamento, pela vida pessoal e pelas opiniões. Quanto maior o grau de intimidade, mais amplas as informações para avaliações.

3. As responsabilidades dos políticos pelos problemas enfrentados pelas pessoas se tornam diretas pela maior intimidade. As pessoas têm seu raio de intimidade que, quando ultrapassado, gera incomodidade e desconforto. A proximidade virtual dos políticos leva as pessoas a serem mais críticas em relação a eles.

4. Numa conjuntura adversa em que a taxa de insegurança em relação ao presente e ao futuro aumenta muito, a intimidade dada pela TV e pela internet exponencializa o desconforto e a incomodidade em relação aos que as pessoas acham responsáveis. A proximidade aumenta em muitas vezes o multiplicador da rejeição, pois a opinião se difunde de forma muito, muito mais veloz. É verdade, também, que o contrário produz paixão e popularidade.

5. A velocidade de reversão da paixão à rejeição pode até ser quase instantânea nos dias de hoje. Por isso, o cuidado que devem ter os políticos num ambiente adverso. A tentativa de reverter uma avaliação negativa através de exacerbar a proximidade e a intimidade pode ter consequências fatais e definitivas.

6.  É como se entrasse no seu raio de intimidade alguém que você odeia, o que gera reações semelhantes a um animal acuado. É semelhante a um odor desagradável que alguém impõe proximidade a você. A reversão radical da popularidade não é fato incomum na política, especialmente quando as pessoas se sentem enganadas.

7.  Jacques Seguelá, publicitário, assessor de imagem de François Mitterrand, num capítulo do livro “Em Nome de Deus”, sobre a curva positiva de popularidade de Mitterrand, aconselhava intermitência, e lembrava que a exposição “ao sol”, contínua, de um presidente, traz queimaduras e a superexposição queimaduras de até terceiro grau, que afetam definitivamente a saúde política do presidente.

09 de novembro de 2020

PESQUISAS ELEITORAIS! 

1. Paul Lazersfeld é o fundador das pesquisas de opinião política na Universidade de Columbia no final dos anos 20 e início dos anos 30. Os críticos da montagem de um sistema de pesquisas como estava sendo feito, que refletisse a opinião pública, afirmavam que o eleitor sendo um, em milhões, achava que era inútil votar ou opinar.  Dessa forma, as amostras usadas nas pesquisas não conseguiriam identificar os vetores de opinião pública.

2. Lazarsfeld trabalhou com o Jogo de Coordenação. Ou seja, as pessoas e seus contatos, em casa, na família, no trabalho, nas ruas, nas escolas, nos clubes, etc.,vão trocando opiniões e construindo a ideia que não estão sós, que fazem parte de um grupo de pessoas que pensam como eles, e que o alcance de sua intenção de voto é muito maior que sua opinião pessoal. Com isso, a amostragem aparentemente pequena, não apenas pelos fatores censitários como gênero, idade, instrução, renda, localização…, impulsionada pelo Jogo de Coordenação, tem um alcance muito maior que os críticos imaginavam. E precisão.

3. Gabriel Tarde –francês, pai da micro-sociologia- final do século 19, em seu clássico “As Leis da Imitação” ( não traduzido para o português), dizia que a opinião pública é formada pela troca de opiniões entre as pessoas e outras pessoas cuja opinião respeitam. A partir daí se formam fluxos de opinamento. Quando as informações difundidas são amplas, como pelos meios de comunicação, aquela troca de opiniões se dá milhares/milhões de vezes. São esses fluxos que formam a opinião pública.

4. Gabriel Tarde fala de três atores nesse processo: os que iniciam processos de opinamento (“loucos”), os que repassam os fluxos de opinamento (“sonâmbulos”), e os que não estão nem aí, e não dão importancia a esses fluxos e não repassam (“idiotas”). Quanto maior a proporção desses últimos, menor a velocidade na formação de opinião pública e mais difícil identificá-la.

5. Tanto o Jogo de Coordenação quanto as Leis da Imitação explicam que quando um certo assunto não desperta interesse nas pessoas, que elas não conversam, não interagem a respeito e quanto maior a proporção dos que não repassam fluxos de opinamento, maior dificuldade das pesquisas terem precisão na proporção dos vetores de opinião pública.

06 de novembro de 2020

OITO ESTRATÉGIAS ELEITORAIS!

Thomas Holbrook: Pensamentos selecionados de seu livro: “As campanhas são importantes?”

1. Como o valor da informação diminui com o aumento do volume de informações, os eventos que acontecem no início do período de campanha têm um potencial maior de influenciar os eleitores do que os eventos que ocorrem na parte final. “Lei” do rendimento decrescente das informações.

2. A opinião básica sobre os candidatos não vai mudar na fase final.

3. Os partidos na campanha não são fonte de informação. A campanha é centrada no candidato.

4. O eleitor conservador é mais constante que o de esquerda.

5. Os últimos a decidir (indecisos) não tendem a votar no candidato do governo.

6. Regra básica: nunca pise em sua própria história.

7. Debate só tem importância em disputa muito acirrada.

8. Expectativa de quem vai ganhar pode influenciar indecisos na reta final.

05 de novembro de 2020

ULYSSES GUIMARÃES E O RIO!

Em abril de 1991, ainda deputado federal, fui convidado por dr. Ulysses Guimarães para acompanhá-lo a Sevilha, junto com o deputado Nelson Jobim e o senador Nelson Carneiro, em uma reunião conjunta dos Parlamentos Europeu e Latino-Americano.

Havia sido criado um ambiente de convivência difícil com deputados do PDT. Essas conversas de análise da situação nacional com o governo Collor começando a fazer água desdobraram-se para os estados, especialmente o Rio de Janeiro. Já em Brasília, as conversas tiveram curso e culminaram com minha integração à equipe do dr. Ulysses e à entrada na executiva nacional do PMDB como secretário de relações internacionais.

No Rio, a análise da situação política local teve curso na casa de Renato Archer. Tanto Ulysses como Archer insistiam que era fundamental alterar completamente o eixo político do triângulo Rio, Minas e São Paulo. Minas vivia o ciclo Newton Cardoso-Hélio Garcia, e São Paulo, Quércia-Fleury. No Rio, havia que superar o ciclo Brizola e dentro do PMDB fazer prevalecer as ideias dos “autênticos”

Para isso, dr. Ulysses insistia em minha candidatura a prefeito. Resisti, pois a minha condição de deputado economista me motivava estar na Câmara de Deputados. Dr. Ulysses disse que eu estaria junto com ele em momentos importantes antes e durante a campanha e que a candidatura viria com o respaldo aberto de seu grupo. Assim foi.

O primeiro ato antes da campanha de 1992 (era o início do processo de cassação de Collor) ocorreu com a visita do dr. Ulysses, me levando junto, à casa do jornalista Barbosa Lima Sobrinho para a primeira assinatura da petição pública ao Congresso de afastamento do presidente da República. As fotos ampliariam minha visibilidade política. Durante a campanha de 1992, em seguida à cobertura pela TV da CPI Collor, meu programa entrava com pronunciamentos do presidente da CPI, senador Amir Lando, e do presidente da Câmara, deputado Ibsen Pinheiro, além do deputado Ulysses Guimarães. Uma espécie de duplicação das imagens da CPI a que o Brasil assistia nos telejornais.

De meros 5% em pesquisas, veio a passagem para o segundo turno, inaugurada com fala do dr. Ulysses. Em seguida, a liderança. No meio do segundo turno, veio a tragédia da queda do helicóptero com Ulysses, Severo Gomes e esposas. Havia passado pelo Rio para reforçar minha campanha e seguiu para Angra. Veio a eleição e abriu-se um novo ciclo político no Rio, governar por 12 anos e dois secretários meus por mais 12.

Independentemente de valorações administrativas das diversas gestões, o fato é que na capital quebrou-se um ciclo, abriu-se outro de características muito diferentes. Na entrada da prefeitura do Rio, foi colocada por mim uma escultura com pedaços dos destroços do helicóptero que vitimou dr. Ulysses. Uma homenagem a quem mudou a política no Rio.

04 de novembro de 2020

“TRINDADE SAQUAREMA”: QUANDO O RIO FOI PODER NACIONAL! 1849!

1.  Agendas dos luzias e dos saquaremas

Luzias: submissão da Coroa e do Executivo à Câmara dos Deputados (fontes: Timandro e Limpo de Abreu); negação radical com o passado colonial, do que o antilusitanismo e a Revolução (Independência como início de uma grande mudança que precisava ser arrematada) eram componentes (Timandro, p. 157) e um conceito de liberdade asseguradora do predomínio da Casa (p. 148); mobilização dos setores populares. Corolário: incapacidade de construir uma articulação política que viabilizasse seu projeto político (p. 169).

Saquaremas: predomínio do Executivo sobre o Legislativo (p. 152); conceito qualitativo de liberdade, segundo a qual os homens são naturalmente desiguais (Manheim!, p. 162), que se atrela às noções de ordem e hierarquia; reprodução das heranças do tempo, do que a manutenção da ordem social (Revolução como Restauração, p. 166) e a troca do antilusitanismo pela eleição do escravo como inimigo principal eram componentes centrais; a defesa do tráfico e da escravidão (p. 176) e a manutenção da integridade territorial; repúdio à incitação dos setores populares. Corolário: implantação de um projeto para o Estado e elevação da Coroa ao status de Partido.

2. Paulino José Soares de Sousa, o visconde com grandeza de Uruguai, (Paris, 4 de outubro de 1807 — Rio de Janeiro, 15 de julho de 1866) foi um político brasileiro nascido na França.

De pai brasileiro, fez os primeiros estudos no Maranhão e cursou até o quarto ano de Direito em Coimbra. Preso em Portugal por motivos políticos, ao sair da cadeia retornou ao Brasil e concluiu seu curso em 1831, na Faculdade de Direito de São Paulo. Iniciou a vida pública na magistratura, sendo juiz de fora na cidade de São Paulo e, depois, ouvidor da comarca. Chegou a Desembargador da Relação da Corte, em 1852, aposentando-se como Ministro do Supremo Tribunal de Justiça, em 1857.

Em 1836 fora eleito Deputado pelo Rio de Janeiro, sendo no mesmo ano nomeado presidente da província. Em maio de 1840, recebeu a pasta da Justiça, caindo com o Ministério um mês depois, por força da proclamação da maioridade de D. Pedro II. No ano seguinte, retornou à pasta da Justiça, na qual permaneceu até 1843. No cargo, promoveu a reforma do Código do Processo Criminal e enfrentou a a revolta dos liberais em São Paulo e Minas. Foi Ministro dos Negócios Estrangeiros de 1843 a 1844 e de 1849 a 1853, tendo tratado da extinção do tráfico de escravos e da guerra contra Oribe e Rosas.

Foi Senador do Império em 1849, na bancada do Partido Conservador e Conselheiro de Estado em 1853. Recebeu o título de Visconde de Uruguai no ano seguinte, acrescido com as honras de grandeza.

3. Joaquim José Rodrigues Torres, o visconde de Itaboraí (São João de Itaboraí, 13 de dezembro de 1802 — Rio de Janeiro, 8 de janeiro de 1872), foi um jornalista e político brasileiro.

Foi deputado geral na 3ª legislatura pela corte e pelo Rio de Janeiro, primeiro presidente da província do Rio de Janeiro. Em 1837 transfere-se para o Partido Conservador.

Foi também presidente do Banco do Brasil, ministro da Fazenda, conselheiro de Estado e senador do Império do Brasil de 1844 a 1872.

4. Eusébio de Queirós Coutinho Matoso da Câmara[2] (São Paulo de Luanda, 1812 — Rio de Janeiro, 7 de maio de 1868) foi um magistrado e político brasileiro. Foi ministro da Justiça (1848-1852) e, neste cargo, foi o autor de uma das mais importantes leis do império, a Lei Eusébio de Queirós, que reprimia o tráfico negreiro e estabelecia sua posterior extinção.

Eusébio de Queirós graduou-se bacharel em ciências jurídicas e sociais na Faculdade de Direito de Olinda em 1832.

Foi eleito deputado provincial no Rio de Janeiro em 1838. Depois foi eleito deputado geral em 1842 representando o Rio de Janeiro, sendo ainda reeleito para mais quatro legislaturas.

03 de novembro de 2020

O VOTO E “OS IDIOTAS DA OBJETIVIDADE”! 

1. Nelson Rodrigues cunhou a expressão “idiotas da objetividade” para aqueles que acreditam que a racionalidade prevalece sempre. Uma frase sua expressava essa afirmativa:  “Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola.” Ou parafraseando: Em política o pior cego é o que se vê as obras, os fatos.

2. Os eleitores decidem seu voto em base a imagem que têm dos candidatos, mais do que o que fizeram ou o que prometem fazer. Nesse sentido, a propaganda política deve partir da imagem que têm os candidatos e saber que essa pode ser melhorada, recuperada, ampliada, suavizada, etc., mas nunca reconstruída. E coerente com o que promete.

3. Jacques Seguelá, publicitário francês que trabalhou com François Mitterrand, aconselhou os políticos em ” A palavra de Deus”, a não tentarem reconstruir as suas imagens. Diz assim: “A cena política é muito parecida com a cena teatral. Mas há uma diferença fundamental.  O ator muda de personagem e continua a produzir emoções. O político, não!”

4. Dessa forma, há uma armadilha nas propagandas dos governos. Como a lei proíbe divulgar o nome ou a imagem do governante, cabe a publicidade divulgar o que o governo fez, ou diz que fez. Gasta-se um dinheirão dos governos para pouco. Quando os governos pensam que a publicidade resultou, na verdade, qualquer publicidade resultaria, pois a imagem do governo já estava preliminarmente fixada.

5. Claro, em campanha eleitoral, quando a imagem do candidato é apresentada com total liberdade, as possibilidades são muito maiores. Porém, sempre lembrando Seguelá: sem mudar o personagem.

6. Há muito tempo se sabe disso. Não se trata de ideias geniais de comunicadores, publicitários ou estudiosos pós-modernos.

7. “Não penses que o castelo do governo consiste de fortalezas, muralhas e trincheiras: ele se encontra no interior das consciências. A grandeza dos Estados não pode ser medida pelas extensões territoriais e latifúndios, mas pela lealdade, benevolência e respeito dos habitantes.” Conde Maurício de Nassau, discurso de despedida do Brasil em 1644.

8. “A tolerância fortalece o Estado, porque um estado só é seguro quando os seus cidadãos sentem-se contentes, e isto somente acontece onde a consciência, a pesquisa e as ideias são livres e desentravadas.” Simon Episcopus -1628.

9. Citados em “Holandeses em Pernambuco”, de Leonardo Dantas Silva, página 115.

30 de outubro de 2020

A GEO-HISTÓRIA DO VOTO NA CIDADE DO RIO DE
JANEIRO!

1.  Anexo você conhecá duas tabelas. Na primeira a distribuição do voto na eleição de 1960 para governador da Guanabara entre Carlos Lacerda, Sérgio Magalhães (candidato de Jango) e Tenorio Cavalcanti, deputado de Caxias que transferiu o título para o Rio,  dono do jornal popular-escandaloso “Luta Democrática” e cuja marca estava na capa preta e no pequeno fuzil-metralhadora que portava (“Lurdinha”). Na época eram apenas 15 zonas eleitorais. A 15.a corresponde a Zona Oeste de hoje, de Bangu/Realengo,Campo Grande a Santa Cruz.

2. A dinâmica do voto a favor de Sérgio Magalhães e Tenorio cresce em direção a Zona Oeste. A de Lacerda cresce em direção a Zona Sul e Tijuca. A presença de Tenorio, que paradoxalmente havia sido deputado da UDN do antigo Estado do Rio, é que garante a eleição de Lacerda. Na época em apenas um turno. Embora não se tenha dados oficiais separados, Tenorio venceu em todas as favelas.

3. A segunda tabela mostra os números da eleição para governador em 1965, na prática entre  Negrão de Lima do PTB e Flexa Ribeiro candidato do governo Carlos Lacerda, governo responsável por importantes obras no Rio. Na época a Zona Oeste -Bangu,Campo Grande a Santa Cruz- eram as zonas eleitorais 24 – 25. Repare que a dinâmica do voto é a mesma. Flexa na Zona Sul e Tijuca e Negrão crescendo em direção as Zonas Norte, e Oeste, onde obteve uma vitoria arrasadora. Embora a eleição fosse em um turno, Negrão obteve maioria absoluta no primeiro turno.

4. Clique 1 e 2. Verá os gráficos de barra a cores, e a descrição das zonas eleitorais. Em seguida clique na base do gráfico, ao lado, e conheça as tabelas de séries numéricas por zonas eleitorais.

29 de outubro de 2020

JUVENTUDES POLÍTICAS: DE MASSAS, DE QUADROS E O PODER DE MULTIPLICAÇÃO! OS JOVENS MARX E ENGELS!

1. A clássica divisão dos partidos políticos de massas e de quadros foi facilitada pela estática das ideologias. O partido de massas -dada a ideologia- priorizava a mobilização e estimulava as lideranças carismáticas.  O partido de quadros -dada a ideologia- priorizava a qualidade intelectual de suas lideranças em todos os níveis.

2. Um ponto que os aproximava era serem partidos que partiam de ideologias dadas e -seus lideres, seus quadros e intelectuais- reforçavam as mesmas ideias com argumentos mais sólidos ou mais mobilizadores.

3. Nos anos 30, as juventudes mobilizavam e eram mobilizadas, tanto pelas ideias de direita quanto de esquerda.

4. No pós-Segunda Guerra, as juventudes partidárias referenciadas mais à direita -talvez por se sentirem vitoriosas-  perderam ou reduziram em muito as suas forças de mobilização. Por outro lado, as juventudes partidárias referenciadas à esquerda pela importância e crescimento da influência da União Soviética e da China, e na America Latina, de Cuba, passaram a ser o pólo quase único de mobilização das juventudes.

5. As rebeliões universitárias de 1968 misturaram o campo ideológico com o comportamental e, de certa maneira, funcionaram como uma fronteira que antecipou a debacle da União Soviética e da hegemonia das suas ideias e, paradoxalmente, marcaram a desmobilização das suas juventudes partidárias.

6. Nos últimos anos, a sensação de que a política tinha perdido seu lastro ideológico foi um vetor de desmobilização. Mas -no Brasil- trouxe uma importante novidade. As juventudes de partidos de esquerda perderam o monopólio e, hoje, se pode afirmar que não o têm mais. Isso tanto ocorre nos movimentos estudantis quanto nos movimentos sociais e religiosos.

7. Mas com uma certa fluidez ideológica, as ideologias deixaram de ser estáticas. Ou seja, estão em movimento.  Nesse sentido, as juventudes de massas não trazem nenhuma renovação e se tornam, simplesmente, correias de transmissão com suas bandeiras, camisetas e mesmo com suas redes sociais.

8. As juventudes de quadros -observada a tradição anterior- de formação de lideranças em base a ideologias estáticas -de esquerda ou de direita- o são da mesma forma.

9. Mas surge um vazio a ser ocupado hoje pela juventude de quadros. Formar jovens intelectuais que possam renovar as ideias e ao falarem para o mundo de amanhã, relançarem a política em novas bases, já que pensam com muito maior independência sem terem incorporado ideias que os tornam estáticos.

10. Isto vale também para as redes sociais. E, sendo assim, voltam a ser inovadoras e por isso mobilizadoras.

11. O filme “O Jovem Karl Marx”, de Raoul Peck,  trata dos jovens Marx e Engels, jovens intelectuais de extração social distinta e no entorno de seus 25 anos, enfrentando a repressão dos regimes autoritários e que ao meio de lideranças e intelectuais consagrados como Proudhon e Bakunin e da mobilização deles e outros, e líderes sindicais, para dar organicidade à Liga dos Justos, rebelam-se e afirmam que sob aquelas ideias -por mais radicais ou românticas que fossem- não se organizaria um movimento operário independente renovador e mobilizador.

12. Que o fundamental era fazer uma revisão profunda daquelas ideias. Finalmente é entregue a eles a responsabilidade de escrever um texto que servisse com orientação e plataforma ao movimento operário. Em 1848 saiu do forno -dos 30 anos de Marx e dos 28 anos de Engels- o Manifesto Comunista, base da Liga Comunista. E desencadeador de um novo movimento politico pelo mundo todo.

13. Não se trata aqui -no filme- de ideologia.  Mas de -tendo como referencia este filme- mostrar que a juventude de quadros num ambiente dinâmico, deve ir muito além das ideias estáticas anteriores. Deve mergulhar fundo no campo de ideias que possa renovar a política e apontar para o futuro e, dessa forma, pela força dessas novas ideias, ser fortemente mobilizador.

28 de outubro de 2020

28 DE OUTUBRO – DIA DO SERVIDOR PÚBLICO!

O Dia do Servidor Público foi criado por decreto do Presidente Getúlio Vargas, em 1938. Em seguida, ele criou o Departamento de Administração do Serviço Público (DASP), que se transforma numa peça central no governo.

O DASP estava sendo criado, quando o Doutor Simões Lopes, que era um assessor emérito do Presidente , realizou um concurso público para o preenchimento de quadros de primeiro escol dentro do DASP.

Meu pai fez e passou nesse concurso; depois eles foram treinados na Hollerith – nome anterior da IBM. A empresa ficou muito conhecida no Brasil e seu nome passou a ser usado como se fosse sinônimo de contracheque (holerite).

O fato é que em todos os governos – a França é um exemplo disso – no seu ciclo ascendente, isso ocorre em função do papel básico e fundamental exercido pelos servidores públicos. O servidor público não é custo, é investimento, é despesa de capital, principalmente em nível municipal.

Quem dá aula não é uma máquina; quem limpa a rua não é uma máquina; quem faz cirurgia e atende nos hospitais não são máquinas; quem fiscaliza não são máquinas: são servidores públicos.

O servidor público adquire dois tipos de qualificação. Uma qualificação é pelo seu conhecimento, pelo seu estudo, pelo concurso que fez, outros cursos que realizou. Mas o seu doutoramento, no caso do serviço público, é dado pela sua prática, pela sua experiência, que é insubstituível.

Não adianta nada você querer hipoteticamente, num certo momento, tirar um servidor público, e trazer um de fora só com o seu currículo de mestre, de doutor, disso ou daquilo; porque é exatamente essa experiência que o qualifica, que o credencia, que permite à população ter o atendimento de qualidade que precisa e que merece ter.

Eu sou filho de servidores públicos. Eu fui amamentado pela minha mãe, servidora pública. Aprendi as primeiras letras junto com meu pai no serviço público. Sou servidor público, como minha irmã. Minha mãe era professora concursada. Depois foi do Ministério da Educação. Então, minha vida toda foi aprendendo, vendo e conhecendo a importância do servidor público.

27 de outubro de 2020

PROGRAMAS E COMERCIAIS ELEITORAIS: UM DESPERTADOR!

1. Já foi o tempo em que o eleitor se fixava nos programas e comerciais eleitorais, se comovia ou se mobilizava com eles. Nem por isso os programas e comerciais perderam a importância. A começar pelo fato que o eleitor médio acha que quem tem pouco tempo de TV não tem chance. Ter tempo suficiente é fundamental para dizer: Eu existo.

2. Uma vez com um tempo suficiente de TV, esse deve permitir ao eleitor ter imagens que ajudem a memória do eleitor, mesmo aqueles -que não são poucos- que apertem o botão do “mute”. Os personagens e os temas devem ser abordados de forma que uma atenção de segundos seja suficiente.

3. O eleitor não está nem aí para a campanha. Até que surgem os candidatos na TV à sua frente. É provável que o desgaste dos políticos leve o eleitor médio a desqualificar todos. Mas dia a dia, com ou sem “mute” a TV vai servindo como um despertador: Trimmm, a eleição está aí.

4. Com este trimmmmm… o eleitor inicia seu processo de tomada de decisão. Da negativa caminha em direção a uma decisão. As pesquisas pré-TV vão ficando para trás, a menos que algum candidato seja ou tenha sido prefeito ou governador, quando a pesquisa incorpora um julgamento. Quanto aos demais, não. O processo está aberto.

5. Deflagrado pela TV este processo de conversas, fluxos de opinamento, troca de opiniões, as/os candidatas/os, precisam ter na base uma semeadura suficientemente ampla, para serem comentados positivamente. Ou seja, para que no primeiro filtro eles fiquem para a escolha final.

6. Com o processo de decisão a caminho o eleitor já não aperta o “mute” e caminha para decidir. Nesse momento, programas e comerciais de TV, devem mesclar uma espécie de -o melhor até aqui- com pontuações afirmativas e compromissos.

7. Essa é a dinâmica de um processo que é despertado pela TV, irrigado numa curva ascendente pelo boca a boca, filtrado na segunda parte desta curva, e que retorna a TV para a decisão final. Todas as fases são importantes.

26 de outubro de 2020

ROBESPIERRE: O PRIMEIRO DISCURSO CONTRA O ANTI-SEMITISMO! 23/12/1789!

1. Na sessão da Assembleia Nacional Francesa de 23 de Dezembro de 1789, o deputado por Arras, Maximilien-Marie Isidore de Robespierre, pede a palavra. Robespierre era respeitado por seus pares como um homem que analisava com inteligência a grave situação que a Revolução atravessava, acossada em suas fronteiras e com graves dissensões internas. No entanto o deputado, despojando-se de todos os preconceitos religiosos sobre os “judeus deicidas” com os quais foi formado no colégio parisiense Luis-lhe Grand, um dos mais importantes da França, assume com vigor sua defesa.

2. Ele disse “Todo cidadão que cumpra com os requisitos de elegibilidade que vocês estabeleceram, tem direito de ocupar qualquer função pública. Como se pode opor aos judeus as perseguições que diferentes povos os fizeram vítimas? Pelo contrário, são crimes nacionais que devemos expiar, restaurando-lhes os direitos inalienáveis ​​do homem, dos quais nenhum poder humano pode privá-los. Eles são acusados ainda ​​de vícios e preconceitos: do espírito sectário e do lucro exagerado, mas a quem podemos culpar se não a nós mesmos e as nossas próprias injustiças? Depois de tê-los excluído de todas as honras, do direito à estima pública, não lhes deixamos mais do que o espaço das especulações lucrativas. Devolvamos-lhes a felicidade, a pátria e a virtude, reconhecendo-lhes sua dignidade de homens e de cidadãos.”

3. É, sem dúvida, o primeiro discurso contra o anti-semitismo pronunciado publicamente na França. A moção foi rejeitada pela Assembleia.

4. (Ex-Blog) 60 anos depois um judeu não podia ser eleito na Câmara dos Comuns na Inglaterra. Disraeli -depois grande primeiro ministro- judeu de origem -D´Israel- só foi deputado por seu pai ter se convertido cristão e mudado de nome.

23 de outubro de 2020

TEORIA DAS CATÁSTROFES APLICADA À POLÍTICA! MORFOGÊNESE POLÍTICA!

1. (wp) A Teoria das Catástrofes é o estudo de sistemas dinâmicos que representam fenômenos naturais e que por suas características não podem ser descritos de maneira exata por cálculo diferencial. Nesse sentido é um modelo matemático de morfogênese. Foi proposta no final dos anos 50 pelo matemático francês René Thom e difundida nos anos 70. Depois, passou a ter uma especial aplicação na análise do comportamento competitivo e nos modelos de mudança organizacional, evolução social, sistêmica e mítica. Um exemplo simples: qual o movimento da queda de uma folha no outono? Que momento deflagrou uma avalanche numa área deserta?

2. A Teoria da Catástrofe foi e é aplicada à Política. São situações políticas que surgem de forma aparentemente surpreendente. A dinâmica política analisada pelos fatos externos e percebidos não é suficiente, pois é um simples exercício de extrapolação. Há que se analisar fatos não imediatamente correlatos que só se tornam visíveis quando deflagrados por uma ação política que não tem relação direta com ele. Exemplo: O bloqueio marítimo alemão à Inglaterra na primeira guerra mundial, que afetou as exportações dos EUA e levou a uma pressão irresistível para que o presidente Woodrow Wilson levasse os EUA à guerra e decidisse a primeira grande guerra.

3. Não se trata de um processo político continuado que pode ser incluído em cenários futuros, como uma crise econômica possível. Trata-se de um fato novo que deflagra outra dinâmica ao processo político corrente. Uma espécie de “tipping point”. Não é planejável nem administrável. Mas uma análise de pontos “invisíveis” vulneráveis no processo político pode simular hipóteses em cima de fatos ainda não existentes. E até provocá-los por simulação e depois por ação.

4. O genocídio de índios no Novo Mundo, produto de doenças transmitidas e que não existiam entre os nativos, sequer foi percebido quando começou a ocorrer. Ou uma expressão que produz uma reação popular durante uma campanha eleitoral como os “marmiteiros” contaminando Eduardo Gomes contra Dutra em 1945.

5. A decisão de FHC de votar a reeleição para seu próprio mandato, que gerou um ciclo de 12 anos do PT, pois seu segundo mandato foi a administração de crises externas (asiática e russa) que contaminaram o país. Paradoxalmente o economista que previu essa onda de crises desde o México, em 1994, Armínio Fraga, foi depois seu presidente do Banco Central no impacto daquelas crises.
6. Há conjunturas em que esses pontos “invisíveis” se multiplicam, pela fragilidade conjuntural. Por exemplo, a crise econômico-financeira a partir de 2008. Que desdobramento terá no sul da Europa? Que fatos poderão ser indutores de rupturas? O populismo cambial e fiscal do governo Lula para vencer a eleição de 2010 criou pontos de reversão econômica e política que só se tornaram claros 2anos depois.

7. Exemplos à vontade existem em pesquisas pré-eleitorais que mostram candidatos com uns 3% de intenções de voto e um ano ou mais depois se tornam vencedores? Por quê? Na falta de uma análise profunda se atribui ao marketing.  Chávez se beneficiou de uma reversão econômica numa crise que se tornou muito mais grave e sentida pela imprevisão do governo venezuelano que –sem perceber a crise (97/98)- extrapolou nos instrumentos de aceleração econômica, produzindo um “gap” de quase 20 pontos do PIB entre o auge pré-eleitoral e o fundo do poço no coração da campanha em 1998.

8. Estamos vivendo uma conjuntura no Brasil que está multiplicando “pontos invisíveis”. Quais são? Há que analisar exaustivamente. Mas isso certamente produz uma grande volatilidade política, potencial, a nível nacional e regional. Nesse sentido, os melhores conselheiros não são os chamados ‘marqueteiros’, mas os políticos sêniores e os politólogos que mergulham na conjuntura articulando-a com a teoria e a história. Surpresas virão certamente? Quais?

22 de outubro de 2020

USO DO RÁDIO NA POLÍTICA!

1. A locução no Rádio e na TV são quase antípodas. Na TV, a voz deve ser escandida, quase segredando. Quanto mais suave e coloquial o tom da voz, mais atenção desperta. No Rádio, ao contrário. A voz deve ser forte, quase discursiva. Na TV, um tom forte de voz separa a imagem do som: a voz sai por cima do televisor e a imagem continua no centro da tela. No Rádio, a voz forte comunica e impressiona mais.

2. Na TV, a comunicação deve ser quase “twittada”: curta e com palavras-imagem, e expressões que teatralizam o que se diz…, naturalmente. O teleprompter é para acostumados, pois exige que a leitura esteja sincronizada com a expressão.

3. No Rádio, a comunicação deve ser feita em narrativas carregadas de imagens. Se for um menor nas ruas, deve ser “uma criança magrinha, embrulhada num jornal, debaixo da marquise”… Os grandes locutores de futebol dos anos 50 são mestres na narrativa carregada de imagens, pois transportam a quem ouve para dentro do campo, “vendo” exatamente o que ocorre.

4. O uso do Rádio pelos políticos, fora da campanha eleitoral, deve apenas gerar concentração no uso adequado da voz e na comunicação na forma de narrativa. Mas durante as campanhas eleitorais há uma mudança fundamental. Primeiro, hoje, em algumas entrevistas ou debates, há a transmissão das imagens via internet. Há que se ter enorme cuidado, pois a câmera é fixa e não dá descanso nem para coçar o nariz. E escorregadas viram reprodução nos jornais e nas redes na internet.

5. Mas o mais importante é a “audiência” dos debates/entrevistas em Rádio em campanhas eleitorais, feitas pela imprensa escrita no dia seguinte, que tem repercussão muito maior que a própria audiência da entrevista ou do debate no Rádio. E depois vêm as redes multiplicando essas matérias. O candidato deve, ao mesmo tempo, usar a metodologia própria da comunicação em Rádio, mas deve usar conteúdos e expressões próprios dos jornais. Um político pode vencer um debate no Rádio, ou se sair esplendidamente numa entrevista no Rádio e “perder” o debate ou se sair mal na versão dada pelos jornais.

6. Hoje, 75% da audiência dos Rádios são em FM. As Rádios AM só têm audiência sensível pela manhã. A audiência em Rádio é pulverizada, mesmo pela manhã. Rádios de notícias têm audiência pela manhã, 10% das Rádios AM líderes de audiência.

7. As Rádios são interativas, ao contrário da TV. Em pesquisa por encomenda da União Europeia, anos atrás, se demonstrou que o uso do Rádio por pessoas mais idosas fazia recuar a dinâmica de Alzheimer ou demência senil. A TV ajudava a acelerar. Essa interatividade funciona espontaneamente. Quem ouve programa de comunicadores, conversa com eles. As Rádios de notícias atingem a melhor audiência com locutor liberal (no sentido norte-americano) e matérias de conteúdo conservador.

21 de outubro de 2020

IDEOLOGIA! E…, NADA? E…, ELEIÇÕES!

1. Nos últimos tempos costumou-se repetir que na política não há mais ideologia. De certa forma, Fukuyama inaugurou este processo com seu consagrado -e progressivamente desmontado- “O Fim da História”.

2. Mais recentemente cresceu na mídia e na opinião pública a ideia de que os valores pessoais substituem as ideologias (e não as reforçam). Na medida em que a mídia televisiva enquanto entretenimento e que responde a lógica da audiência, era natural que suas “estrelas” surgissem para as pessoas como alternativa desse mundo “sem ideologia”.

3. Parafraseando o sociólogo canadense Marshall McLuhan, “O Meio é a Mensagem”, hoje se poderia dizer que o “Comunicador é a Mensagem”. Assim vem sendo em diversos países. Ou seja: independe do grau de desenvolvimento econômico do país. De certa maneira isto vale também para os esportistas populares que cumprem a mesma lógica “ideológica”.

4. É natural que as referências que caracterizam o que se passou a denominar “esquerda e direita” não sejam as mesmas da Revolução Francesa. E menos ainda as referências antes e após a Primeira Guerra Mundial e durante a Guerra Fria. Com o derretimento do Muro de Berlim e da União Soviética, em vez de se ter uma análise dinâmica e dialética de superação, se passou a entender que o que se derretia eram as ideologias.

5. Sempre haverá ideologia. Isto não quer dizer os mesmos parâmetros desde a segunda metade do Século 19 ao fim do Século 20.

6. O Nouvel Observateur, com o Instituto Ipsos, anos atrás, fez uma ampla pesquisa consultando as pessoas sobre suas preferências e comportamentos, que terminou sendo agrupada num quadrado subdividido em 4 partes. Na coluna vertical, de baixo a alto, perguntas cujas respostas sinalizavam valores conservadores e liberais. Na linha horizontal, as respostas sobre economia/estado listavam visões conservadoras e liberais.

7. Dessa forma, na coluna vertical, quanto mais se aproximava do limite superior os valores eram liberais e quanto mais próximo do ponto zero os valores eram conservadores. Na linha horizontal, quanto mais próxima do ponto zero mais a visão de economia/estado era liberal e quanto mais próxima do limite mais a visão era conservadora.

8. A Esquerda -hoje- enquanto ideologia, na linha vertical, defende uma visão liberal sobre a vida, gêneros, casamento, comportamento… E quanto ao estado/economia defende uma visão conservadora com intervenção estatal, ampla regulamentação, controle econômico, legislação detalhada… O que se chama de esquerda, hoje, na sua razão pura, é o encontro das duas linhas no ângulo superior direito.

9. A Direita -hoje- enquanto ideologia, na linha vertical, defende uma visão conservadora sobre a vida, gêneros, casamento, comportamento… E enquanto ao estado/economia defende uma visão liberal, mínima intervenção estatal, desregulamentação, prevalência do mercado, legislação aberta… O que se chama de direita, na sua razão pura, é o encontro das duas linhas no ângulo inferior à esquerda.

10. Na vida real, as linhas se encontrarão nos espaços dentro dos quatro quadrados da subdivisão. Ou seja, as razões puras não produzirão ampla maioria das opiniões. E, como consequência, não produzirão uma ampla audiência na mídia.

11. Isso dificulta muito os “líderes de audiência” manterem a audiência, popularidade, ou maioria eleitoral absoluta em eleições de dois turnos ou maioria absoluta no parlamentarismo.

20 de outubro de 2020

COMO SURGIU O VAREJO DE DROGAS NO RIO E NAS GRANDES CIDADES!

1. A agência antidrogas dos EUA (DEA) só identificou os cartéis colombianos em 1984. Com pontos eletrônicos em barris de éter, aviões de observação descobriram que a cocaína era refinada em usinas, e não mais artesanalmente. Identificou as estruturas empresariais do tráfico de drogas.  O atraso foi de pelo menos seis anos. Os dois mercados básicos eram, e são, EUA e Europa.

2. Os corredores de exportação para os EUA eram rotas diretas, por ar e por mar, antes da plataforma atual, via cartéis mexicanos. Mas, no caso da Europa, sempre foram necessárias plataformas intermediárias em outros países. No caso do Brasil, nas cidades com aeroporto ou porto internacional, como o Rio, que tem os dois, e São Paulo, Santos, Vitória e Recife.

3. Os corredores de exportação de cocaína desenvolvem um mercado interno de sustentação, um varejo de drogas. O atacado fica por conta de esquemas externos de muito maior sofisticação.  No início dos anos 80, ocorre a transição democrática no Brasil. Os primeiros governadores eleitos pelo voto direto, vinham com seus compromissos sociais e o desmonte das máquinas repressivas de suas polícias. Sem nenhuma informação sobre a estrutura empresarial existente, que nem o DEA conhecia até 1984, os orçamentos foram pendendo para a área social, contra a segurança pública.

4. Até ali, as polícias militares eram parte do Exército, e seus recursos contavam com um orçamento federal adicional. Passaram a depender dos orçamentos locais.  Constrói-se com rapidez o varejo interno de cocaína, cujo desenho fundador foi carioca, por ser o corredor mais importante. O narcovarejo eliminou a ideia do traficante separado do usuário, e a violência associada a ele avançou a taxas crescentes, com a vida banalizada.

5. A cocaína como um objeto de delito de consumo social prazeroso e de alto poder de corrupção avançou como mercado. A dinâmica inicial do narcovarejo operado por moradores das comunidades desapareceu, e a violência ganhou imagens de terror.  As armas pesadas vieram para ataque/defesa de “territórios”. E para a oferta, sempre elástica, de drogas e de armas. Um nó de complexo desatamento. Uma equação que exige muito mais do que vontade para ser resolvida.