Tento explicar, do ponto de vista teórico ou técnico, por quais razões as pesquisas oscilam. Chamo a atenção para dois autores importantíssimos em matéria de formação de opinião pública e de teste e pesquisa de opinião. Um deles é o americano Paul Lazarsfeld, da Universidade de Columbia, que no final dos anos 20, início dos anos 30, realizou uma série de trabalhos de investigação mostrando que se podia projetar a opinião política do conjunto do país através de uma amostra, no que foi muito criticado porque diziam, à época, que uma pessoa não teria nenhum tipo de entusiasmo em achar que seu voto poderia influenciar 50, 60 milhões de eleitores. Paul Lazarsfeld mostrou que essa possibilidade existia.
Um pouco antes, no final do século XIX, o sociólogo francês Gabriel Tarde, pai da micro-sociologia e da micro-política, desenvolveu uma teoria de formação de opinião pública que foi registrada num clássico da sociologia, Leis da Imitação – “Les lois de l’Imitation”, que, infelizmente, não tem tradução para o português.
Basicamente, o que diz Lazarsfeld é que as informações espalhadas, em geral pelos meios de comunicação, são selecionadas pelas pessoas, pelos cidadãos que, ao fazê-lo, procuram ter convicção daquela informação e, para isso, consultam, falam, conversam com pessoas cujas opiniões respeitem. Uma vez que haja uma convergência de opinião, ele passa a colocar para frente a opinião que tinha, agora ratificada por alguém que ele respeita muito – a professora, o dono da farmácia, um amigo.
Diz Gabriel Tarde que esse movimento, esses fluxos de opinamento vão contaminando a sociedade até que se forma uma opinião pública, existindo três tipos de atores nesse processo. Um que ele adjetiva como louco, que representa aqueles que iniciam o fluxo de opinamento; outro que ele chama de sonâmbulo, que representa aqueles que repassam a informação que a eles chega; e, ainda, outro que ele chama de idiota, que representa aqueles que simplesmente não estão nem aí, ou seja, não dão bola para as informações que chegam. Lazarsfeld explicava, através de uma figura que na estatística passou a ser conhecida como jogo de coordenação, que uma pessoa, ao interagir com as pessoas do seu entorno, vai vendo que existem opiniões que são convergentes, outras que são divergentes, e sente que sua opinião pode ter peso e, por isso, ela participa.
Nós vivemos no Brasil agora, ano 2014, uma eleição atípica, uma eleição fria. Podem ir à rua que vocês quiserem, da cidade que vocês quiserem, no Rio de Janeiro ou no exterior, que duvido que exista vibração nas ruas! Só há mobilização, vibração, quando o candidato vai à rua! Aí, seus militantes se aglomeram e acompanham o candidato. Ora, rua fria significa que os sonâmbulos, usando a linguagem de Gabriel Tarde, passaram a ser uma proporção muito pequena, e os idiotas, ainda na mesma expressão, passaram a ser uma proporção muito grande e, assim, não repassam a informação porque não estão nem aí para essas eleições! Na última pesquisa do Ibope, que foi divulgada, publicada na semana passada, ele fala em quase 60% das pessoas que não estão dando a mínima para essas eleições. Então, a pesquisa, quando está num quadro que o jogo de coordenação, segundo a teoria de Lazarsfeld, é um jogo ralo e que os fluxos de “opinamento” não avançam, que as pessoas que recebem informação não repassam, uma pesquisa de opinião que é feita hoje, pode dar um resultado, e, se for feita daqui a quatro dias, pode dar outro resultado. Portanto, os institutos de pesquisa devem ter um cuidado enorme e os meios de comunicação também.