21 de junho de 2017

A ELIMINAÇÃO DE DOHA PARA SEDE DA OLIMPÍADA DE 2016: AGORA FICAM CLARAS AS RAZÕES!

1. A última reunião de trabalho, reunindo governador Cabral, prefeito Cesar Maia, ministro do esporte Orlando Silva, presidente do COB, Nuzman, e presidente de honra da FIFA, João Havelange, foi realizada no Palácio Guanabara no início de 2008. João Havelange surpreendeu dizendo que a escolha do Rio entre as 4 finalistas não era certa. Mas que havia uma possibilidade. O COI não queria que uma cidade “petroleira” estivesse entre as finalistas, pois a “força de seu gás” a levaria à vitória. Da reunião, Nuzman, presidente do COB, e Havelange, saíram com uma programação de viagens mostrando os méritos da candidatura do Rio.

2. As candidatas oficiais para a reunião de escolha, em Atenas, em junho de 2008, foram: • Baku – Azerbaijão/ Chicago – Estados Unidos/ • Doha – Catar / • Madri – Espanha /• Praga – República Tcheca / • Rio de Janeiro – Brasil / • Tóquio – Japão.

3. Com as delegações reunidas e credenciadas num auditório reservado, a Comissão do COI apresentou as cidades selecionadas e suas notas: 1º – Tóquio – Japão – 8,3/ 2º – Madri – Espanha – 8,1 / 3º – Chicago – Estados Unidos – 7,0 / 4º – Doha – Catar – 6,8*. Rio de Janeiro estava eliminado pois havia obtido 6,4. Mas a presidente da Comissão do COI, em seguida, informou que em função da “impossibilidade física” de Doha sediar todas as provas, ela não poderia ser incluída e, por isso, em seu lugar entrava o Rio de Janeiro.

4. Os presentes na reunião do Palácio Guanabara lembraram os comentários de João Havelange. Mas a hipótese era apenas da potencial “compra” de votos. Hoje se vê que o problema era muito mais complexo. Semana passada, Arábia Saudita, Bahrein, Egito…, suspenderam as relações diplomáticas com o emirado Catar. Acusam Catar de apoiar grupos terroristas.

5. (BBC, 15) 5.1. A tumultuada história dos Al Thani, a poderosa e multimilionária família que dirige o Catar. Alguns descrevem o Catar como “o filho problemático” dos países do golfo Pérsico e dizem que os Al Thani, dinastia que tem governado o país durante 150 anos, é “a família mais difícil da região”.

5.2. Catar está mergulhado numa disputa diplomática com seus vizinhos, incluídos Arábia Saudita, Bahrein e Egito entre outros, que anunciaram a suspensão das relações diplomáticas com o emirado acusando-o de apoiar grupos terroristas. Catar nega.

5.3. Experts assinalam que o problema remonta ao passado deste pequeno país que tem a renda per capita mais alta do mundo e uma história de abuso dos direitos humanos. A família Al Thani governa o país desde sua fundação em 1850 com uma série de sucessões de poder que nem sempre foram isentas de contratempos.

5.4. Durante as décadas de 1980 e 1990, com o emir Khalifa bin Hamad Al Thani e vários membros da família Al Thani nos postos-chave do governo, Catar seguiu uma política de não intervenção. Era considerado bastante isolacionista e a principal preocupação do emir era manter a paz interna. Mas tudo mudou em 1995, quando Hamad bin Khalifa al Thani, filho do emir, depôs seu pai com um golpe violento quando este estava na Suíça.

5.5. Este fato alterou totalmente o enfoque da família Al Thani na sua política internacional. De ser uma família que formava parte de outras com vínculos com a Arábia Saudita, e que não merecia nenhuma atenção, se converteu num grupo de indivíduos reconhecíveis e que participam na cena internacional. Uma das primeiras políticas do sheik Hamad foi acelerar o desenvolvimento de suas reservas de gás natural e em 1996 essa pequena península começou a exportar gás natural líquido pela primeira vez em sua história. A Arábia Saudita apoiou um contragolpe –mal sucedido- para reinstalar o sheik Khalifa, pai do novo emir.

5.6. Catar se converteu rapidamente em uma potencia regional. Hoje é o principal exportador de gás líquido do mundo e compartilha com Irã –inimigo da Arábia Saudita- o desenvolvimento de seu enorme depósito de gás natural, o South Pars-North Dome, o maior do mundo. Catar fundou o canal de TV Al Jazeera, que pronto se converteu em um influente meio no mundo árabe e o país se converteu em um inversor global massivo.

5.7. Em 2013, o emir abdicou e entregou o poder a seu quarto filho, Tamim bin Hamad Al Thani, que então tinha 33 anos. Poucos meses depois surgiram informes que o emir Tamim estava permitindo que se reagrupassem em Doha os membros dos “Irmãos Muçulmanos”, depois que o presidente Mohamed Morsi havia sido derrocado no Egito. Essa organização islamita sunita, fundada no Egito, estava ganhando adeptos no mundo árabe e pronto foi declarado grupo terrorista pelo Bahrein, Egito, Rússia, Síria, Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. Em março de 2014, Arábia Saudita, Bahrein e EAU retiraram seus embaixadores de Doha, num episódio similar ao que ocorre atualmente. Catar finalmente aceitou realocar os Irmãos Muçulmanos na Turquia e a disputa terminou em novembro.

5.8. Catar continuou seu rol como inversor global. Só no Reino Unido a multimilionária família Al Thani investiu US$50 bilhões. Em Londres são donos da luxuosa loja de departamentos Harrods, e vários grandes hotéis como The Shard –o mais alto edifício da Europa-, e tem participação no Canary Wharf -um complexo empresarial no leste da capital. Também compraram a Vila Olímpica em 2012 e tem interesses nos depósitos de gás natural de Gales.

5.9. Pertencem aos Al Thani metade do edifício de departamentos mais caro de Londres –o One Hyde Park-, 8% da Bolsa de Valores de Londres, uma porcentagem similar do banco Barclays e 25% da enorme cadeia de supermercados Sainsbury’s, entre outras propriedades. Mozah bint Nasser al-Missned, uma das três esposas do antigo emir Hamad, é dona do que é considerada a residência mais cara do Reino Unido: Cornwall Terrace, com vistas ao Regents Park, no centro de Londres, pela qual se diz que os Al Thani pagaram US$150 milhões em 2013.

5.10. No total, os Al Thani tem mais propriedades em Londres que a rainha Elisabeth II. Se tudo isso fora pouco, em março de 2017, Catar anunciou que investirá US$ 6 bilhões em transportes, propriedades e tecnologia digital neste país, antes do Brexit.