10 de janeiro de 2017

ARGENTINA: CRISE POLÍTICA E ECONÔMICA!

1. Num vídeo divulgado no último dia do ano, Maurício Macri admitiu que 2016 foi “duro”. As mudanças na agenda econômica não se traduziram no crescimento desejado – com uma contração do PIB de 2,3%, uma inflação a rondar os 40% e um déficit subindo de 4,1% para 4,7% – e isso acabou por levar ao afastamento do ministro das Finanças, Alfonso Prat-Gay. Mas 2017 ameaça ser ainda mais complicado para Macri, com as eleições parlamentares de outubro capazes de tornar mais difícil negociar num Congresso onde a oposição (mesmo dividida) tem a maioria.

2. Quando chegou ao poder em dezembro de 2015, pondo fim a 12 anos de kirchnerismo (quatro de Néstor Kirchner e oito de Cristina Kirchner), Macri prometeu sanear a economia e erradicar a pobreza. Mas os resultados positivos tardam em chegar – os primeiros dados da pobreza conhecidos desde abril de 2014, revelaram em setembro que 32% dos argentinos são pobres, e o desemprego, subiu para 9%.

3. O governo alertara desde cedo para a gravidade da “herança” kirchnerista – pior do que a esperada – e, dias antes de assinalar o primeiro aniversário na presidência, o próprio Macri admitiu que se gerou durante a campanha “uma expectativa de mudança mágica” e que era preciso pôr de lado essa ideia. Com a saída de Prat-Gray, a pasta foi repartida em duas (Luis Caputo nas Finanças e Nicolás Dujovne nas Finanças Públicas), mas a política deverá manter-se a mesma face à previsão de crescimento já em 2017 – o FMI estima que seja de 3%.

4. Apesar de estar em minoria no Congresso, Macri conseguiu aprovar o orçamento para 2017 e o acordo com os chamados fundos “buitre” (abutres), pagando aos credores com quem Kirchner estava em guerra e abrindo a porta aos mercados internacionais. Para consegui-lo, aproveitou a divisão na oposição – entre kirchneristas (peronistas históricos herdeiros de Juan Domingo Perón) e massistas (apoiantes de Sergio Massa, o ex-chefe de gabinete de Cristina Kirchner que se tornou no seu maior crítico e foi terceiro nas presidenciais).

5. Mas essa lua de mel com o Congresso começou a ruir no final do ano, quando os opositores esqueceram as diferenças para derrotar Macri. A oposição aprovou um projeto de lei de emergência econômica (aumento de 15% no abono familiar e no subsídio de gravidez), que o governo não queria por implicar um maior déficit fiscal e se viu obrigado a renegociar. Depois, travou a reforma eleitoral que o presidente negociou pessoalmente. Por último, Massa uniu-se aos kirchneristas para baixar os impostos a um milhão de trabalhadores – uma promessa de campanha de Macri, que teve que recuar porque isso implicava uma quebra de 2380 milhões de dólares nas receitas.

6. Foram jogadas da oposição já a olhar para as eleições parlamentares – que poderão intensificar-se ao longo de 2017 para marcar a diferença em relação à coligação no poder. As derrotas complicam politicamente a situação do presidente, que precisa de um bom resultado em outubro (nenhum analista espera que possa ganhar a maioria, mas precisava de mais do que os 87 deputados que tem agora) para poder encarar com confiança a segunda parte do seu mandato. “As eleições de outubro poderão abrir a possibilidade de uma reeleição em 2019 ou, pelo contrário, lhe obstaculizar até extremos imprevisíveis os dois anos do mandato que lhe faltam”, escreveu o colunista do jornal La Nación, Joaquín Morales Solá.

7. Nenhum presidente não peronista chegou ao fim do mandato – dois foram derrubados em golpes militares e outros dois caíram no meio de crises econômicas. Os quatro eram da União Cívica Radical, um dos partidos da coligação Cambiemos que apoia Macri – um empresário de 57 anos que ganhou fama à frente do clube Boca Juniors e foi durante dois mandatos governador da cidade de Buenos Aires.

8. Apesar dos problemas econômicos, a aprovação ao governo de Macri é de 55%, segundo uma sondagem da Poliarquía Consultores para o La Nación. Mas 45% dos inquiridos dizem que o seu primeiro ano foi pior do que esperavam – numa ocasião foi assobiado depois de um evento público e, já em dezembro, o seu carro oficial foi apedrejado (quando não estava lá dentro). Para as eleições de outubro, a coligação Cambiemos surge na província de Buenos Aires com 27,4% dos votos, atrás da Frente para a Vitória, de Cristina Kirchner (31,3%). Apesar de ter sido acusada de corrupção, a ex-presidente surge como a candidata mais forte a senadora (candidatura ainda não é oficial).