NEM NA BOLSA NEM NA OLIMPÍADA: NUNCA APOSTE TUDO NUMA SÓ AÇÃO!
1. A última (entrevista) do prefeito do Rio sintetiza as entrevistas e declarações anteriores. Ao The Guardian ele disse: “A Olimpíada é uma oportunidade perdida”. Oportunidade perdida para quem? Na verdade foi um ato falho que sucedeu a outras declarações imprudentes e na mesma linha.
2. Após sua reeleição –compulsória, como tem acontecido em quase todos os casos em que o governante tem pelo menos uma avaliação regular-, encheu-se de orgulho e passou a conversar com os seus e a vazar para a mídia que sua meta era a Presidência da República em 2018.
3. Mas como quase sempre acontece, nos segundo governos reeleitos a opinião pública se torna mais crítica. Afinal, os coelhos que o governante tira da cartola no primeiro governo já são previstos no segundo governo, não surpreendem, não impactam. Isso ocorre não só pelos fatos em si, mas pelo estilo e perfil de quem governa que se torna conhecido.
4. O prefeito do Rio mesclou uma certa arrogância com um certo deboche nas suas declarações. E a partir do final de 2013, a curva de sua popularidade declinava cada vez mais. Isso o deve ter irritado e as reações se tornaram mais impulsivas. Chegou até a agredir num bar um músico que o ironizava. Esqueceu-se da máxima de Lacerda (“apoio dos servidores pode não lhe dar eleição, mas a rejeição é garantia de derrota”) e os conflitos com os servidores aumentaram a cada semana.
5. Mas tanto fazia para ele, fatos e pesquisas. Afinal, tinha uma bala de prata no bolso e uma arma precisa para lançá-la: a Olimpíada, que seria a sua consagração e o elevaria aos píncaros de sua consagração política. O Planalto Central era a próxima estação.
6. Mas à medida que o tempo avançava, novos fatos acentuavam seu desgaste junto à população. Se a crise nacional construía um cenário de sombras, a crise estadual –administrativa e econômica- caía em sua cabeça. Procurou se descolar de tudo o que produzia desgaste: seu deputado/chefe da casa civil foi a Brasília votar pelo impeachment de Dilma.
7. O milionário gasto em publicidade já não produzia efeitos. E no meio desse processo, a forte simbologia cênica da queda da ciclovia na orla aparecia como um presságio. Entre mosquitos e balas perdidas seus marqueteiros lhe orientaram: a culpa de tudo isso não é sua, transfira a peteca para quem de direito. No mesmo bairro dos seus palácios, o governador usou a Olimpíada para buscar os recursos federais e cobrir parcialmente o que chamou de calamidade pública.
8. A imprensa internacional repercutiu. Estava na hora de jogar para outros a peteca da crise. Declarou que a crise estadual era de incompetência e que até tentava ajudar. Que na prefeitura está indo tudo bem. E que a segurança pública, de responsabilidade estadual, era “terrível, era horrível”.
9. As inaugurações de final de governo teriam um efeito cumulativo e a apoteose na Olimpíada e na eleição de seu sucessor. As pesquisas continuaram a mostrar desgaste e impopularidade. A eleição pós-olímpica e a presidência da República dos sonhos passaram a pesadelo. Mandou um crítico nas redes sociais se mudar do Rio. E elas repercutiram: Mas não é ele que vai morar em New York após sair do governo?
10. E veio o ato falho final na entrevista ao The Guardian: “A Olimpíada é uma oportunidade perdida”! Perdida para quem? Especialmente para ele mesmo. Subiu à memória a lição de tantos séculos (econômica, militar, política…): Não jogue todas as suas fichas num só número. Não aplique tudo o que tem nas ações de uma só empresa.