A IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DOS SEIS MESES DE MANDATO DO DEPUTADO RODRIGO MAIA!
A. (Editorial do Globo, 15) O mandato de Rodrigo Maia é curto, mas será nele que se decidirá boa parte do futuro do Brasil nos próximos anos.
1. A vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na disputa pela presidência da Câmara representa uma limpeza de terreno na Casa, para o governo interino de Michel Temer, com a vantagem adicional de ter aproximado ainda mais Eduardo Cunha do precipício da cassação. Maia, no segundo turno da eleição, na madrugada de ontem, obteve 285 votos contra apenas 170 de Rogério Rosso (PSD-DF), nome de Cunha e do centrão na disputa.
2. Maia assume com uma postura correta: esvaziar as tensões, sepultar o longo período em que o lulopetismo transformou o Congresso em território de caça a inimigos, a que foram convertidos todos os seus adversários políticos. As primeiras declarações de Maia, confirmada a vitória, foram neste sentido. E o tom de restauração da “verdadeira política” foi mantido, durante o dia, em torno dos contatos realizados pelo novo presidente da Casa com Temer, com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o tucano Aécio Neves (MG), este do bloco vitorioso com a ascensão do deputado fluminense.
3. Começa-se a abrir um saudável espaço para o diálogo, essencial no enfrentamento da agenda estratégica das reformas que Temer precisa aprovar, com a finalidade de resgatar o país da crise e dar-lhe segurança e estabilidade numa fase longa e necessária de crescimento equilibrado e de reconstrução.
B. (Editorial do Estado de S.Paulo, 15) 1. O fortalecimento político do governo interino de Michel Temer, o desprestígio de Eduardo Cunha que provocou o esvaziamento do Centrão e a confirmação do papel marginal a que o PT está relegado na cena política são as boas notícias que resultam da vitória de Rodrigo Maia na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, com 285 votos. Além disso, a votação recebida pelo democrata fluminense indica que, com engenho e determinação, ele poderá transformar seu mandato-tampão de seis meses e meio no primeiro passo decisivo para a recuperação plena do papel institucional da Câmara e da hoje extremamente desgastada imagem da chamada classe política.
2. O novo presidente da Câmara estará prestando um grande serviço ao País se der, a partir do diálogo e do respeito e também do estímulo às divergências, os primeiros passos em direção ao objetivo de livrar os deputados do garrote do autoritarismo externo e interno e transformar a Câmara num genuíno foro de ampla discussão dos problemas nacionais e da proposição de medidas para enfrentá-los.
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“RODRIGO MAIA REPRESENTA A NOVA SITUAÇÃO”! “CAIU COMO UMA LUVA”!
(Eliane Catanhêde – Estado de S.Paulo, 15) 1. A eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara foi uma vitória do presidente interino Michel Temer, que atuou o suficiente para render resultados, mas não mergulhar na crise interna nem atrair chuvas e trovoadas. Foi coisa de político hábil e experimente, que precisa agora canalizar essas qualidades para fazer o País andar, a economia reagir e os agentes políticos e econômicos acreditarem minimamente que “yes, he can”.
2. O perfil do vitorioso estava traçado naturalmente, faltava encaixar um nome. Rodrigo Maia caiu como uma luva: 46 anos, quinto mandato, filho do conhecido político Cesar Maia, ele representa a “nova situação” – PSDB, PPS, PSB e o próprio DEM –, transita bem em todos os partidos, não orbitou em torno de Eduardo Cunha e, ao que se saiba, passa ao largo da Lava Jato. Temer fala em “pacificar” a Câmara, Maia disputou e venceu prometendo exatamente “pacificar” a Câmara. É isso que o País precisa e os próprios deputados e funcionários querem desesperadamente. Depois do “nós contra eles” das gestões do PT, da tragédia Eduardo Cunha e do vexame Waldir Maranhão, é preciso paz. Paz para trabalhar, debater, construir e se recompor com a sociedade. Até porque, em algum minuto, as prisões vão começar. É preciso uma casa sólida, confiável.
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“…MÉDIO CLERO COM EXPECTATIVA E CAPACIDADE DE ASCENSÃO”!
(Valor, 15) 1. Pai de Rodrigo Maia (DEM-RJ), eleito presidente da Câmara, o ex-prefeito do Rio por três mandatos Cesar Maia (DEM) afirma que a gestão do filho representará uma inflexão no estilo da Casa, sem levar à frente pautas conservadoras, como defendia o ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “O presidente de um Legislativo democrático não prioriza suas opiniões”, diz Cesar Maia, em entrevista ao Valor. Noutra distinção em relação a Cunha, que ascendeu na Câmara como líder do Centrão, formado por partidos e deputados sem grande expressão, o ex-prefeito do Rio afirma que Rodrigo Maia não se dirigiu ao baixo clero, quando – em discurso antes da votação do segundo turno, na madrugada de ontem – pregou o fim do “império dos líderes”. “Claramente ele fala ao médio clero, com expectativa e capacidade de ascensão”, pontua o hoje vereador. Para Cesar Maia, a tese de um “plenário aberto”, com as articulações “sem restrições ideológicas”, foi fundamental para a vitória do filho.
2. Em sua visão, o papel de Rodrigo Maia será de cooperação com o governo Michel Temer, dada a seriedade da crise econômica e ressalvadas as preferências da Casa. “A ele cabe a gestão da Câmara dos Deputados e abrir democraticamente o debate, garantindo as forças políticas e em especial o Poder Executivo, num momento grave como esse, que amplia as responsabilidades do Executivo”, diz. O ex-prefeito diz que quanto à superação da crise fiscal “a iniciativa é do Executivo, nesse momento, pelos prazos”. Economista de formação, Cesar Maia afirma que “há que se avaliar o que o Executivo proporá”, mas considera que, por enquanto, o que Temer defende lhe “parece adequado”, como a proposta de emenda constitucional que prevê um teto de gastos para o governo federal, corrigido apenas pela inflação. “O teto é uma necessidade de transição como um freio de arrumação”, diz.
3. Sobre a flexibilização das dívidas dos Estados e o reajuste do funcionalismo público, Maia considera que são necessários, apesar de irem na contramão do ajuste fiscal. “Num Parlamento pulverizado, a gestão política exige talento, paciência e experiência. Até que as forças políticas se cristalizem com suas teses, as concessões feitas eram inevitáveis para compor maioria e [buscar a] pacificação política e social”, diz.
4. Cesar Maia afirma que não deu qualquer conselho ou recomendação ao filho, durante o processo de candidatura à presidência da Câmara. “Zero. Nenhuma. Até porque meu estilo diferente do dele poderia atrapalhar. Nossas identidades políticas são distintas. Não é ideológico: é estilo. Rodrigo desenvolveu a capacidade de articular, de ouvir, tem paciência de fazer política. Eu sou mais ansioso e mais administrativo”, distingue o ex-prefeito, cujo traço sempre foi mais o gosto pela gestão do que pelas costuras políticas. “Identidades diferentes podem ser eficientes cada uma em seu campo. Como jogadores de futebol”, compara Maia.
5. Na articulação para chegar à presidência da Câmara, Rodrigo Maia se aproximou do PT, histórico adversário dele, do pai e do partido de ambos, o DEM. Em agosto de 2005, o então senador por Santa Catarina e presidente da legenda, Jorge Bornhausen, disse que estava “encantado” com a crise do mensalão “porque a gente vai se ver livre dessa raça [PT], por, pelo menos, 30 anos”. Em 2010, no auge da popularidade, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva pregou “extirpar” o DEM da política brasileira, quando fazia campanha para eleger Dilma Rousseff, num comício em Joinville, reduto de Bornhausen.
6. Cesar Maia diz não se sentir vingado pela vitória do filho, que põe o partido novamente numa posição de destaque no cenário nacional. Será o segundo na linha sucessória. “Nada tem a ver. Isso faz parte de um passado que ele se propõe a superar. Lula recebeu os sinais dele por interlocutores. O segundo turno mostrou isso”, afirma o ex-prefeito, sugerindo que Rodrigo recebeu votos de muitos petistas. “A política da vingança, a política do ‘não perdoa um fato’, tem que ser superada. Se não fosse assim como ele [Rodrigo] se aproximaria como o fez de políticos com quem eu tive tantos e fortes atritos?”, diz.
7. Questionado se a eleição do filho antecipa a vitória de um tucano na próxima disputa pela presidência da Câmara, em fevereiro, ou a cassação de Cunha pelo plenário, Cesar Maia preferiu apontar para outra direção: “[Antecipa] uma reforma política progressiva por consenso e não unanimidade”, prevê.
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“PACIÊNCIA É UMA VIRTUDE DELE”!
(Estado de S.Paulo, 15) 1. Filho do ex-prefeito e atual vereador do Rio Cesar Maia (DEM), o deputado federal Rodrigo Maia, do mesmo partido, cumpre aos 46 anos uma trajetória que outros dois filhos de políticos de expressão nacional percorreram nos últimos 21 anos. Luís Eduardo Magalhães, filho do ex-governador da Bahia Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), assumiu a presidência da Câmara dos Deputados em fevereiro de 1995, aos 39 anos. Era filiado ao mesmo partido de Rodrigo, o PFL que deu origem ao DEM. O outro caso é do atual senador Aécio Neves (PSDB-MG), neto e herdeiro político do presidente Tancredo Neves (1910- 1985). Ele foi eleito para presidir a Câmara em fevereiro de 2001, aos 40 anos.
2. Ao contrário dos antecessores, Rodrigo assumiu o primeiro cargo político contra a vontade do pai. “Ele estava indo muito bem no mercado financeiro”, disse Cesar. Embora não tenha concluído o curso de Economia – que iniciou em 1989 –, Rodrigo trabalhou nos bancos Icatu e BMG antes de ser convidado a assumir a Secretaria de Governo do prefeito Luiz Paulo Conde, em 1997. Eleito com apoio de Cesar, que terminava a primeira gestão como prefeito do Rio, Conde poderia ter convidado Rodrigo a assumir uma secretaria somente como forma de agradecimento. Segundo Cesar, não foi assim. “Ao contrário: fui contra. Era um desvio de rota”, disse. “Pais são sempre conservadores.
3. Rodrigo já participava “intensamente” das campanhas políticas, segundo Cesar. O envolvimento de Rodrigo com a política aumentou durante a campanha de Conde. “A participação dele desenvolveu essa vocação. Não pude impedir”, disse Cesar. Em 1998, Rodrigo elegeu-se deputado federal pela primeira vez – está no quinto mandato.
4. Doze anos após deixar a presidência da Câmara, Aécio concorreu à Presidência da República. Luís Eduardo teve a carreira política interrompida, quando era considerado potencial candidato para suceder a Fernando Henrique Cardoso. E qual o futuro de Rodrigo? Para Cesar, a gestão do filho na Câmara vai dizer se e quando isso poderá ocorrer. “Ele não tem pressa. Essa é uma virtude dele”, disse. “Rodrigo e eu temos identidades políticas distintas. Sua capacidade de ouvir e sua paciência para articular são raras. Eu, ao contrário, sou ansioso.”