Artigo publicado em O GLOBO, 06/10/2015.
Cesar Maia é Vice-Presidente da IDC (Internacional Democrata de Centro)
1. O primeiro-ministro de Portugal, Passos Coelho, do PSD, assumiu quatro anos atrás no meio da crise europeia, que atingiu profundamente Portugal, Espanha e Grécia, entre outros. Ele abriu as portas para a troika — Comissão Europeia, FMI e Banco Central Europeu —, como eram chamados jocosamente pela oposição os mentores das duras medidas de ajuste fiscal que o novo governo português, sob seu comando, deveria adotar.
2. Passos Coelho aplicou o receituário liberal da forma mais intensa, reduzindo despesas radicalmente, privatizando etc. O efeito social não demorou, com as taxas de desemprego se aproximando dos 25%, com juros ampliados e com o PIB caindo a taxas superiores a 5%.
3. A única certeza que a oposição liderada pelo PS tinha é que a liderança do PSD seria breve, e era questão de se preparar para a vitória em 2015. E as pesquisas apontavam para uma confortável vitória do PS e aliados, patinando na enorme rejeição de Passos Coelho.
4. Mas, a partir de 2014, o ciclo econômico de Portugal foi sendo revertido. De qualquer forma, a reeleição de 4 de outubro de 2015 era vista como uma impossibilidade pelos analistas. Em junho de 2015, as taxas de desemprego já haviam despencado para mais perto dos 10%, e o PIB voltou a crescer. A relação dívida pública/ PIB não subiu mais a escada.
5. Com a campanha eleitoral aberta com o PS na frente, essa vantagem foi sendo reduzida e, nos últimos 15 dias, revertida para uma clara vantagem de Passos Coelho. António Costa, secretário-geral do PS, foi ultrapassado em sete pontos. Nem a vitória percebida de Costa no debate na TV modificou esse quadro. O PS ainda sonhava com a abstenção para recuperar a diferença.
6. As pesquisas qualitativas e qualiquanti sublinhavam a razão do voto: “Quero ter segurança”, “Não quero mais aventura”. A antipolítica e os partidos calcados nas redes sociais não tiveram espaços como conseguiram na Espanha e na Grécia.
7. Passos Coelho obteve uma vitória exuberante no domingo. Sua coligação alcançou 40% dos votos. O PS alcançou 32%. Quem apostava no desgaste político e eleitoral do duro ajuste fiscal errou redondamente.
8. E hoje — liberais de toda a parte — afirmam que Passos Coelho é um exemplo para o mundo todo. É uma nova Margareth Thatcher. E a troika trombeteia para a Europa e o mundo todo: responsabilidade fiscal dá voto quando é aplicada sem tergiversação e sem temor eleitoral.