20 de julho de 2015

CRISE BRASILEIRA VIRA ENCILHAMENTO GERAL!

1. O que se via até a semana passada era uma parálise do executivo, sua ausência no parlamento, um ativismo do judiciário pelo vácuo político, e a ocupação de espaços políticos pela Câmara e pelo Senado.  

2. O executivo desistiu de agir no parlamento e entregou a tarefa ao vice-presidente e presidente do PMDB. Duas semanas depois, o PT reclamava do trabalho de Temer. O novo ministro da fazenda tomou iniciativas no Congresso, conversando com senadores e deputados.        

3. Com a legitimação pela imprensa, Levy cresceu e as duas casas absorveram suas demandas iniciais. Mas -como dizia Jânio- a intimidade ou traz filhos ou aborrecimentos. E como não podia deixar de ser, vieram os aborrecimentos entre Levy e o Congresso.

4. O dinamismo do presidente da Câmara e sua surpreendente capacidade de gerenciar o plenário, gerando enorme maioria, construiu votações e vitórias sequenciais sobre temas da reforma política em nível constitucional e regulamentação das eleições em nível ordinário.

5. As acusações sobre Cunha foram respondidas num tom muito mais alto ainda que as respostas e afirmações de Renan. As respostas de Renan não tinham afetado a unidade de sua base no Senado. Mas as de Cunha afetaram sua base de deputados. Ainda não se sabe em que proporção. Mas qualquer que seja ela, afeta a maioria constitucional que havia construído. E, assim, compromete votações em segundo turno que ainda restam.  

6. Se o Senado ainda não está encilhado internamente, suas decisões precisam da segunda volta na Câmara, o que as compromete. Por outro lado, se Cunha pode ter perdido a maioria constitucional, não perdeu a maioria parlamentar. Até porque as nuvens de delações premiadas, já feitas ou por fazer, criam insegurança entre muitos parlamentares que precisam de alguém que tenha coragem, capacidade e liderança para enfrentá-las.

7. O judiciário, tendo em vista o encilhamento, intra e inter executivo e legislativo, tende a aprofundar as investigações e provas documentais de forma a mostrar sua isenção e impessoalidade. Isso estende o prazo das conclusões definitivas dos julgamentos e da remissão ao STF dos processos -bem- instruídos sobre parlamentares.

8. Nesse sentido, o fogo cruzado entre os poderes e dentro dos poderes continuará. A única certeza é que construiu-se um impasse geral, um encilhamento entre e dentro dos três poderes. Quem esperava soluções de poder em médio prazo terá que ter um pouco mais de paciência. Pense a figura de três rifles encilhados. Se se retira um, os outros dois caem. Ou se retiram os três ao mesmo tempo, ou não se retira nenhum.

* * *

“NOVA ESQUERDA” AVANÇA PARA AS ELEIÇÕES GERAIS DESTE FINAL DE ANO, PULVERIZANDO A POLÍTICA ESPANHOLA!

PP e PSOE que juntos costumavam deter entre 70% e 80% dos votos, despencaram para o patamar de 52%.

(Folha de SP, 19) 1. No poder há cinco semanas, as prefeitas de Madri, Manuela Carmena, e de Barcelona, Ada Colau, estão provocando um terremoto político que altera o panorama de candidaturas de esquerda para as eleições parlamentares, previstas para novembro.  As coalizões que elegeram as duas –Agora Madri e Barcelona em Comum– uniram-se na frente Agora em Comum para a disputa que definirá se a Espanha continuará ou não a ser governada pelo premiê conservador Mariano Rajoy (PP).

2. A aliança, impulsionada pelo sucesso no pleito regional de maio, deixa de fora por enquanto o Podemos, maior força eleitoral de esquerda na Espanha de hoje, mas inclui a antiga Esquerda Unida, que vinha encolhendo.  Eleitas por frentes alternativas herdeiras do movimento dos indignados, o 15-M (fundado em 15 de maio de 2011, no auge da crise econômica), elas estão entre as caras mais visíveis da renovação da política espanhola.

3. Nos seus primeiros atos de governo voltaram suas prioridades para as pessoas mais afetadas pela recessão que atingiu a Espanha com a crise global de 2008. Tanto Carmena, 71, juíza aposentada, como Colau, 41, ativista social contra o despejo de quem não consegue mais pagar a hipoteca, escolheram esse grupo de vítimas da crise como foco inicial na gestão das duas maiores cidades espanholas.

4. O Podemos, partido surgido em 2014 e grande impulsionador desse novo estilo político, fez parte das coligações de Colau e Carmena, mas preferiu preservar sua marca para as eleições gerais.  Agora pode ficar fora da frente esquerdista. Seu líder, o eurodeputado Pablo Iglesias, considera “impossível” vencer a eleição se o partido ficar confinado à esquerda.

5. O surgimento do Podemos e de outras frentes, combinado com a expansão do Cidadãos, partido de centro-direita nascido na Catalunha em 2006 que obteve 6,5% dos votos nas últimas eleições, colocou em xeque a hegemonia das duas legendas tradicionais, PP e PSOE (centro-esquerda), que se alternam no comando da Espanha desde a redemocratização, em 1975.