JEAN-CLAUDE JUNCKER, O NOVO PRESIDENTE DA COMISSÃO EUROPEIA!

1. Por primeira vez por votação, e não por consenso, os 28 líderes dos membros da União Europeia decidiram propor Jean-Claude Juncker para a presidência da Comissão Europeia.  É extensa a lista de acusações contra Jean-Claude Juncker nos jornais britânicos: o homem fala muito durante as reuniões; está sempre bebendo álcool; é antidemocrático; tem origens familiares nazistas; quer criar um exército europeu; vai remover as poucas defesas que ainda restam contra o crime organizado vindo da Romênia e da Bulgária; toma decisões secretas sobre o futuro dos bancos; nunca teve um “emprego verdadeiro”; é desonesto.  O “Economist” escreve mesmo que ninguém o quer e chama-lhe “presidente acidental”.

2. Entre os argumentos contra Juncker há considerações falsas, contraditórias, ou apenas parcialmente verdadeiras. A acusação de que o pai era nazista baseia-se em que Joseph Juncker, operário luxemburguês de profissão, combatera no exército alemão durante a II Guerra Mundial. Mas, tendo o Reich ocupado o seu país, quantos jovens considerados alemães podiam recusar o alistamento? Igualmente sem sentido parece a acusação de alcoolismo. Juncker pode ser fã do seu conhaque, mas isso dificilmente o torna uma raridade entre os políticos europeus. Quanto aos relatos sobre uma ou outra cena de fúria – um tabloide conseguiu descobrir que uma vez gritou com um alto funcionário durante cinco minutos – também não bastam para distingui-lo.

3. Jean-Claude Juncker tem atualmente 59 anos. Nasceu e cresceu no Luxemburgo, estudou lá e na Bélgica, fez o curso de Direito em Estrasburgo. Registrou-se como advogado em 1980, mas nunca exerceu a profissão. Nessa altura já era membro do Partido Cristão Social Popular há seis anos e tinha iniciado a sua carreira política. Foi Secretário parlamentar, deputado e ministro do Trabalho. Em 1989, Juncker recebeu a pasta das Finanças. Em 1995 passaria a acumulá-la com a chefia do governo. Enquanto membro do executivo começara cedo a presidir a reuniões na União Europeia, a vários títulos. Teve certa proeminência no processo de formação do euro. Ao mesmo tempo, era governador no Banco Mundial e depois no FMI. E ocupou sempre mais que uma cadeira no governo, quer antes de ser primeiro-ministro quer depois.

4. Juncker só ficou gravemente embaraçado quando se descobriu que os serviços secretos do seu país andavam fazendo escutas ilegais. O escândalo também envolvia corrupção e abusos de dinheiros públicos. Junker tentou minimizar (não é surpresa que no mundo dos serviços secretos haja segredos, disse), mas acabou por se demitir.

5. Não deixa de ser irônico que a sua candidatura agora vencedora tenha sido contestada pelo Reino Unido com o argumento de que não deve ser o Parlamento Europeu, e sim os chefes de governo dos Estados, que devam escolher o presidente da Comissão Europeia. Afinal quem é que quer tomar as decisões com as portas fechadas?

6. Se Cameron realmente pretendia evitar a nomeação de Juncker e não apenas obter dividendos internos, terá cometido o erro de tornar a sua oposição demasiado pública, encostando Merkel e outros líderes à parede. Juncker aproveitou. Garantiu que não se ia ajoelhar perante os britânicos. Lembrou que era importante resistir a esse tipo de pressões. 26 dos 28 chefes de governo da UE concordaram com sua defesa.