O VOTO E “OS IDIOTAS DA OBJETIVIDADE”!

1. Nelson Rodrigues cunhou a expressão “idiotas da objetividade” para aqueles que acreditam que a racionalidade prevalece sempre. Uma frase sua expressava essa afirmativa: “Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola.” Ou parafraseando: Em política, o pior cego é o que se vê as obras, os fatos.

2. Os eleitores decidem seu voto em base à imagem que têm dos candidatos, mais do que o que fizeram ou o que prometem fazer. Nesse sentido, a propaganda política deve partir da imagem que têm os candidatos e saber que essa pode ser melhorada, recuperada, ampliada, suavizada, etc., mas nunca reconstruída. E coerente com o que promete.

3. Jacques Séguéla, publicitário francês que trabalhou com François Mitterand, aconselhou os políticos em “A palavra de Deus” a não tentarem reconstruir as suas imagens. Diz assim: “A cena política é muito parecida com a cena teatral. Mas há uma diferença fundamental. O ator muda de personagem e continua a produzir emoções. O político não!”

4. Dessa forma, há uma armadilha nas propagandas dos governos. Como a lei proíbe divulgar o nome ou a imagem do governante, cabe à publicidade divulgar o que o governo fez, ou diz que fez. Se gasta um dinheirão dos governos para pouco. Quando os governos pensam que a publicidade resultou, na verdade qualquer publicidade resultaria, pois a imagem do governo já estava preliminarmente fixada.

5. Claro, em campanha eleitoral, quando a imagem do candidato é apresentada com total liberdade, as possibilidades são muito maiores. Porém, sempre lembrando Séguéla: sem mudar o personagem.

6. Dilma é escrava do personagem que criou, de blindada e chefona. Seu personagem pode ser suavizado, mas nunca reconstruído. As testemunhas principais são seus interlocutores que contaram fatos que ratificam a imagem de quem ouve pouco e decide verticalmente.

7. A alternativa seria a propaganda provar ao eleitor que o Brasil precisa de um presidente com este perfil. Nesse caso, os fatos e a conjuntura teriam que ajudar, o que não ocorre. Aécio não pode trocar a roupa esporte pela casaca. Por ser um personagem antípoda ao de Dilma, tem conseguido atrair tantos políticos da base de Dilma. Não se trata de programa de governo, realizações ou fatos, mas de imagem naturalmente suave e agregadora.

8. Campos, que veste um personagem distinto de Marina, terá que explicar por que personagens tão diferentes são complementares e não conflitivos. Se o eleitor não se convencer, a transferência de votos de Marina será nula.

9. Há muito tempo se sabe disso. Não se trata de ideias geniais de comunicadores, publicitários ou estudiosos pós-modernos.

10. “Não penses que o castelo do governo consiste de fortalezas, muralhas e trincheiras: ele se encontra no interior das consciências. A grandeza dos Estados não pode ser medida pelas extensões territoriais e latifúndios, mas pela lealdade, benevolência e respeito dos habitantes.” Conde Maurício de Nassau, discurso de despedida do Brasil em 1644.

11. “A tolerância fortalece o Estado, porque um estado só é seguro quando os seus cidadãos sentem-se contentes, e isto somente acontece onde a consciência, a pesquisa e as ideias são livres e desentravadas.” Simon Episcopus -1628.

12. Citados em “Holandeses em Pernambuco” de Leonardo Dantas Silva, página 115.