AS MANIFESTAÇÕES DE RUA ESTÃO VAZIAS? SERÁ? QUE RUAS?
1. As notícias e os analistas entrevistados insistem que as manifestações de rua nesta conjuntura estão vazias, que são ou pequenos grupos ou não conseguem atrair mais que umas 5 mil pessoas. E que as manifestações dos grevistas atraem mais que as mobilizações difusas. Será?
2. Manuel Castels (Redes de Indignação e de Esperança) mostra que exigem dois tipos de ruas. Um tipo real, feito de asfalto e calçadas e outro VIRTUAL, ruas por onde circulam as pessoas nas redes sociais. A saída das ruas virtuais para as ruas reais depende de um momento mágico de um tipping point. Por isso, além de mensurar o que passa nas ruas reais, há que mensurar o que passa nas ruas virtuais.
3. As pesquisas de opinião –mesmo não sendo suficientes- permitem avaliar como andam as ruas virtuais. E mais do que elas, as mensurações técnicas específicas do uso das redes e dos temas que debatem e incorporam. Há que sublinhar que os temas difusos –catalisados pela rejeição aos políticos e a perplexidade com os fatos de corrupção- que estavam nas ruas reais em abril de 2013, passaram a ordem do dia.
4. Além da ordem do dia das redes sociais, para a ordem do dia da imprensa. Impulsionados pelas ruas virtuais os meios de comunicação passaram a dar uma centimetragem e um tempo de exposição proporcionalmente muito maior aos vetores mobilizadores de abril de 2013. Curiosamente, as redes sociais multiplicam o noticiário da mídia e especulam a respeito, mas a audiência das TVs e rádios e a circulação dos jornais até caem.
5. Dessa forma, as projeções oficiais para a Copa do Mundo que extrapolam a quantidade de pessoas nas ruas e programam a contenção das mesmas devem tomar muito cuidado. Nas ruas virtuais são multidões de manifestantes. O que poderá levá-los às ruas reais. E durante a campanha eleitoral? A rejeição aos políticos e à política, anotada em pesquisas, que em geral dobrou após abril de 2013, levará as ruas virtuais a um não-voto (abstenção + brancos + nulos) recorde?
6. Ou haverá “impulsionadores” levando as ruas virtuais para as ruas reais em passeatas –não de apoio a candidatos- mas de protestos contra todos? Portanto, as lentes dos analistas focalizadas nas ruas reais deveriam estar mais preocupadas e com foco muito maior nas ruas virtuais.
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(El País, 27) 1. Três meses de existência (inscrito 11 de março), bastaram ao PODEMOS para conquistar 5 cadeiras no Parlamento Europeu e converter-se na grande surpresa da eleição europeia na Espanha. A IU -esquerda unida- conquistou apenas 6 cadeiras, PP 16 e PSOE 14.
2. Com um orçamento limitado, em comparação com os demais, um plano de campanha baseado na difusão pelas redes sociais e o boca a boca, e liderado por Pablo Iglesias – um televisivo professor universitário de 35 anos, PODEMOS alcançou 8% do total de votos, rompendo com a política tradicional, qualificando os dois maiores partidos -PP e PSOE – de “casta” e repetindo continuamente esse jargão por seus simpatizantes.
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CANDIDATOS A PRESIDENTE FAZEM JOGO DE CENA NA INTERNET!
(Ricardo Noblat – Globo, 26) 1. A BITES CONSULTORIA, empresa com sede em São Paulo, monitora as redes sociais. A meu pedido, ela compilou dados do Facebook e do Twitter entre 1º de janeiro e anteontem, e do Google somente em abril, relativos aos três principais aspirantes a presidente da República na eleição de outubro próximo — Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Juntos, em números redondos, eles atraíam no Facebook 2.185.000 fãs até às 16h de sábado. Quer dizer: alcançavam apenas 2% dos usuários do Facebook, que tem 92 milhões de contas ativas no Brasil. Campos liderava com 952 mil fãs, seguido por Aécio, com 714 mil, e Dilma, com 520 mil. A página do guaraná Antártica conta com 17 milhões de fãs.
2. A Bites valoriza mais o percentual de compartilhamentos sobre cada mensagem postada em nome dos candidatos. Nesse caso, quem lidera é Dilma, com uma taxa de 26%. Campos e Aécio empatam com 18%. No Google 131.480 buscas sobre Dilma, 81.030 sobre Campos e 33.360 sobre Aécio. O nome de Campos costuma aparecer associado ao de Marina Silva, que deverá ser sua vice. Eu quis saber, em resumo, se os três candidatos entraram de verdade no jogo digital. Ou se estão fazendo cena, como tantos fizeram em eleições anteriores. Resposta de Manoel Fernandes, diretor-executivo da Bites: “Tudo indica que fazem cena. Há muitos gastos em publicidade digital e pouco resultado político. Os candidatos carecem de uma estratégia consistente de ocupação dos espaços digitais”
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COLÔMBIA SE DIVIDE NO SEGUNDO TURNO COM AS FARC COMO POLO!
1. O segundo turno -em geral- é uma eleição de opinião pública. O fato de o presidente Santos estar negociando com as FARC abriu as portas para o apoio da esquerda colombiana. O prefeito de Bogotá -Petro- ex-guerrilheiro e de uma esquerda sem adjetivos- cassado por ato de Santos e reempossado pela justiça, abriu as portas ontem (26) para que 3 secretários seus entregassem seus cargos para participar diretamente da campanha de Santos no segundo turno.
2. Estima-se que os 60% de abstenção no primeiro turno tendam a diminuir pela polarização, o que não sinaliza tendência. A candidata da esquerda -polo democrático- 15%, apontará a favor de Santos. A candidata do partido conservador- também 15%- mesmo que sinalize seu voto, não tem força para aglutinar seus eleitores. Peñaloza -ex-prefeito de Bogotá -8%- menos ainda.
3. No final será uma eleição dos dois mais importantes personagens políticos: Uribe, ex-presidente, e Santos, presidente, e de um só tema as FARC. Eleição 15 de junho. Em mais 10 dias com a decantação da opinião pública é que se poderá saber de tendências. Afinal, Zuluaga e Santos somados alcançaram 54% no primeiro turno! Menos que abstenção e menos ainda se somada aos votos brancos e nulos -10%.