OS ROTEIROS DA CPI DA PETROBRAS: ESCÂNDALOS E PRIVATIZAÇÃO!
1. A cada dia e a cada declaração de governistas e oposicionistas, fica mais e mais claro que a CPI dos escândalos com a Petrobras já tem seu roteiro definido.
2. De um lado a oposição querendo demonstrar os desmandos do PT na Petrobras como o caso da refinaria de Pasadena, desmontando de vez a áurea do PT como partido sem máculas e defensor do Povo. O mensalão e suas prisões dão a “pièce de résistance” para isso e os demais casos que surgiram servem como confeite. Objetivo maior será mostrar a incapacidade gerencial de Dilma e, com isso, conseguir que ela desça mais degraus na avaliação das pesquisas.
3. Do outro lado, o PT usando as acusações como pretexto para afirmar a toda imprensa, ao vivo, em tempo real e nas matérias do dia seguinte, assim como nas redes sociais, que as denúncias da oposição não têm valor ético, por que não tem autoridade para isso, e que o objetivo mesmo é enfraquecer a Petrobras para privatizá-la. E aí entra o tradicional discurso acusando a oposição de privatista como o fez Lula no segundo turno de 2006 e que deu certo.
4. A primeira reação de FHC em relação a essa CPI foi ser contra, provavelmente receoso que o populismo irresponsável do PT desvie a atenção e traga a questão da privatização para o palco. Aécio –até intuitivamente- encaixou o discurso de defesa da Petrobras e de sua imunidade estatal. FCH cedeu aos argumentos.
5. O roteiro que a oposição quer seguir é da comprovação da cumplicidade do PT com os escândalos e há fatos de sobra para isso. A presidente da Petrobras entrou pela linha –digamos técnica- de auditorias que ‘mostram’ que não houve propinas, como se propinas fossem contabilizadas. Mas o PT provavelmente irá além da desqualificação das denúncias, buscando um desvio de foco e colocar na mesa a polêmica sobre a privatização da Petrobras.
6. Com muito maior capilaridade, com a força da publicidade da Petrobras e da BR nos meios de comunicação médios e pequenos, terá armas poderosas para conseguir isso.
7. E o PSDB, o DEM e o PPS terão que escalar na CPI quadros que além das denúncias não permitam o desvio de foco e até mostrem que quem está enfraquecendo a Petrobras é o PT (valor das ações, endividamento, escândalos…) e que isso sim é privatizar, desviando recursos para a corrupção, mesmo com controle formal estatal.
8. Será muito menos uma batalha de auditores e investigadores e muito mais uma batalha política e comunicacional. Quem entrar com os melhores quadros para isso e estiver bem treinado para esse tipo de debate, no mínimo, não perderá. Agora é comprar ingressos nos melhores lugares e acompanhar a disputa.
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ENTREVISTA DE CESAR MAIA A FERNANDO RODRIGUES NA TV UOL DIA 27/03! III) DILMA, AÉCIO E CAMPOS!
1. O que eu disse ao Aécio, olhando a pesquisa do Ibope, é que, em função da Copa do Mundo, que nós não vamos ter pré-campanha que isso volta na segunda quinzena de julho, 25, 27 de julho. Da convocação da seleção e da chegada das delegações, daí para frente acabou a pré-campanha. Então, como é que eles vão crescer os dois, o Aécio e o Eduardo Campos, em um quadro desses? Eles têm que esperar o mês de agosto. Então o único caminho que se tem para começar a produzir segundo turno é a Dilma cair. Não adianta querer imaginar que vai crescer o Aécio, que vai crescer o Eduardo Campos, porque pensa bem, o Aécio, governador de Minas, um bom governador, ele teve uma marca, um choque de gestão. O que restou do choque de gestão de um governador de Estado que tem 11% do eleitorado, o Estado com a importância que tem Minas Gerais, o que passou de imagem para os outros Estados? Nada, só em Minas Gerais. Qual é a marca do Eduardo Campos no país todo? Nenhuma. Tirando ali Pernambuco e as adjacências. Então, eles vão ter que trabalhar a queda da Dilma para se poder começar.
2. Bem, estão trabalhando. As declarações de Eduardo Campos têm sido fortes em relação à Dilma. Esse caso da Petrobras o Aécio entrou também forte. Eles conseguiram mobilizar o suficiente para uma CPI, que sai agora. A CPI, por mais que se queira que ela tenha um caráter técnico, ela será mais a crítica à corrupção, à gestão. A crítica à corrupção combina com o que o eleitor entende desse momento e isso pode produzir ou deve produzir uma queda de pontos na Dilma e a perda de pontos para quê? Pra dar segundo turno. A Dilma ela tem hoje 50% de chance de ganhar no primeiro turno, mas se ela for para o segundo turno, ela tem 50% de chance de perder o segundo turno. Ela não é a favorita no segundo turno, independentemente de pesquisas. Quando você faz o cruzamento e o corte daqueles que não votariam nela e que se opõe ao governo que está aí, querem mudança, etc. é uma eleição sem favorito.
3. É, não tem outra alternativa além dos dois. Aqui a gente não tem um vetor de antipolítica, como tem em vários países do mundo. Com o Eduardo Campos candidato, certamente o Aécio é favorito entre os dois. A gente pega essas últimas pesquisas que são publicadas e que não são publicadas, você teve um esfriamento do nome da Marina. Talvez aqueles que marcavam Marina queriam ver Marina em cima do pódio. Na medida em que ela veio para baixo do pódio, há uma perda de entusiasmo. Essa queda da Marina, ela fere muito a candidatura do Eduardo Campos, que contava muito com ela como vice como elemento alavancador da candidatura dele. Parece que não vai ocorrer isso da forma que ele imaginava.
4. Dilma vai para um segundo turno com uma chance enorme de perder eleição. O Aécio tem essa consciência. Ele tem essa consciência de que um segundo turno muda completamente o patamar dele, vírgula, o patamar do voto contra a Dilma, porque quando você espalha um pouco, o voto contra ela fica disperso, fica oculto. Agora, quando você coloca o segundo turno e vê quem não votaria nela, certamente é uma eleição completamente indefinida. A chance de que em um segundo turno a Dilma perca a eleição no Brasil é muito grande. Agora, o problema é ter segundo turno. Essa deveria, no meu ponto de vista, a estratégia dos dois, produzir segundo turno, mesmo que eles tenham que focalizar a Dilma, como o Eduardo Campos tem feito. E o Aécio de certa maneira também, com menos agressividade que o Eduardo Campos. Talvez pela parceria com a Marina, porque seu entorno exige que tenha uma comunicação mais forte e a gente vê isso. Ele tem que fazer essa comunicação porque a atração da Marina para vice ainda não está garantida.
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HÁ RELAÇÃO ENTRE AS MANIFESTAÇÕES E AS ELEIÇÕES?
(Clovis Rossi – Folha de SP, 01) 1. Quem viu a imponente massa que ocupou as ruas das grandes cidades da Turquia em maio do ano passado só poderia acreditar que o governo, conduzido pelo primeiro-ministro Recep Tayyp Erdogan, seria surrado em grande estilo na primeira oportunidade em que a Turquia votasse. Afinal, os protestos começaram para defender um parque central que seria devastado por uma reforma de discutível gosto urbanístico, mas logo se tornaram uma campanha pela renúncia de Erdogan. Ainda por cima, depois vieram denúncias de corrupção envolvendo, entre outros, o filho do premiê, e, mais recentemente, uma tentativa de bloquear o Twitter e o YouTube, o que só poderia escandalizar os manifestantes de maio passado, que se mobilizavam exatamente pelas redes sociais, agora perseguidas.
2. Nada disso foi suficiente para que o eleitorado desse as costas para Erdogan, há 11 anos no poder, durante os quais conquistou por três vezes a maioria absoluta dos votos. O premiê fez questão de transformar as eleições locais de domingo em um plebiscito a respeito de sua gestão. Ganhou, e com uma porcentagem de votos (44%) superior aos 39% que obtivera nas municipais anteriores, em 2009. Seu partido, o islamita moderado Justiça e Desenvolvimento (AKP da sigla turca), levou ainda as prefeituras das duas principais cidades, Istambul e Ancara.
3. No caso da Turquia, parece claro que há um divórcio entre os setores urbanos modernos e conectados e as massas conservadoras e tradicionais apoiadoras do AKP. E no caso do Brasil? Minha impressão: não surgiram lideranças capazes de empolgar a turma que inundou as ruas em junho passado.
4. Conclamação de Elena Valenciano, cabeça de chapa do PSOE da Espanha para as eleições europeias de maio: “Não basta indignar-se, é preciso votar e ganhar”. Contexto: Valenciano está, na prática, fazendo um apelo à massa de “indignados” que tomaram as ruas da Espanha no ano passado, movimento de resto imitado em incontáveis outros países (Brasil inclusive), mas com nulos resultados do ponto de vista eleitoral.