ENTREVISTA DE CESAR MAIA A FERNANDO RODRIGUES NA TV UOL, DIA 27/03! I – POLÍTICA E INTERNET!

1. (PT tem sindicatos, associações…) Hoje é outro tempo.  Hoje nós estamos em um mundo da democracia direta eletrônica que esvaziou essa representação associativa. O grande perdedor com as redes, etc., são os sindicatos, as associações… Se os partidos parlamentares, que é o nosso caso e o de todos os outros partidos, souberem trabalhar adequadamente essa nova democracia diretíssima de rede e combinar ela com a democracia representativa pode-se recuperar representação. Acho que isso é possível. Agora tem que trabalhar bem. Eu vi no Painel da Folha, que o Aécio está contratando 9 mil militantes. Aquilo ali é antirrede social, porque as redes sociais são horizontais. Desierarquizadas. Cada indivíduo se sente empoderado. Cada vez que na rede social você tenta dizer “aquele cara é um líder de uma ideia”, esvazia. As organizações não têm força. Tem até a rejeição das redes sociais. As redes sociais são de indivíduos anônimos. Quando você tem um grupo grande de indivíduos anônimos que pensa como você, você cresce por sinergia na opinião pública. Você está dizendo uma coisa que está sendo dita nas redes e vocês se encontram nas ruas, se encontram na eleição. Então essa forçação de agências, de marketing de guerrilha, etc. e tal e internet, isso é um fracasso completo. O que ele tinha que fazer nesses últimos anos, um levantamento dos militantes, simpatizantes que já estão na rede. Colocar turista na rede não leva a lugar nenhum. Quem está na rede? Você quer vir aqui? Vamos conversar? Vamos trocar ideias? E você passar para eles.  É um equívoco imaginar que as redes sociais vão eleger deputado. Os deputados não devem estar nela? Claro. Agora, se as ideias que as redes vão multiplicando coincidirem com as ideias que dão marca a você isso gera uma sinergia de opinião pública, mas não é dizendo “vote no fulano de tal”. Colocou “você, fulano de tal” é razão da ironia, da brincadeira, do não multiplicador. Espero que eles não se equivoquem.

2. 95% dos parlamentares pensam que estão nas redes e não estão nas redes: eles pegam a mala direta deles antiga, transforma em uma newsletter, de 15 em 15 dias dispara no cadastro deles. A lógica da internet é interativa e eles não têm paciência para receber contato nas redes de um cidadão anônimo que eles não dão tanto valor assim, e responder, e dizer, e explicar. Eles acham que não é importante. O importante são eles como líder e as pessoas mais embaixo. Então, eles fogem da lógica da internet. Aquelas pessoas que estão no gabinete, que tratam com a internet estão empolgadas, estão motivadas, mobilizadas, mas o político quer é fazer estatística e essas estatísticas na internet são perigosas.  É geral. O deputado usa internet para tornar a mala direta barata mandando diretamente para o seu eleitor, bonita, diagramada de 15 em 15 dias. Portanto, ele não vive a internet. Não vive a interação. Não gostam de receber xingamentos e não respondem a eles, um pedido simples. Mas se o cidadão acha que isso é importante, ele tem que se envolver naquilo que chega a ele. A lógica da internet é essa. Essa lógica de pulverização, de pessoas.  Imagine que você vai mandar alguma coisa para algum famoso. O famoso se sente iniciador de redes ou de opiniões. Ele não multiplica. Quem multiplica são as pessoas, os cidadãos anônimos. É nesse conjunto que você tem que entrar. Tem que acreditar nisso e tem que gostar.