19 de março de 2014

MENSALÃO:  REGIME SEMIABERTO, A “ELEIÇÃO” DE DILMA E O REI PIRRO DO ÉPIRO!

1. O PT e o governo exultaram com a nova decisão do STF, reduzindo penas e levando os nomes mais emblemáticos do chamado “mensalão” para o regime semiaberto: “trabalham” durante o dia e dormem no presídio. Pode ser uma vitória de 2015 para frente. Mas em 2014 é uma derrota e das grandes.

2. Rei Pirro do Épiro derrotou os romanos nas batalhas de Heracleia e Ásculo –em 280 aC e 279 aC. Plutarco reproduziu um relato feito por Dionisio de Halicarnasso após as batalhas onde Pirro venceu, mas teve muitas baixas. Ao ser cumprimentado, Pirro respondeu: “Uma outra vitória como esta e estaremos arruinados”.

3. É o caso da “vitória” do regime semiaberto. Para 2014 será um desastre para Dilma. Com os nomes mais emblemáticos presos, o noticiário iria perdendo força: fez-se justiça. Mas com o regime semiaberto, esses nomes mais emblemáticos terão um acompanhamento rigoroso e detalhado da imprensa: o que fazem? É para valer? Quanto ganham? Onde estão? Em que horários?

4. Enfim: uma festa para os “paparazzi”. Passos em falso demonstrarão o injusto da decisão do STF. O acompanhamento na forma de “assédio” vai manter o tema “mensalão” vivo. Vai mostrar que os amigos do poder têm tratamento diferenciado. O tema corrupção volta colado ao regime semiaberto aos “amigos do rei”, ou seja, da rainha.

5. Dilma terá que ser treinada para responder/não responder aos questionamentos no dia a dia presidencial e especialmente em campanha. E –inevitavelmente- o regime semiaberto vai estar colado nela. Afinal, os dois ministros que alteraram o resultado anterior foram de sua escolha.

6. Se o tema “mensalão” estava numa dinâmica de não-notícia, agora passa a ser prioridade na competição entre os órgãos de imprensa para mostrar as distorções e desvios dos usuários –dos semiabertistas.

7. Vitória de Pirro. No “mensalão” se poderia repetir Pirro: Mais uma como essa e estamos arruinados. Agora, Dilma pode reunir seu grupo planaltino e afirmar: “Com esse semiaberto, estamos arruinados”, parafraseando Pirro.

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O CHAVISMO EXPLÍCITO DO PT!

(Arnaldo Jabor – Globo, 18) Bolivarianismo caboclo não admitimos. Jamais viraremos a Venezuela, como querem o Rui Falcão, que já está lá puxando o saco do Maduro, e o Marco Aurélio Garcia, o último dos bolcheviques, para quem ‘tudo vai bem na Venezuela’, apesar do exagero da ‘mídia conservadora’. Nossa estratégia é mole, embuçada, insidiosa, mas muito eficaz.

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DEMOCRACIA VAI BEM! POLÍTICA VAI MUITO MAL!

(Daniel Innerarity é professor de Filosofia Política e Social, e professor na London School of Economics, 28/02)

1. Uma democracia é um espaço aberto onde, em princípio, qualquer um pode fazer valer sua opinião, o que permite milhares de formas de pressão, e temos até mesmo a capacidade de mudar os governos. Isto funciona relativamente bem.

2. O que não vai tão bem é a política, isto é, a possibilidade de converter essa amálgama plural de forças em projetos e transformações políticas, dar causa e coerência política a essas expressões populares e definir o espaço público de qualidade onde tudo isso é discutido, ponderado e sintetizado. Tem a ver com isso o fato de que para aqueles que atuam politicamente, está cada vez mais difícil formular agendas alternativas.

3. Estamos em uma era pós-política, da democracia sem política. Temos uma sociedade irritada e um sistema político agitado, cuja interação não produz quase nada de novo, como teríamos o direito de esperar dada a natureza dos problemas que temos que enfrentar.

4. A cidadania hoje evita as formas tradicionais de organização. São crescentes formas de compromisso individual, um ativismo que não está ideologicamente articulado em um quadro ideológico que lhe confere coerência e totalidade, como poderia ser o caso das ideologias tradicionais abrangentes.

5. O espaço digital abriu novas possibilidades de ativismo político. Para grande parte da população, a realidade representada pelos partidos hierárquicos já não é mais atraente, enquanto que a cultura virtual da Rede permite articular confortavelmente suas ideias políticos fluidas e intermitentes, e até mesmo ficar “off line”  a qualquer momento.

6. O que não faltam são exemplos de ativismo e “soberania negativa” no espaço físico, agora também ligados à mobilização digital. Eu não questiono a bondade dessas ações de resistência cívicas ou campanhas on-line, eu me limito a apontar que, por não se “inscrever” em qualquer contexto político que lhes dá coerência, podem dar a entender que a boa política é uma mera adição de ganhos sociais. Não funciona a articulação das demandas sociais em programas coerentes que competem na esfera pública de qualidade, em suma, falha a construção política e institucional da democracia além da emoção do momento, da pressão imediata e da atenção da mídia.

7. O espaço público não se reduz à mera agregação apolítica de preferências inconsistentes, agrupados como se não houvesse nenhuma prioridade entre elas e até mesmo certas incompatibilidades. Alguém deveria organizar essas revindicações com critérios políticos e gerir democraticamente sua possível incompatibilidade.  Se a política (e os tão criticados partidos) servem para alguma coisa é precisamente para se integrar com alguma coerência e autorização democrática as múltiplas demandas que surgem continuamente no espaço de uma sociedade aberta.

8. Ao fato de que as demandas sociais estão desarticuladas, se acrescenta a circunstância de que tais reivindicações são plurais, logicamente, e, em ocasiões, incompatíveis ou contraditórias: uns querem mais impostos e outros menos, uns querem software livres e outros proteção da privacidade e da propriedade, alguns estão preocupados com menos liberdade e outros que têm muitos imigrantes… Sem uma avaliação política é difícil saber quando se trata de bloquear as reformas necessárias ou um protesto contra o abuso dos representantes.

9. Em qualquer caso, aqueles que tendem a celebrar a espontaneidade social deveriam se lembrar que a sociedade  não é o reino das boas intenções. A legitimidade da sociedade para criticar seus representantes não quer dizer que aqueles que criticam ou protestam estão necessariamente certos. O estado de indignado, crítico ou vítima, não faz de você politicamente infalível.

10. A partir dessas trincheiras apolíticas, parecem dominar as coisas com uma claridade que não dispõe aqueles que normalmente lidam com o princípio da realidade. A raiva desses grupos não se dirige tanto aos adversários como a eles mesmos, quando ameaçam rebaixar ao nível de politicamente inegociável. Propagam uma mentalidade antipolítica porque não entenderam que a política envolve sempre alguns compromissos e concessões. Os setores radicais dos partidos definem o ritmo de uma forma que provavelmente não corresponde a critérios de representatividade e dificultam certas reformas em que o acordo político com adversários é necessário.

11. Pesquisas dizem que a política tornou-se um dos nossos principais problemas e eu me pergunto, para concluir, se essa opinião expressa uma nostalgia pela política que já não existe, uma crítica diante da sua mediocridade, ou melhor, um desprezo antipolítico frente a algo cuja lógica não se entende muito bem.