1. A abstenção e votos brancos e nulos variam por diversas razões. Entre elas a não atualização do cadastro de eleitores, a mudança do voto em papel (que favorecia anular o voto) para máquinas, a reação dos eleitores à conjuntura, o desaparecimento do receio de não votar desde que se justifique numa agência dos Correios, o erro inintencional ao votar, viagens, mudança de endereço, doença, mobilidade dos mais idosos, decisão dos que têm mais de 70 anos ou 16/17 anos, temporais no dia da votação…
2. Sendo assim, se poderia dividir a abstenção, brancos e nulos –chamemos de “não-voto”- em “não-voto” técnico e “não-voto” político que, nesse caso, é a decisão de “não-voto” como protesto, como “voto” de condenação e rejeição aos políticos. O crescimento do “não-voto” observado numa série, pode sugerir que cresceu o “não-voto” político.
3. Nesse sentido, cada eleição tem a sua história, especialmente se abrirmos o “não-voto” regionalmente. Uma discussão séria sobre voto voluntário deveria levar em conta uma análise do “não-voto” para avaliar razões. Pesquisas imediatamente após as eleições, como se faz nos EUA, poderiam ajudar.
4. O próprio TSE poderia autorizar um levantamento pós-eleitoral, numa série de anos, para que se possa distribuir o “não-voto” por gênero, por idade e por focalização da votação. Claro, com garantia de reserva, em função da escolha de um departamento de faculdade de total credibilidade para não identificar o eleitor. Isso se pode fazer com digitalização pulverizada com acesso regional cruzado.
5. Olhando os números das eleições presidenciais em primeiro turno e separando em abstenção (a) e brancos+nulos (bn) e no final agregando o “não-voto” (NV), temos: 1989: a- 11,74%, bn- 5,7%, NV- 17,44% // 1994: a- 17,7%, bn- 15,4%, NV- 33,1% //
1998: a- 21,49%, bn- 18,7%, NV- 40,19% // 2002: a- 18%, bn- 10,36%, NV- 28,36% // 2006: a- 16,75%, bn- 8,42% , NV- 25,17% // 2010: a- 18,12%, bn- 8,64%, NV- 26,76%.
6. O NV foi maior em 1998: um ponto fora da curva. Nesse ano a taxa de inflação era de 1,6%, portanto muito baixa, a taxa de desemprego de 7,6%, havia crescido e atingiu o topo –desde 1991-, e o crescimento do PIB foi de 0,13%. FHC foi reeleito num quadro de crise internacional aguda, usando flexibilização fiscal e cambial que trouxeram suas consequenciais em 1999 e depois. E com um PIB ínfimo. A comunicação básica da campanha foi sobre os riscos de Lula vencer.
7. Esse quadro agudo de crise, que se desdobrou no segundo governo FHC e nas eleições de 2002, não impediu a reeleição de FHC, mas aumentou muito o “não-voto”, que cresceu para 40%. Supõe-se que esse “não-voto” foi maior no eleitorado popular, já que era aí a base maior de Lula. Se isso é verdade, um hipotético crescimento do “não-voto” em 2014, poderá seguir o mesmo caminho, o que afetaria principalmente Dilma. Agregue-se agora –com as redes sociais- a possibilidade de crescimento do “não-voto- induzido como campanha antipolítica. Nesse caso afetaria os extremos.