29 de novembro de 2013

AS REDES ABREM AS INFORMAÇÕES NOS DOIS SENTIDOS: OBSERVAMOS E SOMOS OBSERVADOS!

(Daniel Innerarity é Catedrático de Filosofia Política, professor visitante na London School of Economics – El País, 21) 1. A lógica da rede envolve adquirir opções de comunicação, exibição e movimento em troca de uma dependência em relação a essa mesma rede. Podemos observar porque, ao mesmo tempo, deixamos que nos observem. Por isso a internet tornou-se uma enorme máquina de vigilância. Refiro-me aos fenômenos da censura crowdsourcing, da vigilância regressiva na qual podem participar os agentes da rede, mas especialmente a vigilância mais banal inscrita na sua própria lógica. Quanto mais conhecemos graças à rede, mais ela sabe sobre nós. Ou será que alguém acreditava que isso era tudo de graça?

2. O contrato digital implícito é que podemos extrair e contribuir com informações. Alimentamos a rede com nossas ações diárias e vestígios do que nós visitamos, por meio das quais estamos fazendo contribuições, voluntárias e involuntárias, para o tráfego mundial de dados. Não existe na internet nenhuma operação que não seja “arquivável”, ou seja, identificável. A internet é o local de rastros e pistas, em que nada é perdido ou se desvanece com o tempo, e nem se esconde atrás de um espaço reservado. As consultas do Google são registradas, todas as interações do Facebook são arquivadas. Com o uso da rede está se produzindo uma gigantesca troca de dados entre os usuários e os servidores. Até os espiões deixam vestígios e pessoas como Snowden os rastreiam com o objetivo de desafiar ou dificultar essa vigilância.

3. Ao contrário daqueles que exageraram suas possibilidades democratizantes, agora sabemos que a internet é mais um bazar do que uma ágora. O negócio de perfis atesta isso. A rede é um grande mercado de informação sobre os hábitos de consumo, uma contínua pesquisa de marketing. As opiniões, os gostos, os desejos e a própria localização geográfica dos usuários são pacientemente coletadas por um número de empresas que fazem desses dados sua propriedade privada. Ao alimentar as bases de dados, o usuário aumenta o valor das empresas que oferecem seus serviços de forma aparentemente gratuita, o que permite conhecê-lo melhor e dar a ele o que (acredita que) necessita…

4. Se colaboramos tão pacificamente nessa pesquisa sobre nós mesmos, é porque tudo tem um aspecto ideológico anarco-liberal, dando a entender que o cliente é quem manda, sendo cortejado por todos que querem adivinhar e satisfazer as suas necessidades. Então, não é por acaso que grandes empresas de Internet e os governos estão trabalhando em conjunto, alguns pelo negócio que estes dados representam e outros em nome da segurança de seus interesses geoestratégicos.

5. Provavelmente estamos entrando em uma segunda era da internet: vão se intensificar os conflitos entre liberdade e controle, governos e cidadãos, provedores e usuários, entre transparência e proteção de dados, a que devemos dar uma solução equilibrada; teremos que regular fenômenos como o “direito a ser esquecido”, privacidade e a vontade de colocar os dados a disposição; certamente serão inventados novos métodos de proteção e criptografia, mas também novos regulamentos legais e novas formas de diplomacia e cooperação.

6. Há tempos que os serviços de inteligência reconhecem que se trata cada vez menos de acumular dados, mas de melhorar os filtros.

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FINANCIAL TIMES/ NYT/ THE GUARDIAN LEVANTAM DÚVIDAS SOBRE A CAPACIDADE DO BRASIL EM GRANDES EVENTOS!

(BBC Reino Unido, em 28/11/2013) 1. Vários jornais internacionais nesta quinta-feira (28) deram destaque ao acidente com um guindaste na Arena do Corinthians, em São Paulo, que matou dois operários. O diário financeiro britânico Financial Times afirma que o incidente “levanta questões sobre a capacidade do Brasil de sediar os dois grandes eventos esportivos para os quais se prepara”.

2. O jornal ressalta que o país “vem lutando” para entregar a infraestrutura necessária para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas e que as construtoras “trabalham contra o relógio” em estádios e aeroportos para que o país fique pronto a tempo. Acrescenta que o relacionamento do Brasil com a Fifa está “sob pressão” desde os protestos que tomaram as ruas brasileiras durante a Copa das Confederações.

3. “Quando o Brasil foi escolhido para sediar a Copa e as Olimpíadas há alguns anos, esses eventos foram vistos como uma chance para o país exibir sua economia ascendente e o recente crescimento”, avalia o FT. “No entanto, à medida que o crescimento desacelera, (os protestos) se tornaram um foco para ressentimento entre muitos brasileiros, que argumentam que o dinheiro deveria ser gasto em melhorias dos serviços públicos”.

4. Em sua reportagem o americano The New York Times também ressalta a relação entre a organização da Copa e os protestos, afirmando que o alto custo dos estádios fomentou “a ira dos manifestantes e questionamentos sobre as prioridades de uma nação em que escolas e hospitais públicos estão em condições lamentáveis”.  O jornal ainda afirma que, com o último incidente, os organizadores da Copa estão agora se questionando sobre a segurança dos funcionários envolvidos em suas “tentativas frenéticas” de finalizar os estádios.

5. Para o jornal britânico The Guardian, o acidente no estádio que vai sediar a abertura da Copa representa um “revés mortal” nas preparações do Mundial.  “O fato de o acidente ter ocorrido a uma semana do sorteio que vai definir os grupos do campeonato reacende preocupações sobre a segurança da infraestrutura e o passo lento das construções dos estádios”. Ainda para o Guardian, o episódio é o último de uma longa lista de atrasos e fatalidades nos projetos de construção da Copa e “é claramente um constrangimento para o Brasil, (a construtora) Odebrecht e outros responsáveis pelo projeto”.  O jornal lista outros tropeços nos projetos do Mundial, entre os quais os atrasos na entrega do Maracanã, a suspensão temporária do amistoso entre Brasil e Inglaterra, em maio, devido a riscos para a segurança dos torcedores no entorno do estádio, e o desabamento parcial do teto do estádio Fonte Nova, em Salvador, após fortes chuvas, em abril.

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BOLHA IMOBILIÁRIA NO BRASIL!

(El País, 29) 1. La expansión acelerada del mercado inmobiliario, sin embargo, ha alimentado un cuadro de desorden en la formación de precios. El aumento de la concesión de crédito, con la estabilidad de la moneda, coincidió con los programas de vivienda del gobierno, como el de Minha Casa Minha Vida, volcado en las personas menos favorecidas. De esta forma, los precios de los materiales para la construcción civil subieron al mismo tiempo que el coste de los terrenos se fue por las nubes.

2. Segun  el índice FipeZAP, que supervisa el precio anunciado de la venta y alquiler de inmuebles, los valores de venta subieron un 230% en Rio de Janeiro desde 2008. Y, en São Paulo, un 188% en el mismo periodo, que termina en octubre de este año. Un apartamento en esas ciudades puede llegar a costar hasta un 60% más caro que en Miami, según el informe de septiembre de la inmobiliaria Élite International Realty. “

3. “Los precios sobrepasaron los límites”, resume el profesor de la Escuela de Economía de la Fundación Getulio Vargas (FGV) Samy Dana. “Para una que se forme una burbuja, es necesario que no todos crean en ella, si no nadie compraría (los inmuebles)”, completa. El economista dice que una de las bases de la burbuja es la “teoría del más tonto”, que consiste en que alguien paga caro por una casa o apartamento, por miedo a que el valor aumente en el futuro.