1. O debate nacional sobre internação compulsória dos dependentes de “crack” exclui um debate que deveria ser anterior e fundamental: a prevenção à dependência química. De pouco adianta retirar a água de um tanque se a torneira continuar aberta. Nos EUA a taxa de dependentes químicos orgânicos mostra que 93% dos casos são irreversíveis.
2. O recolhimento compulsório dos dependentes químicos orgânicos de “crack” é inescapável. O “crack” é uma droga brutalizante em que o consumidor contumaz num quadro de ingestão pode –por exemplo- matar um bebê na sua frente. Boa parte das chacinas sem explicação tem esta origem.
3. A experiência internacional consagrou programas com elevada eficiência. No Brasil, algumas PMs/GMs têm adotado um programa de sucesso nos EUA, voltado para as escolas. Esses programas não apenas são voltados para um público jovem com maior risco de consumo de drogas, mas para as famílias, para os pais. São indicadores de risco dos filhos, que permitem uma ação preventiva da família.
4. Da mesma forma, os programas de orientação nas comunidades mais pobres onde tem origem grande parte dos viciados em “crack”. E claro, os programas difusos de orientação, nos logradouros públicos para a população em geral. E apoio dos meios de comunicação. Não se vê um espaço espontâneo nessa direção, ou seja, voltado à prevenção.
5. A prefeitura do Rio, em 1993, convidou para orientar esse programa a professora Mina Seinfeld de Carakushansky, com experiência internacional e que havia orientado a PM-RJ num tempo anterior. Ela é certamente o quadro número um no Brasil, com reconhecimento externo. Dela saiu um Conselho –apolítico-, uma Coordenação –apolítica- e, posteriormente, uma Secretaria de Prevenção à Dependência Química.
6. Esta foi dirigida por Francisco Duran, um coronel da PM de atuação conhecidamente enérgica. De uma visão repressiva, entrou no mundo da prevenção e se tornou um apaixonado defensor desses programas. Formou uma Secretaria e um Conselho de especialistas. Todo o material de divulgação era doado por empresas, sem publicidade.
7. Os programas aplicados pela Secretaria passaram a ser demandados por várias cidades brasileiras e até por setor da Marinha. Quando ele entrava numa fase crucial, em 2008, a formação da rede de jovens contra as drogas, o governo municipal terminou, em 2009. O novo governo municipal, no primeiro dia, extinguiu essa Secretaria e, agora, no final de 2012 extinguiu a própria coordenação existente, que era mais um resíduo da anterior.
8. O governador do Estado anunciou, recentemente, a criação de uma secretaria de prevenção às drogas. O primeiro ato foi buscar um deputado sem qualquer experiência anterior. Bem, mas pode ser que esse tenha consciência da importância e, em vez de encher a secretaria de cabos eleitorais, convide especialistas para a gestão e para um conselho assessor. E peça para o prefeito, seu pupilo, recriar a secretaria de prevenção às drogas e não tamboretes para “espaços” políticos.