Cesar Maia e Garotinho só falam um com outro o estritamente necessário

Jornal O Dia 14/07/2012

POR ROZANE MONTEIRO

Rio – Sabe aquele cara da turma que você não queria mais ter como amigo de novo depois de uma briga horrível, mas que tem que aturar para fazer um trabalho de grupo? Pois é. O ex-prefeito e agora candidato a vereador Cesar Maia (DEM) e o ex-governador e deputado federal Anthony Garotinho (PR), seu antigo adversário político, estão vivendo a fase do ‘tem-que-aturar’ para emplacar os filhos – o deputado federal Rodrigo Maia e a deputada estadual Clarissa Garotinho – na Prefeitura do Rio.

Ao ouvir a pergunta “vocês ficaram amigos?”, Cesar Maia interroga o interlocutor: “O que você chama de amigo?” Depois de ouvir o conceito de ‘ser amigo’ de quem quer saber — “ligar um para o outro para falar da campanha, jantar juntos…” —, o ex-prefeito interrompe com um “não” seco. E conta nos dedos cada uma das vezes em que os dois se encontraram desde 2010 para selar a aliança.

Garotinho também lembra os encontros, mas faz piada: “Diria que nós estamos ainda naquela fase do amor que se chama contemplação.” E o que vem depois, deputado? “Não sei, vamos ver como vai ser.”

Garotinho roda o estado, mas organiza a militância na capital | Foto: Fernando Souza / Agência O Dia

Quem ficou perto da dupla sênior nos eventos públicos que celebraram a chapa DEM-PR confirma: está claro que os dois se tratam cordialmente só para manter as aparências, nada mais. Maia e Garotinho nunca foram vistos dando um abraço fraterno e há sempre um mal-estar velado quando os dois estão juntos.

É fato que a dupla está se empenhando para eleger Rodrigo e Clarissa. Maia, na rua, pede votos para si mesmo e para o filho, lembrando que a filha de Garotinho é a vice. O deputado do PR roda o estado para cuidar de outras candidaturas do partido, mas na capital encontra tempo para organizar a militância e pedir votos para a chapa-júnior. Mas ninguém duvida: essa ‘amizade’ tem prazo de validade e vai sumir assim que não for mais necessária para os dois lados.

Maia reconhece que Garotinho tem “forte apelo na área bem popular”, mas não aprova o fato de o aliado achar que a política deve vir “articulada com a religião”. “Ele faz política de uma outra maneira”, diz Maia, que se apresenta como um “político de ideias”. Garotinho concorda com a parte do “forte apelo popular”, se apresenta como “nacionalista do trabalhismo” e lembra que o ‘amigo’, como ele, também já passou pelo PDT de Leonel Brizola.

O pai de Rodrigo diz que é de “centro-centro” e que o pai de Clarissa “é de centro, mas acha que é de esquerda”. Garotinho diz que é de “centro-esquerda” e que Maia, enquanto foi prefeito, “representou um pouco da direita carioca”. Garotinho é o único que fala de uma certa “dificuldade de consolidar essa aliança nossa”.

Ex-prefeito abusa da sorte

Em 1997, o hoje advogado André Duarte, 36, passou um e-mail para Cesar Maia, comentando um artigo do então prefeito. Maia o chamou para conversar e, de 2003 a 2008, André foi seu subprefeito da Barra — mesmo cargo já ocupado por um certo Duda, apelido do prefeito Eduardo Paes, ex-pupilo e adversário de Maia.

Breno Arruda, 33, hoje é economista e também se aproximou do ex-prefeito por e-mail: em 1998, ele escreveu para o então candidato ao Palácio Guanabara se oferecendo para ajudar no programa de governo e acabou subprefeito do Centro, de 2001 a 2004.

Hoje, André e Breno cuidam da campanha virtual do candidato, que, pelo visto, não acredita que um raio caia duas vezes no mesmo lugar.

2014: o ano que chegou antes de 2013

Não será surpresa se Cesar Maia e Anthony Garotinho estiverem em lados opostos em 2014, concorrendo a governador. Hoje, o ex-prefeito já diz que o candidato natural do PMDB à sucessão de Sérgio Cabral, o vice-governador Luiz Fernando Pezão, “não existe”. Na sexta-feira, em Campo Grande, Maia abraçou uma eleitora e, depois de dizer que era candidato a vereador, cochichou, brincando: “E talvez a governador em 2014.”

Garotinho já roda o estado articulando alianças e fortalecendo o PR para uma eventual candidatura sua. No início do ano, Garotinho declarou: “Eu posso ser candidato a governador, né?”

Aliança lembra Guerra Fria de Stalin e Roosevelt

A Segunda Guerra (1939-1945) nem tinha acabado quando o presidente americano Franklin Roosevelt, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill e o líder soviético Josef Stalin já se reuniam para decidir que países ficariam sob seu controle. Nascia a Guerra Fria. Quando fala da aliança DEM-PR, Cesar Maia lembra a História: “Há um caso clássico que é Inglaterra, EUA e União Soviética contra a Alemanha.

No Rio, hoje, aliás, há rasgos de repressão que são tipicamente nazistas. Não sei se o Garotinho se considera o Stalin. Ficaria honrado em me considerar o Roosevelt.” Garotinho ajuda: “Me sinto o Churchill. Mas é covardia com a Alemanha comparar com o Paes. Ele é pior.”