Ex-Blog entrevista Cesar Maia:
EB- Como vê as disputas internas no DEM?
CM- Se há disputa, e se ela é tão intensa como aparece na imprensa, é porque a importância do DEM continua grande. Ninguém disputaria assim sem achar que vale a pena. São 43 deputados federais, 6 senadores, 500 prefeitos, milhares de vereadores e deputados estaduais.
EB- Fala-se que, se um lado vencer, haveria a fusão com o PMDB.
CM- A executiva do DEM, por unanimidade, em dezembro, decidiu que não haverá nenhuma fusão.
EB- Mas é o que se divulga.
CM- Se for fato, os que estão contra qualquer fusão se somariam e passariam a ser quase a totalidade do DEM. Por isso, não acredito em fusão.
EB- Mas o prefeito Kassab tem mostrado seu incômodo.
CM- Nesse sentido acho que ele tem toda a razão, pois a política em SP tem sido binária entre PSDB e PT. O PMDB elegeu apenas um deputado federal; seu presidente faleceu e se abriu um vácuo. Com estes elementos, é natural que um prefeito bem sucedido como Kassab desenvolva suas estratégias com vistas a 2012 e 2014. Mas isso não produz nenhuma divergência no DEM. Fortalecer o prefeito é interesse de todos.
EB- Falou-se em várias candidaturas a presidente do DEM para a convenção de 15 de março. Como será a disputa?
CM- Pelas últimas informações, o senador José Agripino aceitou a candidatura independente de surgir outro candidato. Essa decisão do senador, e nosso líder no senado, elimina disputas. Ele disse, nesta semana, aos jornais: “Aceito a disputa como missão para reunificar o partido”. Ele usou a expressão “disputa”. Do meu ponto de vista, essa decisão do senador -desde já-, produz a unidade do DEM. E a convergência das correntes passa a ser um fato. Elimina a “disputa”.
EB- Mas a convivência dessas correntes no DEM não será incômoda?
CM- Em todas as convenções do PT suas diversas correntes disputam, adotando até nomes diferentes. E isso é visto por todos como um sintoma de fortalecimento do PT. Por que a mesma coisa não seria um sintoma de fortalecimento do DEM?
EB- Mas em 1 de fevereiro haverá a disputa para a liderança do DEM na Câmara de Deputados. A disputa estaria acirrada.
CM- Independente do favoritismo do deputado ACM Neto, o mais votado do partido no país, e membro atual da mesa diretora, um último fato, carregado de injustiça, em relação ao outro nome que vinha sendo colocado, terminou por antecipar a convergência de nossa bancada em torno de ACM Neto. E em respeito àquele. Pelo menos é o que vejo de longe.
EB- A oposição não ficou muito esvaziada depois da eleição?
CM- Lembro que Brizola dizia que, numa eleição, quem ganha tudo, leva tudo, inclusive os problemas e os conflitos internos que serão inevitáveis. No DEM, temos visto um surpreendente fluxo de contatos de quem pretende ser candidato a prefeito e a vereador pelo Brasil todo. Deputados -da chamada base aliada- dizem que suas lideranças locais estão sendo atropeladas e que, se vier uma “janela”, migram para o DEM, já. Imagino que para o PSDB também. E são dezenas.
EB- Alguma conclusão mais?
CM- É um quadro paradoxal, mas comum em política. Vitórias esmagadoras são quase sempre o prelúdio de conflitos intransponíveis. Sempre é bom vencer. Mas de forma avassaladora atrai desintegração interna dos vencedores, ruídos, tremores e terremotos.