Publicado em 30/10/2010 em Folha de São Paulo
A campanha eleitoral 2010 tem vários custos além do que é mais óbvio: o da campanha.
Nesta eleição, são ao menos seis os custos adicionais.
O primeiro custo é o de cumprir as promessas. O segundo é o de não cumprir as promessas. O terceiro custo é o de a agenda final do primeiro turno e inicial do segundo ter tido um caráter religioso. O quarto é o custo econômico para o Brasil da política econômica eleitoral, com o real valorizado e contas públicas em processo de desmontagem. O quinto é o custo estratégico de se sair de uma campanha sem agenda e sem projeto para o país. O sexto é o custo político de uma Câmara estilhaçada.
Ao primeiro custo (as promessas dos candidatos) devem-se somar aquelas feitas pelos candidatos a governador articuladas com os candidatos a presidente. Se cumpridas, as pressões fiscais e inflacionárias, que já são preocupantes, serão agravadas. O segundo custo é não cumprir as promessas e ganhar tempo e, com isso, antecipar uma inevitável impopularidade, pela sucessão de um presidente cuja popularidade é pessoal, não de seu governo. O terceiro custo é trazer para a agenda eleitoral temas (valores cristãos) que terminaram reforçando a partidarização das igrejas.
O quarto custo é econômico. Se há um ponto em que o governo atual e o anterior se igualam é ter usado o populismo cambial e fiscal em ano eleitoral. O governo anterior pagou por isso em seu segundo momento.
Constrói-se um consenso de que 2011 será um ano perdido, que exigirá um freio de arrumação cambial e fiscal. Estima-se uma inflação nunca inferior a 7% e um crescimento econômico medíocre.
O quinto é o custo estratégico de uma campanha sem agendas. Questões fundamentais para os próximos anos -como a política externa e as circunstâncias internacionais do governo Obama “terminar” dois anos antes; a dependência à China; a guerra das moedas; França e Grã-Bretanha estarem aplicando medidas fiscais severas; a Europa viver a politização da crise da imigração; o chavismo extrapolar suas provocações; o Irã intensificar a instabilidade na região- passaram ao largo da campanha.
E, finalmente, o custo político das relações entre Executivo e Câmara dos Deputados, que tendem a ser as mais inorgânicas desde sempre. São 22 partidos representados, um recorde. Os quatro maiores partidos apenas representarão 50% dela, outro recorde.
E, mais grave, se a inexperiência parlamentar e sua fragilidade potencial (numa das alternativas presidenciais) sinalizarem a seu partido e aos deputados espertos que vale a pena pressionar.