O senhor é candidato ao Senado? E por quê?
Sou pré-candidato. Candidato a gente só é depois da convenção. A ideia é que eu faça de novo uma outra passagem pelo Poder Legislativo. Fiquei muito tempo no Poder Executivo. O político só se forma quando tem o Poder Legislativo como matriz, e de outro lado, com a experiência em outros meios, como secretário de Fazenda, como prefeito três vezes, como deputado federal. Eu posso ir para o Senado, se o eleitor assim desejar, cumprir duas funções vetoriais.
Quais?
A primeira função constitucional é representação do seu estado e dos municípios do seu estado. E essa função é apartidária, você não tem que saber qual é o partido do prefeito, do governador. Você tem que fazer representação do governador e do prefeito. De outro lado, a parte constitucional do senador, que são as suas atribuições específicas, que é aprovação de um ministro da Corte Suprema, que é a aprovação do diretor do Banco Central, que é aprovação dos contratos com governos externos, aprovação dos embaixadores.
O senhor falou que o caminho de volta é o Legislativo. Teria um plano B se não for ao Senado? O senhor seria candidato a deputado?
Nunca pensei nisso.
Só pensa no Senado.
Claro, porque é justificável. Na medida que eu sou o nome mais forte do DEM do Rio de Janeiro, eu tenho a obrigação de ter uma candidatura majoritária – governador ou a senador. Entendi que é o momento de retornar ao Legislativo. O Senado é uma casa poderosa. Um senador vale seis deputados. O Senado tem também iniciativa de lei, como tem a Câmara dos Deputados, e é terminativo também. E o Senado funcionando como uma Câmara forte, ele termina não exercendo as suas funções constitucionais. Um exemplo: quem define o limite de endividamento de estados e municípios é o Senado, que o Ministério da Fazenda ignora e invade as competências do Senado.
É fato ou boato que o senhor está tendo dificuldade com a coligação PV-PSDB-DEM-PPS para se lançar candidato?
Nenhuma dificuldade.
Mas há notícia de que o PV não o quer na chapa.
O que há é que o PV insiste em lançar um terceiro candidato. A coligação tem dois candidatos ao Senado. Então ele (o partido) disse: preciso lançar um terceiro. Se houver base jurídica para isso, uma interpretação da resolução do TSE, nenhum problema. Então não há nenhum tipo de conflito.
Mas aí se for determinado que serão só dois candidatos, o senhor vai?
Isso já está decidido. As duas reuniões foram muito claras. A coligação está definida: o (Fernando) Gabeira (do PV, governo), o Márcio Fortes (do PSDB, vice), eu e o candidato do PPS. Essa é a coligação.
O senhor tem conversado com o Gabeira?
Todo dia, sempre.
Por que ele pode ser um bom candidato? Qual é a vantagem dele?
Tenho que colocar um termômetro na trajetória do político. O político pode ter em pesquisa uma posição insuficiente, mas pela trajetória política, ter um potencial de crescimento muito grande. O (governador) Sérgio Cabral (PMDB) se encontra aí na faixa dos 35%, com tudo a favor, o Lula fazendo comício a cada quinzena, os meios de comunicações com boa vontade com ele, para defender o Rio. Eu estimo que ele vai cair. O Anthony Garotinho (PR) está perto de 25%, pouquinho abaixo. O Gabeira perto de 20%, pouquinho acima. Então nós temos uma eleição que parte com garantia de segundo turno. Portanto, nós vamos fazer uma campanha, os nossos candidatos a deputado, dos partidos todos, vamos fazer uma campanha com candidatura majoritária competitiva.
Qual vai ser a bandeira da coligação?
Agora que a coligação está sendo arrematada. Foi finalmente na reunião de segunda-feira (dia 8), na casa do Marcello Alencar (PSDB). O Gabeira informou que ele já está chamando grupos para começar a pensar os diversos temas, e que ele pretende ter alguns elementos conceituais em cada um desses temas. O Gabeira já pediu aos partidos que, junto com ele, começassem a programar uma agenda de presença da pré-candidatura no estado todo. E depois essa circunstância de que o espaço do Garotinho e o espaço Gabeira não conflitam é muito bom para os dois.
O senhor acredita que o Garotinho será um eventual aliado do Gabeira no segundo turno?
Não faço a menor ideia, tem que perguntar a ele.
O senhor subiria num palanque com o Garotinho?
Não tenho nada com isso.
Mas pode haver essa possibilidade, pela coligação.
Mas eu sou candidato ao Senado. A coligação, diz a lei, se transforma num partido. Na hora que surgir as circunstância de estarmos no segundo turno, a coligação, como um partido, vai buscar os apoios do primeiro turno, porque eles podem se dissolver ou não. Se nós formos para o segundo turno com o Garotinho, a base do Cabral, que é uma base muito grande, se dissolve em apoios no segundo turno. Se for o Cabral, já é mais restrito. A coligação se reúne e discute para onde ela vai conversar, negociar, etc.
O senhor viaja pelo interior. Tem base no interior?
Minha candidatura a senador tem uma base de opinião pública e tem base de seus contatos, não apenas partidários. Você pega as pesquisas todas, e verá Marcelo Crivella (PRB) em primeiro, eu em segundo. Cada um com 35% ou com 30%, depois no patamar mais baixo, com 23%, 20%, a Benedita da Silva (PT), depois o o pastor Manoel Ferreira… No Senado terei muito mais condições de produzir a representação apartidária dos municípios, do que eventualmente outros candidatos. Aí naquele ponto que o contato não era tão forte se transforma em forte.
Quem será seu grande adversário, pelas pesquisas?
São eleitores de primeiro voto. De segundo voto, é diferente. Na hora que a gente faz o cruzamento, o eleitor de segundo voto não é tão diferente assim. Porque você tem a militância da Igreja Universal. Mas a base do PV é muito maior do que a militância da Igreja Universal. Provavelmente na militância da Igreja Universal você tem no primeiro voto o Crivella e pode ter o segundo voto orientado, não sei qual será a orientação da igreja. Agora, o voto evangélico do Crivella fora da Igreja Universal está completamente aberto, pode vir comigo no primeiro voto, com ele no segundo.
Quem é o seu eleitor?
Hoje é uma coisa curiosa. Nas pesquisas todas que tive acesso, eu hoje abro em relação ao Crivella no interior. E o Crivella me vence na área metropolitana e na capital. Então como é que vai ser essa dinâmica durante a campanha eleitoral? Não sei. Portanto, é muito difícil você prever. Quando se faz uma pesquisa para o Senado, a primeira opção de voto é muito firme. A segunda é frouxa. Só a dinâmica da campanha é que vai nos dar essa informação.
O senhor disse que a campanha será competitiva. Espera o que da campanha no Rio, em todos os níveis? Um debate programático ou, infelizmente, teremos baixarias?
Falando da campanha do Senado, para mim, obrigatoriamente, será programática.
E para o governo, o que o senhor acha?
Pelo que eu já vi da campanha eleitoral da Benedita e do Crivella, que já foram candidatos ao Senado, e do pastor Manoel Ferreira, desses que já foram candidatos ao Senado, eu garanto que vai ser uma campanha proativa, cada um deles dizendo o que vai fazer no Senado. Não vai ser uma campanha conflitiva de jeito nenhum. De outro lado, a campanha para governador será conflitiva inexoravelmente onde os candidatos disputam a mesma base de votos. Por exemplo, você tende a ter uma taxa de acirramento muito maior entre o Garotinho e o Sérgio Cabral na Baixada e no interior. E você tende a ter uma taxa de acirramento muito maior entre o Cabral e o Gabeira na capital. Isso é uma tendência lógica porque quando você chega em um espaço e o espaço está ocupado, mas esse espaço pode ser seu, você tem que desocupar esse espaço. Então isso gera uma retórica mais forte, uma retórica mais crítica. Isso no caso do Cabral e do Garotinho, isso já vinha ocorrendo. Você abre o blog do Garotinho e ali você vê o escopo da pré-campanha. Você vê claramente que o Twitter dele (Garotinho) começa a identificar as falhas e defeitos do governo do Sérgio Cabral.