QUEM É LEONIDAS IZA, O LÍDER INDÍGENA DE PONCHO VERMELHO QUE ASSOMBRA O GOVERNO DO EQUADOR!
(O Globo, 25) Forte, veemente e sempre vestindo seu poncho vermelho, Leonidas Iza forjou sua liderança entre os indígenas do Equador em meio ao fogo dos protestos. Hoje de volta a Quito, ele está à frente de uma mobilização que encurrala o presidente conservador Guillermo Lasso.
O líder de poucos sorrisos comandou uma revolta contra o governo em 2019, que então terminou com 11 mortos e mais de mil feridos.
Agora, Iza volta às ruas para uma nova briga: ou Lasso alivia o custo de vida — que afeta severamente as comunidades rurais — ou ele e os seus continuarão em Quito, uma cidade semiparalisada pelos protestos.
— Se (o Executivo) não resolver este problema, rios de gente continuarão a chegar à capital — desafiou o chefe de um exército de 14 mil homens e mulheres com lanças e paus capazes de abalar um governo.
Iza, de 39 anos, é um quéchua do povo Panzaleo, assentado nas províncias de Cotopaxi e Tungurahua, no coração dos Andes euatorianos. O poncho vermelho, uma trança até as costas e suas palavras flamejantes o distinguem entre os indígenas.
Teimoso e, às vezes, radical, Iza é um anarquista aos olhos do governo, mas seu povo o vê como um representante fiel e carismático de suas causas.
— Qualquer governo terá que lidar com a posição do movimento indígena e dos setores populares — disse Iza, presidente da poderosa Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), à AFP antes da eleição de Lasso em 2021.
Andrés Tapia, que o conhece há 20 anos, o descreve como um líder “determinado” em suas ideias e gentil com seus amigos.
— Sempre teve um caráter muito firme — comenta Tapia, que trabalhou com Iza em seus primeiros dias como ativista.
O ex-porta-voz da Conaie Apaawki Castro concorda e acrescenta: quer “que tudo saia milimetricamente calculado”. Seu lado sensível aparece quando canta e toca instrumentos de sopro.
Iza quer recuperar para os indígenas o poder de outros tempos quando, com suas revoltas populares, derrubavam presidentes.
Único de oito irmãos que estudou na universidade, dirigiu o Movimento Indígena e Camponês de Cotopaxi (MICC). Em 2021 tornou-se presidente da Conaie. Sua participação nos protestos de 2019 foi fundamental. Aquele “outubro negro” — como chamam os episódios as classes média e alta de Quito — foi parar no livro “Estallido”, que Iza escreveu com Tapia e Andrés Madrid.
O relato, que descreve a revolta como “épica”, resume os sentimentos do líder: “Comunismo indo-americano ou barbárie”.
Nascido na comunidade de San Ignacio, em Cotopaxi, no Sul do Equador, Iza garante que deve seu espírito guerreiro à mãe.
— Minha mãe Rosa Elvira [Salazar tinha um espírito rebelde. Ela sempre esteva nos processos comunitários, nas mobilizações, cozinhando nas mobilizações — contou em entrevista divulgada pelo MICC, na qual aparece alimentando um bezerro.
A prisão de Iza logo após o início do novo protesto alimentou as manifestações no país. O líder a descreveu como um “sequestro político”. O dirigente indígena defende a produção agrícola em detrimento da exploração mineral.
— Se conseguíssemos reorganizar a capacidade produtiva nacional, poderíamos alimentar parte do mundo — disse.
Em 2021, ele concorreu à indicação do Pachakutik , o braço político da Conaie, para as eleições presidenciais de 2021. E embora tenha perdido para Yaku Pérez —-que ficou em terceiro no primeiro turno — conseguiu entrar totalmente no radar da política equatoriana.