OS MUITOS GANHOS DO ENSINO INTEGRAL! (O Estado de S. Paulo, 22) Por qualquer ângulo que se olhe, o ensino integral é um investimento que vale a pena. Melhoria da aprendizagem, redução de desigualdades, maior empregabilidade e salários mais altos para quem conclui a educação básica, entre outros benefícios, já haviam sido constatados em levantamentos anteriores. Uma recente pesquisa acaba de evidenciar mais um ganho ligado à oferta de ensino em tempo integral: a diminuição, em até 50,8%, das taxas de homicídios de adolescentes homens na faixa de 15 a 19 anos. Os dados, noticiados pelo Estadão na última segunda-feira, retratam a realidade de Pernambuco, onde foram comparadas taxas de homicídio de jovens em municípios com e sem escolas de ensino em tempo integral, inclusive em Estados vizinhos. Desde 2004, a rede pernambucana investe em escolas de tempo integral, com 70% das vagas de ensino médio nesse formato de carga horária dobrada, o mais elevado índice do País. Cada município pernambucano conta atualmente com pelo menos uma escola em horário integral. O investimento, como não poderia deixar de ser, resultou em aumento do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), principal indicador de qualidade do ensino brasileiro, que leva em conta o desempenho dos alunos em provas de matemática e língua portuguesa, além da aprovação ao final de cada ano letivo. Os benefícios do ensino em tempo integral são intuitivos e ecoam o senso comum: ao permanecer mais horas na escola, crianças e adolescentes têm mais tempo de aula, de estudo e de convívio. Não surpreende, então, que aprendam mais e que sua vivência escolar seja capaz de abrir mais portas, quando terminarem o ensino médio e partirem rumo à universidade ou ao mercado de trabalho. Não por outra razão, países desenvolvidos adotam o ensino em tempo integral, enquanto a regra, na maioria das escolas brasileiras, é apenas um turno de quatro horas. Vale registrar, porém, que a jornada mais longa, por si só, não basta. Mais do que uma escola em tempo integral, o que se busca é uma escola que ofereça educação integral, isto é, que dê conta da formação dos estudantes em diversas frentes: a cognitiva, a socioemocional, a física, a cidadã e a profissional, entre outras. Qualidade, em todos os sentidos, é a palavra-chave. Daí que uma política educacional centrada nesse modelo requer ações articuladas. Tanto os professores devem atuar em regime de dedicação integral quanto o currículo precisa ser atrativo e diferenciado, com foco no protagonismo e no projeto de vida dos jovens. Se a escola for desinteressante e de má qualidade, quem vai querer permanecer mais tempo nela? O levantamento em Pernambuco foi realizado por pesquisadores do Insper e da Universidade de São Paulo (USP), com apoio do Instituto Natura. Assim como estudos anteriores, jogou luz sobre algo essencial nas políticas educacionais: investir em escolas de ensino em tempo integral gera resultados positivos. Ou seja, do ponto de vista dos governos e das prioridades orçamentárias, é um tipo de investimento que compensa e vale a pena. Logo, deveria servir de referência para gestores educacionais em todo o País, seja em Brasília, onde o Ministério da Educação (MEC), sob o atual governo, já demonstrou não ter projeto educacional à altura dos desafios nacionais, ou nos gabinetes das secretarias municipais e estaduais de Educação. Não há mágica para solucionar os problemas educacionais nem é preciso reinventar a roda. O ensino em tempo integral já comprovou ser um caminho que traz avanços. Nos últimos anos, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo acordou para a importância dessa iniciativa, a exemplo de Estados como Ceará e Paraíba. Na rede estadual de São Paulo, como informou o Estadão, o número de escolas de ensino fundamental e médio em tempo integral saltou de 364, em 2018, para 2.050, um acréscimo de 463%. A meta é alcançar 3 mil unidades no ano que vem. Eis um investimento que dá resultado. O País só tem a ganhar se todas as redes de ensino seguirem esse mesmo rumo. |