08 de junho de 2021

ACELERA A VACINA!

(Paulo Leme, professor de finanças na Universidade de Miami – O Estado de S. Paulo, 06) Segunda feira passada foi o feriado de Memorial Day nos EUA. Nele, os americanos visitam memoriais e cemitérios para homenagear os ex-combatentes que faleceram a serviço do país.

No ano passado, aterrorizados pela pandemia, muitos americanos, quando não estavam trancados em casa, estavam correndo atrás de produtos de limpeza. E que diferença um ano faz! Com 41% de toda a população (65% da população adulta) já imunizada, o feriadão celebrou o poder da vacinação e da reabertura.

O Memorial Day também marca o início do verão: os americanos voltaram a viajar, desfrutar da vida ao ar livre, e voltar ao comércio. Estradas, aeroportos, hotéis, lojas e restaurantes estavam lotados.

A imunização devolveu a liberdade aos americanos e gerou uma tremenda energia positiva. Vários setores (bancos) já voltaram aos escritórios e, a partir de agosto, as escolas e universidades se reabrirão integralmente às aulas presenciais.

No segundo trimestre do ano passado, o governo americano foi incapaz de articular uma estratégia eficiente de saúde pública. E, o que é pior, algumas autoridades trataram o assunto com desdém e desrespeito ao cidadão e à ciência. Faltavam testes e materiais hospitalares, mas sobravam ideias estapafúrdias, como o uso preventivo da cloroquina e a aplicação intravenosa de cloro para matar o vírus.

Perante tamanho desafio, o setor privado e a indústria farmacêutica cresceram, aumentando a produção e melhorando a qualidade dos testes. Em dezembro, as primeiras vacinas já estavam disponíveis ao público.

Um dos aspectos mais positivos da administração Biden foi levar a sério o desafio da saúde pública. Assim que tomou posse em janeiro, o Presidente Biden definiu que a sua principal meta seria imunizar a maioria da população adulta antes de 4 de julho.

Graças às lideranças e à cooperação entre os setores públicos e privados, os resultados são espetaculares. No início de abril, os EUA aplicaram 4,3 milhões de doses por dia. De acordo com os dados da Universidade Johns Hopkins, com quase 300 milhões de doses aplicadas, 42% da população e 65% dos adultos já estão imunizados.

Comparado ao pico observado em janeiro, no final de maio o número de casos e de mortes por dia caiu 92% e 81%. As taxas de mortalidade dos pacientes que contraíram covid com mais de 80 anos e na faixa de 65 a 80 anos caíram abaixo de 3% e 0,3%.

O governo dos EUA quer alcançar a imunidade de rebanho, o que será possível quando pelo menos 70% da população estiver vacinada. O governo enfrenta dois problemas para atingir a meta. Primeiro, segundo pesquisas de opinião, 20% da população adulta (42 milhões) não quer se vacinar. As razões vão desde ignorância, preconceito, política, religião até status migratório.

Segundo, o acesso à vacina é desigual para diferentes estratos da população, variando de acordo com renda, etnia, educação, e localização (rural). Mesmo reduzindo a idade mínima para 12 anos, a resistência à vacina é tão grande que em maio, o número de doses diárias caiu 70%, para 1,3 milhão.

Infelizmente, seja por falta de recursos ou governança, na maioria dos países emergentes a narrativa sobre a pandemia tem sido muito dura e cruel.

O Brasil é um caso especial: é um país que tem recursos, uma liderança empresarial sofisticada e uma indústria farmacêutica de ponta.

Apesar de o programa de combate à covid estar muito atrasado, nos últimos dois meses o Brasil finalmente conseguiu deslanchar o seu plano de vacinação. Mas o brasileiro merece muito mais.

A maior lição da experiência americana é que a prioridade é vacinar, vacinar e vacinar.
Os benefícios em termos da retomada da atividade econômica e do emprego são óbvios. Mas tendo o privilégio de vivenciar a experiência americana, o maior ganho é reconquistar a liberdade.

Os nossos políticos e empresários têm de fazer muito mais pelo País. Sim, já vacinamos 28% da população adulta, mas o processo ainda é lento, ineficiente e burocrático. O número de casos diários, hospitalizações e mortes ainda é muito alto e inaceitável.

Acelera a vacina! Temos que concentrar todos os recursos públicos e gerenciais para imunizar 70% dos adultos até agosto. Mais do que permitir a reabertura da economia, a imunização devolverá ao brasileiro a sua liberdade, dignidade e autoestima. Por último, a imunização é condição necessária para reeleger qualquer político.

O ex-presidente Trump que o diga.