EX-CHEFE DO BC EUROPEU FORMARÁ GOVERNO NA ITÁLIA!
(O Estado de S. Paulo, 04) O ex-presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi aceitou ontem a incumbência de formar um governo de emergência na Itália, para enfrentar a pandemia e levar adiante um plano de reconstrução do país. Draghi recebeu a missão do presidente Sergio Mattarella, que inicialmente tentou reerguer o governo do ex-premiê Giuseppe Conte, mas a iniciativa fracassou por diferenças entre os partidos de coalizão.
“É um momento difícil. O presidente lembrou a dramática crise sanitária e seus graves efeitos na vida das pessoas, na economia e na sociedade. A emergência requer soluções à altura. Respondo positivamente à convocação do presidente”, disse Draghi, após se reunir com Mattarella.
O ex-chefe do BC da Europa tem a missão de enfrentar a crise econômica e a pandemia de covid-19, como alternativa à realização de novas eleições. Draghi tentará obter apoio de outros partidos para formar a maioria no Parlamento – uma tarefa considerada difícil, já que a maior força, o Movimento 5 Estrelas (M5S), que perdeu o governo, disse que não o apoiará, assim como a extrema direita.
Sem o M5S, todas as atenções se voltarão para as duas outras maiores siglas, o Partido Democrata (PD), de centro-esquerda, e a Liga, de extrema direita – que são rivais políticos, mas podem ter de votar juntos para dar uma chance a Draghi.
Para sair da crise, o presidente italiano optou por um governo que qualificou como “de alto perfil e institucional”, sob comando de um técnico, como Draghi, que tem muito prestígio na Itália. Ele também exortou todos os partidos a apoiá-lo.
Mattarella é o único que, pela Constituição, indica o primeiro-ministro ou dissolve o Parlamento. O presidente considerou que convocar eleições nacionais durante a pandemia seria insensato. Além disso, ele advertiu que, sem um governo, o país poderia perder um fundo de mais de ¤ 200 bilhões (R$ 1,3 trilhão) patrocinado pela União Europeia.
Experiência. A nomeação de Draghi, que tem 73 anos e ampla experiência na gestão da política econômica italiana e europeia, foi recebida com entusiasmo pela Bolsa de Valores de Milão. As ações de bancos registravam alta de 3% por volta do meio-dia.
Draghi afirmou que espera que haja união das forças políticas italianas. O Parlamento está fragmentado e alguns partidos são contra formar uma coalizão liderada por um tecnocrata, e não por um político. O PD, o Itália Viva, de centro, o Força Itália, do conservador Silvio Berlusconi, além de outras legendas menores, já manifestaram apoio ao nome indicado por Mattarella. Um dos líderes da extrema direita, Matteo Salvini, anunciou publicamente a preferência por novas eleições, embora admita esperar os planos do eventual governo.
Draghi deverá começar a trabalhar em um programa de governo e na formação de uma equipe ministerial. Depois disso, iniciará rodadas de consultas com os partidos, em busca de apoio. Se obter o respaldo necessário, será o momento de voltar a se encontrar com Mattarella, para aceitar o cargo de maneira definitiva. Depois, o Parlamento deverá confirmar seu nome como primeiro-ministro.
Considerado o salvador da zona do euro em 2012, quando a crise da dívida atingiu a economia do continente, Draghi desencadeia reações mistas entre a classe política. No entanto, o economista espera repetir a chamada “fórmula de Ursula”, que levou à eleição da atual presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, graças à união de várias forças políticas.
Conhecido por sua discrição, seriedade e determinação, Draghi espera reativar a economia italiana graças ao gigantesco plano financiado pela UE. A covid-19, que já custou a vida de quase 89 mil pessoas no país, causou uma redução do PIB de 8,9% em 2020, uma das piores quedas na zona do euro.