23 de outubro de 2020

TEORIA DAS CATÁSTROFES APLICADA À POLÍTICA! MORFOGÊNESE POLÍTICA!

1. (wp) A Teoria das Catástrofes é o estudo de sistemas dinâmicos que representam fenômenos naturais e que por suas características não podem ser descritos de maneira exata por cálculo diferencial. Nesse sentido é um modelo matemático de morfogênese. Foi proposta no final dos anos 50 pelo matemático francês René Thom e difundida nos anos 70. Depois, passou a ter uma especial aplicação na análise do comportamento competitivo e nos modelos de mudança organizacional, evolução social, sistêmica e mítica. Um exemplo simples: qual o movimento da queda de uma folha no outono? Que momento deflagrou uma avalanche numa área deserta?

2. A Teoria da Catástrofe foi e é aplicada à Política. São situações políticas que surgem de forma aparentemente surpreendente. A dinâmica política analisada pelos fatos externos e percebidos não é suficiente, pois é um simples exercício de extrapolação. Há que se analisar fatos não imediatamente correlatos que só se tornam visíveis quando deflagrados por uma ação política que não tem relação direta com ele. Exemplo: O bloqueio marítimo alemão à Inglaterra na primeira guerra mundial, que afetou as exportações dos EUA e levou a uma pressão irresistível para que o presidente Woodrow Wilson levasse os EUA à guerra e decidisse a primeira grande guerra.

3. Não se trata de um processo político continuado que pode ser incluído em cenários futuros, como uma crise econômica possível. Trata-se de um fato novo que deflagra outra dinâmica ao processo político corrente. Uma espécie de “tipping point”. Não é planejável nem administrável. Mas uma análise de pontos “invisíveis” vulneráveis no processo político pode simular hipóteses em cima de fatos ainda não existentes. E até provocá-los por simulação e depois por ação.

4. O genocídio de índios no Novo Mundo, produto de doenças transmitidas e que não existiam entre os nativos, sequer foi percebido quando começou a ocorrer. Ou uma expressão que produz uma reação popular durante uma campanha eleitoral como os “marmiteiros” contaminando Eduardo Gomes contra Dutra em 1945.

5. A decisão de FHC de votar a reeleição para seu próprio mandato, que gerou um ciclo de 12 anos do PT, pois seu segundo mandato foi a administração de crises externas (asiática e russa) que contaminaram o país. Paradoxalmente o economista que previu essa onda de crises desde o México, em 1994, Armínio Fraga, foi depois seu presidente do Banco Central no impacto daquelas crises.
6. Há conjunturas em que esses pontos “invisíveis” se multiplicam, pela fragilidade conjuntural. Por exemplo, a crise econômico-financeira a partir de 2008. Que desdobramento terá no sul da Europa? Que fatos poderão ser indutores de rupturas? O populismo cambial e fiscal do governo Lula para vencer a eleição de 2010 criou pontos de reversão econômica e política que só se tornaram claros 2anos depois.

7. Exemplos à vontade existem em pesquisas pré-eleitorais que mostram candidatos com uns 3% de intenções de voto e um ano ou mais depois se tornam vencedores? Por quê? Na falta de uma análise profunda se atribui ao marketing.  Chávez se beneficiou de uma reversão econômica numa crise que se tornou muito mais grave e sentida pela imprevisão do governo venezuelano que –sem perceber a crise (97/98)- extrapolou nos instrumentos de aceleração econômica, produzindo um “gap” de quase 20 pontos do PIB entre o auge pré-eleitoral e o fundo do poço no coração da campanha em 1998.

8. Estamos vivendo uma conjuntura no Brasil que está multiplicando “pontos invisíveis”. Quais são? Há que analisar exaustivamente. Mas isso certamente produz uma grande volatilidade política, potencial, a nível nacional e regional. Nesse sentido, os melhores conselheiros não são os chamados ‘marqueteiros’, mas os políticos sêniores e os politólogos que mergulham na conjuntura articulando-a com a teoria e a história. Surpresas virão certamente? Quais?